Confiança do consumidor é a maior desde abril de 2008
Já estamos no período do ano em que a euforia, os sorrisos, os grandes projetos contagiam todos do comércio. Nos aproximamos das festas natalinas e dos melhores momentos para o comércio, independente de crise e de oscilações da bolsa. Todo mundo quer acertar nesta época do ano, recuperar as perdas, apostar no próximo ano. É uma época na qual voltamos mesmo a acreditar na paz, na alegria. O reflexo desse espírito de fim de ano na confiança tanto do consumidor quanto dos empresários sérios do comércio é inevitável. Mas, mesmo assim, basta ir nas reuniões com os empresários que dirigem o setor, os que negociam salários e veremos que lá o que predomina é a cara feia dos que só vêem o próprio umbigo. Gente visivelmente despreparada para interagir com os demais setores da sociedade, que não percebem o enorme potencial do Brasil, que não estão nem aí para a imensa contribuição que os comerciários fazem aos seus negócios, num esforço permanente de relacionamento positivo com a clientela. Nas negociações com estes patrões e empresários do mau humor, temos que mostrar que é possível sim apostar na modernidade. E aos poucos, vamos isolando estes empresários. Ou o próprio mercado os eliminará, pois ou pensamos no coletivo, reforçando o mercado interno, ou os concorrentes saberão valorizar não apenas o ânimo dos consumidores mas também a dedicação e criatividade dos comerciários e comerciárias.
Leia mais: A crise financeira mundial já é página virada na opinião de consumidores paulistanos. É o que mostra o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) de setembro, divulgado hoje pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP). O indicador subiu 4,5% ante agosto e chegou a 146,1 pontos, o maior nível desde abril de 2008 (149 pontos) - recorde da série histórica do índice. O balanço da Fecomercio-SP trabalha com uma escala de zero a 200 pontos, indicando pessimismo abaixo de 100 pontos e otimismo acima desse número.O retorno da confiança do consumidor é atribuída por especialistas à trajetória positiva de alguns indicadores da economia. O economista da Fecomercio-SP Thiago Freitas ressaltou que as taxas de câmbio e de juros são as variáveis que mais têm influenciado a expectativa dos consumidores. "A estabilidade do câmbio, ainda com tendência de queda, e a redução dos juros são fatores que contribuem para a normalização do consumo das famílias", frisou.O ICC é composto por dois indicadores: o Índice das Condições Econômicas (Icea), que determina a opinião dos consumidores em relação à situação atual, e o Índice de Expectativas do Consumidor (Iec), que revela a percepção em relação à situação futura. O primeiro deles teve em setembro forte alta de 7,2% ante agosto, chegando aos 141,1 pontos. De acordo com os economistas, o segmento que mais influenciou a avaliação do Icea foi o de consumidores com idade de 35 anos ou mais, que apresentou elevação de 9,8%. "Isso se deu por causa da renda e do emprego. No acumulado dos sete primeiros meses de 2009, a massa real de rendimentos foi 4,7% maior que no mesmo período de 2008", lembrou Freitas, citando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Depois de dois meses consecutivos de queda, o Iec teve alta em setembro de 2,9% em relação ao mês de agosto, registrando 149,5 pontos. Dentre os indicadores que fazem parte do Iec, vale destacar a queda de 5,3% em relação aos consumidores com renda superior a 10 salários mínimos.
Exportação de básicos supera a de manufaturados após 31 anos
De janeiro a agosto deste ano, participação das commodities na pauta de vendas externas subiu para 42,8%
O Brasil exportou mais commodities do que produtos manufaturados pela primeira vez nos últimos 31 anos. De janeiro a agosto, as vendas externas de produtos básicos somaram US$ 41,9 bilhões - US$ 300 milhões a mais do que os US$ 41,6 bilhões de exportações de manufaturados. A participação das commodities nas exportações atingiu 42,8%, acima dos 42,5% dos manufaturados.
A crise global é a principal responsável pela significativa mudança na pauta de exportações do País. A turbulência atingiu mais duramente os clientes brasileiros de produtos manufaturados, como os EUA e os vizinhos da América Latina. Por outro lado, com a economia local crescendo 8%, a China manteve seu apetite por commodities e se tornou o principal destino das exportações do Brasil.
A participação da China nas exportações brasileiras avançou de 9,1% de janeiro a agosto de 2008 para 14,7% em igual período deste ano. Na mesma comparação, a fatia dos EUA caiu de 14,1% para 10,2%. As fatia de exportações para a América Latina e o Caribe também recuou de 25,4% para 21,6%.
Graças à demanda chinesa, as vendas de soja em grão, que respondiam por 6,8% das exportações de janeiro a agosto de 2008, atingiram 10,3% do total. A fatia do minério de ferro nas vendas externas do País subiu de 7,7% para 9%. Já a participação dos automóveis caiu de 2,5% para 2%; das autopeças, de 1,8% para 1,5%; e dos veículos de carga, de 1,1% para 0,7%.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Comércio Exterior do Brasil (AEB), a "primarização" da pauta de exportação é preocupante, porque torna o País mais vulnerável às oscilações de preços das commodities. Outro problema que os manufaturados enfrentam é a valorização do câmbio. Com o dólar a R$ 1,80, ficou mais difícil exportar.
"Essa receita com exportações de básicos está inflada. Não é sustentável. O mercado de commodities vive momentos de histeria", disse Fábio Silveira, sócio da RC Consultores. Na sua avaliação, o aumento das exportações de commodities é positivo no curto prazo, porque traz mais dólares ao País. Mas, no médio, é negativo, porque os setores ligados a commodities empregam pouco.
Os analistas de comércio exterior ainda não sabem se os produtos básicos vão continuar liderando as exportações até o fim do ano. Isso vai depender da performance da economia mundial. Se os EUA e a América Latina se recuperarem mais rápido que o previsto, as vendas externas de manufaturados podem reagir. (Leia mais no Estadão)
Metalúrgicos fazem greve e bancários ameaçam parar
Dois dias de paralisação nos Correios atrasam a entrega de 2,1 milhões de correspondências em SP.
Cerca de 40 mil metalúrgicos do ABC entraram em greve ontem por tempo indeterminado após recusarem proposta de reajuste salarial de 5,2%, considerada inferior ao esperado.A categoria quer 2% de aumento real de salário mais 4,4% de inflação e abono equivalente a 40% do salário médio."Vamos cruzar os braços até que as empresas assumam compromisso com essa proposta", afirmou Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Na região, apenas funcionários das montadoras fecharam acordo, com aumento de 6,53%.Em Itu (103 km de São Paulo), cerca de 5.000 trabalhadores das indústrias de autopeças e máquinas pararam as atividades ontem por uma hora.Os bancários também ameaçam entrar em greve por tempo indeterminado a partir da próxima quinta. Ontem, o comando nacional da categoria rejeitou, em negociação com os bancos, proposta de 4,5% de reajuste feita pela Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) a 415 mil bancários do país.Eles pedem reajuste de 10% e PLR de três salários mais R$ 3.850 fixos.A assembleia dos trabalhadores será realizada no dia 23, em São Paulo, para definir sobre a greve caso a Fenaban não apresente nova proposta."Os banqueiros perderam mais uma chance para buscar um acordo na mesa de negociação, ao apresentar um reajuste que não prevê aumento real de salários e PLR menor do que no ano passado, apesar de se manterem entre os setores mais lucrativos do país", disse Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e membro do Comando Nacional dos Bancários.Correios -- Depois de dois dias de greve, 2,1 milhões de correspondências já estão com a entrega atrasada na Grande São Paulo. A empresa diz que a zona postal da região metropolitana recebe 7 milhões de correspondências por dia. Em assembleias realizadas ontem em todo o país, os servidores rejeitaram a proposta de aumento salarial de 9% que serviria para atender às reivindicações deste ano e do ano que vem. Ou seja, não poderia haver campanha salarial em 2010. Além disso, haveria mais um aumento linear para todos de R$ 100 em janeiro de 2010. O sindicato irá apresentar uma nova contraproposta. (Leia mais na Folha)
Brasil é o 10º em investimento direto
O Brasil avançou quatro posições no ranking dos países que mais receberam investimento direto estrangeiro (IDE) em 2008 graças ao forte ritmo de expansão da economia até setembro. Como mostra reportagem de Ronaldo D'Ercole, publicada pelo Globo nesta sexta-feira, com o ingresso recorde de US$ 45,1 bilhões, 30% maior que em 2007, o país saltou da décima quarta para a décima posição entre as economias que receberam os maiores fluxos de divisas no ano passado, deixando para trás países como Alemanha, Itália, Suíça e Canadá.
A fatia do Brasil no volume total de IDE também cresceu, de 1,7% para 2,7%. Entre as economias emergentes, o Brasil só ficou atrás da China (que recebeu US$ 108,3 bilhões e saltou da sétima para a terceira posição no ranking geral), da Rússia (que ganhou quatro posições e ficou em quinto, com US$ 70,3 bilhões), e de Hong Kong (US$ 63 bilhões).
A Índia, que completa o grupo dos Brics (formado pelos quatro grandes emergentes), também avançou, da décima nona para décima terceira posição, com US$ 41,6 bilhões recebidos do exterior. A ascensão dos emergentes contrastou com o que aconteceu com o fluxo global de IDE, que diante do recrudescimento da crise financeira recuou 14,2% em 2008, de US$ 1,97 trilhão, um ano antes, para US$ 1,69 trilhão. A primeira queda depois de quatro anos seguidos de forte crescimento nos fluxos globais de IDE.
Mesmo tendo chegado ao fundo do poço de um processo recessivo, os Estados Unidos continuaram no topo do ranking dos países que mais receberam IDE em 2008, com US$ 316,1 bilhões, 16% mais que os US$ 271,2 bilhões que aportaram em sua economia em 2007. (Leia mais em O Globo)
(Para ler no fim de semana)
Saiba o que mudou no Brasil em um ano de crise
Nem uma marolinha, como chegou a prever o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nem um tsunami, como esperavam muitos empresários. É assim que analistas descrevem o resultado da crise no Brasil, pelo menos até o momento.
Um ano depois da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, alguns indicadores econômicos, entre eles o crédito e o desemprego, já voltaram aos níveis pré-turbulência.
Mas nem tudo são flores: as exportações estão 30% menores, e a dívida pública não para de subir.
Ainda é cedo para análises conclusivas sobre o impacto da crise no país, já que alguns indicadores podem levar mais tempo para mostrar os sinais da turbulência. No entanto, já é possível ter uma ideia de como o país vem se comportando.
Afinal, houve recuperação? Onde? Por quê? A BBC Brasil selecionou alguns indicadores - sociais, econômicos e políticos - para ilustrar como estava o país antes da crise e como se encontra agora, um ano depois. Clique nos links abaixo para saber mais sobre cada tópico:
Emprego -- Antes: O ano de 2008 foi um dos melhores da história do país em termos de geração de empregos, seja com carteira assinada ou no setor informal. A geração de empregos com carteira assinada bateu recorde no 1º trimestre do ano passado, com 554 mil contratações.
Com a economia brasileira aquecida, praticamente todos os setores foram beneficiados, com destaque para a indústria de transformação e de construção civil.
O resultado foi um ano de contratações e, como consequência, de redução do desemprego. O índice de desocupados, que ficou em 9,3% na média em 2007, caiu ainda mais em 2008: para 7,9% - o menor índice da série histórica do IBGE.
Depois: Em dezembro de 2008, o mercado de trabalho começou a mostrar os sinais da crise. Somente naquele mês, 655 mil pessoas foram demitidas do mercado formal, o pior resultado desde 1999. A situação se agravou nos quatro meses seguintes. De janeiro a abril, o desemprego no país subiu de 8,2% para 8,91%.
O pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Neri, diz que a crise atingiu principalmente os trabalhadores com maiores salários. "A crise certamente foi pior para os ricos", diz.
Neri avalia que os setores mais afetados - financeiro e indústria de exportação - costumam pagar salários maiores do que outros setores, como o de serviços. "Os que ganham menos acabaram sendo poupados, pelo menos até o momento", afirma.
Mas os especialistas já veem sinais de retomada. Ainda que lentamente, o desemprego vem caindo e chegou a 8% em julho - o melhor resultado deste ano.
Desigualdade e renda
Antes: O ganho real do brasileiro apresentava uma trajetória de crescimento expressivo desde 2003, em função principalmente da queda da inflação no período e de aumentos significativos do salário mínimo.
Um estudo do Ipea indicava que os ganhos foram ainda maiores para os trabalhadores de menor renda. De 2003 a 2007, esse grupo recebeu quatro vezes mais do que os ocupados de maior renda, o que ajudou a reduzir a desigualdade no país.
Em 2008, não foi diferente. O brasileiro chegou ao mês de dezembro do ano passado recebendo, em média, R$ 1.284,90 - com ganho de 3,4% no ano, já descontada a inflação.
Segundo o Ipea, todas as categorias tiveram ganho acima da inflação em 2008. Os servidores públicos foram os mais beneficiados, com aumento real de 4,8%. No setor privado, o ganho foi de 2,4%.
Depois: A partir de janeiro, no entanto, o país registrou uma forte inversão dos números. A crise se agravou no país, o desemprego aumentou e, como consequência, a renda do trabalhador passou a ficar negativa. A renda caiu de forma contínua de janeiro a junho, com uma perda acumulada de 2,5% no semestre.
Uma das hipóteses para a queda do rendimento nos primeiros meses do ano foi a troca de empregos em meio à crise. Segundo economistas, a situação fez com que as empresas não só demitissem, como também contratassem novos funcionários por um salário menor.
Um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que a pobreza e a desigualdade - que vinham caindo de forma constante de 2003 a 2008 - voltaram a subir nos primeiros quatro meses de 2009.
A partir de maio, porém, o cenário volta a melhorar. De acordo com Marcelo Neri, pesquisador da FGV, os indicadores de pobreza já voltaram ao patamar de 12 meses atrás. "Empatamos o jogo, pelo menos", diz o economista.
Contas do governo -- Antes: O ano de 2008 foi de recorde para o caixa do governo federal, que arrecadou R$ 685,6 bilhões, volume 7,6% maior que o de 2007, já descontada a inflação.
O resultado foi impulsionado principalmente pelo bom desempenho das empresas, que lucraram mais e, portanto, pagaram mais impostos.
Em 2008, o resultado primário (economia feita pelo governo para pagamento de juros) ficou em 4,07% do PIB - ou seja, um superávit de US$ 118 bilhões. A conta inclui as três esferas de governo e as empresas estatais. O resultado foi maior do que a meta definida pelo governo, de 3,8% do PIB.
A dívida líquida em relação ao PIB, outro importante indicador da solvência de um país, também caiu ao longo de 2008. De janeiro a dezembro, a dívida caiu 4,3 pontos para 38,8%.
Depois: A crise, no entanto, acertou em cheio as contas públicas. Para manter a economia aquecida, o governo federal lançou mão de medidas fiscais, como a redução do IPI sobre os carros, que diminuíram o dinheiro em caixa.
Além disso, houve uma abrupta redução dos impostos arrecadados das empresas, que sofreram com lucros menores.
Já são nove meses de quedas seguidas na arrecadação. Somente neste ano (de janeiro a julho), a receita está 7,3% menor do que a do mesmo período de 2008.
O resultado prejudicou a economia do setor público. De janeiro a julho, o superávit primário foi de 2,25% do PIB - menos da metade do valor economizado no mesmo período do ano passado.
A dívida líquida vem crescendo mês a mês. De acordo com o Banco Central, a dívida do país chegou a 44,1% do PIB em julho, o que representa uma alta de 4,5 pontos percentuais desde janeiro.
Crescimento econômico
Antes: Até o agravamento da crise financeira, em setembro, o desempenho da economia brasileira vinha de um período de pelo menos cinco anos de crescimento e estabilidade, com a inflação sob controle.
No primeiro semestre de 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 6% em relação ao mesmo período de 2007. Com juros mais baixos e renda maior, as famílias brasileiras tiveram mais acesso ao crédito, impulsionando o consumo interno.
A indústria e a agropecuária também acumularam bons resultados nos últimos anos, graças à valorização de algumas commodities no mercado internacional. De janeiro a setembro de 2008, o PIB do setor industrial cresceu 6,4%, e o da agropecuária, 4,2%.
Depois: Em setembro, porém, a crise financeira prejudicou o acesso das empresas ao crédito e desestabilizou as exportações brasileiras.
Além da falta de crédito, as empresas exportadoras enfrentaram a redução da demanda no mercado internacional. De setembro a dezembro, o PIB da indústria brasileira encolheu 7,4% em relação ao mesmo período de 2008.
As famílias também sentiram o baque da crise. Com crédito escasso e mais caro, o consumo interno registrou uma queda de 2% no último trimestre de 2008, a primeira queda em seis anos.
Com todos esses efeitos negativos, o PIB do 4º trimestre caiu 3,6% em relação ao trimestre anterior, a maior queda desde 1996. No primeiro trimestre de 2009, a economia voltou a cair, dessa vez em 0,8%, confirmando a recessão técnica no país.
Estimulada principalmente pelo consumo interno, a economia brasileira saiu da recessão no 2º trimestre deste ano, com crescimento de 1,9% - e o governo já estima expansão de 1% em 2009.
Aprovação ao governo Lula -- Antes: A aprovação ao governo Lula, assim como à figura do presidente, crescia mês a mês desde novembro de 2005, de acordo com levantamento do Instituto Sensus, a pedido da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).
Em novembro de 2005, a avaliação positiva do governo era de 31,1%. Em setembro de 2008, a poucos dias da quebra do banco Lehman Brothers, esse número chegou a 68,8%. No mesmo período, a aprovação (ou popularidade) ao presidente saiu de 46,7% para 77,7%, o maior nível até então registrado pelo instituto.
Pela pesquisa Datafolha, mais antiga que a Sensus, a aprovação máxima atingida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso durante seu governo foi de 47%. Cientistas políticos creditavam o bom desempenho do presidente Lula nas pesquisas ao crescimento econômico do período.
Depois: Tanto a aprovação ao governo como ao presidente Lula continuaram crescendo nos meses imediatamente após o agravamento da crise financeira. A popularidade do presidente, por exemplo, chegou a 84% em janeiro.
Na pesquisa seguinte, no entanto, o número caiu. O brasileiro tomou maior conhecimento da crise e, em março, a aprovação do presidente perdeu quase oito pontos percentuais, para 76,2%. Ainda assim, um número considerável, especialmente para um presidente em 2º mandato.
A queda, no entanto, mostrou-se passageira. As medidas adotadas pelo governo, como a redução de impostos sobre carros e eletrodomésticos, foram bem recebidas pelo brasileiro: em maio, a aprovação do governo subiu sete pontos, para 69,8%, e a do presidente ganhou cinco pontos, para 81,5%.
Na pesquisa mais recente realizada pelo Sensus/CNT, a aprovação ao governo e ao presidente voltaram a oscilar para baixo - mas, desta vez, o motivo apontado não foi mais a crise financeira, e sim a crise política. Em setembro, a aprovação ao governo foi de 65,4%, e a do presidente ficou em 76,8%.
Papel do Estado na economia -- Antes: A história recente dos mercados vinha sendo marcada pelo liberalismo econômico, corrente que nasceu nos Estados Unidos, na década de 1980, e que foi sendo gradualmente aceita e adotada, sobretudo nas democracias ocidentais.
Uma de suas principais bandeiras é a auto-suficiência dos mercados. Ou seja, agentes econômicos seriam capazes, por conta própria, de prevenir o surgimento de novas crises financeiras.
Um dos maiores defensores dessa linha foi o então presidente do Banco Central americano, Alan Greenspan. Sob sua tutela, o governo dos Estados Unidos adotou um modelo que permitiu maior liberdade à atuação de instituições financeiras.
O discurso defendido pela maior economia do mundo acabou influenciando o mercado internacional. Ainda que com ênfases diferentes, os principais países também passaram a defender a política econômica de não-intervenção do Estado na economia.
Depois: O surgimento de uma crise no centro financeiro dos Estados Unidos colocou em xeque o pensamento liberal até então vigente. O próprio Greenspan admitiu, durante uma audiência no Congresso americano em novembro passado, ter errado "parcialmente" na condução da política monetária e financeira.
Com o agravamento da crise, os principais países do mundo passaram a defender abertamente uma maior participação do Estado na economia. Essa tem sido, por exemplo, uma das principais bandeiras nas reuniões do G20 (grupo dos principais países ricos e emergentes).
O discurso também vem sendo adotado no Brasil. Nas palavras do presidente Lula, o Estado passou a ter um papel "extraordinário".
Em entrevista à BBC Brasil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo deve ser "indutor" de alguns setores. "Não é o velho estatismo, mas é uma maior participação do Estado do que os liberais pregam", disse.
Juros -- Antes: Antes de a crise financeira aportar no Brasil, a equipe econômica do governo tinha outra preocupação: a volta da inflação. Ao longo de 2008, o consumo do país vinha crescendo a uma taxa anual de 9%, o que - para o Banco Central - demonstrava um aquecimento excessivo.
Com juros em queda desde 2003, o brasileiro pegou mais empréstimos. O crédito para pessoa física, que - no início de 2005 - correspondia a 7% do PIB, subiu para 12% em janeiro de 2008.
Desde o início de 2008, o Banco Central passou a alertar sobre um provável desequilíbrio: o consumo andava mais rápido do que a produção, pressionando os preços para cima.
Por esse motivo, em abril de 2008, o Banco Central decidiu aumentar a Selic para 11,75%, a primeira alta desde 2005. O fantasma da inflação justificou ainda mais três elevações dos juros ao longo do ano, chegando a 13,75% em dezembro de 2008.
Depois: Com o agravamento da crise financeira, a partir de setembro, o Banco Central enfretou um dilema: era preciso decidir o que preocupava mais, se a inflação ou uma possível recessão. A decisão foi aguardar: nas reuniões de setembro e dezembro de 2008, a Selic foi mantida em 13,75%.
O setor produtivo, como a Confederação Nacional da Indústria, e até parte dos analistas de mercado, criticaram a elevação dos juros em meio à crise econômica - em movimento contrário ao adotado nas principais economias do mundo.
A partir de janeiro, a política monetária passou a ser usada para diminuir o impacto da crise no Brasil. Desde então, a taxa caiu de 13,75% para 8,75%. O consumo interno, que havia caído no 1º trimestre do ano, voltou a impulsionar a economia no 2º trimestre, com alta de 2,1%.
Em agosto, os juros para pessoas físicas cobrados pelos bancos no país chega a 7,57% ao mês, o menor nível desde 1995.
Comércio Exterior -- Antes: A valorização de commodities no mercado internacional, aliada a uma política de diversificação de mercados, contribuiu para a expansão das exportações brasileiras nos últimos anos.
De 2003 a 2008, as vendas de produtos brasileiros no exterior cresceram 174%, ajudando a impulsionar a indústria no país.
Com o consumo no país em alta, as importações tiveram um desempenho ainda mais significativo, com alta de 258% no mesmo período.
No acumulado de janeiro a setembro de 2008, ou seja, até o agravamento da crise financeira, as exportações bateram recorde, com vendas de US$ 150,8 bilhões.
Depois: A quebra do banco Lehman Brothers acertou em cheio a oferta de crédito internacional. Com isso, as empresas exportadoras brasileiras enfrentaram sérias dificuldades para encontrar financiamento no exterior.
O setor teve de lidar ainda com a redução do consumo mundial, diante da possibilidade de uma recessão generalizada. O comércio internacional foi fortemente afetado pela crise.
O resultado tem sido a queda nas exportações brasileiras. De janeiro a agosto, houve retração de 24% sobre o mesmo período de 2008.
A crise não só diminuiu o volume das vendas, mas também mudou o perfil dos produtos exportados: os industrializados vêm perdendo espaço para os produtos básicos (commodities) - o que alguns economistas descrevem como um "empobrecimento" das exportações brasileiras. (O Globo)
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