Lula promete reforçar investimento
(Postado por Chiquinho Pereira) É hora de acabar com o discurso marolinha, do teatro do otimismo e de todos nós, inclusive o presidente Lula, tratar a crise com determinação, buscar soluções imediatas e com a cobrança de responsabilidade de todos os envolvidos. Os trabalhadores e as suas lideranças, incluindo aí as centrais sindicais, temos que cerrar fileiras para conter a sangria desatada da demissão. Os patrões estão usando a demissão em massa como a primeira iniciativa para a solução da crise, que muitas vezes nem chegou ao seu setor. Não vamos aceitar redução de jornada com o corte de 20% dos salários. Isso é criminoso e inaceitável. Antes de demitir, deveria cortar os salários astronômicos dos executivos, reorganizar os custos fixos da empresa, reformular as exageradas campanhas publicitárias e eventos institucionais. E tratar a demissão como um evento de cunho social, que requer ouvir os sindicatos, os trabalhadores, a opinião pública. E claro, da parte do governo, o que se espera é isso mesmo: investir, estimular a geração de emprego, ajudar a criar condições para se criar vagas mas principalmente agir rapidamente para estancar a demissão em massa.
Leia mais, nos dois textos a seguir: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em seu primeiro discurso em 2009, que a estratégia do governo para não deixar que a crise chegue com mais força no País é reforçar os investimentos no primeiro trimestre. Segundo ele, os próximos três meses serão decisivos para atenuar o impacto da crise no País.
"Porque, se nós não tomarmos a iniciativa de fazer as coisas acontecerem neste primeiro trimestre, aí sim poderemos correr um risco de fazer com que a crise chegue aqui mais forte", afirmou Lula, em São Paulo, na abertura da 36.ª Couromoda, a maior feira do setor calçadista e de artefatos de couro da América Latina.
A preocupação foi tema também do programa semanal "Café com o Presidente", ontem de manhã. "Nós vamos ter um trimestre preocupante", disse Lula. Diante disso, ele reafirmou que o governo tomará as medidas necessárias para garantir emprego, salário e renda.
"Vamos convencer a iniciativa privada a continuar investindo. Por isso, nós vamos colocar mais recursos no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)", afirmou Lula. Em outra frente de batalha, reiterou, o governo lutará pela redução dos spreads bancários. "Precisamos reduzir o spread bancário para facilitar que as empresas brasileiras, sobretudo as pequenas e médias empresas, possam ter acesso ao crédito."
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principal vitrine do governo, também terá uma injeção de recursos, prometeu ele. "A Dilma (Rousseff, ministra da Casa Civil) tem a responsabilidade de não permitir que pare uma obra do PAC. Pelo contrário, (deve) inventar novas obras importantes para o Brasil, descobrir novas necessidades. Só posso dizer para vocês que não faltará dinheiro para investimentos."
Em seu discurso na Couromoda, Lula disse que o compromisso com o crescimento é também dos governadores e dos prefeitos. No evento, estavam presentes os governadores tucanos José Serra (São Paulo) e Yeda Crusius (Rio Grande do Sul) e o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM).
Sem entrar em detalhes, Lula afirmou que o governo está trabalhando com governadores e prefeitos das capitais e vai anunciar novas ações ainda neste mês, principalmente em relação a investimentos. "Como anunciamos o PAC em 22 de janeiro de 2007, nós teremos medidas importantes para anunciar neste mês." (Mais detalhes no Estadão)
Mercado prevê que PIB vai crescer 2%; Lula aposta em 4% — O boletim Focus, pesquisa feita pelo Banco Central com analistas de mercado, trouxe ontem queda na previsão de crescimento da economia em 2009, de 2,4% registrada na última semana, para 2%. A estimativa divulgada ontem está abaixo dos 3,2% estimados pelo Banco Central e dos 4% previstos no Orçamento deste ano para o Produto Interno Bruto (PIB). Os números distanciam ainda mais a expectativa do governo e do sistema financeiro. Durante um evento em São Paulo, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou ontem que o Brasil crescerá 4% neste ano. "Enquanto o exterior discute a recessão, no Brasil discutimos de quanto será o crescimento" disse.
Em seu primeiro pronunciamento de 2009 , Lula disse que os economistas que apontaram um crescimento de 2% para o País irão errar. Ele justifica esse otimismo em razão do que classificou como uma situação confortável para enfrentar a crise e destacou o baixo nível da dívida pública, que segundo ele, está em torno de 35% do PIB brasileiro e o potencial do mercado interno, que teria muito ainda a ser explorado.
A previsão de 2%, no entanto, é até otimista, segundo alguns analistas. "Em meados do ano passado, nossa projeção de crescimento era em torno de 2,3% e fomos criticados por sermos 'pessimistas'. Agora estamos revisando os números e a projeção para 2009 deve fechar em 1,6%. Bastante inferior do que mercado previa", afirmou Frederico Araújo Turolla, professor do Departamento de Economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
"A previsão de 2% está balizada em sinais da economia. A torcida do presidente é legítima, mas o começo do ano está muito ruim. Para o primeiro trimestre existe a projeção de crescimento de 0%", disse o professor de Derivativos e Riscos do Ibmec São Paulo, Alexandre Jorge Chaia. Segundo ele, a retomada mundial, que era esperada, não aconteceu. "A expectativa de um início de 2009 de calmaria, com alguma estabilidade, poderia elevar o PIB, porém, as más notícias não param de chegar. Dificuldades na China, Europa e aqui no Brasil também", explicou. Chaia afirma que com esse cenário, o mais provável é que os empresários adiem seus planos de investimento.
Quanto à previsão para o corte dos juros na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de 2009, dos atuais 13,75% para 13,25% ao ano, a expectativa foi mantida. A novidade ficou por conta de projeção de queda de juros ao longo de 2009. Agora, a expectativa é que a taxa encerre o ano em 11,75%, ante previsão de 12% feita na semana passada.
"É possível imaginar esse cenário, porque a preocupação com a inflação já foi substancialmente revertida", afirmou Chaia. Para o economista, o BC não está preocupado com a inflação neste primeiro semestre, que ainda está poluída por conta de índices de 2008, "mas a autoridade monetária percebeu a desaceleração do segundo semestre".
A previsão para o dólar no fim deste ano subiu, de acordo com o boletim, de R$ 2,25 para R$ 2,30. Para 2010, está em R$ 2,25. "Essa é uma variável importante para definição da taxa de juros. E ela [a taxa] não está caindo como os economistas previam", disse o professor do Ibmec São Paulo. Para Chaia, essa pode ser a pedra no caminho do BC para mexer na Selic. "Esse resultado surpreendeu. Esperava-se que o câmbio cairia logo no inicio de janeiro. Essa tendência de alta pode prejudicar a política do governo", afirmou. Ainda assim, Chaia aposta como pouco provável confirmar a previsão de um dólar a R$ 2,30 para o final do ano. "A chance é maior de que ele esteja no patamar de em R$ 2,0 a R$ 2,10."
A estimativa para o saldo da balança comercial ficou em US$ 14,5 bilhões. A expectativa para o déficit em conta corrente neste ano ficou em US$ 25 bilhões. As previsões de investimento estrangeiro direto subiram de US$ 23 bilhões para US$ 23,81 bilhões. A previsão para a relação dívida/PIB ficou em 37%. (DCI)
GM faz 1º grande corte de vagas do setor automotivo
As grandes montadoras, mineradoras, cimenteiras, ou seja, os setores que mais ganharam na época das vacas gordas agora são os primeiros a demitir. Primeiro foi a Vale do Rio Doce, que ostenta no seu logótipo as cores nacionais, mas demite covardamente 1.300 trabalhadores no primeiro anúncio da crise. Agora a GM e outras que se seguirão. Temos que cerrar fileiras, mobilizar a opinião pública. Hoje são os trabalhadores, amanhã é a classe média que perderá, em massa, seus empregos. Estamos em guerra para sair da crise e estão enviando os trabalhadores para as linhas de frente. Temos que agir enquanto ainda dá para distribuir os efeitos da crise para todos os setores envolvidos. Nos recusamos, enquanto trabalhadores, a pagar a crise com nossos empregos, nossa qualidade de vida, nosso futuro.
Leia mais nos dois textos a seguir: Montadora anuncia demissão de 744 funcionários temporários de sua fábrica em São José dos Campos devido à queda nas vendas
Medida ocorre após adoção de férias coletivas para mais de 40% da força de trabalho nas fabricantes de veículos; sindicato convoca assembleia
A GM demitiu ontem 744 funcionários temporários de sua fábrica de São José dos Campos (91 km de SP), no Vale do Paraíba. É a primeira demissão em massa entre as montadoras de carros instaladas no Brasil registada depois do agravamento da crise financeira internacional, em setembro.
Em nota, a empresa informou que a medida acontece "em decorrência da diminuição da atividade industrial em geral e, particularmente, no setor automobilístico", reflexo da crise global. E justificou que, "diante dessa nova conjuntura de mercados", precisa adequar os níveis de produção com a demanda prevista.
A GM ainda diz no documento que vai dar prioridade na contratação dos mesmos trabalhadores "caso haja uma retomada dos volumes de vendas". De acordo com o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São José, Luiz Carlos Prates, a maioria dos trabalhadores demitidos havia sido contratada na metade de 2008, com a abertura de um segundo turno de produção do Corsa. O contrato deles só venceria em julho, e havia possibilidade de renovação por mais um ano.
Prates informou que, por serem trabalhadores temporários, os demitidos não terão direito a multa de 40%, aviso prévio e seguro-desemprego. Por outro lado, vão receber férias, 13º salário e um valor que equivale a 50% do total de salários até o fim do contrato.
Na sexta, segundo Prates, a GM já havia anunciado que não renovaria os contratos de 58 temporários da fábrica de São José que venciam naquele dia.
Com os cortes, segundo ele, não há mais temporários na planta.
A unidade tinha 9.300 funcionários e passa a contar com cerca de 8.500. Ao todo, a GM conta com cerca de 15 mil trabalhadores somente nas linhas de montagem no país.
"Isso é uma demissão em massa, porque os contratos de trabalho não terminaram agora e ainda poderiam ser renovamos por mais um ano. A empresa escolheu demitir os temporários porque fica mais barato", disse Prates. Segundo ele, o sindicato fará uma assembleia hoje com funcionários da GM de São José para discutir o corte. (Leia mais na Folha)
Um terço das indústrias pretende demitir — Pressionada por estoques elevados e queda nas vendas, quase um terço da indústria brasileira pretende reduzir o número de empregados até o mês que vem. O índice de empresas que planejam demitir é o maior dos últimos dez anos.No mês passado, 32,5% de 1.086 indústrias que, juntas, têm perto de 1,3 milhão de trabalhadores, informaram à Fundação Getúlio Vargas (FGV) que pretendem demitir até fevereiro.
Esse índice é superior à média de 15 anos de empresas que planejam cortar pessoal, que foi de 19,5%. O pico mais recente de demissões na indústria ocorreu em janeiro de 1999, quando houve a mudança do câmbio fixo para flutuante e 32,7% das companhias informaram que iriam cortar o emprego.
"A situação é mais preocupante hoje do que dez anos atrás: a crise é global e não tem para onde correr", diz o coordenador técnico da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da FGV, Jorge Ferreira Braga. Além disso, a situação se deteriorou rapidamente por causa da crise. Há apenas seis meses, a tendência era exatamente inversa. Isto é, 35,7% dos empresários consultados previam contratações nos próximos três meses. Os dados da pesquisa são livres das influências típicas de cada época do ano.
A perspectiva de demissão crescente na indústria faz soar o sinal de alerta porque o nível de emprego nas fábricas tem efeito multiplicador no número de postos de trabalho nos demais setores, apesar de comércio e serviços ocuparem mais da metade (64,4%) das vagas formais abertas em 12 meses até novembro de 2008, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Para cada vaga aberta nas fábricas são criados três empregos diretos ou indiretos no setor de serviços, calcula o sócio diretor da RC Consultores, Fabio Silveira. "Uma trava na indústria puxa o freio no emprego em outros setores."
O professor de Economia da Unicamp, Julio Gomes de Almeida, acrescenta que o desemprego industrial tem impacto maior na economia porque o salário é maior que nos demais setores. Além disso, as vagas são formais, o que abre as portas para o trabalhador comprar a prazo.
A pesquisa da FGV revela que os setores da indústria de transformação com maior intenção de demitir entre dezembro e fevereiro são aqueles cujas vendas dependem do crédito, como automóveis, eletrodomésticos e eletrônicos; e ligados aos planos de investimentos, como máquinas e equipamentos; e relacionados à exportação, como celulose e siderurgia. (Estadão)
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