Crise global e desemprego em alta revigoram o movimento sindical
Leia mais: Centrais sindicais organizaram protestos, mobilizaram trabalhadores e foram ao presidente pedir queda dos juros
Fazia tempo que as centrais sindicais não tinham tanto espaço. Com o corte drástico de empregos, os presidentes das entidades ganharam voz nas negociações com governadores, presidentes de federações de indústrias, empresários, ministros e até com o presidente da República. Demorou, mas Luiz Inácio Lula da Silva, que fez fama nos anos 70 e 80 no movimento sindical, encontrou antigos e novos companheiros.
O encontro, na segunda-feira, juntou presidentes das seis centrais. Dois dias depois foi a vez de José Maria de Almeida, 51 anos, da Conlutas, falar com Lula. "O governo precisa tomar medidas. Não dá para confiar que a situação começa a melhor em março. Isto não vai acontecer", diz o líder da central mais a esquerda de todas.
A bandeira defendida foi a de pressão governamental sobre os bancos para que baixem os juros. Assim as empresas podem tomar empréstimos a um custo menor e manter os empregos. Em outra ação conjunta, as centrais mobilizaram cerca de 100 mil pessoas na quarta-feira em frente aos nove escritórios do Banco Central com o objetivo de pressionar para a queda da taxa básica de juros.
A nova fase do sindicalismo dá visibilidade a companheiros bem conhecidos, como Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, 52 anos, e a uma geração mais nova, como a de Artur Henrique Silva Santos, de 47 anos, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior do País, com 20 milhões de trabalhadores.
Para Santos, a maior conquista dos últimos tempos foram os sucessivos aumentos do salário mínimo. Com 22 anos de vida sindical, iniciada no Sindicato dos Eletricitários de Campinas (SP), o presidente da CUT diz: "Muita coisa mudou. A esquerda brasileira optou pelo caminho eleitoral, democrático. Mas nós ainda acreditamos no socialismo. Este modelo de capitalismo não leva a nada".
Wagner Gomes, 52 anos, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (a CTB, surgida de um racha na CUT), afirma que, apesar da proximidade com o governo, não se pode abrir mão da autonomia. "Pode dialogar, mas sem esquecer que você está lá para defender os interesses dos trabalhadores", lembra.
As centrais sindicais brigaram muito pelo reconhecimento oficial, o que só aconteceu no ano passado. Com isso os 20% do total arrecadado com a contribuição sindical (valor descontado da folha de pagamento dos empregados equivalente a um dia de trabalho) que ia para o governo caiu para 10%. A outra metade, por volta de R$ 56 milhões, passou para as mãos das centrais. Sozinha a CUT fica com cerca de 35%, seguida pela Força (12%), União Geral dos Trabalhadores (UGT, com 6,29%), Nova Central (6,27%), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB, com 5,09%) e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB, com 5,02%).
Ricardo Patah, 55 anos, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT, dissidência da Força) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, comenta que o papel dos sindicatos e das centrais hoje é bem diferente dos anos 80. "Os trabalhadores tinham uma verdadeira admiração pelos sindicatos, que ajudaram a acabar com a ditadura. Hoje a questão é mais capitalista e há mais união entre as centrais", opina.
Presidente da Nova Central, José Calixto Ramos, 80 anos, acredita que "nunca houve no movimento sindical um momento de vacas gordas. A luta nunca foi fácil nem nunca será". Para Ramos, quando a economia vai mal é mais difícil mobilizar os trabalhadores. "A possibilidade de demissão apavora quem quer se aproximar do movimento sindical. O próprio Lula admitiu na reunião com as centrais que a crise existe de fato. A situação é delicada e depende da mobilização de patrões, empregados e governo".
Presidente da CGTB (originada na Central Geral dos Trabalhadores), Antonio Neto, 56 anos, está otimista com o crescimento das centrais. "A situação hoje é bem melhor. Antes não tínhamos participação no governo como agora, no Conselhão, no Conselho de Segurança Alimentar e Conselho de Política Industrial", comenta. (Leia mais no Estadão)
Toda segunda-feira os jornais publicam as matérias de gaveta sem uma devida revisão e sem contextualizar de maneira adequada. Por exemplo, todos nós sabemos que o mês de Janeiro é de dificuldade de caixa para as empresas e para os trbalhadores. Esse fato foi levado em conta? É claro que a crise afeta, mas como? Precisamos de informações claras, devidamente dentro do contexto para nos ajudar a resolver a crise.
Leia mais: Alta em dezembro é a maior desde 1999; restrição ao crédito e retração da atividade econômica explicam elevação, diz Serasa Experian.
Taxa de inadimplência fecha 2008 com alta de 4,8%; até outubro, no acumulado do ano, indicador registrava queda.
A crise atingiu em cheio o caixa das empresas. A inadimplência das pessoas jurídicas explodiu no final de 2008. A alta foi de 36,1% em dezembro em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo o indicador Serasa Experian de Inadimplência de Pessoa Jurídica. Foi o maior aumento do índice registrado pela pesquisa desde que ela foi iniciada, em 1999.
A velocidade da crise impressiona. De março a outubro, a taxa acumulada no ano era negativa, o que significa que a inadimplência das empresas estava em queda. Até outubro, a queda era de 0,3%. O ano fechou, no entanto, com um crescimento de 4,8%.
Segundo o assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida, são dois os fatores que explicam essa alta recorde da inadimplência. Primeiro, a restrição ao crédito (aumento dos juros, maior seletividade nos empréstimos e prazos menores dos financiamentos). Segundo, a retração da atividade econômica.
"A crise bateu nas empresas com os juros altos, a falta de crédito e a queda na demanda", diz Almeida. Por consequência, o "spread" (diferença entre o custo de captação do crédito para o banco e a taxa cobrada dos clientes) deve demorar ainda mais para cair.
A pesquisa já havia registrado a alta da inadimplência em novembro, quando o indicador subiu 28,2% em relação ao mesmo mês de 2007.
As perspectivas não são nada favoráveis. A tendência é a inadimplência continuar em alta. No início do ano, as empresas arcam com aumento de despesas para pagamento de impostos, como IPTU e IPVA, e a receita cai. A crise deve ajudar a agravar esse quadro.
"A inadimplência deve continuar em alta", diz Almeida.
A inadimplência dos consumidores também aumentou. Na semana passada, a Serasa Experian divulgou o indicador de inadimplência para pessoa física. O índice subiu 8% em 2008 em relação ao ano anterior, a maior variação desde 2006. Só em dezembro, o crescimento foi de 12,8%, ante o mesmo mês do ano passado.
Metodologia — Na próxima terça-feira, o Banco Central divulga a nota de operações de crédito de dezembro com os dados de inadimplência das pessoas jurídicas e das pessoas físicas dos bancos. Por se tratarem de pesquisas com metodologias diferentes, é possível que essa alta da inadimplência constatada pela Serasa Experian ainda não se reflita nesses números.
O Banco Central classifica como inadimplência 90 dias em atraso do pagamento das dívidas bancárias. Já o indicador da Serasa Experian mostra a variação do total das dívidas não pagas pelas empresas em todo o país. A pesquisa abrange o total de cheques sem fundos, de títulos protestados e de dívidas com os bancos. (Leia mais na Folha)
O Fórum Social Mundial que surgiu como um contraponto ao Fórum Económico de Davos, se tornou permanente. A UGT estará presente no Fórum deste ano e receberemos uma expressiva delegação estrangeira. Entre elas, estão 20 sindicalistas da Central Sindical Cristã, da Bélgica, que vieram para ver de perto como os sindicatos ribeirinhos se organizam e atuam na Amazônia. Vamos divulgar relatos diários, através do Blog do Patah e com releases distribuídos para a imprensa do Brasil todo.
Leia mais: O governo federal investiu R$ 77.591.887 para uma série de melhorias no Estado do Pará, governado pela petista Ana Júlia Carepa, em decorrência da realização do Fórum Social Mundial --que ocorrerá entre os dias 27 a 1º de fevereiro.
Mas o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral) negou que Ana Júlia tenha sido privilegiada no repasse de recursos. "Esses investimentos ficarão no Estado e na capital [Belém]", afirmou o ministro. "São investimentos em segurança, educação, saúde e turismo."
Segundo ele, os recursos serão aplicados em programas de saúde bucal, reaparelhamento da polícia, recuperação do setor de perícia policial e capacitação de voluntários. Os homens da Força Nacional de Segurança também atuarão nos dias do evento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai) comparecerão ao fórum.
Lula vai debater os mecanismos adotados pela América Latina para conter os impactos da crise financeira internacional. Lula discutirá a crise financeira sem a presença de ministros da área econômica, como Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. (Mais informações na Folha online)
Apoio ao voto obrigatório e à democracia é recorde
É muito importante o registro destas datas históricas. Eu estava lá. Fui um dos organizadores, e hoje, 25 anos depois, posso afirmar que o povo brasileiro mudou muito e para melhor. Um povo que deu sustentação à democracia e que avançou muito mais que os próprios políticos, apostando permanentemente na distribuição de renda, na convivência harmoniosa entre as diferentes tendências políticas e com avanços como a Constituição de 88 e o Plano Real.
Leia mais: Em 25 de janeiro de 1984, 300 mil pessoas foram a comício histórico na praça da Sé. Para estudiosos, dados da pesquisa Datafolha indicam consolidação da democracia após cinco eleições com voto direto para presidente.
Transcorridos 25 anos do ápice do movimento pelas Diretas-Já, pesquisa Datafolha revela que a aprovação do brasileiro à democracia atingiu seu mais alto patamar. Simultaneamente, é a primeira vez desde que o instituto iniciou a série de levantamentos que a maior parte da população defende a obrigatoriedade do voto.
De acordo com o Datafolha, 53% são favoráveis ao voto obrigatório, contra 42% de 1994, a primeira vez que o instituto pesquisou o tema.
Outro recorde é o apoio à democracia. O levantamento revela que 61% acham que ela é a melhor forma de governo. A série histórica começou em 1989, quando os brasileiros voltaram a votar para presidente. O índice era de 43% e oscilaria para 42% três anos depois, sua menor marca, no fim da gestão de Fernando Collor de Mello.
Para estudiosos e personalidades, os números revelam a consolidação da democracia, mas ainda existem riscos ao sistema e é preciso aperfeiçoar o controle do financiamento de campanhas, alvo de grandes escândalos após 1984, quando, há exatos 25 anos, no 430º aniversário de São Paulo, uma multidão estimada em 300 mil pessoas lotou a praça da Sé pelo direito de votar para presidente.
"A população se deu conta de que a democracia política pode gerar democracia social", diz o historiador José Murilo de Carvalho, autor de "Cidadania no Brasil - O Longo Caminho". (Leia mais na Folha)
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