terça-feira, 14 de outubro de 2008

Governo descobre, finalmente, setores de varejo e de serviços

Governo quer política para varejo e serviços

O governo demorou demais para perceber que os setores de varejo, comércio e serviços agora lideram na abertura de empresas, na geração de empregos e de renda para o Brasil. Apesar de ser uma decisão que se toma tarde demais, temos que incentivar o governo federal a acelerar as medidas. Vale o ditado antes tarde do que nunca. E vamos aproveitar para ressaltar os aspectos desburocratizantes, gerar facilidade para abrir e também para encerrar empresas, ter acesso a financiamento bancário para os empreendedores que geram emprego e riquezas para o Brasil e para os brasileiros.

Leia mais: Plano terá os mesmos moldes da política industrial

O governo pretende lançar em até cinco meses uma política de desenvolvimento específica para os setores de comércio e serviços, nos mesmos moldes da que foi anunciada para a indústria, em maio passado.

O diagnóstico do Ministério do Desenvolvimento é que esses segmentos enfrentam excesso de burocracia, informalidade e maior dificuldade para obtenção de crédito.

"Identificamos esses gargalos. Agora, será preciso destravá-los", afirmou ontem o secretário de Comércio e Serviços do ministério, Edson Lupatini Jr.

Entre as metas da Política de Desenvolvimento dos Setores de Comércio e Serviços, como foi batizada a proposta, está o combate à informalidade e a implementação de um sistema informatizado que permita a abertura de empresas em, no máximo, seis dias.

BC vai liberar até R$ 100 bi para o sistema financeiro

E tem gente que dizia que era apenas uma marolinha a crise internacional. Infelizmente, as bolhas que os especuladores e agiotas criaram no mundo deixam agora uma conta enorme para os governos do mundo inteiro pagarem. Temos que controlar aqui no Brasil os espertalhões de plantão, que se aproveitam de toda crise para tirar vantagens.

Leia mais: Governo anuncia novas regras de liberação de depósitos compulsórios dos bancos para combater efeitos da crise mundial, como a falta de liquidez

Diante dos sinais de agravamento da falta de recursos no sistema financeiro, o Banco Central adotou uma postura mais agressiva para injetar dinheiro na economia, com o anúncio de novas regras para a liberação de depósitos compulsórios - parte dos recursos captados pelos bancos junto aos clientes que têm de ser recolhidos ao BC. Ontem pela manhã, a autoridade monetária anunciou um programa para liberar até R$ 100 bilhões dos compulsórios.

O valor não ficará disponível de imediato e o cronograma para a liberação desses recursos não foi divulgado, mas as alterações já adotadas para algumas modalidades de compulsório vão injetar no mercado, no curto prazo, cerca de R$ 47 bilhões. Essa é a quarta vez que o BC libera dinheiro dos compulsórios em menos de um mês, uma indicação de que as ações tópicas até agora não foram suficientes para debelar a paralisia do crédito no mercado.

Duas medidas entraram em vigor ontem mesmo. Uma delas permitiu a elevação de R$ 300 milhões para R$ 1 bilhão do valor de dedução do compulsório adicional incidente sobre depósitos à vista (conta corrente), a prazo (como CDBs) e poupança. A decisão deve colocar R$ 8 bilhões no sistema financeiro.

A outra medida já implementada pode irrigar o mercado com R$ 20 bilhões: as operações de compra de dólares nos leilões do BC vão poder ser descontadas no recolhimento compulsório que incide sobre os depósitos bancários das empresas de leasing. O benefício vale apenas para os leilões em que há compromisso de revenda dos dólares para o BC.

E será gerado apenas durante o período da operação de câmbio - entre o leilão de venda do BC e a data estipulada para a recompra. Este abatimento será no valor total da aquisição dos dólares pela instituição financeira.

Na prática, ao tornar mais atrativos os leilões de dólares do BC, essa medida incentiva o giro de mais moeda estrangeira no mercado - o que pode contribuir para reverter a subida das cotações do dólar das últimas semanas.

O BC também anunciou o aumento de R$ 700 milhões para R$ 2 bilhões do abatimento permitido no caso do compulsório principal que incide sobre o volume de depósitos a prazo nas instituições financeiras, que hoje tem uma alíquota de 15%. Essa medida sozinha, que entrará em vigor na próxima sexta-feira, dia 17, injetará R$ 13,1 bilhões no sistema.

Outra medida permite que um maior número de bancos possa usufruir do programa de venda de carteiras (ver abaixo). Com isso, outros R$ 6 bilhões devem voltar ao mercado, dependendo da efetivação das compras de carteiras e títulos pelas instituições financeiras. A medida também entra em vigor em 17 de outubro.

Para o economista-chefe do banco Itaú, Tomás Málaga, as medidas anunciadas pelo BC são bem-vindas porque o custo de captação de recursos subiu muito, dificultando o funcionamento adequado do mercado de crédito. "As medidas devem ajudar a desatar esse nó. Elas foram bem apropriadas e devem fazer com que volte a fluir a liquidez. Precisava de uma atitude mais proativa", disse o economista, destacando que o agravamento da crise exigia medidas adicionais por parte do BC.

Para o economista e ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas as medidas mostram a seriedade da crise financeira. "As medidas são robustas, fortes. As decisões devem incentivar o fluxo de recursos", disse Freitas. Para ele, o anúncio pode indicar que as medidas adotadas anteriormente não surtiram efeito. "É preciso ficar atento para que o problema de liquidez não se torne de solvência, que é muito grave. O BC quer extirpar esse tumor antes que crise de liquidez evolua para uma crise de solvência", afirmou.

CMN vai discutir pacote de apoio para o setor rural

A agricultura é prioridade. O financiamento agrícola também. Mas requer, mesmo na crise, acompanhamento de perto, afinal somos o país com uma das maiores áreas agriculturáveis do mundo. Que deve ser usado como reserva estratégica para ajudar o Brasil a enfrentar e superar a atual crise global.

Leia mais: O Conselho Monetário Nacional (CMN) deve fazer uma reunião extraordinária amanhã para injetar mais recursos no crédito rural, informou ontem o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. O pacote pretende "melhorar a condição do crédito agrícola" e garantir o plantio da nova safra de grãos, afirmou o ministro, após reunir-se com o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Mário Scheiner.

Entre as medidas estão a liberação de recursos dos depósitos compulsórios dos bancos para serem direcionados à agricultura. O ministro defende a liberação de um valor entre R$ 3,6 bilhões e R$ 5 bilhões.

No começo do mês, diante da falta de crédito provocada pela crise financeira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a antecipação de R$ 5 bilhões do Tesouro para o Banco do Brasil, principal financiador do agronegócio. Agora, o reforço de caixa vai para os bancos privados, como forma de compensar o retração das trading companies, empresas que financiam a agricultura por meio da compra antecipada da safra.

Outra medida esperada é a reclassificação do risco das operações de crédito rural, para permitir que bancos reduzam taxas e aumentem os financiamentos. Outro pedido é a prorrogação para maio de 2009 do prazo para pagar dívidas no total de R$ 5 bilhões.

Perda cambial atinge mais de 200 empresas, diz governo

A UGT continua atenta. A crise cambial que atinge as empresas que especularam com o dólar é problema delas, exclusivamente. Como foram os lucros que acumularam ao longo da fase especulativa que deu certo, lá para eles. Não tivemos nenhuma notícia de tentativa de dividir com o povo brasileiro os estrondosos lucros. Agora não é hora de buscar a guarida do governo para socializar os prejuízos.

Leia mais e fique atento: Previsão é que novos prejuízos milionários com derivativos sejam anunciados

Grandes companhias como Sadia, Votorantim e Aracruz já informaram prejuízos com apostas erradas no mercado futuro

O governo tem informações de que pelo menos 220 empresas estão em situação de risco devido a apostas erradas feitas no mercado de câmbio e poderão sofrer perdas milionárias, a exemplo do que ocorreu com a Votorantim, a Sadia e a Aracruz, entre outras. Não é possível ainda precisar o número de companhias expostas à desvalorização do real, já que nem todas as operações foram registradas no Banco Central e nenhuma delas procurou o governo em busca de socorro.

Fontes da comitiva do governo à conferência do Ibas (grupo formado por Índia, Brasil e África do Sul), que teve início ontem em Nova Déli, repetiram a crítica feita pelo presidente Lula às empresas que transformaram suas tesourarias em "instrumentos de especulação". E disseram que não haverá resgate do governo a quem deixou de lado sua atividade produtiva para se lançar em ações especulativas.

O governo tem recebido informações de que o número de empresas que enfrentam dificuldades por apostar que o dólar continuaria em queda estaria entre 220 e 250, bem mais que o estimado inicialmente.

Na última sexta-feira, o grupo Votorantim comunicou que teve perdas de R$ 2,2 bilhões em operações de câmbio, o maior prejuízo divulgado por uma empresa brasileira desde o início da crise de crédito. Antes disso, a Sadia já havia reconhecido prejuízo de R$ 760 milhões pelo mesmo motivo, e a Aracruz, de R$ 1,9 bilhão.

Crédito "empoçado" — Alguns setores no Brasil já sentem com mais força o impacto da crise do crédito e da desvalorização do real. Segundo o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, um dos mais castigados é o das montadoras de automóveis.

Elas sofrem duas vezes em sua relação com as locadoras, explicou o ministro, que ontem abriu a conferência do Ibas. No primeiro golpe, pela queda na demanda. No segundo, porque as locadoras revendem os carros que haviam comprado com o objetivo de alugar, competindo de forma desleal com as montadoras no mercado de carros usados.

O ministro criticou os bancos por estarem retendo recursos que deveriam estar "irrigando" o mercado de crédito. Miguel Jorge lembrou que o governo tomou medidas como a redução do depósito compulsório para aumentar a liquidez no mercado, mas o dinheiro continua sendo retido pelos bancos, agravando a crise do crédito.

"Os bancos estão empoçando o dinheiro que deveria estar irrigando o mercado de crédito", disse Jorge. Já a valorização do dólar abala os setores que têm forte dependência de produtos cotados na moeda americana, como é o caso do farmacêutico.

Taxa de empréstimo pessoal é a mais alta desde 2003, diz Procon

Os clones de Meirelles que reclamam dos juros altíssimos são os primeiros a enfiar a mão no bolso dos correntistas, ávidos para acumular lucros. Que fique bem claro para os banqueiros agiotas de plantão que não terão o apoio dos trabalhadores brasileiros caso venham a sucumbir, com problemas de liquidez ou de insolvência, nos próximos meses. Vamos avaliar, também, como lidam com os seus trabalhadores que estão em greve e merecem a reposição da inflação e dos lucros astronómicos que os banqueiros conseguiram no último ano.

Leia mais: A taxa média de juros cobrada no empréstimo pessoal chegou neste mês ao patamar mais elevado dos últimos cinco anos, segundo pesquisa realizada pela Fundação Procon-SP com dez instituições financeiras do país e divulgada ontem.

O resultado é reflexo do crédito mais restrito e mais caro, conseqüência da crise financeira internacional, e da decisão do Banco Central de aumentar os juros básicos da economia em setembro, segundo afirmam economistas.

A taxa média de juros cobrada nos empréstimos pessoais passou de 5,76% ao mês em setembro para 6,04% neste mês -acréscimo de 0,28 ponto percentual. Esse é o maior nível médio medido para essa modalidade de financiamento desde junho de 2003, quando chegou a 6,22% ao mês. No acumulado do ano, os juros no empréstimo pessoal passaram de 95,71% para 102,16%.

"Aumentou a demanda por crédito no sistema interno e ao mesmo tempo diminuiu a oferta de recursos disponíveis aos bancos. A concessão de financiamentos está mais seletiva, com prazos mais curtos e taxas maiores. Esse aperto de liqüidez no sistema financeiro vem ocorrendo desde janeiro", afirma o economista Roberto Troster, sócio da consultoria Integral-Trust.

Quatro entre os dez bancos pesquisados elevaram os juros cobrados no empréstimo pessoal. As principais altas ocorreram no Real (subiu de 5,9% em setembro para 7,95% em outubro), no Safra (de 5,90% passou para 6,90%) e no Itaú (de 6,64% passou para 6,89%).

O governo estuda também conceder benefícios fiscais e discutir linhas de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para o setor, assim como fez na formulação da política industrial.

Em relação ao BNDES, porém, ainda haverá certas restrições. Isso porque o financiamento do capital de giro -a maior demanda do varejo- está fora do âmbito de ação do banco. "Achamos que isso deve ser financiado pelo sistema tradicional", disse o superintendente da área de indústria do BNDES, Julio Ramundo.