terça-feira, 10 de abril de 2012

"Aumentando a base de clientes temos condições de manter o lucro"

Caixa corta juros em linhas 'menores' de sua carteira

O recado do governo já foi dado. Depois do Banco do Brasil, ontem foi a vez de a Caixa Econômica Federal cortar os juros das operações de crédito. Com reduções de até 88% nas taxas, a Caixa mostrou aos concorrentes privados que quer expandir seus tentáculos para além do crédito habitacional.

Batizado de "Caixa Melhor Crédito", o pacote tem cortes mais significativos de taxas nas linhas de cheque especial, cartão de crédito e capital de giro. São modalidades pouco expressivas hoje na carteira de crédito do banco. Do estoque de R$ 252,8 bilhões que a Caixa tinha em dezembro, 57% estavam alocados em financiamentos à habitação. O cartão de crédito somava apenas R$ 3,2 bilhões.

Com os cortes, a Caixa ampliou a projeção de crescimento da carteira de crédito do banco para este ano de 30% para 35%, alcançando R$ 340 bilhões em dezembro. O objetivo é ganhar fatias de mercado, saltando dos 12,6% para 14%. "Nossa intenção é ser o terceiro maior banco brasileiro em concessão de crédito. Hoje somos o quarto", afirma Jorge Hereda, presidente da Caixa, banco que fica atrás de Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco no ranking de crédito.

É com mais correntistas que o banco pretende cobrir a redução dos ganhos com as operações de crédito. "Aumentando a base de clientes temos condições de manter o lucro", disse o executivo durante entrevista coletiva em São Paulo. "Temos margem e estamos dando parte dessa margem a nossos clientes", discursou Hereda.

Para compensar perdas que pode ter, o banco também deu início a um processo de revisão de sua estrutura de custos. O processamento das operações de cartão de crédito, por exemplo, deixarão de ser feitas fora do banco até o ano que vem, o que deve gerar economia.

Hereda diz não temer que a estratégia do banco piore a qualidade da carteira de crédito do banco. "A inadimplência está sob controle. Não vemos sinal de deterioração", afirmou o presidente da Caixa. Em dezembro, os pagamentos em atraso há mais de 90 dias representavam 2% da carteira do banco. Apesar de deixar clara a disputa por novos clientes, quando questionado, Hereda não informou quantos novos correntistas o banco pretende ganhar.

Depois de inicialmente negar a interferência do governo nos cortes, Hereda sinalizou que as discussões começaram fora do banco. "Já pensou se você fosse presidente e eu não dissesse que temos de caminhar de acordo com os interesses do país? O que não dá é fazer isso de forma irresponsável."

Para sustentar o novo programa, a Caixa informou que não precisará de mais capital neste ano. "Esse anúncio está dentro das perspectivas que tínhamos para o ano. Vale o que já tínhamos conversado com o Ministério da Fazenda. Não teremos de fazer novos aportes", disse Hereda. Novas capitalizações, porém, podem ser negociadas em 2013, quando as exigências de capital para os bancos no mundo todo se tornarão mais rígidas.

Apesar disso, o banco já tem no gatilho uma captação de recursos no exterior, que deve ficar entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão, com vencimento em dez anos.

Desde que o Banco do Brasil anunciou o corte das taxas de juros dos empréstimos na quarta-feira, as ações dos bancos estão em queda na bolsa de valores. Até ontem, a instituição que apresentou o maior recuo foi o Banco do Brasil, com 7,21% acumulados, bastante acima da perda de 2,46% do Ibovespa no período.

"O que o governo está realmente tentando fazer por meio da Caixa é barulho e levar a indústria a discutir de uma forma estruturada a redução dos spreads no Brasil, mais do que uma iniciativa para arranhar a lucratividade", afirmou o Barclays em relatório. (Valor)


Deputados cobrarão de Mantega aumento dos gastos com educação

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o secretário-executivo da pasta, Nelson Barbosa, receberão nesta terça-feira, às 17h, um grupo de mais de 20 deputados federais que compõem a Comissão Especial do Plano Nacional de Educação para discutir a possibilidade de aumentar os gastos públicos com ensino durante a vigência do plano, em 2022. A reunião será fechada, o que contraria o procedimento de audiências públicas estabelecido pela comissão.

Movimentos educacionais e especialistas do setor e a grande maioria dos parlamentares defendem que, em dez anos, o financiamento educacional do país avance dos atuais 5% para 10% do Produto Interno Bruto (PIB). O projeto de lei do governo, no entanto, fixa teto de 7% do PIB. O primeiro relatório que altera o texto do governo, feito pelo deputado Angelo Vanhoni (PT-PR), sugere chegar aos 8%.

"Vamos dizer ao ministro que os 7% do PIB que o governo colocou no projeto de lei não são suficientes para financiar as metas estabelecidas. Esperamos que o governo dê uma justificativa clara para aumentar ou não os gastos para podermos seguir com as discussões e aprovar o plano", disse o deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), presidente da Comissão Especial do PNE.

Outros parlamentares ouvidos pelo Valor culpam o governo por atrasar a tramitação do plano, uma vez que a equipe econômica tem se mostrado irredutível na questão de aumento de gastos. "Espero que seja uma reunião produtiva. É mais do que claro que quando o governo quer fazer e tem vontade política ele consegue encontrar fontes de recursos para a educação. Veja o plano Brasil Maior e outras bondades como desoneração", complementa o deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE), que não descarta a convocação do ministro Mantega para explicar publicamente as razões da área econômica para não elevar o financiamento. "A União precisa aumentar sua participação nos gastos, que acabam ficando em mais de 80% com Estados e Municípios".

Parlamentares também são contrários à realização da reunião no Ministério da Fazenda e não em audiência pública na Câmara. "O ministro, na verdade está fugindo da audiência pública. Se sua posição não for pelos 10% do PIB vamos retomar a ideia de convocá-lo para falar na comissão", diz Ivan Valente (PSOL-SP). A Campanha Nacional pelo Direito à Educação publicou carta em que considera "preocupante" a interlocução entre Poder Legislativo e Executivo ocorrer a portas fechadas. (Valor)