Após 122 anos da libertação formal dos escravos, negros brasileiros ainda enfrentam barreiras criadas pelo preconceito e falta de oportunidades
O que os negros brasileiros querem é oportunidade. E o preconceito racial, infelizmente, ainda cria enormes barreiras ao emprego e, por tabela, no acesso à renda. A ponto de o Sindicato dos Comerciários de São Paulo, após uma pesquisa do Dieese, especialmente feita, ter constatado a virulência da discriminação e ter negociado na sua Convenção Coletiva a obrigatoriedade do comercio paulista contratar entre 20 e 30% de funcionários negros. Pois descobrimos que os patrões quando contratavam negros, os pagavam metade dos salários para seus funcionários de cor branca. Mas apesar do avanço, ainda é pouco. Precisamos eliminar estas práticas excludentes que humilham o cidadão afrodescendente e prejudicam o Brasil ao deixar de fora do mercado trabalhadores com um enorme potencial e dispostos a ampliar, ainda mais, nossa riqueza e diversidade. Hoje já percebemos sinais de melhoria, quando a renda dos negros começam a se fazer notada no mercado. Mas também ainda temos péssimos indicadores da humilhação, do preconceito e da escravidão latente ao se constatar, como você poderá ler a seguir, que de cada quatro trabalhadores resgatados da escravidão no Brasil, que três são negros ou pardos. O que mostra que devemos manter nossa mobilização para construir um Brasil mais digno, mais justo e sem preconceito racial, para honrarmos Zumbi e principalmente abrirmos espaços para as grandes lideranças negras neste nosso querido Brasil. (Ricardo Patah, presidente nacional da UGT)
Renda de negros cresce 222% em 8 anos
Consumidores negros e pardos devem fechar 2010 com receitas de R$ 546 bi, o que representa 40% do total das famílias. Dados incluem rendimento de trabalhos avulsos e temporários; salário do negro, no entanto, ainda equivale à metade do do branco.
Os consumidores negros e pardos devem fechar 2010 com uma renda de R$ 546 bilhões no bolso, o que equivale a 40% do total previsto para todas as famílias (negras e não negras) do país, de R$ 1,38 trilhão.
Isso significa que, a cada R$ 10 disponíveis para o consumo neste ano no Brasil, R$ 4 estarão em poder de trabalhadores negros e pardos (com ou sem carteira assinada). No total da população, eles representam 51%. Em 1998, eram 45%.
As projeções da renda disponível neste ano foram feitas pelo Data Popular, instituto de pesquisas e consultoria, a partir dos rendimentos das famílias da Pnad de 2008, última disponível pelo IBGE.
Os valores foram atualizados para 2010 e consideram a inflação medida pelo IPCA no período, os reajustes concedidos ao salário mínimo nos últimos dois anos e a previsão de crescimento do país de 5% neste ano.
Em 2002, a massa de renda total de negros e pardos foi de R$ 170 bilhões. Se confirmada a previsão deste ano (R$ 546 bilhões), o crescimento será de 222% em relação àquele ano.
O resultado chama a atenção porque o salário de um negro ainda é cerca da metade do de um branco. Mesmo assim, a massa de renda dos negros já representa 40% do total.
O que explica essa aparente contradição é que no total de rendimentos das famílias não entram somente salários. No cálculo estão todas as fontes de receita -como trabalhos avulsos (bicos) e temporários.
A disparidade salarial obrigou as famílias negras a estimularem também o trabalho de crianças e adolescentes para complementar a renda.
"Em uma família branca, que, em geral, é menos numerosa, é comum encontrar só o pai como gerador de renda", diz Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto. "Na família negra, os filhos trabalham. Se não for assim, não terão como pagar a faculdade e melhorar de vida."
O aumento de emprego formal e o maior acesso à educação e ao crédito são as principais razões para explicar a alta no poder de consumo dos negros. De 1998 a 2008, a proporção de negros e pardos com ensino superior completo no total de adultos (25 anos ou mais) passou de 2,2% para 4,7%.
"As políticas públicas que vêm sendo desenvolvidas desde o final do governo FHC também contribuem para ajudar na inserção do negro no mercado de trabalho", diz Meirelles.
"Antes, havia mais negros na informalidade, com renda ainda menor. Hoje não há como falar sobre a nova classe média brasileira sem falar no negro."
A classe C negra deve ter disponível renda de R$ 187 bilhões neste ano -ou 43,8% da renda total prevista para a classe C (com renda de 3 a 10 mínimos).
Mas as empresas ainda estão longe de atender ao anseio desse consumidor. "Ter uma política de inclusão não significa somente ter um sabonete específico ou colocar o negro como garoto-propaganda. Isso é um avanço, mas é preciso entender os valores e a cultura negra."
Alcir Gomes Leite, diretor-executivo e sócio da DM9, diz que empresas e marcas estão "aprendendo" a olhar para a classe C independentemente de sua cor.
"Ainda existem erros absurdos de criar estereótipos para essa classe, que tem hábitos e um jeito próprio de ser. O Brasil é um país de classes C e D, acho estranho considerar que são nichos de mercado."(Folha)
Negros ainda são vítimas de escravidão
De cada 4 trabalhadores libertados no país, 3 são pretos ou pardos, diz estudo de economista da UFRJ.
Passados 122 anos desde a Lei Áurea, 3 em cada 4 trabalhadores libertados de situações análogas à escravidão hoje são pretos ou pardos.
É o que mostra um estudo do economista Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, feito a partir do cadastro de beneficiados pelo Bolsa Família incluídos no programa após ações de fiscalização que flagraram trabalhadores em situações que, para a ONU, são consideradas formas contemporâneas de escravidão.
São pessoas trabalhando em situações degradantes, com jornada exaustiva, dívidas com o empregador -que o impedem de largar o posto- e correndo riscos de serem mortas.
Paixão, que publica anualmente um Relatório de Desigualdades Raciais (ed. Garamond), diz que foi a primeira vez em que conseguiu investigar a cor ou raça desses trabalhadores, graças à inclusão do grupo no Bolsa Família.
Os autodeclarados pretos e pardos -que Paixão soma em seu estudo, classificando como negros- representavam 73% desse grupo, apesar de serem 51% da população total do Brasil. Tal como nas pesquisas do IBGE, é o próprio entrevistado que, a partir de cinco opções (branco, preto, pardo, amarelo ou indígena) define sua cor.
Para o economista, "a cor do escravo de ontem se reproduz nos dias de hoje. Os negros e índios, escravos do passado, continuam sendo alvo de situações em que são obrigados a trabalhar sem direito ao próprio salário. É como se a escravidão se mantivesse como memória".
Pretos e pardos são maioria entre a população mais pobre. Segundo o IBGE, entre os brasileiros que se encontravam entre os 10% mais pobres, 74% se diziam pretos ou pardos.
Para Paixão, ainda que hoje a cor não seja o único fator a determinar que um trabalhador esteja numa condição análoga à escravidão, o dado sugere que ser preto ou pardo eleva consideravalmente a probabilidade. (Folha)
Projeto facilita saque de FGTS a aposentado
O aposentado pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) que voltar ao mercado de trabalho poderá sacar os recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), segundo projeto aprovado hoje (12) pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado. Pelas regras atuais, a Caixa Econômica Federal libera a movimentação do fundo apenas para o trabalhador que se aposenta e continua no mesmo emprego.
De acordo com a proposta, os saques poderão ser feitos a cada 12 meses ou quando o contrato for rescindido. O texto também reduz de 70 para 65 anos a idade mínima para movimentar a conta. O projeto foi aprovado em caráter terminativo na comissão e agora segue para a Câmara dos Deputados.
Relator do texto, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) disse que, com o envelhecimento relativo da população, o FGTS "é mais um instrumento de auxílio ao trabalhador em períodos de eventual dificuldade financeira, decorrente, por exemplo, de longos períodos de inatividade. Segundo o tucano, foram impostas "algumas limitações ao direito de movimentação da conta vinculada que, sem estabelecer elevado ônus ao trabalhador, permitem ao FGTS manter seu equilíbrio financeiro". (Estado)
MP de aposentados só será analisada semana que vem
A Medida Provisória (MP) que reajusta o benefício dos aposentados que ganham acima de um salário mínimo em 7,7%, aprovado na semana passada pela Câmara dos Deputados, só deve ser analisada pelo Senado na próxima semana. A informação foi dada hoje pelo líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR).
Jucá disse que cumprirá a praxe adotada pelo Senado de não votar imediatamente MPs que chegam na pauta já com prazo constitucional vencido. O acordo entre os senadores é de sempre esperar pelo menos três sessões antes de votar o texto, para ter tempo de discuti-lo.
"A MP dos aposentados não será votada esta semana, que é para dar tempo de discutir", disse. Até lá, Jucá também quer ter tempo para articular a alteração da emenda feita que acaba com o fator previdenciário. O líder quer que o fim do fator seja substituído, pelo menos, por um limitador de idade para evitar aposentadorias precoces.
Romero Jucá avaliou ainda que o projeto de reajuste das aposentadorias deve passar uma segunda vez pela análise da Câmara, em razão de um erro técnico que deixou o texto com reajustes diferentes, de 7% e de 7,7%. O primeiro índice era o negociado pelo governo com a oposição. Mas, na hora da votação, a maioria dos deputados votou pelo reajuste de 7,7%.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), corrigiu o erro de redação e mandou o projeto para o Senado, mas o líder do governo, Romero Jucá, disse que não aceitará a correção. Na avaliação dele, só uma nova votação pode corrigir o problema. Assim, o líder defende que o Senado vote o projeto com a correção necessária, mas que o texto volte para uma segunda análise da Câmara.
Apesar do tempo a mais que a conclusão da votação do projeto levaria, segundo Jucá, isso não impede que a MP seja aprovada a tempo. O texto perde a validade no dia 1º de julho. "Ainda estamos no dia 12 de maio. Em política, uma semana, dez dias, é longo prazo".
Oposição — O líder do DEM no Senado, senador José Agripino Maia (RN), criticou a interpretação de Jucá sobre o caso. Segundo Agripino, a correção feita por Michel Temer é válida, um vez que os deputados aprovaram o projeto com a intenção clara de reajustar as aposentadorias em 7,7%.
O oposicionista acredita que o líder está tentando atrasar as votações para evitar que o presidente Lula, que disse aceitar o reajuste até 7%, tenha que vetar o projeto. "É uma atitude subserviente da base tentando dar cobertura ao veto anunciado do presidente", disse Agripino. (Estado)
Fazenda aponta ritmo chinês no PIB do 1º tri
Expansão nos primeiros meses do ano pode ter chegado a 2,1%, o que representa taxa anualizada de mais de 8%, diz secretário. Com o aquecimento da economia, Itaú amplia para 7,5% estimativa para o PIB do ano; governo vê ritmo menor nos próximos meses.
O cenário de turbulência na Europa e o ciclo de alta de juros não serão suficientes para impedir o crescimento da economia brasileira acima da média.
Mantido o ritmo do nível de atividade nos três primeiros meses, a taxa anualizada indicaria alta de 8,5%, segundo o Ministério da Fazenda -padrão de crescimento da China.
A estimativa foi divulgada pelo secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa. Para o ano todo, a previsão do governo é de alta de 5,5% para o PIB (Produto Interno Bruto).
Barbosa explicou que os dados preliminares indicam expansão de 1,8% a 2,1% no primeiro trimestre, quando comparada com os três últimos meses de 2009. Anualizada, essa taxa ficaria entre 7,5% e 8,5%, mas ele prevê uma desaceleração nos próximos meses.
Na série histórica do IBGE, a última vez em que o crescimento do PIB em um trimestre ficou acima de 2,1%, na comparação com os três meses anteriores, foi no quarto trimestre de 2007 -alta de 2,3% em relação ao período anterior.
Para a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o crescimento no ano será maior do que os 5,5% a 6% previstos pelo governo. Relatório divulgado ontem com projeções das instituições aponta avanço médio de 6,3%, em linha com previsão de pesquisa do Banco Central.
Há oito semanas, os economistas de mercado respondem pesquisa do Banco Central com revisão para cima na projeção do PIB. O último dado semanal, divulgado na segunda-feira, elevou a expectativa de crescimento para 6,26%.
O relatório de previsões do Itaú-Unibanco divulgado ontem sustenta maior otimismo. A instituição espera crescimento de 7,5% para a economia brasileira no ano de 2010. O texto aponta dinamismo crescente na economia.
O número oficial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para o primeiro trimestre sai em junho.
Segundo Barbosa, a tendência é de diminuição do crescimento nos próximos meses. Ele considera as projeções acima de 6% exageradas. "É exagerado porque o primeiro trimestre tinha todos os incentivos e o aumento do funcionalismo. Continuaremos crescendo com uma taxa mais desacelerada."
As reavaliações para o crescimento da economia acima de 5,5% começaram a ser feitas pelo Banco Central em dezembro. No relatório de inflação divulgado no começo de abril, a instituição manteve a expectativa do PIB em 5,8%.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) recalculou em abril a previsão do crescimento do Brasil de 4,7% para 5,5%. E aconselhou ao país um aperto maior na política fiscal para conter pressões inflacionárias.
O ritmo de crescimento do país passou a ser motivo de preocupação para o Ministério da Fazenda porque pode pressionar a inflação.
Essa preocupação levou o governo a estudar corte de gastos para reduzir o ritmo de crescimento sob controle e, com isso, evitar uma alta muito grande na taxa de juros, que subiu 0,75 ponto na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. (Folha)
Instituições oferecem benefícios para usuários de cartões de crédito da baixa renda na expectativa de fideliza-los como clientes
O aumento da renda dos brasileiros nos últimos anos provocou uma mudança significativa não só no comércio do País mas também nos meios de pagamento utilizados nas compras. O crescimento do número de potenciais consumidores de cartão de crédito, por exemplo, atraiu muitos bancos, que passaram a oferecer linhas de cartões mais acessíveis e com algumas estratégias de fidelização para ganhar os clientes.
Segundo uma pesquisa do governo, entre 2002 e 2008, mais de 30 milhões de pessoas migraram para as classes B e C e se tornaram aptas a usar cartões de crédito. Para as instituições, o meio de pagamento passou a ser uma boa oportunidade no chamado processo de "bancarização" da parcela da população brasileira que ainda não possui conta em bancos.
"O cartão de crédito vem substituindo meios de pagamento tradicionais e o número de clientes que ainda não possuem cartões é muito grande", diz o diretor de cartões do Banco do Brasil, Denilson Gonçalves Molina, ao afirmar que atualmente cerca de 70% da base de clientes do banco enquadram-se nas classes C e D.
Não há uma definição clara que delineie as características de cada grupo social. Por isso, cada banco baseia-se em um gasto médio. "O consumidor da classe C gasta em média entre R$ 2.500 e R$ 3 mil por ano", estima o diretor de cartões do Bradesco, Cesário Nakamura. "Não há um limitador, mas em geral ele gasta entre R$ 200 e R$ 1 mil por mês", calcula Molina. Outras intituições baseiam-se na renda da família para definir as classes. "A família tem uma renda de cerca de R$ 1.500", acredita a gestora de cartões de crédito do Santander, Raquel Costa.
Benefícios — O principal benefício destes consumidores ao aderir o cartão de crédito é o aumento do potencial de compra. "O nível de poupança destas classes geralmente não é suficiente para comprar à vista", diz Nakamura. Assim, se a pessoa começar a poupar agora para comprar uma televisão nova para a Copa do Mundo em junho corre o grande risco de só juntar dinheiro suficiente para a aquisição após os jogos acabarem.
Mas, além deste benefício característico do cartão de crédito, bancos oferecem outras vantagens para os clientes, na expectativa de torná-lo cativo. No Santander, cujo porcentual da classe C ainda á baixo (11%), uma das estratégias é dar um fôlego no pagamento da fatura mensal, disponibilizando cinco dias a mais, sem juros, para o cliente quitar o boleto. Além disso, como a renda desse grupo é baixa, o banco também permite que a cada 12 meses o cliente possa pular o pagamento de um mês, acumulando na fatura seguinte dois meses de gastos. Com a facilidade, em períodos de gastos maiores, como o início de ano, o usuário do cartão pode diminuir um pouco os compromissos.
O principal diferencial do Banco do Brasil é no programa de relacionamento que o banco mantém com os clientes, dando pontos que podem ser convertidos em brindes físicos, como cafeteiras ou mesmo passagens de avião. "Tudo é convertido em pontos: tempo que a pessoa está no banco, gasto no cartão, investimentos, usar caixa de auto-atendimento", cita Molina. Além disso, o banco tenta fazer promoções dependendo do quanto o cliente gasta. Nelas, se a pessoa gasta uma determinada quantia pode concorrer a viagens para a Copa ou ganhar mini bolas de futebol, por exemplo.
A mesma estratégia de dar brindes é adotada pelo Bradesco. "O consumidor da baixa renda valoriza mais o ganho imediato do brinde ou da quantia para gastar do que uma promoção ou uma troca que ele pode fazer", argumenta Nakamura. Um brinde que tem dado certo, lembra ele, é o crédito de celular, já que boa parte dessa camada tem telefones pré-pagos.
Todos esses benefícios atraem muitos consumidores para o produto, mas isso não significa, porém, que eles estão preparados para a utilização do cartão. Segundo o diretor do BB, em média entre 35% e 40% dos usuários da baixa renda não conseguem pagar a fatura em tempo e entram no crédito rotativo. Quando o público é estendido para todos os detentores de cartão do banco, a média cai para entre 15% e 20%. Por isso, recomenda-se que a pessoa só adquira o cartão de crédito se tiver planejamento financeiro suficiente para não ultrapassar o limite de gastos e pagá-los em dia. (Estado)
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