IBGE indica que
serviços criam vagas sem aumento de renda
A oferta de empregos cresceu nas regiões metropolitanas em
maio e provocou nova redução na taxa de desemprego. Pelos dados da Pesquisa
Mensal de Emprego (PME), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) foram criadas 275 mil novas vagas no mês passado, a maioria
no setor de serviços. Com esse resultado, a taxa de desemprego recuou de 6% em
abril para 5,8% no mês passado. O aumento da ocupação, contudo, não foi
acompanhado por um ganho de renda. O rendimento médio real recuou 0,1% entre
abril e maio e as quedas mais expressivas foram justamente nos setores que mais
contrataram no mês.
O recuo no desemprego e o aumento forte das contratações
(cuja alta foi de 1,2% sobre abril e de 2,5% sobre maio de 2011) não estava no
radar dos economistas consultados pelo Valor, que se surpreenderam
com a guinada dada pelo indicador. Expansão como a registrada entre abril e
maio - 275 mil vagas e alta de 1,2% - não era vista desde junho de 2007. Ao
todo, 23 milhões de trabalhadores encontravam-se empregados em maio nas seis
regiões analisadas pelo IBGE, o maior contingente de ocupados da série
histórica, iniciada em março de 2002.
Para o IBGE, o mercado de trabalho está reagindo e a
tendência para os próximos meses é de novas contratações. "Não podemos
fazer projeções, mas olhando a série histórica da PME, observamos que a média
de desocupação nos próximos meses deve cair", diz o gerente da coordenação
de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
"Em maio, o mercado de trabalho criou vagas e isso fez
com que o nível de ocupação aumentasse. A pesquisa mostra que o mercado de
trabalho já começou a contratar, e a geração de emprego é de qualidade, com
aumento das vagas com carteira assinada", ressalta Azeredo. Dos 275 mil
postos de trabalho abertos entre abril e maio, apenas 4 mil eram sem carteira
assinada, enquanto os demais foram no setor privado com carteira, no setor
público ou por conta própria.
O setor de serviços puxou as contratações no período,
admitindo profissionais em todos os segmentos. A ocupação em serviços
domésticos aumentou 2,6% sobre abril, com a contratação de 40 mil
trabalhadores. Nos ramos de educação, saúde e administração pública foram
admitidos 100 mil profissionais, elevando a ocupação em 2,7% na mesma
comparação. Os serviços prestados para empresas contaram com mais 68 mil
trabalhadores e tiveram expansão de 1,9%, ao passo que os demais serviços
aumentaram em 89 mil o quadro de empregados, ampliando a ocupação em 2,2%, sempre
em relação a abril.
Nesses
setores, o aumento de contratações não resultou em ganho de renda. O rendimento
médio real caiu 1,4% em serviços de educação, saúde e setor público; 2,7% em
outros serviços e 0,9% em serviços domésticos. A exceção foi o segmento que
atende ás empresas, onde o rendimento subiu 0,2% sobre abril.
O comércio e a indústria também ampliaram postos de
trabalho, em 0,4% e 0,6%, respectivamente. Retração foi observada apenas na
construção, que fechou 55 mil vagas e reduziu a ocupação em 2,9% no período.
Economistas se surpreenderam com o vigor mostrado pelo setor
de serviços e levantam algumas hipóteses para justificar os números do IBGE.
Caio Machado, da LCA Consultores, acredita que o ímpeto do setor pode estar
associado ao consumo das famílias. "A renda vem se expandindo com força e
o aumento do salário mínimo neste ano foi alto." O reajuste foi de 14%.
Machado ressalta que o setor de serviços apresenta baixa
produtividade, o que resulta em alto número de contratações. Mas, para ele, esse
ritmo de geração de vagas não deve ser mantido nos próximos meses. "Como o
nível de atividade da economia não está tão robusto, é de se esperar uma
desaceleração nas contratações nos serviços. Isso, entretanto, não deve afetar
o emprego, porque no segundo semestre a indústria deve voltar a contratar,
reagindo aos incentivos dados pelo governo."
Alexandre Andrade, da Votorantim Corretora, comenta que os
indicadores de confiança não apontam para manutenção desse ritmo de
contratações no setor de serviços. A Sondagem de Serviços, feita pela Fundação
Getulio Vargas (FGV), mostra que, desde março, a confiança do setor vem
baixando, com arrefecimento tanto nas perspectivas para os próximos meses
quanto nas avaliações sobre a situação atual. "Ainda é cedo para julgar o
que está acontecendo com o setor de serviços. Pode ser que o dado de maio seja
um ponto fora da curva ou o início de uma tendência. Precisamos aguardar mais
indicadores para chegar a uma conclusão", avalia Andrade.
Flávio Serrano, do BES Investimento, lembra que a falta de
ociosidade e de mão de obra qualificada tem mantido o mercado de trabalho
apertado. Ele ressalta que a economia tem se mostrado bastante heterogênea e,
por isso, é possível notar forte expansão nos serviços, enquanto a indústria ainda
fraqueja. "Os serviços devem continuar contratando. O risco que corremos é
o de a economia demorar muito para reagir e a demanda perder impulso. Nesse
caso, o setor poderia parar de contratar e até demitir."(Valor)
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