Ainda não saímos da crise
Vivemos, gostemos ou não, dentro do sistema capitalista. Que tem como principal característica as crises cíclicas, que modernamente chamamos de “bolhas”. Tivemos a da internet, em 2000, e recentemente a crise de credibilidade financeira mundial que começou nos Estados Unidos e se alastrou pelo mundo, atingindo com grande vigor o Brasil que, por seu lado, soube reagir com investimentos no consumo e na produção, em vez de se adotar medidas recessivas como as adotadas pelo governo na crise de 1999-2000. No geral, empatamos a partida, mas não podemos esquecer que ainda não superamos a crise. O crescimento do PIB estimado para mais de 7% em 2010 é muito bom, mas temos que lembrar que tem como base o PIB de 2009, próximo de zero. Além disso, ainda não conseguimos estabelecer parâmetros de um crescimento sustentável, o que aponta para uma expansão da economia de apenas 4% em 2011. Temos, ainda, vários pontos de estrangulamento da economia seja nas inadiáveis obras de infra-estrutura (estradas, ferrovias, portos), seja na disponibilidade de mão-de-obra qualificada, seja na segurança pública e social, sem deixar de lado os gravíssimos problemas que o Brasil enfrenta na área da Saúde. Estamos caminhando para um Brasil melhor, mas a caminhada ainda é longa. E não podemos esquecer que ainda não saímos da crise e que as economias europeias ainda enfrentam graves problemas que podem repercutir aqui no Brasil. E quando isso acontece, quem sofre mais são os trabalhadores, com perda de emprego, de massa salarial e da possibilidade de dar ocupação para os mais jovens. Por isso, é hora de continuarmos mobilizados e atentos aos encaminhamentos governamentais para a superação definitivo da crise, especialmente a europeia, que ainda paira sobre a economia brasileira. (Ricardo Patah, presidente nacional da UGT)
Leia o clipping do dia:
Um mergulho de 3% no PIB: Mantega rebate crítica à 'bomba fiscal' e diz que governo evitou forte recessão em 2009
O pacote de medidas para estimular a economia durante a crise, que incluiu a capitalização do BNDES em quase R$ 200 bilhões, salvou 2009 e evitou que o Produto Interno Bruto (PIB) caísse 3%. É com esse argumento que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, preparou-se para rebater as críticas de que o governo estaria armando uma "bomba fiscal", ao usar recursos do Tesouro para injetar dinheiro no banco de fomento. Em entrevista ao GLOBO, ele defendeu a medida e disse que todos os subsídios concedidos ao BNDES e ao setor produtivo já retornaram aos cofres públicos.
Sem citar nomes, Mantega também disparou contra os críticos, muitos deles, segundo fontes próximas ao ministro, ex-integrantes do governo, como Maílson da Nóbrega (ministro da Fazenda de 1988 a 1990) e Alexandre Schwartsman (diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central de 2003 a 2006), afirmando que eles têm "dor de cotovelo". Ele admitiu que deve fazer uma nova capitalização do BNDES este ano, mas num valor menor do que as anteriores e disse que quer turbinar o setor privado, para estimular o financiamento de projetos de infraestrutura no país. Para isso, o governo deve reduzir a tributação de títulos de longo prazo associados a essas obras. A seguir, os principais trechos da entrevista:
CRISE: "Se nós saímos logo da crise, foi porque usamos instrumentos fiscais e de crédito. O BNDES recebeu R$ 200 bilhões para emprestar. Foi ousado, mas graças a isso conseguimos recuperar rapidamente o nível de investimento. Também recuperamos o consumo com desonerações fiscais. Foi totalmente salutar para a economia brasileira. Calculamos que, se não tivéssemos tomado as medidas, o PIB brasileiro em 2009 teria sido negativo em 3%, em vez de ter empatado como empatamos.
SUBSÍDIOS: "Tudo o que nós demos de subsídio foi compensado com tributos pagos pela atividade econômica que foi fomentada. Não se compara com o que nós obtivemos em ganhos. No caso do BNDES, essa conta foi de R$ 5 bilhões (ao ano). Mas o banco está gerando lucro, entre R$ 6,5 bilhões e R$ 7 bilhões, e nós, que somos o principal acionista, pegamos uma parte disso. É quase custo zero. Temos até vantagem quando emprestamos ao BNDES.
CRÍTICOS: "Eu vejo que tem uns críticos que já participaram do governo. Cada um deles deve ter ajudado a quebrar o país algumas vezes. Um provocou hiperinflação, o outro crise cambial, o outro aumentou a dívida. Não vou citar nomes, mas se eles estivessem no meu lugar, não teriam emprestado dinheiro ao BNDES e, portanto, nós teríamos passado pela crise igual a outros países que ainda não se recuperaram. Tem até gente que teria gostado que nós não fizéssemos nada e deixássemos o Brasil ter o mesmo destino dos países que tiveram uma depressão. Só para depois dizer que não tínhamos competência para administrar o país. Não sei se estão com dor de cotovelo. Tem aí ex-presidentes do BC, ex não sei o quê criticando. Vai ver o que eles fizeram? Aumentaram dívida, aumentaram déficit. Tem um ciúme aí e ficam criticando as medidas inovadoras que fizemos.
MERCADO: "O mercado financeiro não pode reclamar (das medidas adotadas pelo governo). Quando aconteceu a crise, eles (bancos) todos recuaram. Se os bancos públicos não tivessem entrado, teríamos quebrado mais uma vez. O BNDES teve que entrar em campo. Não tínhamos ataque e ficamos com uma defesa fragilizada. O BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa entraram no ataque e fizeram um trabalho brilhante.
RISCO DO BNDES: "O BNDES não joga dinheiro por helicóptero. Ele analisa cada projeto com cuidado. O nível de inadimplência do banco é menos de 1% do nível de empréstimo. O seguro está muito bem modelado e a prova dos nove é que a inadimplência é baixa.
NOVA CAPITALIZAÇÃO: "O BNDES sempre recebeu recursos. Recebia menos no passado. Mas ele dá lucro para o governo. Ainda não temos planos de fazer uma nova capitalização este ano, mas talvez não seja possível dar zero. Talvez para consolidar uma parte dos projetos que começaram a ser feitos em 2010, tenhamos que dar mais alguma coisa, mas numa dimensão muito menor do que demos em 2009 e 2010.
FUTURO DO BNDES: "O banco vai ter que buscar mais alternativas de mercado. Ele tem uma fonte de recurso própria, que é a devolução dos empréstimos, depois tem recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Tudo isso soma R$ 70 bilhões, ou R$ 80 bilhões. Mas pode colocar debêntures no mercado, captar no exterior, receber empréstimos do BID (Banco Internamericano de Desenvolvimento) e do Bird (Banco Mundial). Vai ter que trilhar essas outras alternativas.
SETOR PRIVADO: "Nosso sistema de crédito ficou acanhado para o volume de atividade que ocorre hoje no Brasil. Por isso, quero que o setor privado seja turbinado. Estamos estudando a redução de tributos para estimular a captação de longo prazo. Quando você estimula uma debênture, ou você cria uma debênture, você estimula a poupança e viabiliza projeto de investimento. Por exemplo, Belo Monte emite uma debênture. O aplicador nesse papel pode não pagar imposto. Isso permite captar com taxa menor e dar remuneração maior para o investidor. Esse arcabouço vai estar pronto até o fim do ano, para que em 2011 tenhamos um sistema financeiro que dê conta dos desafios.
DÍVIDA BRUTA: "Em outros países, houve grande aumento da dívida bruta e da dívida líquida durante a crise. Eles tiveram que colocar dinheiro na economia e isso impactou a dívida bruta a fundo perdido. No caso do Brasil, o aumento na dívida tem como contrapartida um empréstimo que está do outro lado. É um recebível do Tesouro que o BNDES vai devolver. Não é um problema. Você tem que olhar a composição da dívida para saber se ela é boa.
SEGURADORA PÚBLICA: "Existe um interesse comum entre governo e setor privado de que é preciso melhorar o sistema de garantias que existe no Brasil. Há uma multiplicação de demanda por seguro no país. Hoje, o nível de seguro sobre o PIB é pouco mais de 3%, mas o volume adequado seria 8%. O setor sugere a criação de uma agência que trabalhe com um fundo garantidor. Nós optamos por uma empresa de seguro. Podemos aproximar as propostas. Nem exatamente uma agência nem exatamente uma empresa seguradora. Pode ser um misto das duas coisas. (O Globo)
BC diminui ritmo e aumenta juros em 0,5 ponto, a 10,75%
Para evitar o risco de perder o controle da inflação em 2011, o Banco Central (BC) elevou a taxa de juros básico da economia em 0,5 ponto percentual durante a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) encerrada ontem. A Selic passa a ser de 10,75% ao ano.
É a maior taxa desde março do ano passado, quando estava em 11,25%. De acordo com analistas, apesar das sinalizações do mercado financeiro de que a situação está controlada, a terceira alta consecutiva deve neutralizar o risco de descontrole na inflação.
"As duas elevações da taxa em 0,75 ponto percentual e outra, de 0,5 p. p. possibilitam que o mercado não sofra nenhuma pressão inflacionária em 2010 e 2011", pontuam alguns analistas.
Por outro lado, a deflação de 0,09% em julho, apurada pelo IPCA fortalece os argumentos dos analistas que defendiam uma alta menor dos juros básicos pelo Copom. "Nos dois últimos encontros, os diretores optaram pela elevação de 0,75 ponto percentual na Selic e, naquele momento, era dado como certo pelo mercado mais um aumento dessa magnitude em julho, contudo o cenário mudou e não há necessidade de uma nova elevação", relatam outros economistas. O anúncio corroborou com a aposta majoritária das mesas de operação, que apostavam no meio termo e um aumento de 0,5 ponto percentual.
"Avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,75% a.a., sem viés.
Considerando o processo de redução de riscos para o cenário inflacionário que se configura desde a última reunião do Copom, e que se deve à evolução recente de fatores domésticos e externos, o Comitê entende que a decisão irá contribuir para intensificar esse processo", explica o BC em nota.
"O Copom continua exagerando na dose de conservadorismo. Com a inflação sob controle, com deflação apurada por alguns indicadores, recuo nas vendas e desaceleração do emprego, o Comitê poderia acertar a dose e manter os juros básicos da economia", afirma Orlando Diniz, presidente da Fecomercio-RJ. Apoiada pela Fecomercio-SP que entende na elevação em 0,5 ponto percentual que a decisão do Copom em aumentar os juros básicos da economia demonstra um medo exagerado da autoridade monetária na possibilidade de aumento da inflação, mesmo com sinais de arrefecimento da economia brasileira nos últimos meses. Para o diretor executivo da Fecomercio, Antonio Carlos Borges, o reajuste é "absolutamente desnecessário". "O momento pede uma parada técnica para que o BC análise melhor a situação a partir dos aumentos dos juros básicos nos meses anteriores e possa tomar a decisão mais acertada daqui para a frente", argumenta Borges.
O presidente em exercício da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse ver "com algum alento" a decisão do Copom de reduzir o ritmo de aperto monetário, com o resultado anunciado. Segundo ele, a manutenção do processo de elevação dos juros se mostra desnecessária, pelo cenário de arrefecimento da atividade econômica. Destacou que tal cenário já resulta em desaceleração da inflação.
Com a decisão, o Brasil continua com os maiores juros reais do mundo. Os juros reais descontam a inflação projetada para os próximos 12 meses. Fazendo essa conta, os juros básicos no Brasil ficam em 5,6% ao ano. Em segundo, vem a China, com taxa real de 2,3%. Em terceiro, está a Rússia, com 1,8%.
A central sindical UGT (União Geral dos Trabalhadores) lamenta que o Copom tenha perdido a oportunidade de tirar do Brasil o título de recordista mundial de juros altos. "O aumento da taxa Selic já foi adotado em outros governos, trazendo como consequência a recessão da nossa economia", disse Ricardo Patah, presidente nacional da UGT. (DCI)
Comércio, indústria e trabalhadores contestam alta da taxa Selic
Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O aumento da taxa básica de juros (Selic) para 10,75% ao ano provocou manifestações de indignação no comércio, repúdio na indústria e desalento nos trabalhadores.
O presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro, disse que não haveria necessidade de aumento da taxa de juros, já que a economia está estável e a inflação equilibrada.
O aumento da Selic vai gerar menos investimentos no país, segundo Pellizzaro, e pode até desequilibrar a expansão econômica verificada nos últimos meses, gerando aumento de preços pelo comércio.
Já a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou nota logo depois da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na qual manifesta o “sentimento de repúdio” do setor produtivo pela elevação da Selic.
Os industriais discordam do que chamam de “política equivocada” de aumento dos juros “simplesmente para que as expectativas de mercado não sejam contrariadas”. Eles dizem que os números são bem claros quanto ao arrefecimento da inflação.
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, lamenta que o Copom tenha perdido a oportunidade de tirar do Brasil o título de recordista mundial de juros altos. Ele lembra que o aumento de juros já foi adotado em outros governos, trazendo como consequência a recessão da economia.
Única voz destoante, dentre as muitas repercussões na internet sobre o aumento dos juros, foi a do presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Walter Machado de Barros.
Ele acha que o Copom deveria ter mantido o ritmo de alta da taxa Selic em 0,75%, como foi nas duas últimas reuniões do colegiado de diretores do Banco Central. Ele disse que não há clareza quanto à tendência da continuidade de queda da inflação, além de citar a existência de incertezas quanto à retomada do ritmo da atividade econômica, uma vez que, tradicionalmente, tem se verificado aquecimento natural na segunda metade do ano. (Agencia Brasil)
Centrais sindicais dizem que alta dos juros prejudica produção
Presidente em exercício da Força Sindical, afirmou que "a decisão do Copom é nefasta
O aumento da taxa Selic para 10,75% ao ano foi criticada por representantes de centrais sindicais, que consideram desnecessário o aumento já que a economia dá sinais de arrefecimento.
Miguel Torres, presidente em exercício da Força Sindical, afirmou que "a decisão do Copom é nefasta para o setor produtivo brasileiro".
"Esta insensata medida irá aumentar a trava para a produção e a geração de empregos, prejudicando as estimativas de um PIB vigoroso este ano. A medida deixa uma dúvida: a quem interessa segurar o crescimento do Brasil?", afirmou.
Torres ainda disse que "as conservadoras decisões do Copom continuam sendo um forte obstáculo para o crescimento da economia". "É realmente lamentável que as autoridades monetárias brasileiras tenham se transformado em meros aduladores dos especuladores, e suas decisões estão cada vez mais distante dos interesses maiores da sociedade e do Brasil".
Ricardo Patah, presidente nacional da UGT (União Geral dos Trabalhadores), afirmou que acredita que a alta da Selic foi uma medida recessiva. O sindicalista disse ainda que "lamenta que o Copom tenha perdido a oportunidade de tirar do Brasil o título de recordista mundial de juros altos. O aumento da taxa Selic já foi adotado em outros governos, trazendo como consequência a recessão da nossa economia". (Folha online)
Proteção ao consumidor
Obama assina maior lei de reforma do sistema financeiro
O presidente Barack Obama assinou nesta quarta-feira a lei mais abrangente da regulamentação financeira desde a Grande Depressão (1929). O conjunto de medidas assinado hoje visa proteger os consumidores e garantir a estabilidade econômica em Wall Street.
A lei foi promulgada quase dois anos após o colapso financeiro de 2008 nos Estados Unidos, que afetou o resto do mundo. A nova lei dá ao governo poderes para acabar com empresas que ameaçam a economia, cria uma nova agência para proteger consumidores e exige mais transparência os mercados financeiros que escaparam da vigilância dos reguladores.
Obama descreveu todas as regras como reformas de senso comum que irão ajudar as pessoas na sua vida cotidiana, como em casos de assinatura de contratos, entendimento sobre o conjunto de taxas em aplicações e informações sobre riscos.
O presidente dos Estados Unidos descreveu a nova lei como "a mais forte proteção ao consumidor da história.". Obama disse ainda, em meio a aplausos durante discurso, que "devido à essa lei, o povo americano nunca mais será convidado a pagar a conta pelos erros de Wall Street."
Os republicanos consideram a lei um fardo sobre os bancos pequenos e empresas. Eles dizem que a sua prática prejudicará os consumidores e impedirá o crescimento das taxas de emprego. O deputado republicano Darrell Issa, da Califórina, diz que a nova lei ignora o verdadeiro motivo da crise financeira.
Em resposta às críticas, Obama disse que uma recessão como a que aconteceu foi parcialmente causada por problemas no sistema financeiro e que isso não pode acontecer novamente.
"Eu propus um conjunto de reformas que capacitam os consumidores e os investidores a trazerem luz aos negócios sombrios que causaram a crise financeira, e para por um ponto final no endividamento dos contribuintes de uma vez por todas. Hoje, graças a um grande número de pessoas nesta sala, essas reformas tornaram-se lei", disse Obama. (O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário