segunda-feira, 5 de dezembro de 2011


Dilma dá prioridade absoluta à economia e à redução dos juros
A presidente Dilma Rousseff elegeu a economia como prioridade absoluta de sua gestão. Ela fez essa definição já no início do ano, mas a reforçou em agosto, quando, antecipando-se ao recrudescimento da crise financeira nas economias avançadas, decidiu aumentar o esforço fiscal e, assim, criar as condições para o Banco Central reduzir a taxa de juros. Sua obsessão neste momento é impedir que a turbulência externa derrube o crescimento da economia brasileira abaixo de 3% ao ano.
Neste primeiro ano de mandato da presidente, a política, principalmente a partidária, ficou em segundo plano. É assim que seus aliados veem a sua gestão. Dilma estabeleceu um estilo: ao cortar despesas do Orçamento Geral da União (OGU), optou por sacrificar as emendas de parlamentares, o que justifica a insatisfação de praticamente todos os partidos da sua base de apoio no Congresso.
No orçamento de 2011, as emendas somaram R$ 22,6 bilhões, sendo R$ 18,3 bilhões em investimentos e o restante em custeio da máquina. O contingenciamento, previsto no Decreto nº 7.445, de março deste ano, foi de R$ 36,2 bilhões, sendo R$ 18,3 bilhões de despesas de investimento (o que coincide com o valor das emendas) e R$ 17,9 bilhões em custeio. Os cortes em custeio foram de R$ 5,1 bilhões no Programa Minha Casa Minha Vida (integrante do Programa de Aceleração do Crescimento) e R$ 12,8 bilhões nas despesas de diversos ministérios. O que se conclui, portanto, é que o contingenciamento afetou, principalmente, as emendas feitas pelos parlamentares.
No caso do orçamento de 2012, os parlamentares aumentaram a previsão de receita líquida da União em R$ 26,1 bilhões. Esse é o montante de novas despesas que será acrescentado pelas emendas parlamentares ao orçamento do ano que vem. E é sobre esse montante que Dilma fará os cortes de 2012 para preservar a disciplina fiscal. Segundo fontes próximas à presidente, a decisão já está tomada. Ela vai repetir a dose de cortar emendas parlamentares em pleno ano eleitoral.
Os partidos, evidentemente, vão reagir mal, haverá queixume aqui e ali, mas a tônica em 2012 será a de 2011. "Ninguém vai a ela reclamar, é inútil. Não adianta chorar. Todos já conhecem seu estilo", diz um integrante do PMDB com trânsito na cúpula do poder.
Com a saída de Antônio Palocci da Casa Civil, em junho, Dilma se aproximou do vice-presidente Michel Temer, uma das principais lideranças do PMDB. "Palocci era o capitão e principal jogador do time. Mas saiu do campo aos sete minutos de jogo. Com a saída dele, o governo sofreu um rearranjo de forças", comenta um assessor.
Dilma e Temer se reúnem sozinhos antes do início de cada reunião de coordenação do governo, realizada às segundas-feiras. Os assessores ficam curiosos em saber o que os dois conversam. Só depois do convescote é que a presidente chama os ministros palacianos. Confiante nessa aproximação, Dilma tem mostrado que política é com Temer, que, discretamente, tem exercido missões que antes eram de Palocci, como fazer a ponte do Palácio do Planalto com lideranças partidárias, negociar apoios etc.
Presidente e vice estão jogando juntos. Ela prometeu a Temer que o PT vai cumprir os acordos que fez com o PMDB para as próximas eleições da mesa na Câmara e no Senado, marcadas para o início de 2013. Por esse acordo, o PT apoiará a eleição do deputado Henrique Eduardo Alves, hoje líder do PMDB, para a presidência da Câmara no biênio 2013-2014. O teste da aliança PT-PMDB, na gestão Dilma, vai se dar justamente na eleição das presidências da Câmara e do Senado e também nas eleições municipais de 2012.
Dilma só fará a reforma ministerial em janeiro, mas já começou a planejá-la, embora ninguém ou quase ninguém saiba os detalhes. Pode haver surpresas, mas ela, segundo interlocutores, não tem mais preocupação em agradar. Não mudará fundamentalmente o modelo político que herdou de Lula, de cessão de espaços no governo aos partidos em troca de apoio político, mas também não cederá a pressões das legendas. É por causa desse modelo e também de sua personalidade centralizadora que ela não dá espaço para a existência de super ministros ou ministros fortes o suficiente para torná-la refém.
Economista formada na Unicamp, a presidente se dedica com afinco aos temas econômicos. Começa o dia, ainda no Palácio da Alvorada, lendo, em seu iPad, as principais publicações estrangeiras especializadas em economia. Seu plano de voo para os quatro anos de mandato era criar as condições para o Banco Central promover a convergência das taxas de juros brasileiras para níveis internacionais. Não se trata de um objetivo isolado, mas a ideia de que, depois de 17 anos de estabilização, chegou o momento de avançar na normalização financeira do país.
Para criar as condições de queda dos juros, a presidente decidiu aumentar o esforço fiscal, com o objetivo de diminuir a dívida pública como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) - a meta é chegar a 30% do PIB em 2014. O recrudescimento da crise mundial criou, no entanto, na avaliação de Dilma, a oportunidade para acelerar o processo de redução dos juros, uma vez que a turbulência provocará o desaquecimento da economia interna. Por isso, ela resolveu aumentar, em R$ 10 bilhões (0,25% do PIB), o esforço fiscal de 2011. (Valor)

Governo quer injetar R$ 40 bilhões em bancos públicos
Ideia é dar condições para que instituições ampliem concessão de crédito.
A equipe econômica já prepara uma nova capitalização dos bancos públicos, que pode chegar a R$ 40 bilhões, para que eles abasteçam a economia com crédito. O temor dos técnicos é que a desaceleração da atividade e o agravamento da turbulência global provoquem, em 2012, um quadro semelhante ao de 2008, quando a oferta de recursos secou no país. Naquele momento, foram justamente os bancos públicos que supriram o espaço deixado pelas instituições privadas e ajudaram a turbinar a economia.
A injeção de recursos — que pode ser um mix entre dinheiro do Tesouro Nacional, lançamento de ações e captações externas — será necessária pois as instituições federais estão num ritmo acelerado de expansão das suas carteiras e caminham rapidamente para os limites de segurança, o chamado índice de Basileia. O índice define que para cada R$ 100 emprestados, o banco precisa de reserva própria de ao menos R$ 11.
Outro fator de pressão é que o Banco Central vai colocar em consulta pública este mês regras de controle mais duras para os bancos, que vão exigir um esforço maior de capitalização para que as instituições fiquem enquadradas. Com a mudança, que entra em vigor em janeiro, os bancos não poderão mais considerar bens intangíveis, como marca ou créditos tributários, no cálculo de seu capital próprio.
A situação é mais crítica hoje na Caixa, mas também afeta o Banco do Brasil. Segundo técnicos, mantidos os parâmetros atuais, os dois bancos precisarão de pelo menos R$ 15 bilhões, $semelhante às capitalizações realizadas em 2009 e 2010. Numa proporção menor, o Banco do Nordeste, que já recebeu cerca de R$ 1 bilhão, também poderá necessitar de novos aportes. O BNDES, por sua vez, deverá receber R$ 25 bilhões.
Depois de ter elevado sua carteira de crédito em 40% entre setembro de 2010 e setembro deste ano, a Caixa viu seu índice de Basileia cair de 17,04% para 13,45%, percentual próximo aos 11% exigidos. Para 2012, a meta da instituição é crescer entre 30% e 35%. No BB, o crédito subiu 20% no terceiro trimestre, e o índice se manteve em 14%.
Levantamento da USP revela que a situação da Caixa e do BB já é preocupante, quando se compara a proporção do patrimônio líquido em relação às operações de crédito, que são de 9% e de 15%, respectivamente. A média dos maiores bancos privados (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e HSBC) está em 22%.
Para o professor Alberto Matias, se quiser repetir a estratégia de 2008, o governo terá mesmo que fazer novos aportes. Ele lembra que a própria crise externa, com problemas nas matrizes dos bancos privados, vai aumentar a pressão sobre os bancos públicos. Os técnicos da equipe econômica também reconhecem a necessidade de aportes.
— Já contamos com essa possibilidade (capitalização). No caso da Caixa, o valor não é tão alto. No BB, a conta é dividida com os acionistas — disse um técnico.
Segundo o vice-presidente de Novos Negócios de Varejo do BB, $Rogério Caffarelli, com a entrada do Banco Postal em janeiro (parceria com Correios), a ideia é atuar forte para oferecer crédito a oito milhões de consumidores das classes C, D e E, que já são clientes, mas pegam financiamentos na concorrência. Ao todo, o plano é pôr na praça R$ 52 bilhões, com aumento de limite para cheque especial, CDC, imóveis, veículos e desconto em folha:
— Com base no comportamento dos clientes, estamos expandindo o crédito de forma expressiva e consciente.
Segundo o presidente do BNB, Jurandir Santiago, com novas empresas no Nordeste, cresceu a demanda por financiamentos de infraestrutura, e o Fundo Constitucional, com R$ 10 bilhões, é insuficiente. Para ter fonte de recursos, o BNB quer captar no exterior entre R$ 500 milhões e R$ 600 milhões. Sobre aporte do Tesouro, Santiago disse:
— Essa porta está aberta.
Desde a última crise, o banco que mais recebeu do Tesouro foi o BNDES. Foram R$ 100 bilhões em 2009 e R$ 80 bilhões em 2010. Isso sem contar com R$ 30 bilhões para ajudar na capitalização da Petrobras. Este ano, o governo capitalizou o BNDES em R$ 30 bilhões, com autorização para que o total do ano ficasse em R$ 55 bilhões. A diferença deve ser repassada em breve.
No caso da Caixa, foram feitas duas capitalizações desde 2009, que somaram R$ 8,2 bilhões. Já o BB captou recursos por meio de uma oferta pública de ações, que ficou em R$ 9,7 bilhões. (O Globo)

Após Copom, mercado reduz projeção para juro e inflação em 2012
Segundo pesquisa Focus, IPCA deve fechar 2012 em 5,49% e juro básico, em 9,75% ao ano.
O mercado espera tanto uma inflação como um juro mais baixo no próximo ano. De acordo com a pesquisa Focus divulgada há pouco pelo Banco Central, a mediana das estimativas para o IPCA em 2012 recuou de 5,56% para 5,49% na primeira pesquisa realizada pelo BC após a divulgação da nova metodologia de cálculo do IPCA anunciada na semana passada. Há um mês, a projeção estava em 5,57%.
O mercado financeiro reduziu a estimativa para o patamar do juro básico da economia brasileira (Selic) no fim de 2012, de 10,00% para 9,75%. A queda das projeções acontece na primeira pesquisa realizada após a última reunião deste ano do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a taxa foi reduzida de 11,50% para 11,00%. Além disso, é a primeira vez que o mercado financeiro acredita em Selic de um dígito ao final do próximo ano desde 22 de setembro de 2009. Nas duas pesquisas anteriores, o mercado mantinha a previsão de taxa em 10,00%.
Já as estimativas para a inflação em 2011 seguiram em trajetória de alta e passaram de 6,49% para 6,50%, na segunda alta seguida e exatamente no teto da meta de inflação.
Também caiu a projeção suavizada para o IPCA nos próximos 12 meses, que passou de 5,58% para 5,47%, na segunda redução seguida. Há um mês, a expectativa estava em 5,63%.
De acordo com a pesquisa, o BC deve manter o ritmo de cortes do juro em 0,50 ponto porcentual nas reuniões marcadas para janeiro e março de 2012. Em abril do ano que vem, a velocidade dos cortes seria reduzida para 0,25pp, quando a Selic cairia para 9,75%. A partir daí, a taxa seria mantida até o fim do ano.
PIB -- A previsão para o crescimento da economia brasileira em 2012 apresentou ligeira melhora. De acordo com o levantamento, a mediana das expectativas para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano - índice que mede o tamanho da economia - subiu ligeiramente, de 3,46% para 3,48%, ante 3,50% registrados quatro semanas antes.
Para 2011, os números seguiram em trajetória contrária e a expectativa de crescimento da economia caiu pela segunda seguida, passando de 3,10% para 3,09%. Há um mês, o mercado previa alta para o PIB de 3,20% em 2011.
Em linha com a economia mais fraca, as projeções para o desempenho do setor industrial também pioraram. Para 2012, a expectativa de expansão do setor caiu de 3,50% para 3,46%, na quarta redução seguida. Há um mês, o mercado apostava em avanço industrial de 4,08% no próximo ano.
Para 2011, os números são ainda piores: a aposta de crescimento foi cortada de 1,33% para 0,94%, na quinta queda seguida. Quatro semanas antes, essa estimativa estava em 1,83%.
Na pesquisa, analistas não alteraram a previsão para o comportamento do indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB. Para 2012, foi mantida a expectativa de que o dado deve ficar em 38% do PIB, número repetido há 24 semanas. Para 2011, a projeção caiu de 38,60% para 38,50%, ante 38,70% de um mês atrás.
Câmbio -- Analistas elevaram a previsão para o patamar do dólar no fim de 2011. A mediana das expectativas para a taxa de câmbio no fim de dezembro subiu de R$ 1,75 para R$ 1,79. Essa foi a primeira alta após sete pesquisas seguidas sem alteração dos números.
Para 2012, porém, foi mantida expectativa de que a taxa deve recuar e a moeda norte-americana deve terminar o próximo ano sendo trocada de mãos a R$ 1,75. Essa aposta foi mantida pela oitava pesquisa consecutiva. (Estado)