quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Crise dá sinais que está se exaurindo mas ainda falta muito para a plena recuperação da oferta de empregos que tem que contemplar os jovens

Venda de materiais de construção sobe 5,15% em setembro

As vendas no setor da construção civil finalmente começam a decolar tanto por influência do fim do ano como também como um indicador da solidez da recuperação da economia. Era o setor que mais nos preocupava por causa da geraão de empregos e como uma medida de consistência da economia. O que nos mostra que a crise começa a se exaurir mas sem os reflexos que desejamos no crescimento da oferta de emprego que tem que recuperar as vagas perdidas desde o ano passado e criar condições de absorver os jovens que chegam ao mercado de trabalho.

Leia mais: Crescimento nos últimos cinco meses reforça a tendência de retomada do setor, avalia a Abramat

As vendas reais de materiais de construção no país cresceram 5,15% em setembro, na comparação com o mês imediatamente anterior, de acordo com levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) divulgado nesta terça-feira.
Conforme a entidade, o fato de as vendas mostrarem expansão há cinco meses "reforça a tendência de retomada do crescimento do setor após a crise".
No acumulado de 12 meses, contudo, o desempenho do setor ainda é negativo. Segundo a Abramat, as vendas no intervalo de 1 ano até setembro mostram recuo de 10,9%. Em 2009 até setembro, segundo a associação, a venda de materiais de construção mostra retração de 15,26% contra igual intervalo de 2008.
A Abramat mantém a previsão de queda de 5% nas vendas reais da indústria neste ano. "Essa previsão representa um crescimento real de 8% comparado a 2007, refletindo uma evolução mais realista do setor no ambiente pós-crise", comentou em nota o presidente da entidade, Melvyn Fox.
Em setembro, a indústria de materiais de construção empregava 0,93% mais funcionários do que em agosto. Em relação a setembro de 2008, porém, houve encolhimento de 3,95% nos postos de trabalho do setor. (Leia mais no Estadão)

Setor automotivo levou R$ 4 bi de isenções no ano

Nós da UGT sempre fomos favoráveis à isenção fiscal e aos empréstimos com juros muito mais baixos e a uma intervenção mais agressiva dos bancos oficiais. Mas também fomos a primeira central a exigir a contrapartida social atrelando os empréstimos ou insenções fiscais à manutenção do emprego em toda a cadeia produtiva beneficiada. Ou seja, se tem ajuda desta dimensão para o setor automotivo teria que ter a garantia de emprego para a indústria automobilística e também para os trabalhadores das revendas de automóveis. Que estas informações nos sirvam de lição para as próximas crises que virão. Afinal, vivemos num sistema capitalista e a crise faz parte do sistema.

Leia mais: Total de desonerações do governo federal atinge R$ 19,5 bi no ano até setembro. Com cadeia produtiva mais longa, setor automotivo foi maior beneficiado pelo estímulo fiscal do governo para combater a crise.

O setor automotivo teve um benefício de R$ 4 bilhões neste ano com as desonerações tributárias do governo para enfrentar a crise econômica. O valor se refere aos impostos que deixaram de ser arrecadados nos primeiros nove meses do ano por causa da adoção de incentivos diretos à produção de automóveis, motos e caminhões.
A produção de veículos também se beneficiou de reduções concedidas nos preços de combustíveis, cujo total bancado pelo governo até setembro atingiu R$ 2,323 bilhões.
Quando se soma a isenção fiscal para veículos e combustíveis, chega-se a R$ 6,331 bilhões -32,5% de tudo o que o governo teve de assumir em redução de impostos para tentar reativar a economia. Segundo cálculos da Receita Federal, as desonerações totalizam R$ 19,492 bilhões até setembro.
Os estímulos à aquisição de maquinas e equipamentos para a indústria em geral foram os mais altos -R$ 4,1 bilhões- se forem levados em conta apenas os benefícios diretos.
"Foram medidas bem-sucedidas. No caso do setor automotivo, nossos indicadores dizem que a cadeia completa foi atingida. Fabricação de pneus, bancos, equipamentos tecnológicos nos carros, tudo foi reaquecido", diz Otacílio Cartaxo, secretário da Receita Federal.
As medidas anticíclicas começaram a ser tomadas no fim de 2008. A ideia foi derramar reais no mercado, estimular o comércio e impedir uma recessão de proporção ainda maior.
No caso do setor automotivo, o estímulo foi mais que suficiente. Em setembro, último mês de isenção total do IPI, as vendas internas foram recorde, aumentando quase 15% em relação ao mesmo mês de 2008.
"A lógica do governo foi incentivar quem tinha maior valor na cadeia produtiva e onde uma redução de imposto pudesse estimular o consumidor", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
"O lobby do setor é forte. E isso conta. Mas há uma lógica em incentivar. A indústria automobilística foi um dos canais de importação da crise na medida em que depende fortemente de crédito. Além disso, tem peso na indústria geral e, portanto, tem um efeito multiplicador importante", afirma o economista do banco WestLB, Roberto Padovani.
A divulgação da tabela completa de quanto custou cada uma das medidas mostra que a economia brasileira emergiu sobretudo com a ajuda concedida a cinco áreas específicas: 1) setor automotivo; 2) combustíveis; 3) alteração da tabela do Imposto de Renda; 4) condições mais favoráveis para a compra de máquinas e equipamentos para a indústria e 5) redução de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) no crédito e no câmbio.
A mudança na tabela do IR custou R$ 3,906 bilhões aos cofres públicos. A facilidade para aquisição máquinas ficou em R$ 4,1 bilhões. E a queda no IOF tirou R$ 2,1 bilhões até setembro -sem contar os descontos específicos no IOF para carros, motos e caminhões.
Tudo somado, essas cinco áreas principais representaram uma perda de receita para o governo da ordem de R$ 16,5 bilhões, ou 84,6% de todo o custo das ações anticíclicas de Lula. (Leia mais na Folha)

ANP: etanol deixa de ser vantajoso em 14 Estados

Levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com dados compilados pelo AE Taxas, aponta que, na semana passada, pela primeira vez no ano, o uso do etanol hidratado deixou de ser vantajoso em relação ao abastecimento com gasolina na maioria dos Estados brasileiros. Os dados apontam que compensou mais ao consumidor utilizar a gasolina como combustível nos postos de 14 Estados, enquanto o uso do álcool ainda é aconselhável em 11 Estados e no Distrito Federal, se forem considerados os preços médios do combustível. A vantagem é calculada considerando que o poder calorífico do motor a álcool é de 70% do poder nos motores à gasolina. Na semana anterior ainda era melhor utilizar o etanol em 17 unidades da Federação.
A mudança do cenário é explicada pelo fato de os preços médios do etanol hidratado subirem nos postos de 24 Estados brasileiros e no Distrito Federal, em comparação com a semana anterior. O preço recuou apenas Pernambuco, com queda de 0,68% nos períodos, e permaneceu estável em Roraima.
Segundo o levantamento, os Estados onde a vantagem do etanol ainda foi mais significativa foram: Mato Grosso (preço do etanol é 49,23% do preço da gasolina), Goiás (58,14%), Tocantins (61,56%), São Paulo (62,61%), Paraná (64,19%), Mato Grosso do Sul (66,71%), Alagoas (67,22%), Pernambuco (67,48%), Rondônia (67,90%) e Rio de Janeiro (67,95%). Na Bahia, onde o preço do etanol correspondeu a 69,04% do da gasolina, e no Distrito Federal, onde a paridade foi de 69,12%, ainda era melhor abastecer com álcool na semana passada, mas os preços apresentaram altas no período. Ou seja, se a tendência se mantiver, o cenário poderá ser diferente na nova avaliação da ANP desta semana.
Já a gasolina foi mais vantajosa em Roraima (preço do etanol é 80,13% do valor da gasolina), Amapá (80,01%), Amazonas (77,63%), Pará (77,41%), Rio Grande do Sul (75,33%), Espírito Santo (72,99%), Santa Catarina (71,96%), Piauí (71,74%), Rio Grande do Norte (71,73%), Maranhão (71,35%), Sergipe (71,30%), Acre (71,08%), Minas Gerais (70,81%) e Paraíba (70,64%). O Ceará, onde a paridade entre álcool e gasolina é bem próxima dos 70% (com 70,4%), pode ser considerado o único Estado onde foi indiferente o uso dos dois combustíveis.
As maiores altas do etanol na semana passada foram registradas no Amapá (10,98%), no Piauí (5,88%), no Pará (5,82%), na Bahia (5,66%), no Maranhão (5,31%) e no Amazonas (5%). Maior produtor e consumidor de etanol do País, São Paulo segue atrás do Mato Grosso como Estado onde o álcool é mais barato. Nos postos paulistas, o combustível foi cotado a R$ 1,486, em média, alta de 1,41% na semana, de acordo com dados da ANP. No Mato Grosso o preço médio na semana passada foi de R$ 1,314 o litro, praticamente estável em relação ao R$ 1,313 do período anterior. (Leia mais no Estadão)

Serasa: qualidade do crédito tem pior nível desde 2007

A qualidade do crédito do consumidor no Brasil obteve no terceiro trimestre de 2009 o menor valor desde 2007, quando começou a série histórica, de acordo com a Serasa Experian. O Indicador Serasa Experian de Crédito do Consumidor assinalou declínio de 0,8% no trimestre passado, em relação ao segundo trimestre. Segundo a empresa, a diminuição foi causada pelos resultados defasados da crise econômica mundial sobre as condições de patrimônio das famílias, sobretudo no que se refere ao mercado de trabalho, e pelo descompasso entre a alta do endividamento e a massa real de rendimentos.
No período entre julho e setembro deste ano, o índice de qualidade do crédito do consumidor alcançou o nível de 78,2. O indicador analisa a qualidade do crédito em uma linha graduada de zero a 100, sendo que quanto maior a escala, melhor o valor. Logo, menor é o risco de inadimplência no caso de o consumidor pedir crédito. Conforme a Serasa Experian, a redução do índice pode restringir a alta do crédito no curto prazo.
Sobre as causas da queda do índice, os técnicos observam que a média de desemprego deste ano ainda é maior à observada no ano passado (8,6% de janeiro a agosto de 2009 ante 8,2% no mesmo período de 2008, de acordo com o IBGE). Sob a perspectiva conjuntural, afirmam os analistas, a atual retomada das vagas com carteira assinada, segundo mostram os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, deve agir para reequilibrar a situação financeira das famílias, sobretudo as de menor renda.
Em relação aos rendimentos dos trabalhadores, os especialistas lembram que, no acumulado dos oito primeiros meses deste ano, conforme a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, a massa nominal de rendimentos subiu somente 3,9% enquanto o saldo dos empréstimos bancários concedidos às pessoas físicas aumentou 12,5%, segundo o Banco Central (BC), configurando uma falta de compasso. Para a Serasa, a alta do endividamento contribui para aumentar o risco sistêmico do crédito. (Leia mais no Estadão)

VINICIUS TORRES FREIRE
A "Economist" se rende a Lula
O BRASIL vai crescer apenas 3,8% em 2010, segundo a "Economist Intelligence Unit" (EIU) em seu relatório bimestral "Perspectiva Global". A EIU é a unidade de pesquisa econômica do grupo que edita a revista "The Economist". Em março, a estimativa era de 1%. Economistas dos maiores bancos e consultorias brasileiros estimam alta do PIB de uns 5% em 2010. Mas a EIU se rende aos "feitos" do país na crise e muito mais.
A EIU diz que a recuperação brasileira se deveu em parte às exportações para os mercados asiáticos e à ressurreição da demanda chinesa por matérias-primas. A China, por sua vez, recuperou-se devido aos gastos em infraestrutura do pacote fiscal anticrise de 8% do PIB e do crescimento de 34% do crédito (até setembro). O risco para a economia chinesa seria o de investimentos malfeitos devido ao excesso de dinheiro à disposição e o de criação de excesso de capacidade produtiva, diz a EIU e quase todo mundo.
Em março, a EIU previa que a China cresceria 6% neste ano e 7% em 2010 (agora, prevê respectivamente 8,2% e 8,6%. A China cresceu 11% ao ano de 2004 a 2007).
A EIU diz que o Brasil foi um dos mais resistentes da América do Sul devido à baixa abertura comercial e a seu grande mercado interno (a EIU ainda vai elogiar a Cepal?). "A economia se recupera do choque externo auxiliada pela força do sistema financeiro doméstico (e sua dependência de bancos estatais), inflação baixa e programas antipobreza eficazes", recuperação rápida que é um "grande feito". Isto é, a EIU-Economist se rende a Lula, digamos apenas um pouco ironicamente.
"O governo adotou algumas medidas de estímulo à economia, mas a deterioração das finanças públicas continua limitada. A eleição presidencial de outubro de 2010 provavelmente não deve ocasionar instabilidade financeira, pois os dois maiores partidos são comprometidos com o rigor fiscal".
O Banco Central deve começar a elevar os juros a partir de meados de 2010, com a Selic chegando a 12% no final de 2011, "mas essa taxa ainda será baixa", dada a história recente".
A EIU acredita que a taxa "básica" de juros nos EUA começa a subir no terceiro trimestre de 2010. Não passaria de 1% no final do ano, e o Fed ficaria imóvel durante 2011. Qual a base do prognóstico? A EIU revisou sua projeção para o crescimento do PIB americano em 2010 para 2,4%. Estimava 1,7% em setembro deste ano. Em março, 0,7%. A média do crescimento dos EUA de 2004 a 2007 foi de 2,8%.
Dada a volta do crescimento em 2010, os americanos não precisariam mais de taxas de juros tão baixas. Mas os Estados Unidos levariam novo tombo em 2011, segundo a EIU. O PIB cresceria apenas 1,1%, pois o efeito dos gastos do governo na atividade produtiva estaria se desvanecendo. Portanto, o Fed deixaria os juros ainda muito baixos. Na verdade, segundo a projeção de inflação da EIU para 2011, a taxa seria negativa, em termos reais. Assim, os juros estariam mais baixos do que agora. Portanto, a previsão da EIU não faz lá grande diferença. De resto, nem Deus sabe ainda o que vai fazer em 2011, muito menos os economistas da EIU ou quaisquer outros, aliás. (articulista da Folha)