Governo diminui tributos para aquecer a economia
Dilma lança medidas
para dar impulso à recuperação da produção nacional. Empréstimos do BNDES para
a aquisição de máquinas terão juros mais baixos, e os carros terão seu IPI
reduzido.
Diante do risco cada vez maior de o país crescer abaixo de
3% neste ano e depois de constatar que os estímulos dados até agora não foram
suficientes para reaquecer a economia, o governo Dilma baixou ontem novas
medidas emergenciais para estimular o crédito para o consumo e os investimentos.
No pacto fechado com representantes da indústria e dos
bancos, o governo entrou com corte de impostos (IPI e IOF) e redução de taxa de
juros em algumas operações do BNDES. Isso custará R$ 2,719 bilhões aos cofres
públicos.
O Banco Central também anunciou a liberação de até R$ 18
bilhões, em um ano, do dinheiro que as instituições financeiras têm retido no
Banco Central (compulsórios) para que os bancos concedam empréstimos para a
compra de automóveis.
Em troca, os bancos se comprometeram a exigir um valor menor
como entrada nos financiamentos de veículos, aumentar os prazos das operações e
diminuir juros.
Já as montadoras terão de dar descontos de 1% a 2,5% sobre a
tabela atual de preços e não poderão demitir.
O resultado para o consumidor, segundo o ministro Guido
Mantega, será uma redução de até 10% no valor do veículo financiado para a
pessoa física.
"A indústria automotiva nunca descumpriu um
acordo", desconversou Mantega ao ser questionado sobre o que acontecerá se
o setor privado não cumprir sua parte.
"Eu confio na Anfavea, eu também confio nos bancos.
Eles não vieram, mas estavam conosco hoje e celebramos juntos o acordo",
disse, ressaltando ainda que é preciso dar "um voto de confiança".
As ações, voltadas para incrementar vendas de carros, ônibus
e caminhões, valerão até 31 de agosto. O corte no IOF, que vale para todo tipo
de empréstimo, não tem data marcada para acabar.
Segundo Mantega, as medidas são necessárias porque, diante
do recrudescimento da crise externa, será difícil o país crescer 4,5% como
previsto inicialmente. Ele defende, no entanto, que "o Brasil tem
condições de reagir, e o crescimento será melhor do que o do ano passado".
O BNDES reduziu juros nos empréstimos para a aquisição de
máquinas e equipamentos (de 7,3% para 5,5% ao ano) e ônibus e caminhões (7,7%
para 5,5% ao ano).
Além do pacote divulgado ontem, a equipe da presidente Dilma
prepara ações para beneficiar também o setor de material de construção, que
reclama da falta de crédito.
"Se faltar crédito vamos liberar mais nos setores que a
gente identifique. Essa é a ordem que temos".
'300% PREPARADO' -- A presidente Dilma Rousseff disse
ontem, em Laguna (SC) que o Brasil "está 100%, 200%, 300% preparado [para
enfrentar a crise]". Na cidade, ela anunciou o início das obras de uma
ponte na BR-101, de R$ 540 milhões.
Segundo ela, "o Brasil, em vez de estar parado
esperando a crise, está ativo, fazendo investimentos. Nós vamos resistir à
crise criando emprego, investindo em infraestrutura, em atividades
sociais".
Ela observou que a Europa tem se deteriorado, mas o Brasil
está muito bem.
Dilma criticou a forma como os europeus conduzem a crise,
"produzindo uma das maiores recessões de que se tem notícia":
"Alguns países têm taxas de desemprego que nós sequer concebemos. É um absurdo,
uma desesperança só". (Folha)
Tributos abocanham 5 meses de salário
Estudo mostra que
brasileiros terão de trabalhar 150 dias neste ano para os fiscos federal,
estaduais e municipais. Renda até dia 29 deste mês é destinada ao pagamento de
tributos; apenas sueco trabalha mais para o fisco.
Os brasileiros terão de trabalhar cinco meses neste ano
apenas para cumprir suas obrigações tributárias com os fiscos federal,
estaduais e municipais.
Assim, será preciso trabalhar até a próxima terça-feira, dia
29 deste mês, somente para os três fiscos. Serão 150 dias de trabalho no ano,
um dia a mais do que em 2011. Neste ano, a "alforria" tributária dos
contribuintes se dará no próximo dia 30.
O cálculo consta do estudo sobre os dias trabalhados para
pagar tributos, divulgado ontem pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento
Tributário).
Segundo o estudo, hoje os brasileiros trabalham quase o
dobro do que trabalhavam na década de 1970 (76 dias) apenas para os fiscos.
Outra comparação mostra o avanço da tributação: em 1991 eram
três meses; em 2000, quatro meses. Em pouco mais de duas décadas, os fiscos
levaram mais dois meses da renda dos brasileiros.
De 1998 para cá, o número de dias trabalhados para os fiscos
sempre aumentou, com exceção de 2009, quando caiu um dia (de 148 para 147); em
2010, voltou aos mesmos 148 dias de 2008.
Para João Eloi Olenike, presidente do IBPT, apesar de o
brasileiro "trabalhar" mais para o fisco a cada ano, "os valores
recolhidos não retornam em serviços como segurança, rodovias sem pedágio,
educação, saneamento básico, saúde e outros".
SUECO TRABALHA MAIS -- Os brasileiros estão entre os
que mais trabalham para o fisco, perdendo só para os suecos (185 dias). Os
franceses (149) estão no mesmo nível. Já os espanhóis (137), os americanos
(102), os argentinos (101), os chilenos (97) e os mexicanos (95) trabalham
menos para seus fiscos.
Nesses 150 dias, os três fiscos arrecadarão mais de R$ 600
bilhões -ontem, o Impostômetro (painel no centro da capital paulista que
registra, em tempo real, a carga tributária no país) já marcava quase R$ 580
bilhões.
Os 150 dias foram calculados pelo IBPT para o rendimento
médio mensal.
Para a baixa renda (até R$ 3.000), serão 143 dias (de 1º de
janeiro até hoje). Para a média renda (R$ 3.000 a R$ 10 mil), serão 159 dias,
ou seja, até 7 de junho. Para a alta renda (mais de R$ 10 mil), serão 152 dias
-até 31 de maio.
O IBPT também calculou quanto cada contribuinte brasileiro
compromete de sua renda bruta para pagar tributos sobre a renda, o patrimônio e
o consumo.
Na média, 40,98% da renda de cada trabalhador estará
comprometida neste ano com as três tributações. Em 2011, foram 40,82%; em 2010,
40,54%; em 2009, 40,15%.
Para a baixa renda, esse índice será de 39,07%; para a média
renda, 43,44%; e, para a alta renda, 41,53%. Esses índices mostram que a classe
média é a mais punida quando se trata de pagar imposto. (Folha)
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