Presidente da UGT cobra de Lula incentivos para o crédito
A UGT foi a primeira central a ser chamada pelo presidente Lula para apresentar suas sugestões para buscar reduzir os efeitos da crise internacional em nossa economia, no mercado interno e nos ganhos dos trabalhadores. Fomos muito bem recebidos pelo presidente Lula, em reunião que durou mais de uma hora, no escritório da Presidência em São Paulo e pudemos apresentar nossas propostas a favor do Brasil. Destacamos para o presidente nossa preocupação com os banqueiros que insistem no desvio de funções ao apostarem na agiotagem e na especulação, mesmo quando há repasse do Banco Central para agilizar o crédito e se vê os banqueiros comprando títulos do Tesouro com o dinheiro que deveria ser repassado para o crédito. O crédito para as empresas comerciais, para os lojistas e para os consumidores é essencial para manter a economia aquecida. Claro, que crédito sem o arrocho dos juros altíssimos e com prazos mais ampliados. Deastacamos para o presidente Lula nossa preocupação com a manutenção de linhas de crédito para os setores de serviços e de comércio, além da construção civil e agricultura. Afinal, é através do setor de serviços e de comércio que as classes C e D atuam e mantêm o mercado interno.
Veja o texto que foi publicado na imprensa hoje:
Depois de passar quase o dia todo reunido com ministros e representantes de bancos federais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva empenhou-se em acalmar também as preocupações de sindicalistas com a crise financeira internacional. Lula encontrou-se no fim do dia com o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, para tomar pé do impacto sentido até agora nos setores de comércio e serviços, representados pela central. "O presidente já não diz mais que essa crise é apenas uma marola, mas também afirma que não é nenhum tsunami", afirmou o sindicalista.
Segundo ele, a central cobrou do presidente incentivos federais ao crédito, para prevenir a retração da demanda, acompanhada do aumento nas taxas de juros e da redução dos prazos de financiamento. "Nossa preocupação é com emprego. Sem crédito, temos problemas nas duas pontas. De um lado, os trabalhadores não conseguem comprar. Do outro, as empresas aumentam as taxas e reduzem as prestações", completou Patah.
Governo usará bancos oficiais para tentar conter a crise
Caiu a ficha do Governo Federal. Os banqueiros privados não são confiáveis. Mas se entrarem numa fria serão os primeiros a buscar o governo para socializar o prejuízo. Por isso, a UGT está apoiando as decisões do Governo Federal para repassar créditos através dos bancos oficiais.
Veja as novas decisões do governo: Serão destinados mais R$ 2,5 bi para o crédito rural, e a construção civil terá até R$ 4 bi.
Além disso, os bancos federais vão aumentar a participação na concessão de crédito para empresas e pessoas físicas
O governo federal vai ampliar a atuação dos bancos oficiais para minimizar os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anunciaram em São Paulo o aumento da oferta de crédito rural em R$ 2,5 bilhões, a destinação de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões para a construção civil e a expansão na participação dessas instituições financeiras nos empréstimos direcionados para pessoas físicas e jurídicas.
As informações foram dadas após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os presidentes do Banco do Brasil, Antônio Francisco Lima Neto, da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Coelho, e do BNDES, Luciano Coutinho.
Mantega lembrou que já houve a liberação de R$ 10,5 bilhões de crédito adicional para a agricultura nas duas últimas semanas e os outros R$ 2,5 bilhões virão do aumento de 65% para 70% da poupança rural destinada para o setor, o que vai ajudar a garantir a meta para a safra 2008/2009.
Sobre a construção civil, o ministro não deu detalhes nem prazos, limitando-se a informar que as empresas "estão sinalizando para uma deficiência no capital de giro" e que "estamos montando um sistema para viabilizar esses investimentos". O reforço no caixa, que pode chegar a R$ 4 bilhões, deverá ser feito "via BNDES, que já apresentou uma proposta nesse sentido, ou via Caixa Econômica, através de participação acionária nas empresas". "Uma das duas medidas será tomada nos próximos dias", afirmou.
Meirelles comentou que, na reunião, foi revisada "cuidadosamente" a ação dos bancos oficiais, "não só na compra de carteira de outras instituições, mas também na concessão de crédito diretamente a empresas e pessoas físicas". "É um processo que já está adquirindo velocidade à medida que as aprovações estão sendo feitas. Espera-se que, num prazo relativamente breve, esses valores atinjam montantes realmente expressivos", disse Meirelles.
Para Mantega, as medidas "bastante fortes" tomadas por Estados Unidos e países europeus podem ter ajudado na passagem do momento mais crítico da crise. "Não quer dizer que a crise vá terminar. O problema é sair dessa fase aguda, quando houve um travamento do crédito em escala internacional. Se conseguirmos, já é um passo importante porque ela tem nos atrapalhado."
Segundo Mantega, "ficaremos mais confortáveis se houver um restabelecimento de linhas de crédito internacionais, se voltar a haver bancos lá fora com linhas de crédito em dólares para os nossos bancos. Mas, enquanto isso, o governo brasileiro tem tomado medidas no sentido de aliviar o problema de crédito, de liquidez.
Governo Serra eleva proposta para policiais
Agora, o bom senso que a UGT já vem sugerindo há mais de um mês é adotado pelo Governador José Serra. Ou seja, poderíamos ter evitado uma crise desnecessária se o governador tivesse pautado suas ações pelo respeito às entidades sindicais e aos policiais civis. Mas, antes tarde do que nunca. Esperamos agora a avaliação da categoria e as decisões que os líderes sindicais da polícia civil vão adotar.
Leia mais: Civis receberão 6,5% em 2009 e mais 6,5% em 2010; Estado também cria aposentadoria especial
O governo de São Paulo decidiu ampliar sua proposta de reajuste salarial e as vantagens para as duas polícias na esperança de acabar com a greve da Polícia Civil, que já dura 36 dias. Os projetos serão enviados imediatamente à Assembléia Legislativa, apesar de a paralisação continuar. Dirigentes de classe da Polícia Civil consultados pelo Estado consideraram que a nova proposta do governo pode levar ao fim da greve.
A proposta prevê reajuste de 6,5% em janeiro de 2009 e 6,5% em janeiro de 2010 para ativos e inativos. Ela estabelece 16.032 promoções para os cerca de 35 mil policiais civis por meio da extinção da 5ª classe e da passagem dos policiais da 4ª classe para a 3ª classe, com promoções ainda para as 2ª e 1ª classes. Também será instituída a aposentadoria especial para a Polícia Civil. Outra novidade anunciada foi o fato de que quem se aposentar nos próximos anos levará 10% do adicional de localidade (ALE) a partir de 2009 até 2014, quando se chegará ao teto de 50% do ALE.
Ao Estado, o presidente da Associação dos Delegados, Sérgio Marcos Roque, considerado um líder moderado, e o investigador José Batista Rebouças, presidente do Sindicato dos Investigadores, apontado pelo governo como um dos líderes radicais do movimento, disseram que a apresentação por escrito das propostas e o que o governo está oferecendo podem ser suficientes para encerrar a greve. Ontem, os dirigentes de classe da polícia se reuniram com o presidente da Assembléia, deputado Vaz de Lima (PSDB).
"Queremos mostrar que o governo nunca foi intransigente", afirmou o secretário de Gestão Pública, Sidney Beraldo, que fez o anúncio do envio à Assembléia do pacote da polícia ao lado do secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão. Os secretários negaram que o governo tenha agido sob pressão depois do confronto entre policiais civis e PMs da Tropa de Choque em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Ocorrido na semana passada, o conflito deixou 32 feridos. "Enviamos os projetos para a Assembléia porque não podíamos prejudicar muitos pelas reivindicações irreais de poucos", afirmou Marzagão.
Com a inclusão dos reajustes para os aposentados, com o direito de elevar parte da gratificação de localidade e com o reajuste de 6,5% previsto também para 2010 - outra novidade apresentada ontem, pois antes o governo oferecia 6,2% só em 2009 -, o custo da proposta do governo para o Estado subiu dos R$ 650 milhões previstos quando o governo aceitou a volta da aposentadoria especial para R$ 830 milhões. No início das negociações, a proposta do governo custaria R$ 350 milhões.
Com os projetos, o piso salarial de um delegado passará de R$ 3.798,18 para R$ 5.203,31 em 2010. O salário dos delegados terá um reajuste médio, incluindo a reestruturação, de 9,21% a 24,98% em 2009. No caso da PM, as promoções vão permitir ainda a criação de 44 unidades. Para a Polícia Científica ficou acertado a criação do cargo de superintendente com vencimentos iguais aos dos chefes das Polícias Civil e Militar.
Na manhã de ontem, as entidades de classe da Polícia Civil haviam decidido fazer uma passeata em frente da Assembléia Legislativa na próxima quinta-feira. "Pode ser que o momento de declarar o fim da greve seja na Assembléia", disse Roque.
Mantega: governo vai ajudar agricultura e construção
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, informou que o governo está "prestes" a aumentar de 65% para 70% a parte da poupança rural direcionada à agricultura, de forma a disponibilizar mais recursos para o setor. A medida deve acrescentar R$ 2,5 bilhões ao setor, calculou o ministro. Ele destacou que o Banco do Brasil já liberou outros R$ 10 bilhões para a agricultura.
Segundo o ministro, a medida poderá ser anunciada amanhã pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Mantega, no entanto, observou que o CMN precisa primeiro criar uma resolução e depois aprová-la, mas a partir deste momento a liberação dos recursos será rápida.
"Não parece haver motivo para uma redução da safra 2008/2009", disse Mantega, que concedeu entrevista à imprensa após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, o presidente do Banco do Brasil, Antônio Francisco Lima Neto, e a presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Maria Fernanda Coelho. "De modo geral, estamos dando conta das questões de falta de crédito na agricultura", avaliou.
Construção — Mantega disse também que o governo está elaborando uma medida para ajudar as construtoras que se capitalizaram em 2007 e sinalizam agora falta de capital de giro. Ele informou que o governo está montando um sistema para viabilizar de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões para essas empresas.
"A liberação dos recursos será feita ou através do BNDES, que já apresentou uma proposta ao governo, ou via CEF, através de participação acionária", relatou Mantega. "Uma das duas medidas será tomada nos próximos dias." Sem citar prazos, o ministro explicou que a medida para ajudar as construtoras deverá ser tomada logo após a do setor agrícola.
Crise — Mantega afirmou que o presidente Lula convocou a reunião de hoje para fazer uma avaliação da situação econômica, financeira e de crédito no País. Segundo ele, foram discutidas as medidas que o governo brasileiro está adotando, assim como as ações dos governos norte-americano e europeus.
O ministro vê uma possibilidade de que as medidas, classificadas como "fortes", "já estejam surtindo algum efeito". Ele reconheceu que a crise "não vai terminar tão cedo", mas destacou que a superação da atual fase já seria um passo importante. "Se isso se concretizar, poderemos sair da fase aguda dessa crise e passar para outra fase", disse. Mantega destacou que o governo tem tomado medidas para aliviar os problemas de crédito e liquidez que, em sua visão, são as principais questões dessa crise que atingem a economia brasileira.
PAC — O ministro também afirmou que o governo continuará mantendo os investimentos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de olho, principalmente, na necessidade de manter uma política anticíclica para evitar a desaceleração econômica. Ele admitiu que o nível dos investimentos poderá até desacelerar, mas fez questão de frisar que os investimentos do PAC serão mantidos.
OIT prevê 20 milhões de demissões
O emprego e a sobrevivência dos trabalhadores são sempre o elo mais fraco nos momentos de crise. O estudo da OIT aponta para uma situação dramática que deve ser levado em conta pelo movimento sindical que tem que juntar forças com os governos para proteger o que for possível os trabalhadores e trabalhadoras. Começamos uma nova era com a atual crise do capitalismo mundial. É hora de se assumir como parte do sistema produtivo mundial um capitalismo mais social, que gere controles rígidos contra a especulação e a agiotagem. Está claro que o mercado sozinho, se for deixado por conta própria gera os urubus prontos para faturar na abundância e na miséria alheia. Deixando, claro, as contas para os governos e o risco para os trabalhadores.
Leia mais: Documento da entidade também projeta um aumento de 140 mil miseráveis até o fim de 2009, por causa da crise.
A atual crise econômica vai produzir 20 milhões de novos desempregados no mundo até o fim de 2009, revertendo anos de avanços na área social e agravando a pobreza e a desigualdade. O alerta é da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que prevê demissões em massa diante da desaceleração das principais economias do mundo e um aumento de mais de 140 milhões de miseráveis. Em evento ao qual o Estado foi o único jornal latino-americano a ser convidado, o diretor-geral da OIT, Juan Somavia, deixou claro que o Brasil "não estará imune ao problema". Um documento interno da OIT alerta para a queda da produção industrial e das exportações do País e adverte que o governo precisará rever seus gastos e focar suas atenções na luta contra o desemprego urbano.
Pelos cálculos da OIT, o impacto social da crise será profundo. O número de desempregados passará pela primeira vez dos 200 milhões de pessoas no mundo. A OIT apela para que as medidas tomadas pelos governos não salvem apenas os bancos, mas pessoas e trabalho. "Passaremos de 190 milhões de pessoas sem trabalho no início de 2008 para cerca de 210 milhões. Essa é a primeira vez na história que a humanidade atinge esse marca", disse Somavia. Os 20 milhões de desempregados seriam criados, portanto, em apenas dois anos. Nos anos 90, o mundo levou dez anos para ver um aumento de 34 milhões de desempregados.
Por enquanto, a OIT afirma que não pode dizer exatamente em quais países esse desemprego vai ocorrer com maior intensidade. Mas destaca que a falta de crescimento nos países ricos terá conseqüências para os trabalhadores nessas economias. Os países emergentes não sairão ilesos. "A idéia de que as economias emergentes estariam descoladas do processo simplesmente não tem qualquer relação com a realidade. Só se fosse por mágica", disse Somavia. "Os governos precisam unir forças para evitar uma crise social longa, severa e global."
Para a OIT, o Brasil "dificilmente" conseguirá repetir a marca de 2008 no próximo ano, criando cerca de 2 milhões de empregos. Um documento interno da OIT ainda aponta que a crise já "afetou o mercado de crédito e de câmbio" no Brasil. "Os efeitos indiretos da crise, provocados pela desaceleração dos Estados Unidos e outros países ricos, vão afetar as exportações e a produção industrial do Brasil. Os investimentos também podem ser atingidos."
"O Brasil provavelmente terá de rever seus padrões de gastos e focar no desemprego e inflação", diz a OIT. Para a entidade, o desemprego urbano no País ainda é grande. Para lidar com a crise, a OIT pede que o País reduza a informalidade no trabalho, que chega a 70%. Outra medida é ampliar a cobertura de seguro-desemprego.
Somavia alerta que o número de novos desempregados no mundo pode ser ainda maior. "Esses dados podem estar subestimados", disse o chileno que dirige a entidade ligada à ONU. Os cálculos do desemprego foram feitos com base nos dados de crescimento divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). "Para 2009, teremos um crescimento de 0,1% nos Estados Unidos, 0,2% na Europa e 0,5% no Japão", disse. "Isso, na realidade, significa um crescimento zero nas maiores economias do mundo." Pelas novas projeções do FMI, o mundo crescerá 3,2% em 2009. A taxa será mantida acima de 3% graças aos países emergentes.
Mas um dos principais impactos ainda será na classe mais pobre. A camada da população mundial que ganha menos de US$ 1 por dia vai aumentar de 480 milhões de pessoas para 520 milhões entre o início de 2008 e o fim de 2009. Entre os que ganha até US$ 2, o aumento de pessoas afetadas será de 100 milhões. No total, 1,4 bilhão de pessoas estarão abaixo dessa linha de renda.
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