segunda-feira, 25 de maio de 2009

A estupidez de alguns empresários do comércio e serviços não lhes deixa ver que a rotatividade significa prejuízo para eles mesmos

Rotatividade sobe e achata salários

Falta aos empresários dos setores de comércio e serviços a compreensão de que os setores já respondem por 60% de todas as transações e empregos no País. Ficou lá atrás, no Século 20, a hegemonia do setor industrial. Hoje em dia, o comércio e serviços predomina e os empresários deveriam ter muito mais bom senso, muito mais dedicação à causa pública pois poderiam influir para melhor seus lucros e os rendimentos de seus principais parceiros que são os comerciários. Mas não. O que vemos é uma selvagem administração em causa própria, com altíssima rotatividade, que gera prejuízos para o trabalhador, com o achatamento salarial; para o governo, que assume grande parte dos custos de sobrevivência dos desempregados com o seguro desemprego e para o próprio comerciante, pois ao reduzir a massa salarial dá um tiro no pé pois contribui, diretamente, para reduzir o consumo dos seus próprios bens e serviços. É um círculo vicioso de selvageria e falta de visao, que afetam grande parte dos setores de comercio e serviços. Que terá que ser interrompido por uma ação mais contundente do governo através da assinatura da Convenção 158 da OIT. Que deverá impor algumas regras para acabar com a sangria da rotatividade inconsequente e gerar níveis civilizados de sobrevivência entre os trabalhadores que fazem sua parte e os empresários que só pensam no que consideram economia imediata. Que, como se vê, não é nada inteligente. E gera prejuízos, inclusive, para eles mesmos.

Leia mais: Para diminuir custos, empresas cortam remunerações mais altas e contratam pagando menos.

"Mesmo antes da crise o comércio já trocava funcionários de uma forma selvagem", diz Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo.

O impacto da crise global no mercado de trabalho brasileiro foi além do corte no emprego. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, setores que não fecharam vagas fizeram uso da rotatividade para substituir na mesma ocupação um empregado de maior remuneração por outro de menor salário, como forma de reduzir custos com mão de obra.

Levantamento feito pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, a pedido do Estado, mostra que, em seis meses sob pressão da crise, a taxa média mensal de rotatividade no trabalho com carteira assinada atingiu 3,9%, ante 3,7% entre outubro de 2007 e março de 2008. Nesse período de dificuldades na economia, a rotatividade atingiu 23,4% dos cerca 29,4 milhões de trabalhadores formais do setor privado.

Isso seria como se praticamente um em cada quatro brasileiros com carteira de trabalho assinada trocasse de emprego no período.

Na realidade, a proporção é menor. Primeiro, porque muitos mudaram de emprego mais de uma vez. Segundo, porque parte das vagas foi ocupada por pessoas que ingressaram no mercado ou estavam desempregadas. Essa troca, contudo, na maioria dos casos motivada por demissão, implica em salários mais baixos.

"A rotatividade da mão de obra no trabalho é historicamente alta no Brasil, porque nossas empresas não enfrentam restrições para demitir e contratar", diz Pochmann.

Ele pondera que essa flexibilidade tem possibilitado que as empresas se ajustem nos períodos de crise, o que amortece o seu impacto no fechamento de vagas . Mas ressalta que o trabalhador que foi demitido e não conseguiu um novo emprego vai onerar os cofres públicos, porque depende do dinheiro do seguro desemprego, enquanto o que foi contratado para ocupar o seu antigo posto vai ganhar menos. "Para melhorar esse quadro, a economia precisa voltar a crescer", afirma.

Os setores que aumentaram a rotatividade não foram os que mais demitiram empregados formais. O setor terciário, que contempla o comércio e os serviços em geral, manteve o saldo positivo entre contratações e demissões, porém com aumento da rotatividade em relação ao período anterior. No comércio, a rotatividade média mensal subiu de 4,02% de outubro de 2007 a março de 2008, para 4,08%, entre outubro de 2008 e março deste ano.

"Mesmo antes da crise o comércio já trocava funcionários de uma forma selvagem", diz Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo.

Segundo ele, mais de 9,9 mil demissões foram homologadas no sindicato dos comerciários só em março, o que representa um aumento de 21% em relação às 8,2 mil homologações feitas em igual período de 2008. "É um verdadeiro absurdo porque, ao mesmo tempo em que cresce o numero de demitidos, na porta das lojas se vê placas anunciando vagas", afirma o sindicalista.

SEM BENEFÍCIOS — O caixa de supermercado Vanilson Augusto de Oliveira, de 25 anos, sentiu isso no bolso. Há dois anos, perdeu o emprego numa loja de supermercado da capital paulista, onde ganhava cerca de R$ 800 por mês. Após mais de um ano desempregado, conseguiu uma vaga de auxiliar de padeiro, ganhando os mesmos R$ 800, mas não aguentou trabalhar de madrugada. No fim de 2008, foi contratado como caixa por uma rede de supermercados, porém com salário mensal de R$ 600.

Além de receber R$ 200 menos, Oliveira perdeu alguns benefícios que tinha nos empregos anteriores, como plano de saúde e tíquete refeição. "Estou satisfeito de estar empregado, mas o salário deixa a desejar", diz o caixa, que é separado e tem uma filha de quatro anos, que mora com a mãe.

Na indústria, os efeitos da crise levaram ao fechamento de 692,6 mil postos de trabalho entre outubro de 2008 e março deste ano. A rotatividade caiu de 3,26% para 3,02%.

"Me parece uma taxa alta", diz o empresário Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Estamos falando de 3% e isso significa uma rotatividade no ano de 40%".

Na opinião de Pochmann, "o efeito da rotatividade sobre o mercado de trabalho é muito pior na crise". De acordo com ele, "até setembro, a demissão de um trabalhador com maior salário era seguida de contratação de mais pessoas com salário menor, porque a economia estava crescendo. Agora, a empresa demite um funcionário de maior salário, mas não tem capacidade de contratar muito mais."

A análise dos dados do Caged mostra que, para cada emprego com remuneração de até três salários mínimos eram contratados outros 25 com salários menores. Isso permitia reduzir em 13,3% o custo de contratação.

Em outras palavras, para um trabalhador que era contratado por R$ 1 mil, a folha crescia R$ 867. Agora, são abertas apenas duas vagas com a demissão de um trabalhador com remuneração superior a três mínimos . Nesse caso, o custo de contratação cai 69,4%. O trabalhador que ganha R$ 1 mil custa apenas R$ 306. (Estadão)

77% de pisos salariais ficam abaixo de 1,5 salário mínimo

Apesar de o primeiro semestre de 2008 ter sido um período de sólido crescimento econômico, os pisos salariais dos trabalhadores não acompanharam a tendência de alta, frustrando sindicatos de várias categorias. A conclusão é de balanço anual divulgado hoje pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que analisou 628 pisos salariais de categorias pertencentes aos setores da indústria, comércio, serviços e do meio rural.

De acordo com a pesquisa, 77% das categorias estudadas estabeleceram pisos que não ultrapassaram o valor de 1,5 salário mínimo, ou R$ 622 - o Dieese considerou o valor do salário mínimo vigente na época, de R$ 415 (valor reajustado para R$ 465 em fevereiro deste ano). A maioria (56%) dos pisos ficou abaixo de 1,26 salário mínimo (R$ 523). A porcentagem de categorias que conquistaram pisos superiores a 2 mínimos (mais de R$ 830) foi de 2,9%.

Os economistas do Dieese explicam que o baixo reajuste dos pisos salariais se deu em razão da adoção, nos últimos anos, de uma política governamental de valorização do salário mínimo. Para os técnicos, cada vez mais os empregadores pautam o piso da categoria pela menor remuneração paga no País, que tem sofrido aumentos em porcentuais superiores à variação da inflação e à média dos reajustes salariais. Na comparação com 2007, a proporção de categorias com piso salarial equiparado ao mínimo cresceu de 3,4% para 5,7% no ano passado.

O balanço também aponta que as atividades relacionadas ao setor rural são as que têm menor piso salarial entre as categorias estudadas. Cerca de 88% dos pisos variam entre as faixas de 1 e 1,25 salário mínimo (entre R$ 415 e R$ 519). Em outros setores da economia, como comércio, indústria e serviços, os pisos variam de acordo com a média de salários. Na atividade industrial, por exemplo, o segmento químico e farmacêutico apresenta 60% das categorias com piso superior ou igual a 1,5 salário mínimo (R$ 622).

Sem divulgar o nome das categorias, o Dieese informou que os maiores pisos encontrados na pesquisa foram de 5,06 e 4,74 salários mínimos (R$ 2.099 e R$ 1.967). Os menores foram de R$ 400 e R$ 390. (Estadão)

Indústria prevê queda recorde na exportação

Vendas de produtos manufaturados ao exterior devem recuar 35% neste ano, na maior queda desde 1980, aponta pesquisa.

Retração da demanda global derrubou encomendas, mas especialistas também veem a baixa competitividade dos itens brasileiros como causa

As exportações brasileiras de produtos manufaturados e semimanufaturados devem ter uma queda de cerca de 35% em 2009 na comparação com o registrado em 2008, de acordo com estimativa feita pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a partir de uma pesquisa com seus associados e obtida com exclusividade pela Folha. Dessa forma, as vendas externas desses itens cairiam para perto de US$ 78 bilhões, contra US$ 119,8 bilhões verificados em 2008.

Se confirmada essa projeção, será a primeira diminuição desde 1999, quando houve um recuo de 5,8%, e a maior na série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que teve início em 1980.

"A principal explicação para a baixa está no encolhimento do mercado consumidor. Fortemente atingidos pela crise, nossos principais parceiros comerciais -EUA, Europa e América Latina- passaram a comprar menos", explica Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp.

O levantamento foi realizado com as 78 maiores indústrias exportadoras paulistas. Contabilizando os volumes já vendidos neste ano e os contratos fechados para entrega nos próximos meses, elas consideram que, no intervalo de 12 meses até setembro, a diminuição das suas vendas ao exterior ficará em 24,8%. Pela representatividade da amostra, as conclusões podem ser estendidas para a totalidade do setor manufatureiro do país.

"O ritmo de redução é maior no caso dos industrializados do que no das commodities, porque, afinal, o mundo continua se alimentando", diz Francini. A China, que se desacelerou, mas continua mostrando fôlego, é uma grande importadora de mercadorias agrícolas brasileiras, não de manufaturas.

Dificuldades — Não dá para controlar a demanda. Mas essa queda nas vendas externas poderia ser menor, caso a indústria brasileira tivesse sua capacidade exportadora mais aprimorada, dizem especialistas. "A crise deixou a nu todos os problemas", afirma Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

O primeiro problema diz respeito à competitividade -bastante prejudicada, na avaliação de Almeida, pela forte desvalorização do dólar, no período de 2004 a meados de 2008, que foi de cerca de 45%. Isso encarece o preço dos produtos brasileiros no exterior. "Nossas empresas perderam espaço, o que não se recupera do dia para a noite", comenta o consultor.

"O câmbio não é a única dificuldade, porém. O impacto negativo da depreciação da moeda poderia ser minimizado se tivéssemos uma melhor infraestrutura de energia, ferrovias, rodovias e portos."

Como concorrentes mais agressivos aparecem a China e a Coreia do Sul. O foco desses países está agora nos mercados emergentes, onde ainda há apetite por bens de consumo e por máquinas. Até internamente a indústria brasileira está tendo que enfrentá-los.

Outro obstáculo é a falta de uma mentalidade de exportação genuína. "As empresas simplesmente buscam o mercado externo quando o doméstico vai mal, e vice-versa", lamenta Nelson Ludovico, diretor da consultoria em comércio internacional Licex. "Por esse motivo, possuímos apenas 20 mil exportadoras em um universo de 5 milhões de companhias. Internacionalizar marcas e produtos não pode ser fruto de um interesse sazonal, pois se trata de um processo que pede investimentos de longo prazo." (Leia mais na Folha)

Brasileiros vão trabalhar até quarta só para pagar tributos

Serão 147 dias para cumprir as obrigações fiscais, 1 dia a menos que em 2008

Ainda faltam dois dias. Os brasileiros terão de trabalhar até quarta-feira, dia 27, somente para pagar tributos aos governos federal, estaduais e municipais neste ano. Desde 1º de janeiro, serão 147 dias de trabalho, em média (148 em 2008).

O cálculo é de estudo sobre os dias trabalhados para pagar tributos, divulgado na semana passada pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário). Segundo o estudo, em 2008 os brasileiros comprometeram 40,51% da renda bruta para o pagamento de tributos diretos e indiretos, índice que será de 40,15% neste ano.

A redução de um dia de trabalho será a primeira desde 1996 -naquele ano, a jornada para o fisco foi reduzida em seis dias, de 106 para 100 dias.

Segundo Gilberto Luiz do Amaral, presidente do IBPT, a queda neste ano ocorrerá pela redução do IR das pessoas físicas (além da correção da tabela em 4,5%, o número de alíquotas foi aumentado para quatro) e pela menor taxação do IPI sobre alguns produtos, como veículos, fogões, geladeiras, máquinas de lavar roupas etc.

Em comparação com outros países, o brasileiro trabalha mais do que o espanhol, o norte-americano, o argentino, o chileno e o mexicano para pagar tributos. Mas os suecos e os franceses trabalham mais.

A expressiva carga tributária sobre os brasileiros fará com que hoje o Impostômetro (painel eletrônico que mostra, em tempo real, o total da arrecadação tributária no país) marque R$ 400 bilhões neste ano. (Leia mais na Folha)

Governo e laboratórios negociam para estados cortarem ICMS e preço de remédios cair 9%

Sem esperança de que a reforma tributária deslanche tão cedo, o governo e a indústria farmacêutica retomaram nas últimas semanas as conversas em torno da redução da carga tributária sobre medicamentos. O principal alvo é o ICMS, imposto que mais incide sobre os remédios. No cardápio de propostas está a redução da atual média da alíquota, de 17,5%, para 12% ou mesmo para a casa dos 6%. No primeiro caso, os preços de medicamentos de grande consumo podem cair quase 9%.

As conversas estão ocorrendo em nível técnico. Na próxima quinta-feira, o Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde (Gecis), que congrega vários ministérios e é coordenado pelo da Saúde, se reúne para estudar estratégias para convencer os estados a reduzir o tributo. No dia 6, um representante desse grupo esteve reunido por algumas horas na sede da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma) para analisar números e discutir a proposta.

Um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), a pedido da federação, aponta que os medicamentos consumidos no Brasil têm em média uma carga tributária de 35,7%. Desse total, o ICMS é o que mais pesa, com alíquota média de 17,5%. A título de comparação, medicamentos de uso animal têm uma carga tributária de apenas 14,3%. O documento mostra ainda que a maior alíquota é a cobrada no Rio, que chega a 19%. Em São Paulo a taxa é de 18% e a maior parte dos estados cobra 17%. (Leia mais em O Globo)