sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Gerenciar economia brasileira sem ilusões, nos preparando para os efeitos da crise mundial

País vai desacelerar em 2009, diz Ipea

Como dizem os jogadores de sinuca, essa previsão é bola cantada. Queiramos ou não, gostemos ou não dos presidentes dos Estados Unidos, o fato é que os EUA são a maior economia do mundo. O que acontece lá, ainda mais no efeito cascata como está sendo a atual crise, acaba afetando todas as economias do mundo. É uma questão apenas de grandeza do impacto e de quando.
O que nos permite nos preparar para proteger o máximo possível nossa economia, os nossos interesses econômicos e nosso mercado interno. De resto é muito trabalho para tentar proteger o Brasil e ajudar a reverter a crise mundial.
Leia as informações do Ipea e reflita:
Para instituto, crise reduzirá preços de commodities e, por extensão, saldo comercial brasileiro. As incertezas relacionadas à crise financeira mundial devem levar à suspensão de decisões de novos investimentos no Brasil temporariamente, mas não devem prejudicar o desempenho da economia este ano nem interromper os investimentos já em execução. A avaliação é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Em relação a este ano, a expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) possa crescer acima de 5,2%, que é o teto da projeção do instituto. A desaceleração ficaria para 2009. "Nem a crise internacional nem nenhum outro fator vai afetar de forma substancial o crescimento da economia brasileira em 2008", disse o coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea, Marcelo Nonnenberg, autor das projeções. "Não se descortina o fim da crise ainda. A gente espera que as decisões de novos investimentos sejam suspensas até o cenário ficar mais claro", afirmou.
Com os resultados já obtidos do PIB no primeiro semestre, se a economia brasileira não crescer nada no segundo semestre, o PIB teria expansão de 4,7% no ano. Caso a expansão seja de apenas 0,5% no terceiro trimestre e 0,5% no quarto trimestre, o PIB crescerá 5,1%.
No entanto, só a produção industrial em julho aumentou 8,5% em relação ao mesmo mês de 2007. O Ipea prevê que crescerá 2,5% em agosto em relação a agosto de 2007. A desaceleração é influenciada pelo menor número de dias úteis no 8º mês deste ano, observou o pesquisador Leonardo Carvalho. Para o período de setembro a dezembro, porém, o número de dias úteis de 2008 será superior ao do ano passado, o que se refletirá em aumento da produção.
Na agricultura, a safra de grãos esperada para este ano é recorde, 9% superior a 2007, e está influindo para conter a inflação. A expectativa da especialista em inflação do Ipea, Andréia Parente, é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine o ano em 6% "ou até menos".
A crise, porém, ainda traz incerteza sobre o futuro. Para Nonnenberg, o primeiro impacto está ocorrendo no câmbio. Tanto os efeitos da desaceleração da economia mundial quanto a redução dos preços das commodities devem ter impacto negativo sobre as exportações brasileiras e desacelerar a expansão do PIB em 2009. "Outro efeito que está aparecendo é a interrupção dos fluxos internacionais de crédito", disse Nonnenberg.

Para especialistas, emergentes e Brasil não escapam da crise -- Quem ainda pensa que o Brasil e outros países emergentes vão escapar quase incólumes da atual crise econômica está muito enganado. Os Estados Unidos, a Europa e o Japão enfrentarão uma recessão em breve, resta saber o tamanho e a duração. Isso terá um impacto negativo ao redor do mundo, sem exceções.
Essa foi a conclusão de um debate ontem à tarde na quase centenária Chatham House, em Londres, entre alguns dos maiores especialistas no assunto. "Vai haver uma queda de três a quatro pontos percentuais no crescimento dos mercados emergentes nos próximos 12 meses. Não uma recessão, como aqui. Não vão entrar pelo cano, mas vai haver uma desaceleração muito maior do que a maioria das pessoas pensa", disse Robin Bew, economista-chefe e diretor editorial da Economist Inteligence Unit.
E o Brasil?, perguntou a Folha. "O Brasil está um pouco melhor, porque tem uma economia mais diversificada, mas não tanto quanto se imagina. Tem um mercado interno crescente, mas por outro lado ainda depende bastante das commodities. Sem dúvida, o país vai ser afetado. Talvez não tanto quanto os outros, mas pode se preparar", disse Bew, que comanda uma equipe de 120 economistas ao redor do mundo.
Essa, por incrível que pareça, foi a análise menos pessimista da mesa, formada por Christopher Allsopp, da Universidade Oxford, e Vanessa Rossi, da Chatham House e da Oxford Economic Forecasting, uma consultoria independente ligada à universidade.
"Não há dúvidas sobre a perspectiva para os EUA e a Europa. Haverá recessão. O problema é que os emergentes até sobreviveriam a uma crise norte-americana, mas não também [a uma] na Europa e no Japão, que é o que vai ocorrer. A situação em todas as grandes economias está sincronizada e afundando. O impacto nos emergentes será muito maior do que foi até agora, e as próximas estatísticas devem começar a mostrar isso", afirmou Rossi.
Bew, da EIU, explica: "O mercado consumidor dos BRICs [Brasil, Rússia, Índia e China], somado, é de 10% do total mundial. O dos EUA é 25%. Se fosse só isso, tudo bem. O problema é que, somando Europa e Japão, o total do mundo rico sobe para 75%. De repente, os BRICs ficam pequenos".
Rossi diz que, por a crise se propagar em choques, seu impacto talvez chegue aos emergentes com força apenas no futuro. "O Brasil não está na pior das posições. Mas se ficar tão ruim quanto parece, a idéia de que o país pode escapar vai desaparecer. O choque pode demorar, e talvez você veja os efeitos mais em 2010 do que em 2009. Mas eles virão", disse.
Allsopp praticamente não tocou no assunto dos emergentes, mas concordou com a iminente recessão do mundo desenvolvido. No entanto, coube a ele a nota otimista da tarde, argumentando que ainda existe uma salvação. Se houver uma resposta eficiente dos governos envolvidos, disse, ainda é possível amenizar a crise.
E a resposta correta, afirmaram Bew e Rossi, está muito mais nos Estados Unidos do que na Europa até agora. "Os EUA estão preparados para pensar o impensável, enquanto a Europa não pensa em fazer nem o pensável", disse Rossi. "A frase que não sai da minha cabeça é: "Tempos extraordinários precisam de medidas extraordinárias'", afirmou Bew.

Arrecadação bate recorde, mas cresce menos
O governo brasileiro tem uma ncessecidade ávida de arrecadar. O que faz com que os trabalhadores e em especial as famílias trabalhadoras de classe média assumam uma carga imensa, se sacrificando e às respectivas famílias, para ter acesso mínimo à Educação e à Saúde. Temos que lutar para que os governos (federal, estaduais e municipais) contenham sua gana arrecadadora e aprendam a gastar bem para ajudar o Brasil e os brasileiros a viver, ainda nesta geração, uma Revolução na Educação, com mais bem estar e saúde para todos. De verdade.
Veja o texto:
Em agosto, Receita recolheu R$ 53, 9 bilhões em impostos, 4,27% mais que no mesmo mês de 2007. A Receita Federal bateu novo recorde de arrecadação em agosto, mas a velocidade de crescimento arrefeceu. Entraram no mês para os cofres do governo R$ 53,93 bilhões, o maior valor para meses de agosto. A arrecadação teve crescimento real (acima da inflação medida pelo IPCA) de 4,27% sobre agosto de 2007. Em relação a julho, houve queda real de 13,2%.
As receitas administradas (que excluem taxas e contribuições controladas por outros órgãos e representam a maior parte da arrecadação) tiveram expansão ainda menor: de 3,58% acima do IPCA. Ao longo do ano, o crescimento vinha em velocidade bem superior e em julho tinha fechado em 12,85%.
De janeiro a agosto, a arrecadação somou R$ 443,56 bilhões, com alta real de 10,33%. Até julho, a alta era de 11,21%. Até agosto, a receita é R$ 62,05 bilhões maior, em valores nominais, que a de igual período de 2007 - superando os R$ 40 bilhões que o governo perdeu com o fim da CPMF.
Apesar da desaceleração, a arrecadação continua mostrando vigor, por causa da maior lucratividade das empresas, que teve reflexos positivos nas receitas do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Esses tributos foram responsáveis por 50% do crescimento da arrecadação em 2008.
Para o secretário-adjunto da Receita Federal Otacílio Cartaxo, o crescimento menor não significa desaceleração econômica. "A arrecadação vai se mantendo de forma sustentada e um ritmo seguro." A Receita espera crescimento de 10% das receitas administradas, com destaque para IRPJ e CSLL.
Os dados mostram recolhimento maior sobre os setores de combustíveis, financeiro e automotivo. Em agosto, o pagamento dos dois tributos pelo setor de combustíveis cresceu 587,9% ante agosto de 2007. O coordenador de Previsões da Receita, Eloi de Carvalho, disse que as empresas lucraram mais com a alta do petróleo e das vendas no mercado interno.
A arrecadação de agosto também foi puxada por Cofins (11,35%), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis (25,2%) e Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) sobre rendimentos de capital (25,90%).
Mas a maior alta foi com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF): 171%. No ano, as receitas do tributo cresceram 151,72% ante igual período de 2007. O IOF foi aumentado para compensar o fim da CPMF e tem pesado mais sobre pessoas físicas, cujas operações de crédito renderam R$ 3,26 bilhões do tributo. O secretário avaliou que "é possível" um corte do IOF, se a economia brasileira continuar crescendo.
Por enquanto, a Receita pensa é em arrecadar mais. O órgão espera engordar os cofres até o fim do ano com a arrecadação da Cofins retroativa sobre o faturamento de profissionais liberais, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal. "Esperamos receber pelo menos uma parte desses recursos este ano. Alguns vão pagar à vista e outros devem parcelar."
Classe média trabalha quase 4 meses por ano para comprar serviços "estatais" -- Depois dos tributos vêm os serviços privados. Após trabalhar 157 dias neste ano para pagar os impostos e contribuições exigidos pelos três níveis de governo, a classe média brasileira ainda terá de destinar mais 117 de trabalho somente para adquirir serviços privados de saúde, educação, previdência, segurança e pedágios.
Assim, entre 1º de janeiro e 5 de junho deste ano as famílias com renda entre R$ 3.000 e R$ 10.000 trabalharam para pagar tributos aos governos federal, estaduais e municipais. De 6 de junho até a próxima terça-feira, dia 30 deste mês, serão mais 117 dias -ou seja, quase um terço do ano- de trabalho para comprar aqueles serviços. No total, 75% da renda da classe média vai para pagar tributos e comprar serviços privados.
Segundo cálculos do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), neste ano os contribuintes estão trabalhando dois dias a mais do que em 2007 -um dia para pagar tributos e outro para comprar os serviços privados.
Para o IBPT, esse gasto é cada vez maior porque o Estado é deficiente na prestação de serviços públicos. "Neste ano, o cidadão de classe média só começará a trabalhar para comer, vestir, morar, comprar bens, gozar férias e fazer alguma poupança no dia 1º de outubro", diz Gilberto Luiz do Amaral, presidente do IBPT e coordenador do "Estudo sobre os dias trabalhados para pagar tributos e a ineficiência governamental".
No estudo, o IBPT considera como de classe média uma família composta de quatro pessoas (casal e dois filhos em idade escolar) e que tem renda entre 7,2 e 24 salários mínimos. Em relação ao ano passado, os gastos que mais crescerem proporcionalmente foram os relacionados a segurança privada.
Uma família de classe média baixa (até R$ 3.000) gasta 43 dias para comprar os mesmos serviços, segundo o estudo. Já as famílias consideradas de classe alta (as com renda acima de R$ 10.000), também gastam 117 dias de trabalho para adquirir os serviços. Como gastaram até 1º de junho só para pagar tributos, essas famílias trabalham até hoje para comprar os serviços. Na média, o estudo do IBPT diz que os brasileiros gastam 63 dias de trabalho para comprar os serviços privados.
Segundo o IBPT, na década de 70 os brasileiros gastavam apenas 25 dias de trabalho por ano para comprar os serviços, ou 7% da renda. Na década seguinte já eram necessários 44 dias, ou 12% da renda. Em 1995 a compra dos serviços consumia 20% da renda familiar, ou 73 dias de trabalho. Em 2003, pela primeira vez os brasileiros já tinham de trabalhar mais de 100 dias por ano (102), o que correspondia a 28% da renda.

DEBATE DO PRÉ-SAL NO ESTADÃO
Veja a seguir, clicando no link abaixo, os principais pontos do debate sobre o Pré-Sal, promovido pelo Jornal O Estado de São Paulo, que me recebeu gentilmente para uma visita, na semana passada. Destaco a fala do senador Aloizio Mercadante, por ter mencionado os investimentos do FGTS em compras de ações da Petrobras. Que o presidente Lula anunciou e que no dia seguinte, o ministro Mantega disse que não era bem assim. E, como vocês sabem, a UGT e as demais centrais estão se mobilizando para sensibilizar o presidente Lula a autorizar a compra de ações da Petrobras com os recursos dos trabalhadores que estão rendendo 3% mais TR e dando um prejuízo imenso para todos nós.

Uso do FGTS para comprar ações não resolve problema de capitalização da Petrobras, diz Mercadante
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse durante debate que discutiu o futuro do pré-sal que o uso do Fundo de Garantia do Tempo do Serviço (FGTS) para comprar ações não resolve o problema de capitalização da Petrobras. Ele disse isso ao ser indagado sobre as perspectivas de o governo fazer um aporte da capital na estatal ou mesmo de liberar o uso do FGTS para aquisição de ações da empresa, visando garantir os recursos necessários para os investimentos na camada pré-sal.
"Eu apresentei um projeto para que o FGTS fosse utilizado para comprar ações da Petrobras em 92, eu defendo essa alternativa, mas isso não resolve o problema da capitalização da Petrobras. Eu sou favorável, mas não resolve a não ser que haja emissão primária de ações".

Mais depoimentos no link http://blog.estadao.com.br/blog/temporeal/?blog=65&catsel[]=689&page=1&disp=posts&paged=1