Redução do juro básico em 1 ponto é a maior desde 2003
Leia mais: O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, efetuou a mais ousada redução da taxa básica de juros da economia desde novembro de 2003. Ontem, os membros do órgão reduziram a Selic em 1 ponto percentual, levando-a para 12,75% ao ano. A decisão, sem viés, foi tomada por cinco votos a favor e três votos pela redução da taxa em 0,75 ponto. A ata da reunião será divulgada em 29 de janeiro, próxima quinta-feira. Um novo encontro do Copom está marcado para os dias 10 e 11 de março de 2009.
O professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Alexandre Assaf, afirma que essa foi a reunião do Copom com maior pressão da sociedade, já que até mesmo a classe trabalhadora foi às ruas pedindo uma queda da Selic. No entanto, apesar de considerar positiva a ousada a redução, o acadêmico ressalva que ainda não é suficiente para dinamizar a economia no meio da crise. "Se o BC resolvesse manter os juros para reafirmar sua autonomia eles estariam declarando guerra ao governo e a sociedade. Porém, mesmo com esse corte a influência perante a crise ainda é pequena", avalia .
De acordo com Assaf, o grande papel dessa redução é o aspecto psicológico. "No otimismo até pode ajudar, desde que o Meirelles não venha com aquela ata dizendo que não cortará mais os juros. Essa crise de hoje é um problema mais de medo, portanto, deve motivar", acrescenta.
José Goés, economista da Wintrade, afirma que o Banco Central iniciou um ciclo de afrouxamento monetário agressivo, com a redução da Selic, tendo em vista o atual quadro de deterioração da atividade econômica. Goés afirma também que, apesar da desvalorização do real, as expectativas em torno da inflação "se aproximam do centro da meta, visto que o Relatório Focus desta semana já projeta um IPCA de 4,8 % em 2009". Segundo ele, a previsão é de alerta para os primeiros meses do ano. "Os indicadores apontaram para uma retração do PIB no último trimestre de 2008, e a situação deve se prolongar nos três meses de 2009", conclui.
Setor produtivo — O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, considerou um avanço a decisão do Copom. Ele pondera, contudo, que haveria espaço para o Banco Central ser mais ousado. "A melhor sinalização de que há preocupação em evitar uma recessão no País seria reduzir a Selic em 2 pontos percentuais", disse.
Na mesma linha, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), condena a decisão do Copom. Segundo o presidente da UGT, Ricardo Patah, "a taxa Selic deveria ter uma redução de 2 pontos". Já Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disse que "o Copom demonstra que a política monetária brasileira mudou. Esperamos, entretanto, que esta queda seja o início de um rápido processo capaz de tornar os juros no Brasil equivalentes às taxas praticadas em todo o mundo. O ideal é chegarmos, o quanto antes, a 8% ou 9%". (Leia mais no DCI)
Centrais fazem ato por redução da taxa de juros — A manifestação das centrais sindicais ontem pela manhã em São Paulo reuniu cerca de 1.300 pessoas na avenida Paulista, em frente ao Banco Central, segundo a Polícia Militar, e entre 5.000 e 10.000 trabalhadores de acordo com as entidades que organizaram o movimento. O protesto era contra demissões devido à crise econômica e pela redução da Selic em dois pontos percentuais.
Os representantes das centrais que se revezaram nos discursos orientavam os sindicalistas a fazer greve em todas as empresas em que houver demissão. "É hora dos empresários devolverem o lucro", afirmou Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores). "Na próxima [manifestação], se os juros não caírem, vamos invadir o Banco Central", ameaçou Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.
Em Brasília, os sindicalistas organizaram um churrasco em frente à sede do BC. Pouco menos de cem pessoas participaram do protesto, onde foram exibidas faixas com frases como "cai [sic] os juros ou cai [o presidente do BC, Henrique] Meirelles". Do carro de som, sindicalistas fizeram elogios a políticas sociais do governo federal, como o Bolsa Família, mas criticaram o BC e os bancos, inclusive os públicos, pelas altas taxas de juros.
Houve manifestações também em outros Estados, como Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas, Amazonas, Bahia, Sergipe e Espírito Santo. Em alguns locais, funcionários fizeram bloqueios nas entradas das fábricas e paralisações. Houve ainda um abaixo-assinado pedindo a redução dos juros. (leia mais na Folha)
Lupi vê sinais de melhora no emprego em janeiro
Leia mais: O ministro Carlos Lupi (Trabalho) afirmou ontem que dados preliminares sobre o mercado de trabalho formal em janeiro já apontam para a recuperação de alguns setores da economia, como agricultura, serviços e construção civil. Segundo o ministro, a indústria de transformação ainda não mostrou melhora, sendo o setor mais preocupante.
Apenas o setor automotivo, disse ele, vem apresentando dados mais positivos no mês e por isso os empresários do ramo deveriam ter mais "sensibilidade social". "Algumas demissões são inexplicáveis.
O setor automobilístico, por exemplo, com a redução do IPI, voltou a vender. Se tivesse paciência de esperar mais 15 ou 20 dias, não precisava demitir. Parte do empresariado tem que entender que nem todo dia é dia de lucro", disse o ministro, em tom de crítica.
Segundo ele, o setor de serviços começa a responder por conta das férias escolares e o movimento nos segmentos de hotelaria, por exemplo. "Isso sempre ocorre em janeiro. Da mesma forma que as férias geram demissões em outros setores", completou.
Sem flexibilização — Lupi demonstrou apoio às manifestações de trabalhadores contra demissões e descartou qualquer flexibilização das leis trabalhistas, argumentando que "o trabalhador não pode pagar a conta de uma crise que ele não criou". "É um direito dos trabalhadores se manifestar para manter empregos. A redução de juros é um ponto muito importante para isso", declarou horas antes da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que baixou em um ponto percentual a taxa básica de juros Selic. (Leia mais na Folha)
Leia mais: Dirigentes das principais centrais sindicais do país acusam empresários de setores que não foram atingidos pela crise de aproveitar o momento para flexibilizar direitos dos trabalhadores. Eles citam as áreas de energia elétrica e de cimento, as montadoras de veículos e os bancos.
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, classificou a atitude das empresas de chantagem.
- Até certo ponto, pode-se colocar como uma chantagem empresarial - disse Patah à imprensa, antes de reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar das demissões.
Já o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, considera oportunismo dos empresários as alegações de que necessitam reduzir a jornada de trabalho e os salários. Os sindicalistas defendem jornada menor desde que não haja alteração de salários.
- [Isso] coloca por terra a tese dos empresários de que no Brasil é difícil demitir. Se fosse difícil demitir, a gente não tinha tanto trabalhador demitido em 2008 - afirmou Henrique, referindo-se aos dados do Ministério do Trabalho que revelaram o fechamento de 654 mil postos de trabalho em dezembro do ano passado, o dobro da média para esse mês. (Leia mais em O Globo)
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