segunda-feira, 9 de maio de 2011

O que nos interessa é inflação sobre controle, investimentos na produção e geração de novos empregos com salários decentes

Inflação: Impacto sobre salários deve ser forte

Com a alta mais forte dos índices de preços, os aumentos reais de salários neste ano estão mais modestos do que em 2010, quando não raro chegaram a superar a inflação em 3%. Esses reajustes reais menores, porém, tendem representar um ganho mais expressivo nos 12 meses à frente, quando a inflação deverá perder fôlego, como aponta o economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero.

"Paradoxalmente, salários corrigidos pela inflação passada, mesmo sem nenhuma correção real, podem ter ganhos maiores nos 12 meses seguintes do que no ano passado", afirma Montero. Com isso, o rendimento do trabalho continuará a ser um impulso significativo para a demanda.

O economista compara a situação de reajustes no terceiro trimestre de 2010 com a do mesmo período deste ano, quando haverá a combinação de inflação ao consumidor rodando acima de 7% no acumulado em 12 meses com a concentração de dissídios de categorias importantes de trabalhadores, como os metalúrgicos do ABC.

No terceiro trimestre de 2010, a média do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado em geral como parâmetro para as negociações salariais, teve um aumento médio de 4,5% em 12 meses. Uma categoria que teve um aumento real de 3% nessa ocasião viu os salários subirem 7,6% em termos nominais. Nos 12 meses seguintes, porém, a inflação média se acelerou, chegando a 6,6%. "Com isso, o ganho real efetivo de salários foi de 1,1%", diz Montero.

Já no terceiro trimestre deste ano, a média do INPC deverá estar em 7,2% em 12 meses. Para mostrar o impacto significativo da inflação futura em queda sobre a renda, Montero dá um exemplo em que os trabalhadores conseguem apenas os 7,2%, sem aumento real. "Num cenário em que a projeção do mercado para a inflação média dos 12 meses seguintes será de 5,5%, o ganho real efetivo dos salários será de 1,5%", diz ele. Como algumas categorias devem conseguir aumentos acima da inflação passada, os ganhos reais nos 12 meses à frente podem ser ainda maiores. O mesmo vale se a queda da inflação futura for ainda mais significativa, observa Montero.

"Os dissídios no terceiro trimestre envolvem algumas categorias fortes e mobilizadas, que podem conseguir aumentos reais, ainda que as negociações devam ser mais difíceis do que no ano passado", diz o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles.

Ele acredita que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que nos 12 meses até abril somou uma variação de 6,51%, deverá atingir 7,2% em agosto e 7,1% em setembro, nessa base de comparação. Nos meses seguintes, a expectativa é de que o indicador perderá força em 12 meses, até fechar o ano em 6,4% a 6,5%, praticamente no teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%.

Montero nota ainda que algo na mesma linha do que ocorrerá com os dissídios vai se dar com o salário mínimo em 2012. No ano que vem, diz ele, o valor do piso salarial deverá passar de R$ 545 para R$ 625, devido à regra do reajuste que combina a variação de 6% do INPC de 2011 e do crescimento do PIB de 7,5% de 2010, além de um arredondamento do valor para um múltiplo de R$ 5.

Levando em conta que a inflação em 2012 será menor do que a deste ano e que em 2011 o piso valeu R$ 540 em dois meses (janeiro e fevereiro), o salário mínimo poderá ter um ganho médio real superior a 9%, diz Montero. "Somente o ganho real do salário mínimo resulta num aumento de quase 0,4% no PIB."

Essa situação traz algumas preocupações, diz Montero. Segundo ele, um mercado de trabalho com elevado grau de indexação tende a implicar mais custos salariais, menor competitividade das empresas e "uma combinação de tudo o que leva a realimentação inflacionária". Num momento em que há dificuldades para trazer a inflação de volta à trajetória das metas, é um quadro complicado.

O BC aposta que o IPCA voltará ao centro da meta, de 4,5%, em 2012. As projeções do boletim Focus apontam para um número de 5%, enquanto Teles vê algo mais próximo de 5,5%. "Haverá o forte aumento do salário mínimo e muita inércia inflacionária. Acho difícil que o IPCA caia mais do 1 ponto percentual no ano que vem." (Valor)

Jovem prioriza formação e adia entrada no mercado
Expansão da renda e competitividade seguram adolescentes na sala de aula. Cresce o número de jovens que só estudam; educação ainda precisa melhorar no país, aponta especialista.

Os jovens de 15 a 17 anos estão estudando mais e trabalhando menos. A proporção desses adolescentes ocupados ou buscando emprego caiu 27%, em oito anos, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE.
Nem mesmo o forte aumento de salários e vagas em 2010, com a economia crescendo 7,5%, bastou para atraí-los para o mercado.
A faixa etária corresponde a 18,9% da população economicamente ativa em 2010, a menor taxa média já apurada nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre. Em 2003, quando o IBGE iniciou o levantamento, eram 26%.
Para especialistas, a principal causa da mudança é a valorização da educação num ambiente profissional cada vez mais competitivo. E a expansão da renda nos últimos anos permite que os pais sustentem os filhos por mais tempo, adiando sua entrada no mercado e possibilitando sua permanência na escola.
Políticas públicas como o Bolsa Família, que exige que os beneficiários estudem, e a progressão continuada, que evita a repetência escolar, também estimulam crianças e jovens a ficar por mais tempo na sala de aula.
SÓ ESTUDAM — Outra pesquisa do IBGE mostra que o percentual de jovens que estudam e não trabalham subiu de 39% em 1992 para 65% em 2009.
"A melhora da renda familiar ajuda a explicar, mas a percepção da importância e dos retornos da educação é mais relevante", diz o economista Jorge Arbache, da Universidade de Brasília. "As famílias fazem mais esforço para manter a meninada nas escolas porque entendem que vale a pena estudar mais."
Para o coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), Naercio Menezes, falta mão de obra qualificada. Nesse cenário, é mais interessante para o jovem sem experiência estudar mais e buscar um emprego melhor no futuro.
"Mesmo com o mercado de trabalho aquecido, as pessoas estão preferindo permanecer na escola", afirma. "Elas estão fazendo um cálculo de que vale mais a pena estudar do que adquirir experiência profissional desde cedo", completa ele.
O governo lançou, no fim de abril, o Pronatec, programa de qualificação profissional cuja meta é oferecer 8 milhões de vagas até 2014 em cursos técnicos.
Arbache elogia a iniciativa, mas lembra que a qualidade do ensino precisa melhorar em relação aos competidores do país: "O jovem brasileiro está disputando emprego com o jovem da Malásia. Lá na frente, isso é que acontece".
A transformação no perfil do mercado de trabalho brasileiro não se dá apenas entre os mais jovens: em abril, levantamento feito pela Folha a partir de dados do IBGE mostrou que o número de pessoas ocupadas acima de 50 anos subiu 56,1% de 2003 ao primeiro trimestre de 2011. (Folha)

Quatro empreiteiras concentram R$ 138 bilhões em obras no país

A decisão do governo brasileiro de entregar para a iniciativa privada a administração dos principais aeroportos do país vem movimentando os corredores das quatro maiores empreiteiras nacionais: Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Odebrecht e Queiroz Galvão. Trata-se de novo e promissor braço de negócios para as quatro gigantes que, ao longo dos últimos anos, turbinadas por uma quantidade de investimentos no país vista somente na época do "milagre econômico", na década de 70, deixaram de ser apenas construtoras e se transformaram em verdadeiros conglomerados de infraestrutura, atuando em áreas que vão de petróleo e energia elétrica a telecomunicações e agronegócio. As cifras impressionam. As principais obras em andamento hoje no Brasil, ou já contratadas, nas quais "as quatro irmãs" estão envolvidas, somam R$ 138,7 bilhões, segundo levantamento feito pelo GLOBO.

Boa parte das obras integram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como saneamento, reurbanização de favelas e hidrelétricas, entre elas Belo Monte (PA) e as usinas no Rio Madeira (RO). Na carteira das empreiteiras também estão reformas dos estádios para a Copa do Mundo de 2014, como o Maracanã. Mas a concorrência vem aumentando. Ano passado, segundo o Portal Transparência da Controladoria Geral da União, o governo federal gastou R$ 16,1 bilhões com obras, um orçamento dividido por 5.709 construtoras. Deste total, as quatro grandes ficaram com R$ 988 milhões. No acumulado de 2004 a 2010, para um total de gasto federal de R$ 49 bilhões, elas ficaram com R$ 3,5 bilhões.

Ainda assim, o setor de construção é muito concentrado. Ranking com as 50 maiores construtoras do Brasil elaborado pela revista "O Empreiteiro", considerado referência no setor, mostra que as receitas das "quatro irmãs" com engenharia e construção somavam R$ 18,7 bilhões em 2009, ou 38% do faturamento do total. Quem encabeça a lista é a Construtora Norberto Odebrecht (R$ 5,292 bilhões), quase empatada com a Camargo Corrêa (R$ 5,264 bilhões). Em seguida vêm a Construtora Andrade Gutierrez (R$ 4,2 bilhões) e a Queiroz Galvão (R$ 4 bilhões).

Forte dependência de contrato público — Embora as empreiteiras aleguem que hoje dependem muito menos de contratos públicos (governos federal, estadual, municipal e estatais), o ranking revela ainda uma forte dependência: 62% das receitas da Odebrecht, 35% da Camargo, 72% da Andrade e 100% no caso da Queiroz Galvão vêm de obras do setor público.

Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez S.A., holding que controla o grupo, contesta os números, apesar de o ranking ser feito com base em dados fornecidos pelas próprias empresas, e ainda auditado pela consultoria Deloitte. Segundo ele, a construtora tem buscado reduzir a dependência de obras públicas nos últimos anos e, hoje, a Vale é sua principal cliente.

O fato é que, ao concentrar os contratos das grandes obras, as "quatro irmãs" ditam o ritmo do desenvolvimento do país e determinam quem fica dentro ou fora dos projetos, já que subcontratam empresas para executar diferentes etapas das obras. (O Globo)


Ganhar R$ 0,01 a mais faz salário baixar até R$ 36,89
Por receber mais, assalariado muda de faixa e tem de pagar mais ao INSS.
Prevista em lei, forma de cálculo não segue o mesmo princípio da progressividade usado na tabela do IR.
Ganhe mais e receba menos no dia do pagamento. Não, não há erros no título da reportagem e na frase acima.
Se você acha um absurdo, saiba que isso é possível no Brasil -no caso de uma parcela de trabalhadores com registro em carteira- por conta do desconto da contribuição mensal recolhida pela empresa ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Essa situação ocorre com uma parte dos trabalhadores assalariados que recebem, por mês, entre R$ 1.106,91 e R$ 1.844,84.
O motivo para esse aparente absurdo é o desconto da contribuição previdenciária mensal. Diferentemente da tabela do Imposto de Renda, que é progressiva, a da Previdência tem as alíquotas fixas por faixa salarial.
Significa o seguinte: ao mudar de faixa de contribuição -basta ganhar R$ 0,01 a mais-, o assalariado terá o desconto integral pela alíquota maior.
Isso faz com que ele tenha um salário líquido inferior ao daquele que ganha R$ 0,01 a menos e que contribui por uma alíquota menor.
No quadro acima, à direita, estão as diferenças máximas provocadas por essa sistemática de desconto. Essas são as maiores diferenças, conforme o ganho mensal, porque foram usados, como exemplos, os salários que estão no limite de mudança de uma faixa para a outra.
O trabalhador com salário de R$ 1.106,90 pagará 8% ao INSS, ou R$ 88,55, resultando em salário líquido mensal de R$ 1.018,35. Já quem ganha R$ 1.106,91 (ou seja, apenas R$ 0,01 a mais) paga 9%, ou R$ 99,62, valor que reduz o salário para R$ 1.007,29. Resultado: por ganhar aquele R$ 0,01 a mais, ele recebe R$ 11,06 a menos por mês.
A mesma disparidade ocorre com os trabalhadores registrados que ganham R$ 1.844,83 e R$ 1.844,84.
No primeiro caso, a contribuição é de 9%; no segundo, de 11%. Resultado: o primeiro terá desconto de R$ 166,03 para o INSS; o segundo, de R$ 202,93. Nesse exemplo, o segundo trabalhador ganha apenas R$ 0,01 a mais, mas fica com R$ 36,89 a menos.
REGRA É LEGAL — Essa forma de desconto da contribuição não é ilegal, pois está prevista no artigo 20 da Lei de Custeio da Previdência (lei nº 8.212/91).
O advogado Wladimir Novaes Martinez, especialista em legislação previdenciária, não vê nada de errado nessa forma de desconto.
Para ele, embora possa ser injusto do ponto de vista financeiro agora, essa regra poderá beneficiar o trabalhador no futuro.
É que os valores das contribuições pagas desde julho de 1994 entrarão no cálculo da aposentadoria. Assim, quanto maior a contribuição hoje, maior tende a ser a aposentadoria no futuro.
IR É PROGRESSIVO — Diferentemente da contribuição recolhida ao INSS, o Imposto de Renda não reduz o salário do trabalhador que "pula" de uma faixa para outra apenas por ter um salário R$ 0,01 maior.
É que a tabela do IR faz a tributação ser calculada de forma progressiva, ou seja, o salário do trabalhador é "fatiado" em partes: uma (até R$ 1.566,61) é isenta; as outras quatro pagam 7,5%, 15%, 22,5% ou 27,5%. As "parcelas a deduzir" da tabela têm efeito neutralizador.
Exemplo: quem tem renda tributável (salário mensal bruto menos os descontos permitidos por lei, com a contribuição ao INSS já mencionada, dependentes, contribuição à previdência privada, plano de saúde, pensão alimentícia judicial etc.) de R$ 3.911,63 paga 22,5%, ou seja, R$ 351,74 por mês.
Se a renda tributável desse mesmo trabalhador for R$ 100 maior, ou R$ 4.011,63, ele pagará R$ 379,24, ou seja, apenas R$ 27,50 a mais.
O motivo é simples: apenas aqueles R$ 100 a mais foram tributados pela alíquota máxima, de 27,5%.
Uma renda tributável de R$ 4.911,63 (R$ 1.000 a mais) pagará R$ 626,74 por mês, ou seja, R$ 275 a mais.(Folha)

Preço do conserto supera o valor do produto na loja

A disparada dos preços dos serviços nos últimos meses provocou uma forte distorção entre o custo do reparo e da compra de um produto novo. Hoje é mais barato adquirir um eletrodoméstico zero quilômetro do que consertá-lo. No caso de roupas, o preço de um ajuste é quase o valor da peça. Nos itens de alta tecnologia, como o iPod, o cenário é mais radical: o próprio fabricante recomenda a compra do produto no lugar do conserto.

Dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe mostram que, nos últimos 12 meses até abril, o IPC subiu 6,39%, enquanto os preços dos serviços livres, aqueles que variam de acordo com a demanda e a oferta, aumentaram 7,41%. Isso significa que os preços dos serviços subiram 1 ponto porcentual acima do IPC geral e quase 2 pontos porcentuais acima da variação de preços dos produtos com preços livres (5,24%) registrada no mesmo período. O IPC da Fipe considera os preços na cidade de São Paulo.

Quando se leva em conta a medida oficial de inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, a escalada do preço dos serviços em relação ao dos produtos fica ainda mais nítida. Em 12 meses até abril deste ano, o IPCA subiu 6,51% e os preços dos serviços aumentaram 8,57%, uma diferença de mais de 2 pontos porcentuais. Comparada com a variação de preços dos bens duráveis, isto é os produtos de maior valor, como eletrodomésticos e eletrônicos, por exemplo, a diferença é ainda maior: de quase 9 pontos porcentuais. É que os preços dos duráveis tiveram deflação de 0,26% no período.

"Sei que essa mudança de preços relativos provoca muita raiva no consumidor quando ele precisa pagar caro pelo conserto. Mas isso é ser desenvolvido", diz o coordenador do IPC da Fipe, Antonio Comune. Ele lembra que nos Estados Unidos, por exemplo, como os serviços são muito caros não vale a pena consertar o eletrodoméstico e é mais interessante jogá-lo fora e comprar outro novo. Ele observa que essa mudança de preços relativos entre produtos e serviços é um movimento estrutural que já vem ocorrendo há algum tempo, mas foi acelerado nos últimos 12 meses em razão da escassez de mão de obra e da valorização do real em relação ao dólar. (Estado)