quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Patrões divulgam dados não confiáveis de acordo com seus interesses imediatos e para manipular campanhas salariais

Comerciários de São Paulo em campanha salarial
enfrentam manipulação de informação da Fecomercio
Trouxe hoje duas notícias contraditórias produzidas por duas entidades patronais. Uma da indústria, a CNI, outra do comércio, a Fecomércio. Os dados repassados para a imprensa da CNI são positivos, quase otimistas. Os dados divulgados pela Fecomercio apontam para o pessimismo. No mesmo dia, no mesmo jornal “O Estado de São Paulo”. Além disso, no jornal “O Globo” lemos que “Consumo e serviços ainda vão puxar crescimento da economia no 2º trimestre”, com reportagem baseada em dados do IBGE. Não se trata de esquizofrenia da mídia, mas de manipulação patronal da Fecomercio, em tempos de campanha salarial.
A Fecomercio está sempre pessimista nestas épocas de negociação salarial. A entidade acaba se submetendo às pressões de setores atrasados do patronato e tenta a todo custo repassar para a sociedade que as coisas vão mal no comércio. Quando a própria indústria e o IBGE mostram o contrário. No mesmo dia e na mesma edição do jornal. As negociações salariais que o Sindicato dos Comerciários de São Paulo agora iniciam enfrentam todo tipo de artimanhas, armadilhas e informações mentirosas. Os patrões estão bem o ano inteiro, exceto nos meses de negociação salarial quando é legítimo o repasse de parte de seus lucros e a reposição da inflação com aumento real. Preferem criar informações tendenciosas para justificar o injustificável, ou seja, que não têm como repassar seus grandes e gordos ganhos. Mas estamos acostumados a travar batalhas em todos os níveis. E trazemos para a avaliação da UGT e para os comerciários de São Paulo essa atitude mesquinha da Fecomercio para nos manter ainda mais alertas e mobilizados na defesa de nossos interesses que são legítimos e que ajudariam, caso os patrões do comércio tivessem bom senso, a reforçar o consumo. Pois os repasses que chegam aos bolsos dos trabalhadores voltam para as lojas através de aumento de consumo. Criando um círculo virtuoso que se mostrou de suma importância neste último ano para ajudar, inclusive os empresários do comércio, a sobreviverem na crise financeira mundial. Mas, infelizmente, os empresários do comércio que circulam ao redor da Fecomércio preferem a miopia social, a estreiteza do discurso, as desculpas que se apóiam em informações no mínimo tendenciosas. Essas atitudes por trás da divulgação das informações é que tornam imprecisos os dados repassados. É por isso que não dá para confiar em informações divulgadas por entidades patronais. Quando apontam cenários positivos é porque estão atrás de empréstimos bancários. Quando divulgam dados negativos é porque estão em campanha salarial. Mas os comerciários do Brasil todo, assim como a classe trabalhadora brasileira está acostumada a enfrentar com a verdade de nosso comprometimento a favor do Brasil a escalada de manipulações patronais.


Por favor, leiam as notícias abaixo e vejam a contradição entre a CNI e a Fecomercio e os dados positivos do IBGE para o comércio:

Vendas reais da indústria crescem 3,2% em julho, divulga CNI
Em relação a julho de 2008, as vendas tiveram queda de 9,2%; faturamento real registra queda de 8,2% no ano.
As vendas reais da indústria de transformação cresceram 3,2% em julho, na comparação com o mês anterior, de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira, 9, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com ajuste sazonal, o faturamento real da indústria cresceu 0,4% na comparação de julho, ante junho. Em relação a julho de 2008, as vendas tiveram queda de 9,2%. Os dados da CNI revelam ainda que no período de janeiro a julho deste ano, o faturamento teve queda de 8,2%, ante igual período de 2008.
A utilização da capacidade instalada subiu em julho para 80,5%, de 79,7% em junho. Em julho de 2008, esse porcentual era de 83,8%. Pelo critério dessazonalizado, a utilização da capacidade instalada atingiu 79,9% em julho, ante 79,4% em junho e 83,2% em julho de 2008.
Horas trabalhadas crescem 2,8% -- As horas trabalhadas na indústria de transformação subiram 2,8% em julho ante junho. Pelo critério dessazonalizado, as horas trabalhadas cresceram 0,1%, na mesma base de comparação. Em relação a julho de 2008, as horas trabalhadas tiveram queda de 9,5% em julho deste ano. No acumulado de 2009 até julho, as horas trabalhadas recuaram 8,6% ante igual período do ano passado.
Emprego sobe 0,2% -- O emprego na indústria subiu 0,2% em julho ante junho, interrompendo oito meses seguidos de queda. Pelo critério dessazonalizado, o emprego na indústria ficou estável em julho ante mês anterior. Em relação a julho de 2008, o nível de emprego na indústria caiu 5% em julho de 2009. No acumulado dos sete primeiros meses deste ano, o emprego caiu 3,1%, em relação ao mesmo período do ano passado.
A massa salarial real subiu 3,7% em julho ante junho, mas caiu 1,3% na comparação com julho de 2008. De janeiro a julho de 2009, a massa salarial caiu 1,6% ante igual período de 2008. (Leia mais no Estadão)

Economistas retomam pessimismo com a crise, diz Fecomercio
Índice de Sentimento dos Especialistas em Economia caiu para 98,2 pontos, revelando cautela dos especialistas.
Os impactos causados pela crise financeira mundial persistem na economia brasileira. Essa é a opinião de cerca de cem economistas entrevistados pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) para a formulação do Índice de Sentimento dos Especialistas em Economia (ISE), calculado em parceria com a Ordem dos Economistas do Brasil (OEB). O indicador, que vinha em trajetória de alta desde dezembro, teve em agosto queda de 6,8% em relação a julho e retornou ao nível de pessimismo, passando de 105,4 pontos para 98,2 pontos. O índice tem escala de 0 a 200 pontos, indicando pessimismo abaixo de 100 e otimismo acima desse nível.
Na avaliação de especialistas da Fecomercio-SP, os economistas têm se mostrado mais cautelosos em relação ao futuro da economia nacional. "Sinais da crise ainda são presentes em indicadores econômicos, como a alta na inadimplência e na emissão de cheques sem fundos", aponta o economista Guilherme Dietze. "A lentidão da melhora no cenário econômico ainda desperta receio em alguns analistas."
O indicador da Fecomercio-SP é composto por dois subíndices: o que mede o sentimento dos entrevistados em relação ao presente e o que diagnostica as expectativas para o futuro. Em agosto, o pessimismo dos economistas foi puxado pela avaliação de longo prazo, que teve queda de 13,6% ante julho, apesar de ainda se manter positiva (109,2 pontos). Em contrapartida, a percepção em relação ao cenário atual teve alta de 3,4% sobre julho, embora o índice esteja desde o agravamento da crise, em setembro de 2008, em terreno negativo: na faixa dos 70 a 90 pontos.
Dos nove itens analisados pelo ISE, três contribuíram para a queda do indicador geral: gastos públicos, com redução de 70% (para 10,1 pontos); taxa de inflação, com queda de 20,5%, (para 83,8 pontos); e taxa de juro, com redução de 28,5% (para 56,4 pontos). De acordo com Dietze, a queda desses três itens é atribuída ao sentimento dos economistas de que em 2010 haverá alta dos preços. "Os especialistas temem pressões advindas da política de estímulo ao consumo adotada pelo governo federal e da melhora na oferta de renda e emprego", aponta.
Dietze ainda ressalta que os preços devem ser pressionados pelo aumento dos gastos públicos em ano eleitoral. Segundo ele, a ameaça de inflação deve fazer com que o Banco Central aumente a taxa básica de juros, atualmente em 8,75% ao ano. "Com esses fatores, os economistas já creem que, no próximo ano, o Banco Central deverá elevar a taxa de juros para conter as pressões de preços", destaca Dietze. (Leia mais no Estadão)

Consumo e serviços ainda vão puxar crescimento da economia no 2º trimestre
Depois da recessão técnica que o país viveu desde o agravamento da crise financeira mundial, com a economia em retração entre outubro de 2008 e março deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) saiu do fundo do poço no trimestre passado. Mas, segundo estimativas, numa reação insuficiente para evitar que a economia fique estagnada este ano. As projeções são de que o PIB varie entre -0,2% e 1% em 2009. O IBGE deve anunciar na sexta-feira que a economia brasileira cresceu de 1,6% a 2% de abril a junho, segundo projeções de economistas e do governo.
No segundo trimestre, o consumo das famílias e o setor de serviços devem ter puxado a economia, papel que já desempenharam de janeiro a março, quando impediram um tombo maior do PIB. E a indústria, que ainda não deve se recuperar este ano, também deve aparecer com sinal positivo na sexta-feira.
Para o economista-chefe da Convenção Corretora, Fernando Monteiro, no segundo trimestre a economia já deve ter reduzido bem os estoques, o que indica a indústria produzindo mais:
- Já houve queda dos estoques no primeiro trimestre. Esperamos que esse recuo seja bem maior no segundo. O resto do mundo está crescendo formando estoques. No Brasil, há expansão com desova de estoques. Enquanto lá fora o mercado interno é o problema, no Brasil é a solução.
Esse movimento deve fazer a indústria acelerar o ritmo. Com menos estoques para repassar ao comércio, a indústria precisará produzir mais para atender à demanda. E isso já está aparecendo. Em julho, o setor cresceu 2,2%. No primeiro semestre, a média ficara em 1,3%:
- Mesmo assim, a indústria só em 2011 voltará a ter o peso que tinha na economia antes da crise - diz Monteiro. (Leia mais em O Globo)

"Spread" no Brasil só perde para Zimbábue, diz estudo
Diferença entre os juros captados e os cobrados pelos bancos é maior que a de 127 países. Para analista, tendência é que, com a estabilização da economia, "spread" fique menor no curto prazo, mas superior à média global
O "spread" (a diferença entre o que as instituições pagam para captar recursos e o que cobram dos clientes) aplicado pelos bancos no Brasil é o segundo maior do mundo, ficando apenas atrás do Zimbábue, apesar de a taxa de inadimplência no país não estar nem entre as dez maiores do planeta.Segundo levantamento do Fórum Econômico Mundial com base em dados do ano passado, o "spread" dos bancos brasileiros ficou em 35,6 pontos percentuais, maior do que a média das instituições financeiras de 127 países.Somente o Zimbábue, cuja economia vive situação caótica e onde a inflação chegou na casa dos 231 milhões por cento em julho do ano passado, a diferença entre os juros captados e os cobrados foi maior: 457,5 pontos percentuais.O cenário do estudo atual é similar ao do levantamento anterior -que analisava a situação em 2007-, mas, na ocasião, o "spread" brasileiro era um pouco menor: 33,1 pontos percentuais. "Spreads" altos significam custos maiores para empresas e consumidores pegarem empréstimos.Ao mesmo tempo, a inadimplência no Brasil, que é uma das explicações usadas pelos bancos para justificar os juros altos, era a 16ª mais alta do mundo (em uma lista menos abrangente, com 34 países), de acordo com dados do FMI referentes ao quarto trimestre de 2008 -quando a crise global estava em um dos seus momentos mais agudos. Os números do Fundo mostram ainda que a taxa de inadimplência no país vem caindo nos últimos anos.O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou, por exemplo, no fim de julho, que o principal fator para o "spread" bancário é exatamente o nível de inadimplência, que atingiu seu recorde histórico.Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, é principalmente por meio dos juros altos (que se traduzem no segundo maior "spread" do planeta) que os bancos brasileiros estão entre os mais rentáveis do mundo, apesar de a relação entre crédito e PIB estar abaixo da média global.Sobre o calote, ele disse que os bancos colocam nos empréstimos uma "estimativa que não se concretiza na vida real".O analista afirmou que a tendência no curto prazo é que, com a estabilização da economia brasileira, os bancos "devolvam uma parte da gordura" obtida com o aumento dos juros durante a crise, mas que o "spread" deve permanecer entre os mais altos do mundo.Para que essa queda continue a ocorrer no médio prazo, Santacreu afirma que são necessárias mudanças como aumento da competição entre as instituições. "Nós não vimos uma corrida forte dos bancos para brigar pelos clientes." Ele diz ainda que é preciso tempo para avaliar se é ""perene" o movimento de queda dos "spreads" pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal, incentivado pelo governo Lula. (Leia mais na Folha)

FGV: crise financeira interrompe expansão da Classe AB e classe C continua a crescer
A crise financeira global interrrompeu a expansão da classe AB no Brasil. A classe C, por sua vez, continuou a crescer, mas num ritmo menor. É o que mostrou Marcelo Neri, economista da Fundação Getúlio Vargas, que divulgou nesta quarta-feira a pesquisa "Microsseguros e a Nova Classe Média".
- No período pré-crise, o que se tem é um crescimento da classe AB de 35%. Na classe C, 23%. No pós-crise, a boa notícia é que houve perdas iniciais que já foram recuperadas. A crise não afetou o bolso do brasileiro comum - disse Neri, acrescentando que, de 2003 a julho de 2009, 27 milhões de pessoas - meia França - passaram para as classes A, B e C no Brasil.
Neri acrescenta ainda que, antes da crise, em cada 100 pessoas, 18 saíam da classe AB num ano. Após a crise, esse número passou para 25.
Segundo Neri, as periferias das capitais sofreram menos com a crise. Isso porque, disse ele, essas regiões são menos conectadas a mercados externos.
- O verdadeiro Pelé contra a crise brasileira é a classe média, o poder de compra adquirido nos últimos anos. E as periferias aumentaram o poder de compra nos últimos anos. E o mercado interno gera atividade, que gera emprego e, mais uma vez, mercado interno. É o mercado interno que protege a economia brasileira, em especial as periferias - disse Neri.
Mercado de seguros -- De 2003 a 2009, com a incorporação de 27 milhões de pessoas nas classes A, B e C, o mercado de seguros cresceu, ao menos, 27%, em volume gastos pelas famílias. Com inovação financeira, esse avanço pode ter sido de até 44%. É o que disse Marcelo Neri, na pesquisa "Microsseguros e a Nova Classe Média".
- O estudo mostra que o seguro é um serviço de luxo no país, já que só as pessoas de classe de renda mais alta têm seguro no brasil, seja seguro de veículo saúde ou vida. Assim, o seguro fica concentrado em pequenos bolsões de riqueza. O que é uma distorção, pois o pobre é quem precisa mais de proteção - disse Neri, acrescentando que a metade mais pobre da população brasileira apresenta um risco de renda 15% maior do que o restante. Segundo dados da pesquisa, 16,79% da população acima de 15 anos têm acesso a seguro. Nas classes CDE, essa taxa cai para 10,78%. (Leia mais em O Globo)