terça-feira, 24 de março de 2009

Estado brasileiro tem que aproveitar a crise e assumir a liderança sobre os rumos da economia, diante da inoperância dos empresários

Brasil perdeu 750 mil empregos em três meses, aponta Dieese

(Postado por Laerte Teixeira da Costa) Grande parte das demissões foram em função do ajuste antecipado e desnecessário que os empresários fizeram nas próprias empresas, contratiando um princípio básico da economia, de esperar osa reflexos da crise na demanda, em vez de antecipá-la. Os capitalistas brasileiros se sentem à vontade porque não existe no Brasil a proteção contra a dispensa imotivada, em qualquer nível. Demite-se ao primeiro sintoma de crise, imaginada ou real, e passam a conta do desemprego para o governo e o desespero do desemprego, para as famílias trabalhadoras. Além disso, esses empresários, viciados que são nas tetas do governo, correm atrás dos empréstimos públicos, a juros subsidiados, sem nenhuma contrapartida social, para reerguer seus impérios, que eles mesmos ajudaram a esfriar por iniciativas e decisões erradas.

Leia mais: O mercado de trabalho nacional perdeu 750 mil vagas de emprego formal de dezembro a fevereiro, segundo um estudo divulgado nesta segunda-feira (23) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O levantamento da entidade mostra que a perda representa um corte de 2,3% do total de postos de trabalho do país e é um dos impactos da crise mundial na economia brasileira.

 “Estes três meses [dezembro, janeiro e fevereiro] são, tradicionalmente, meses de ajustes sazonais no nível de emprego. Geralmente, temos mais demissões que contratações. Mas, este ano, a crise agravou a situação”, disse o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre, em entrevista à Agência Brasil.

Só em dezembro, por exemplo, a crise aumentou em 305 mil o número de demissões no país, de acordo com o Dieese. Nas previsões da entidade, o Brasil perderia 350 mil vagas de trabalho naquele mês. Porém, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) acabou apontando um corte de 655 mil vagas.

O estudo do Dieese aponta ainda que boa parte das vagas eliminadas desde dezembro são do setor de agropecuária e da indústria de transformação, os mais prejudicados em termos percentuais. Só agropecuária demitiu 8,6% dos seus empregados durante esse período. Já a indústria de transformação demitiu 5%.

Silvestre afirmou, porém, que pelo menos uma parcela de todas essas demissões poderia ter sido evitada, independentemente do agravamento da crise no mundo ou no Brasil. Segundo ele, existe uma grande facilidade para se demitir no país e alguns empresários se aproveitam dessa facilidade para cortar mais vagas que o necessário.

“É difícil mensurar o que foram demissões causadas pela crise e o que foram ajustes antecipados promovidos pelos próprios empresários”, afirmou Silvestre, citando casos de companhias que anunciaram demissões em massa ao mesmo tempo que anunciaram um aumento de sua produção para 2009. (Leia mais no Jornal do Comercio)

Gasto do Brasil para enfrentar crise é tímido

O Brasil é o país do G-20 que menos gastou até hoje com pacotes de estímulo à economia em comparação ao PIB. Um levantamento publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que apenas 0,2% do PIB nacional foi gasto em estimulo à economia brasileira desde a eclosão da crise.

Segundo o levantamento da OIT, a Espanha é a líder no volume dos pacotes, em comparação a seu PIB. Os espanhóis já gastaram 8,1% do PIB para relançar a economia. A China vem em segundo lugar, com 6,9%. O terceiro posto é dos Estados Unidos, com 5,5% do PIB já gastos em planos de relançamento. Em volume, os americanos têm o maior pacote. O quarto lugar é do México, com 4,7% e duramente afetado pela recessão nos Estados Unidos. Na Argentina, o gasto já chegou a 3,9% do PIB. Já a taxa brasileira é de apenas 0,2%.

Já o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, alertou que a crise vai exigir que os países emergentes construam um "novo modelo econômico" que favoreça o crescimento sem depender de recursos externos.

Para ele, caberá a cada país emergente fazer sua lição de casa. "Se bancos e investidores acreditarem que os emergentes não vão sair da crise, vão repatriar seus recursos desses mercados e a situação será ainda pior", relatou. "

"Pedimos que, de uma forma global, o mundo destine 2% de seu PIB a pacotes", relatou. "Hoje, estamos em cerca de 1,6%", revelou. Mas ele admite que nem todos os países terão condições de estabelecer seus pacotes fiscais. "A crise colocou países que estavam perto do precipício para mais perto de uma queda. Esses governos precisam consertar seus problemas e só depois pensar em pacotes", disse. "É ingenuidade afirmar que cada país deve ter seu pacote de estímulo. Há regiões onde o risco de colapso existe de fato. Nesses locais, o FMI terá de investir muito dinheiro, já que a queda de uma dessas economias terá um efeito terrível", alertou.

Governo faz concessões para aprovar cadastro positivo

Na tentativa de vencer resistências à aprovação do projeto de lei que permite a criação de empresas de cadastro positivo - banco de dados com o histórico de pagamentos de consumidores e empresas -, governo e lideranças da Câmara dos Deputados negociam a flexibilização da proposta. O objetivo das mudanças é dar mais garantias ao consumidor e impedir o uso indevido de informações privadas. Segundo o governo, a criação do cadastro positivo reduziria o risco de inadimplência de bancos e do comércio e, assim, permitiria a queda dos juros.

Com as mudanças em negociação no Congresso, as empresas que montarem o serviço de cadastro positivo no Brasil só poderão fornecer uma nota (rating) do risco de crédito do consumidor a quem consultar as informações - lojas ou bancos, por exemplo. O histórico dos dados não poderá ser repassado e será protegido por sigilo financeiro, o mesmo que os bancos são obrigados a manter para os clientes. E haverá punição para as pessoas que usarem indevidamente as informações do cadastro.

Além disso, as empresas de cadastro terão de obter autorização por escrito do consumidor (empresa ou pessoa física) para incluir o nome no banco de dados. Segundo o relator do projeto, deputado Maurício Rands (PT-PE), essas mudanças serão incluídas no seu parecer e deverão facilitar a aprovação do projeto. "Já fiz uma grande concessão", disse. O relator informou que quem repassar indevidamente as informações poderá ser punido com reclusão de dois a cinco anos. Uma das preocupações dos parlamentares e órgãos de defesa do consumidor é com o risco de invasão da privacidade. Também se teme o risco de serem passados dados errados. (Leia mais no Estadão)

Petroleiros param por bônus e garantia a terceirizados

Os petroleiros iniciaram ontem uma greve de cinco dias que atingiu as principais bases da Petrobras no país e contou com adesão de 70% dos funcionários, segundo a FUP (Federação Única dos Petroleiros). Foram cortadas as trocas de turnos em oito refinarias,13 terminais e em plataformas.

Mas o próprio coordenador da FUP, João Antonio Moraes, diz que o impacto na produção de petróleo é relativamente pequeno. Das plataformas de grande porte, apenas a P-34 (campo de Jubarte, bacia de Campos) teve a produção interrompida por três horas. A plataforma foi assumida pela equipe de contingência da Petrobras. A produção foi cortada em campos terrestres no Rio Grande do Norte e na Bahia.

Segundo a Petrobras, "todas as unidades da companhia funcionam normalmente e a produção e a segurança das operações e dos empregados não foram afetadas". A estatal diz que "onde é necessário opera com equipes de contingência."

A principais reivindicações da categoria são o aumento e a redistribuição da Participação nos Lucros e Resultados, pagamento de horas extras em feriados e garantia de empregos. (Leia mais na Folha)

Pacote definirá rumo de construtoras

Enquanto aguarda o anúncio do pacote com uma série de incentivos à criação de milhares de moradias econômicas por parte do governo federal, prometido para amanhã, o setor de construção civil vive cada vez mais a certeza de que o segundo semestre do ano será decisivo para os negócios. Os maiores players deste segmento aguardam ansiosos, tanto a desoneração de impostos como os demais benefícios ao consumidor, com ampliação do crédito.

O cenário anima construtoras, como a MRV Engenharia e Participações, que tem projetos na manga para dar continuidade à sua expansão, e como a Rossi Residencial, que se antecipou e lançou seu próprio pacote habitacional, esperando ainda que as medidas deem um impulso a mais aos negócios.

Em 2008, o setor de construção civil cresceu ao todo 8%, com o pico de 11% no terceiro trimestre e uma queda para 2,1% nos últimos três meses do ano. Segundo especialistas do setor, porém, com a revisão do PIB, o resultado final do ano passado pode saltar para 10%. "Para 2009, levando em consideração o cenário de hoje, trabalhamos a perspectiva de crescer 3%", analisou Sérgio Watanabe, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP).

O presidente do Sinduscon explicou que, até setembro próximo, as construtoras estarão vivendo um "efeito de carregamento", ao seja, continuarão aquecidas ao atenderem aos negócios fechados em 2008. Por isso, os efeitos da turbulência econômica começam a ser mais efetivos no último trimestre e início de 2010. Segundo Watanabe, "o pacote econômico deve reverter o panorama de forma positiva no segundo semestre de 2009", comentou, incluindo que "o impacto real dessa redução será observado no início do próximo ano".

Ainda de acordo com o executivo, não há dúvidas de que, se as medidas forem bem estruturadas, os primeiros negócios podem começar a ser fechados já no segundo semestre, uma vez que, no País, há estoque de projetos com esse perfil que podem ser resgatados a partir do pacote.