Lula pede que 'síndrome do pânico' não domine economia e pede ousadia ao setor automobilístico
Em reunião que tive com Otávio Valejo, presidente do Sindicato das Revendas de Automóveis, concluímos que devemos apostar na transparência para mostrar a gravidade da crise, mas tomar todos os cuidados, conforme o faz o presidente Lula, para evitar a o terror de transformar a realidade num monstro muito maior do que poderia vir a ser. Neste blog procuramos contextualizar as informações, mostrar a quem interessa as manipulações, exigir punição exemplar para os especuladores e buscar mecanismos para proteger os trabalhadores e as empresas que produzem e exportam. Porque nos preocupa o Brasil e sua economia. E nos move a certeza de que o povo brasileiro, otimista por natureza, é muito maior que a crise.
Leia mais: Num novo alerta sobre os reflexos da crise financeira internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, na noite desta quarta-feira, na abertura do Salão do Automóvel, em São Paulo, que o país não pode ser contaminado pelo que chamou de "síndrome do pânico". Segundo ele, o brasileiro não deve se render a uma espécie de guerra emocional que estaria tomando conta do mundo por conta da turbulência do mercado financeiro internacional.
- Temos que olhar para isso (a crise) com a atenção que ela merece de nós. Mas não podemos entrar na síndrome do pânico e paralisar nossas atividades por causa da crise - disse Lula, acrescentando que o sistema financeiro brasileiro mostrou que é mais sólido que o daqueles que antes "tentavam nos ensinar".
A isso, afirmou o presidente, somam-se "indicadores favoráveis" como a diversificação da pauta de exportações e as reservas cambiais.
Temos que olhar para isso (a crise) com a atenção que ela merece de nós. Mas não podemos entrar na síndrome do pânico e paralisar nossas atividades por causa da crise
- Entretanto é importante que a gente faça reflexão de que é uma crise possivelmente tão ou mais séria que a crise de 1929. É uma crise que nasce no coração da principal economia do mundo - emendou o presidente, durante abertura do 25º Salâo Internacional do Automóvel, no Parque de Exposições do Anhembi, ao lado do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e do prefeito reeleito Gilberto Kassab (DEM).
- Todos sabemos que tem uma crise que nasce um pouco da irresponsabilidade daqueles que querem ganhar dinheiro sem produzir absolutamente nada. O dado concreto é que, em alguns países, essa crise começa a chegar na economia real. Certamente, temos a perspectiva de que haverá problema de redução de consumo em alguns países, em especial nos Estados Unidos da América do Norte - disse o presidente Lula, garantindo que o governo tratará o setor automobilístico como uma de suas prioridades
Tenho feito questão de ser uma espécie de pregador do otimismo neste país. Tem gente que não gosta.
- Vamos tomar conta de alguns setores da economia que consideramos cruciais - disse Lula, citando como exemplo industria automobilística e a construção civil.
- O que nós não podemos é aceitar que o pânico, o medo, a desconfiança gere qualquer problema para a gente fazer as compras que a gente tem que fazer - advertiu o presidente no discurso, ao lado de Serra, para centenas de empresários e executivos do setor automobístico brasileiro.
- Mantenham os investimentos anunciados de US$ 22 bilhões até 2010. Não há nenhuma razão para vocês pararem com os investimentos. Não me negarei a ser garoto-propaganda dos produtos brasileiros onde o Brasil ainda puder vender. Acho que o momento é de ousadia - pediu Lula, sendo aplaudido pelos empresários.
Fed reforça o caixa do BC com operação de US$ 30 bi
Essa notícia nos mostra que a crise é grande. Pela primeira vez na História moderna temos um acordo de transferência de recursos entre bancos centrais. O lado positivo desta decisão, mesmo diante da crise imensa e global, é que o Real foi aceito na transação, o que legitima as políticas adotadas pelo governo brasileiro de manutenção da estabilidade da moeda. Hoje o Real é uma moeda com reconhecimento mundial e assim que superarmos essa crise, pois vamos superá-la, nossa moeda, nossa economia e nosso País estarão em um patamar mundial mais elevado.
Leia mais: Dinheiro extra deve ser utilizado para o País enfrentar a escassez de dólares no mercado.
O Banco Central anunciou ontem que recebeu um reforço de US$ 30 bilhões para as reservas internacionais, que poderão ser usados para controlar o mercado de câmbio. A ajuda é resultado de um acordo com o Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos), que terá validade até 30 de abril de 2009. O Fed anunciou entendimento idêntico e em igual valor com México, Cingapura e Coréia do Sul. Os dólares serão recebidos pelo Brasil e, como garantia, o BC vai enviar reais aos Estados Unidos.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, comemorou o significado do acordo porque inclui formalmente o Brasil no grupo de países com "economias sistemicamente importantes". Para Meirelles, o entendimento com as autoridades americanas representa o "reconhecimento da qualidade da política econômica" conduzida pelo País.
Com esse acordo, o Brasil terá recursos extras para amenizar o efeito da crise, que reduziu a oferta de dólares. Atualmente, a autoridade monetária tem atuado no câmbio, com a venda da moeda que está nas reservas internacionais, o que tem diminuído gradativamente esse montante.
O BC recebeu autorização para fazer acordos desse tipo com a Medida Provisória 443, a mesma que permitiu que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal comprem participação acionária em bancos e empresas. A partir da regulamentação do acordo - que será feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), será possível usar os recursos do Fed para aliviar a pressão do mercado. Assim, será preservado o nível das reservas brasileiras. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre enaltece o nível superior a US$ 200 bilhões das reservas, que funcionam como um dos escudos contra a crise.
Diferentemente de antigos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o entendimento com o Fed não implica "condicionalidades de política econômica", destaca nota divulgada pelo BC. Quando o acordo for regulamentado e houver a operação, o Fed vai creditar os dólares nas reservas brasileiras. Em contrapartida, o Brasil remeterá valor equivalente em reais aos EUA. Segundo o BC brasileiro, o crédito dos recursos será feito de acordo com a demanda, não necessariamente de uma só vez.
De acordo com a assessoria de imprensa do BC, não há custos nem variação cambial embutidos na operação. Ou seja, os dólares do Fed que ingressarem no Brasil serão devolvidos pelo mesmo volume de reais remetido aos EUA.
Para economistas, o BC ganhou mais poder para restabelecer a liquidez do mercado cambial. "A medida visa a maior liquidez ao mercado. Isso aumenta o poder de fogo do BC", disse o economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos. Com avaliação semelhante, o economista-chefe da Mauá Investimentos, Caio Megale, disse que o acordo "aumenta a bala do BC".
Megale observa, porém, que a ajuda tem um aspecto que não deve ser comemorado: os países beneficiados são os que mais sofreram com os swaps corporativos, como os que provocaram prejuízos à Aracruz, Sadia e Votorantim. "Sabemos que México, Brasil e Coréia do Sul são os países cujas empresas mais sofreram com derivativos." Para ele, Cingapura seria o único que não estaria entre os mais prejudicados pelos derivativos cambiais.
Além de Brasil, Cingapura, Coréia do Sul e México, Austrália, Canadá, Dinamarca, Inglaterra, Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Suíça e a União Européia já têm acordos semelhantes com o Fed.
Decisão de manter taxa de juros em 13,75% divide indústria, comércio e centrais
A UGT gostaria que a taxa de juros fosse reduzida. Mas apoiou a manutenção como a escolha menos ruim, que mostrou bom senso do Copom neste momento de turbulência global.
Leia mais: A decisão do Copom de manter a taxa de juros em 13,75% ao ano dividiu a opinião da indústria, do comércio e das centrais sindicais. Para a indústria paulista, a medida não favorece a economia do país, em meio a uma crise internacional. Já representantes do comércio, do setor de infra-estrutura e da indústria nacional avaliam que a medida foi correta ao levar em conta o risco de recessão.
A Fiesp (federação das indústrias paulistas) ressaltou que, enquanto nos EUA os juros caíram de 1,5% para 1% ao ano e os bancos centrais do mundo sinalizam para o corte da taxa, o Brasil não agiu na mesma direção. Em nota, diz que, em abril deste ano, o Copom iniciou um processo de aumento da Selic, para encarecer o crédito e não deixar que o aquecimento da economia pudesse trazer aumento da inflação. "Essa intenção vai em sentido oposto à pretendida pelo mundo no atual cenário econômico."
Paulo Skaf, presidente da Fiesp, afirma que "a manutenção da Selic deve ser bem recebida pela sociedade, desde que seja vista como o início de um processo de queda continuada dos juros, fator essencial à retomada do crédito evitando, assim, maior freada da atividade econômica no Brasil".
Para a Associação Comercial de São Paulo, a decisão "decepcionou o lado real da economia". Alencar Burti, presidente da entidade, diz que os empresários esperavam corte da taxa, "tendo em vista a forte retração do crédito, o aumento dos juros e a redução de prazos de financiamento, que vêm afetando as vendas do varejo, provocando redução da produção e de horas trabalhadas em muitos segmentos, com risco de levar à demissão de trabalhadores".
Armando Monteiro Neto, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) classifica a decisão de interromper o ciclo de elevação dos juros como "sensata". "Reduzir os compulsórios, liberar recursos para o sistema interbancário e interromper o ciclo de alta dos juros são ações corretas que buscam diminuir os impactos do empoçamento de liquidez", avalia. "Mas essas medidas podem não ser suficientes."
Para a Abdib (indústria de base), a decisão foi coerente e responsável. "O cenário econômico interno e externo mudou bruscamente nas últimas semanas, exigindo outras ações de política econômica, diferentes daquelas que vinham sendo adotadas. Tão importante quanto manter a inflação sob controle é agir para manter níveis razoáveis de crescimento econômico neste e no próximo ano, o que não significa atentar para um e descuidar do outro."
Abram Szajman, presidente da Fecomercio, diz que o Copom acerta ao levar em conta o risco de recessão, mas espera que, já na próxima reunião, prevista para dezembro, possa ser iniciado o processo de redução da taxa básica. "Se o governo não reduzir os juros, setores industriais dependentes de crédito, voltados apenas para atender o mercado interno, são os que sofrerão mais. É o caso do setor automobilístico e da construção civil, justamente aqueles que o governo considera como os mais relevantes para manter o ritmo de atividade e o nível de emprego", diz.
Para a Força Sindical, a decisão reflete a "insensatez" da equipe econômica e vai prejudicar os trabalhadores. A CUT chamou a decisão de "conservadora" e avalia que o Brasil "precisa baixar de forma agressiva os juros e diminuir o superávit primário". Para a CTB, o BC "joga contra o desenvolvimento nacional". A UGT apoiou a decisão do BC, embora reconheça que não é "a ideal".
Construtoras ganham até R$ 11 bi para aumentar o capital de giro
Mais uma vez se prioriza a construção civil o que é bom pois garante a geração de empregos. Nossa preocupação é com a outra ponta do crédito, ou seja, facilitar a compra dos imóveis pela classe média e pelos trabalhadores. Se não resolver essa ponta, vamos apenas estocar imóveis novos ou construir para a elite, o que não resolve o problema dos trabalhadores que querem ter o direito de comprar a tão sonhada casa própria.
Leia mais: Dinheiro sairá da liberação de 5% dos depósitos da caderneta de poupança; só a Caixa já garantiu R$ 3 bi
O governo anunciou ontem a criação de uma nova linha de financiamento do capital de giro das empresas de construção civil. O objetivo da medida é conter o desaquecimento do setor, que é um grande empregador.
A linha será formada por meio da liberação de 5% dos depósitos da caderneta de poupança e poderá atingir R$ 11 bilhões. Hoje, os bancos têm de destinar 65% dos depósitos da poupança ao crédito imobiliário. A partir de agora, 5% entre os 65% poderão ser usados para financiar as construtoras. A decisão dependerá dos bancos. A Caixa Econômica Federal antecipou que oferecerá R$ 3 bilhões para cobrir custos de construção e compra de carteira de recebíveis das empresas.
A linha oferecida pela Caixa terá garantia especial do próprio governo federal, por meio de retenção de dividendos, e será oferecida às empresas a uma taxa de 10% a 11% ao ano mais variação da Taxa Referencial (TR), que hoje está em torno de 1,38% ao ano. Ou seja, as empresas com dificuldades em manter suas obras em andamento poderão tomar dinheiro emprestado a um custo de 11,4% a 12,4% ao ano - menos do que a própria taxa Selic, de 13,75%.
"Tudo está sendo feito pela taxa de juros de mercado", disse o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.
O argumento é que os recursos da poupança são captados a cerca de 7% ao ano - rentabilidade que os depositantes recebem pelo dinheiro que aplicam nos bancos. Portanto, se cobrar 12%, a Caixa ainda ainda teria cerca de 5% de lucro ao ano.
O problema é o risco da operação, e por isso o Ministério da Fazenda decidiu criar, por meio de medida provisória, um fundo garantidor dos empréstimos que serão concedidos pela Caixa. A MP "dispensa o recolhimento de dividendos e juros sobre capital próprio em montante a ser definido pelo ministro da Fazenda e respeitado o mínimo de 25% sobre o lucro líquido ajustado" durante os anos de 2008, 2009 e 2010.
Ou seja, o excedente de dividendos, além dos 25%, que a Caixa normalmente paga ao Tesouro, poderá manter em uma reserva para dar lastro às operações nos próximos três anos. "É uma garantia extra para reduzir o risco nestes momentos de turbulência internacional."
A adesão é opcional. Cada banco vai decidir se usa ou não os 5% de seus depósitos para oferecer esses empréstimos. Como o estoque de poupança no País soma R$ 220 bilhões, se todos os bancos aderirem ao mecanismo, as construtoras teriam cerca de R$ 11 bilhões em financiamentos.5
Diminuem as vendas em supermercados
É o terror chegando às gôndolas. Temos quer ir devagar com o andor. Não sair consumindo, como sugeriu levianamente o ministro Mantega, mas também evitar a retração por um medo descolado da realidade.
Leia mais: Queda é de 5,6% em setembro em relação a agosto; sobre setembro de 2007, houve aumento de 5,5%, segundo a Abras.
Para a Abras, há grande expectativa em relação ao consumo neste mês, pois lojas percebem consumidor cauteloso com os gastos
As vendas nos supermercados do país caíram 5,6% em setembro em relação a agosto e cresceram 5,5% sobre igual mês de 2007, segundo a Abras, associação que reúne o setor.
A queda nas vendas em setembro, além de ser sazonal, ocorreu porque, em agosto, houve queda nos preços de alguns alimentos, o que resultou em alta do consumo naquele mês, na avaliação da Abras. De janeiro a setembro, as vendas do setor cresceram 8,9% sobre igual período do ano passado.
"Setembro foi um bom mês para o setor, já que houve crescimento sobre 2007. A grande expectativa agora é em relação a este mês. O que já se percebe é que o consumidor está bem mais cauteloso com os gastos", afirma Sussumu Honda, presidente da Abras.
As notícias sobre os desdobramentos da crise financeira internacional tiveram forte impacto nos consumidores. "Por essa razão, a expectativa é que as vendas neste mês ainda cresçam na comparação com as de igual período do ano passado, mas num ritmo menor", diz.
Pelo fato de o mercado financeiro "estar muito conturbado", segundo ele, a Abras ainda não fez previsões para o último trimestre do ano. "O que podemos dizer é que havia expectativa de o setor vender, neste ano, 10% a mais do que no ano passado. Agora já estamos falando em algo próximo a 9%."
Os supermercados paulistas notaram que o consumidor reduziu o valor de compra neste mês e diminuiu os gastos com produtos supérfluos. Por conta disso, a expectativa da Apas (Associação Paulista de Supermercados) é que as vendas neste mês cresçam 4% em relação a igual mês do ano passado, e não mais 9% como estava previsto anteriormente.
"Com tantas notícias ruins sobre os efeitos da crise, o consumidor está muito indeciso neste mês -uma hora ele parece que está disposto a comprar; na outra, parece indeciso. Estamos até evitando falar em previsões neste momento", diz Martinho Paiva, vice presidente de comunicação da Apas.
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