Apagão na Educação e na Qualificação ameaçam crescimento brasileiro
O grande gargalo que afetará diretamente nosso crescimento econômico, se nada for feito com urgência, é o descaso com que vem ao longo de décadas sendo tratada a Educação e a Qualificação no Brasil. Precisamos da formação acadêmica e da qualificação do pessoal operacional. Sem técnicos e pessoal especializado na média gerência, as companhias não têm como crescer. Ao mesmo tempo, sem apoiar a requalificação da mão-de-obra do conjunto das empresas, desde o chão de fábrica, ao vendedor e ao prestador de serviços não conseguiremos dinamizar a produção e, muito menos, melhorar os níveis de atendimento necessários e inadiáveis nos setores de serviços e de comércio. Mas para conseguir fazer frente às pressões do desenvolvimento tecnológico e de expansão econômica temos que investir, com urgência, na Educação e na Qualificação. A UGT já faz esta campanha desde a sua criação há quase três anos. E vai exigir dos futuros candidatos à presidência e aos governos dos Estados um compromisso formal de se investir a curto prazo de maneira significativa na formação e qualificação dos nossos jovens, no incentivo à formação acadêmica e na oferta de muito mais cursos técnicos para a população. (Ricardo Patah, presidente nacional da UGT)
Sobram vagas em 67% das empresas
Pesquisa com maiores companhias do País mostra falta de mão de obra qualificada em setores como o automobilístico, siderurgia e outros
A escassez de mão de obra especializada virou um tormento no dia a dia das grandes empresas. Depois de atingir a construção civil e a indústria naval, agora a falta de profissionais se espalha por setores como o automobilístico, ferroviário, moveleiro, siderurgia e metalurgia, transportes e serviços, aponta levantamento feito pela Fundação Dom Cabral com as 76 maiores companhias do País.
O trabalho mostra que 67% das empresas pesquisadas têm enfrentado dificuldade na contratação de funcionários, apesar dos 8 milhões de desempregados no Brasil. "Somos o país das disparidades: há dinheiro para investir, mas a mão de obra especializada está cada vez mais escassa", observa o professor Paulo Resende, responsável pelo levantamento.
Na avaliação dele, essa questão pode se transformar num gargalo perigoso - a exemplo das carências da infraestrutura - para o crescimento sustentável do País, acima de 5% ao ano na próxima década. Ele conta que encontrou casos de companhias que estão importando mão de obra de outras nações da América Latina. "No setor de petróleo, trazem profissionais da Venezuela; no Agronegócio, de Argentina, Uruguai e Paraguai."
A alternativa também tem sido estudada pela indústria de móveis, afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Estado do Paraná (Simov), Aurélio Sant’Anna. Há dez anos, qualquer pessoa poderia trabalhar em uma das nossas empresas. Hoje ele precisa saber ler manuais sofisticados e lidar mais com a eletrônica."
O empresário afirma que, em sua empresa, não consegue cumprir a meta de contratar apenas funcionários com ensino médio. Ele conta que tem demorado quase dois meses para preencher uma vaga e, mesmo assim, com profissional aquém do perfil desejado. "Hoje o jovem não está interessado em ser moveleiro. Temos uma boa encrenca para resolver pela frente. Por isso, há uma possibilidade de contratar pessoas da Argentina e do Uruguai."
Qualificação. A reclamação de Sant’Anna é compartilhada por empresas de outros setores. Segundo o levantamento da Dom Cabral, hoje a principal carência das grandes companhias é encontrar pessoas qualificadas para os cargos de operação. Os setores mais afetados são o automobilístico, de papel e celulose e serviços.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), Gerson Schmitt, destaca que um dos principais efeitos da falta de mão de obra no setor tem sido a elevação dos salários a ponto de empurrar serviços para fora do País. "A situação está tão delicada que empresas indianas pegam trabalho no Brasil para ser desenvolvido no exterior."
Outro problema, diz o executivo, é a alta rotatividade do mercado. Além de garantir um salário elevado para os profissionais, as empresas têm de oferecer benefícios atrativos para garantir a retenção, afirma Schmitt, que representa 780 empresas no País. (Estado)
Câmbio provoca desindustrialização do País, diz estudo
Levantamento da FGV aponta que o Brasil enfrenta problema conhecido em economia como 'Doença Holandesa'
Grupo de economistas desenvolvimentistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) fez uma radiografia completa da influência do câmbio na economia brasileira e chegou a uma conclusão polêmica: a "doença holandesa" está provocando a desindustrialização do País.
A "doença holandesa" ganhou esse nome porque uma alta dos preços do gás na década de 60 aumentou as exportações da Holanda e valorizou o florim (moeda da época). E é isso que o conceito significa: ao exportar muita commodity, o país atrai dólares, o que valoriza a moeda e prejudica outros setores.
Outro resultado surpreendente do estudo aponta que os efeitos do real forte são marginais nas exportações, mas intensos nas importações.
O levantamento dos pesquisadores é composto por sete estudos, somando mais de 263 páginas. Os estudos analisam os impactos da taxa de câmbio na estrutura da indústria, no comércio exterior, no crescimento econômico e nas finanças públicas. Avaliam ainda as relações da moeda brasileira com os preços internacionais das commodities e a eficiência dos mercados futuros de câmbio no País.
A polêmica sobre a desindustrialização voltou ao debate econômico e político por causa do robusto déficit da indústria da transformação este ano, que chegou a US$ 7,1 bilhões no primeiro trimestre. (Estado)
Bancos ampliam presença em favelas
Com renda em alta e desemprego em queda, estratégia é se aproximar de pessoas com menor poder aquisitivo. Santander planeja abrir unidade no Complexo do Alemão (RJ), e o Bradesco, dois pontos em Paraisópolis (SP).
A necessidade de chegar perto do consumidor de menor renda levou os bancos, a exemplo do que já fizeram redes varejistas, a abrir pontos de atendimento nas maiores favelas de São Paulo, Rio de Janeiro e periferia de Brasília.
A estratégia deu certo e ao menos duas instituições já estudam ampliar o atendimento a esses clientes em comunidades de grande densidade populacional.
O Bradesco, que no ano passado abriu agência na favela de Heliópolis (zona sul de SP), onde moram 120 mil pessoas, planeja agora construir dois pontos de atendimento na favela de Paraisópolis (zona sul). A primeira comunidade atendida foi a da Rocinha (zona sul do Rio).
O Santander estuda construir uma agência no Complexo do Alemão (zona norte do Rio). A abertura está prevista para este ano.
"Com o aumento da renda e a queda do desemprego, a mobilidade social fica cada vez visível no país. A Classe D deve gastar neste ano mais do que as C e D juntas", diz Odair Afonso Rebelato, diretor-executivo do Bradesco.
"O aumento real do salário mínimo tem impacto na renda dessas pessoas, que têm anseios e precisam ser atendidas", acrescenta.
Pesquisa feita há dez anos pelo Bradesco com 3.300 pessoas (com renda individual inferior a R$ 800) mostrou que 73% consideravam essencial ter conta-corrente, e 11%, cartão de crédito.
Atualizada a pesquisa, hoje, para 73%, é essencial ter cartão de crédito e 90% querem consumir mais.
No Santander, os serviços mais usados pela baixa renda ainda são cartão de crédito, cheque especial e crédito pessoal. Mas seguros de imóveis e pessoais e produtos que garantam a educação dos filhos (como Prev Educar) já começam a atrair o cliente de baixa renda.
"É um consumidor exigente, que sabe escolher. Como o dinheiro que dispõe é limitado, não pode errar", diz Walter Rinaldo, do segmento de pessoa física do Santander.
Os bancos públicos já preparam serviços personalizados para esses clientes, como gerentes de contas específicos. Um dos projetos é criar uma central de atendimento telefônico (telemarketing) para que um gerente atenda vários clientes.
BARCO — A baixa renda das demais regiões do país também está na mira dos bancos. Em dezembro, o Bradesco criou agência no barco Voyager III, que já funcionava como mercado para 210 mil ribeirinhos que moram entre Manaus e Tabatinga (AM).
O barco mudou a cara de Belém de Solimões. "Montei uma venda em casa e reformei o local com empréstimo de R$ 6.000. A casa virou correspondente bancário. Hoje, muitos aposentados não precisam ir oito horas de barco para buscar o benefício do INSS", diz Lucila Tananta. (Folha)
Para sociólogo, Brasil ainda vive um abismo social
Jessé Souza afirma que Bolsa Família não consegue incluir mais pobres e resolver questão da desigualdade. Especialista é autor de "A Ralé Brasileira", em que estuda parcela da população que vive como "subgente".
Na contramão dos estudos que apontam melhora da distribuição de renda no Brasil, o sociólogo Jessé Souza afirma que o país ainda vive uma "desigualdade abissal" em sua sociedade.
Coordenador do Centro de Pesquisa sobre Desigualdade Social da Universidade Federal de Juiz de Fora, Souza lançou recentemente o livro "A Ralé Brasileira", em que estuda as características dessa "parcela da população que vive como subgente".
A seguir, trechos da entrevista concedida por Souza.
Folha - A proporção de brasileiros vivendo abaixo da linha da miséria caiu nos últimos anos. Em seu último livro, o sr. diz ser falsa a tese de que a desigualdade brasileira está desaparecendo. Por quê?
Jessé Souza - Esses índices mostram apenas que a pobreza absoluta diminuiu. Mas a desigualdade é um conceito relacional.
O Brasil é uma das sociedades complexas mais desiguais do planeta. Entre 30% e 40% de sua população tem inserção precária no mercado e na esfera pública.
Somos uma sociedade altamente conservadora, que aceita conviver com parcela significativa da população vivendo como "subgente".
Essa classe social, que chamamos provocativamente de "ralé", é a mão de obra barata para as classes média e alta que podem -contando com o exército de empregadas, motoboys, porteiros, carregadores, babás e prostitutas- se dedicar às ocupações rentáveis e com alto retorno em prestígio.
É isso que chamo de "desigualdade abissal" como nosso problema central.
Qual sua avaliação sobre o Bolsa Família?
O programa Bolsa Família tem extraordinário impacto social, econômico e político, com investimento público relativamente muito baixo. É incrível que não se tenha pensado nisso antes. Mais incrível ainda que exista gente contra.
Por outro lado, o Bolsa Família não tem condições, sozinho, de reverter o quadro de desigualdade e "incluir" e "redimir" a "ralé".
Esse é um desafio de toda a sociedade, e não apenas do Estado. É claro que houve avanços nas duas últimas décadas, mas mudança social é muito mais do que condições econômicas favoráveis.
O senhor tem argumentado que não é possível limitar a discussão de classe à questão da renda e que é necessária uma nova compreensão das classes sociais.
A redução das classes sociais ao seu substrato econômico implica perceber apenas os aspectos materiais, como dinheiro, e "esquecer" a transmissão de valores imateriais, como as formas de agir no mundo.
E são esses valores imateriais que constituem os indivíduos como indivíduos de classe, com comportamentos típicos incutidos desde a mais tenra infância.
Como regra, as virtudes são todas do "espírito", como a inteligência. Os vícios são ligados ao "corpo". As classes superiores "incorporam" as virtudes espirituais, e as inferiores, as virtudes ambíguas do corpo.
As virtudes do espírito recebem bons salários, prestígio e reconhecimento social. As classes do "corpo" tendem a ser animalizadas, podendo ser usadas e até mortas por policiais sem que ninguém se comova com isso.
E o senhor afirma que mesmo a educação é insuficiente?
É claro que a educação é um fator fundamental. O problema é que a competição social não começa na escola.
Sem considerar que crianças de classes diversas já chegam à escola como vencedoras ou perdedoras, o que teremos é uma escola que só vai oficializar o engodo do mérito caído do céu de uns e legitimar, com a autoridade do Estado e a anuência da sociedade, o estigma de outros. (Folha)
Pesquisa mostra que, para 72% dos brasileiros, trabalho dá prazer
"Tenho a eternidade toda para descansar". Essa frase da professora Angela Lacerda, de 63 anos, sintetiza bem a importância que o trabalho assume na vida dos brasileiros. Pesquisa realizada pela Agência NovaS/B com mais de duas mil pessoas em todo o país traz essa característica de forma bem marcante nas escolhas das opções oferecidas pelos pesquisadores.
Angela dá aula em dois colégios públicos e nas horas vagas, que são poucas, costura bolsas que vende na Feira de Ipanema aos domingos:
- Trabalho de domingo a domingo. Mesmo que ganhasse na Mega-Sena não diminuiria o ritmo. Só iria trabalhar com menos ansiedade.
Pela pesquisa, 72% dos entrevistados concordaram com a afirmação "trabalho sempre me deu prazer". Para Angela, isso é patente. Aos 18 anos, começou a trabalhar. Quarenta e cinco anos depois, acorda às 5h30m e só para perto da meia-noite. Além do trabalho, ajuda a filha mais nova, de uma prole de cinco, a cuidar da neta. E visita diariamente a mãe acamada. E os filhos? Como professora, levava os filhos para escola. Enquanto trabalhava, ficava perto deles:
- Trabalho para mim é muito importante. É a maneira de proporcionar coisas para os filhos.
A socióloga do Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp Elisabete Doria Bilac vê duas explicações para essa valorização do trabalho, que não diferencia classe de renda ou sexo. A primeira está na boa conjuntura econômica. Mais emprego com carteira assinada e salários mais altos criam uma boa relação com o trabalho:
- Tem um otimista nessa resposta. Além disso, o trabalho identifica o ser humano. Ele é mais respeitado quando trabalha. Essa sensação de prazer até surpreende um pouco, diante do grau de informalidade (mais de 40% são trabalhadores sem carteira assinada) e desproteção no mercado de trabalho.
A estabilidade é outro valor fortalecido na vida dos brasileiros. Pela pesquisa, as perguntas que tratam de emprego público, com carteira assinada e o sonho da casa própria identificaram 39% dos entrevistados. A tradutora Daniela Madruga tem um sonho: conseguir um emprego público. A estabilidade financeira, principalmente depois da aposentadoria no setor público, é mais atraente:
- Meu trabalho é incerto. Posso ficar dois a três meses sem trabalhar. Isso causa ansiedade. Conheço pessoas que chegaram à terceira idade e se aposentaram no serviço público e estão tranquilas hoje. Outros, do setor privado, estão passando dificuldades. (O Globo)
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