Por 360 votos a 29, Câmara aprova PEC do trabalho escravo
Proposta prevê
expropriação da terra onde houver exploração de mão de obra forçada.
A Câmara aprovou ontem por 360 votos a 29 a Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) 438/2001, que prevê expropriação de terras onde
houver flagrante de exploração de trabalho escravo. O resultado representa uma
derrota para a bancada ruralista.
A vitória do governo, que queria a PEC aprovada antes da
conferência ambiental Rio +20, em junho, ocorre menos de um mês após os
ruralistas terem derrotado Dilma Rousseff no Código Florestal.
A proposta agora vai ao Senado. O placar de ontem dá
respaldo ao governo: foram 34 votos a mais do que quando a PEC passou em
primeiro turno na Câmara, em 2004.
A bancada agrária tentou esvaziar a votação orientando seus
deputados a saírem do plenário ou votarem contra. Eles diziam não confiar num
acordo informal feito com o governo para criação de um projeto de lei
complementar que altere a atual definição de trabalho escravo.
A ideia é, paralelamente à mudança na Constituição, aprovar
um projeto que exclui da definição as condições degradantes de trabalho e a
jornada excessiva. Hoje, essas violações constam do artigo 149 do Código Penal,
que prevê multa e reclusão de 2 a 8 anos a quem for flagrado. Os ruralistas
também queriam definir que a expropriação só ocorra após decisão definitiva na
Justiça.
O PTB foi o único a orientar seus deputados contra a PEC.
"Isso [expropriação] tinha na Rússia e querem colocar no Brasil",
discursou Nelson Marquezelli (PTB-SP). Segundo ele, a PEC dá poder excessivo
aos fiscais, que poderão determinar que um fazendeiro com apenas um trabalhador
em regime de escravidão seja expropriado.
A relatora da ONU para o trabalho escravo, Gulnara
Shahinian, descarta o risco: "O Brasil tem três instâncias recursivas na
Justiça pelas quais sentenças abusivas podem ser revogadas", disse.
Temendo o custo político de ter sua imagem associada à
escravatura, o PTB desautorizou Marquezelli e mudou sua orientação. Quando o
resultado da votação foi proclamado, o plenário e as galerias aplaudiram com
entusiasmo. Deputados cantaram o Hino Nacional. (Folha)
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