quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A crise econômica é brava mas pode ser gerenciada com mobilização e criatividade

“Pior da crise financeira ainda está por vir”, alerta, agora, o FMI

O governo Bush demorou muito para agir por causa das eleições presidenciais. Da mesma maneira, por causa do clima eleitoral no Brasil, o governo demora a reconhecer que a crise financeira é mundial (e portanto nos inclui) e muito séria. O dominó já entrou em operação, gerando instabilidades profundas na Europa e Ásia. E vai sim sobrar para a economia brasileira, afetando nosso crédito ao consumidor, e ameaçando diretamente nossos empregos. Para conter a crise temos que ser absolutamente realistas, mobilizar a Nação brasileira e resgatar a nossa tão abundante criatividade.

Acompanhemos:

Um relatório divulgado nesta terça-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) sugere que o pior da atual crise financeira global ainda está por vir.

O documento, intitulado Estabilidade Financeira Global, afirma que o sistema financeiro atravessa o que o FMI classificou como "um período de turbulências sem precedentes" e prevê que bancos em todo mundo continuarão a registrar fortes perdas.

O FMI ressaltou a determinação dos governos em responder aos atuais desafios, mas disse que "a restauração da estabilidade financeira se beneficiaria de um comprometimento coletivo das autoridades, que devem tratar o problema com eficiência".

Para o diretor do fundo, Dominique Strauss-Kahn, "o tempo das soluções à conta gotas chegou ao fim".

"Eu peço aos legisladores que tratem esta crise com medidas abrangentes que restaurem a confiança no setor financeiro. Ao mesmo tempo, os governos nacionais devem coordenar de perto esses esforços para trazer de volta a estabilidade do sistema financeiro internacional."

EUA: Epicentro da crise — Na avaliação do FMI, ficará cada vez mais difícil para as instituições bancárias abastecerem seus caixas com capital proveniente de acionistas ou de fundos de investimentos estatais baseados na Ásia ou no Oriente Médio.

Com a crise do crédito e a confiança em baixa, os bancos enfrentarão dificuldades para captar capital, o que significa que governos terão de se envolver cada vez mais em operações de resgate, como a que salvou os bancos hipotecários americanos Fannie Mae e Freddie Mac.

O relatório do FMI demonstra apoio às linhas gerais do pacote de ajuda econômica de US$ 700 bilhões aprovado pelo Congresso americano na semana passada, mas ressalva que os "detalhes de sua implementação serão cruciais para seu sucesso".

O estudo diz que os Estados Unidos continuam no "epicentro da crise" e que o declínio contínuo no mercado imobiliário americano e a desaceleração da economia global devem aumentar o número de inadimplências de hipotecas e de outros tipos de empréstimos.

O FMI estima que as perdas nos Estados Unidos originadas de empréstimos e outros produtos financeiros devem chegar a US$ 1,4 trilhão, um aumento significativo em relação aos US$ 945 bilhões estimados no relatório divulgado em abril deste ano.

Para a instituição, os mercados emergentes estão correndo sérios riscos e países do leste europeu também poderão ser seriamente atingidos diante do grande número de empréstimos hipotecários concedidos por bancos a pessoas de baixa renda.

O relatório faz algumas recomendações com objetivo de tentar ajudar as autoridades a resgatar a confiança "nessas circustâncias excepcionais".

Entre elas estão respostas rápidas, por parte dos governos, aos primeiros sinais de perdas no setor financeiro como forma de evitar "repercussões sistêmicas", e a garantia de que intervenções governamentais de emergência sejam temporárias e que os interesses dos contribuintes sejam protegidos.

 

Contra falta de crédito, BNDES anuncia R$ 5 bi às exportações

A iniciativa do BNDES é louvável. É preciso ter transparência nos critérios para que a sociedade brasileira e os trabalhadores possam acompanhar quais as empresas estão recebendo ajuda e porquê. Tem muito empresário espertalhão no país, doido para usar a desculpa da crise para mamar abundantemente nas tetas do governo.

Avalie as informações: Presidente do banco explicou que objetivo da linha é suprir carência de crédito por causa da crise financeira

O  Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social  (BNDES) anunciou nesta terça-feira, 7, novas linhas de financiamento às exportações, que irão totalizar R$ 5 bilhões. O presidente do banco, Luciano Coutinho, explicou que a linha, que foi batizada de pré-embarque especial, tem como objetivo suprir a carência atual de crédito à exportação em função das turbulências do sistema financeiro. Ele lembrou que o BNDES tem como objetivo complementar o esforço que já vem sendo feito pelo governo de ampliar a oferta de financiamento aos exportadores.

 A linha terá prazo de 18 meses e taxa diferenciada por categoria. Ficou mantida a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), uma das taxas utilizadas na concessão de crédito pelo BNDES às empresas, para os setores de equipamentos industriais, infra-estrutura e equipamentos aeronáuticos.

Já o custo de financiamento para os segmentos de bens de capital para o setor automotivo (caminhões, tratores) e bens de consumo subiu. Os dois segmentos poderão escolher entre uma taxa fixa de 15% ao ano mais o spread dos agentes repassadores ou uma taxa em moeda estrangeira que terá custo de no máximo 8% ao ano mais spread dos agentes.

Pela primeira opção, o exportador pagará um pouco mais caro, mas estará protegido contra variações cambiais. Nas linhas tradicionais do banco essa taxa fixa antes variava entre 8% e 12% ao ano, dependendo do segmento de atuação da companhia.

O BNDES decidiu ainda ampliar de US$ 50 milhões para US$ 150 milhões o limite estabelecido para o que cada companhia do setor de bens de consumo acesse as linhas de crédito às exportações. Coutinho explicou que o objetivo de triplicar o limite de acesso às linhas é dar mais gás às empresas para que não paralisem suas exportações.

O executivo destacou, porém, que o limite assegura uma maior distribuição entre as companhias. Coutinho admite que a demanda pelas novas linhas possa elevar ainda mais os recursos do banco destinados à exportação em 2008. Até agosto, o banco liberou US$ 3,5 bilhões para o setor e a expectativa era chegar ao fim do ano com o patamar de US$ 6 bilhões, mas agora o executivo admite que esse patamar pode chegar a até US$ 8,5 bilhões.

Lula defende maior regulação dos mercados pelos BCs

O presidente Lula está abolutamente certo em propor um controle rígido nos agiotas dos agiotas, ou seja, os especuladores que ganham com a jogatina nas bolsas brasileiras e mundiais. E criam bolhas artificiais, com dinheiro alheio, de pessoas físicas, de empresas e dos fundos de pensões. E quando a bolha evapora, deixam para a sociedade o mico para ser pago.

Veja a posição do presidente Lula: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta terça-feira a adoção de três medidas para o aperfeiçoamento do sistema financeiro internacional após a explosão da crise que abalou os mercados mundiais

Ele sugeriu mais regulação do mercado; redução do grau de alavancagem dos bancos e fim do pagamento de bônus aos executivos.

Lula disse que os bancos centrais de todo mundo devem se unir através do acordo de Basiléia para coibir a especulação financeira que deu origem à crise financeira mundial.

"Queremos fazer uma discussão internacional. Basiléia sempre teve os encontros dos BCs que determinaram regras para o funcionamento dos bancos centrais do mundo inteiro... Os BCs precisam tomar uma atitude para regular o sistema financeiro internacional", disse Lula a jornalistas.

"Eles têm que tomar uma decisão para coibir a especulação financeira. Qual a explicação do petróleo (ter chegado a cerca de) 150 dólares que não a especulação?"

O presidente cobrou uma redução na alavancagem dos bancos no exterior para evitar a instabilidade no sistema financeiro e sugeriu medidas contra os elevados bônus pagos para seus executivos que atuam no mercado de capitais.

"Precisamos acabar com a maldita figura do bônus criada no sistema financeiro. Um cidadão estabelece uma meta e um bônus e aí ficam os agiotas profissionais inventando ganhos para receber mais bônus", afirmou

ATAQUE À OPOSIÇÃO — O presidente sugeriu que a oposição está torcendo para a crise atingir o Brasil ao mencionar que o governo passado foi abalado pelas crises do México, Rússia e Ásia .

Segundo Lula, há pessoas no Brasil com nível superior que estão sempre apostando nos erros e no pessimismo.

"Tem gente que não se conforma que o Brasil deu certo... os mesmos que estão torcendo para que a crise pegue o Brasil são os mesmos que disseram que os trabalhadores brasileiros não tinham condição de fazer essa plataforma no Brasil", afirmou Lula depois de lembrar que o governo anterior pretendia comprar a P-51 fora do Brasil ao argumentar que a encomenda internacional representaria uma economia de 6 por cento para a Petrobras.

Recolhi o artigo abaixo, assinado por António Machado, porque acho extremamente didático e lúcido. Avalie você mesmo:

Mundo começa a viver deflação da riqueza criada por dívidas e vai levar tempo para se ajustar

Antonio Machado

Não é prudente esconder a gravidade da crise com histórias sobre a fortaleza da economia brasileira nem acreditar em tal fato. Ela foi verdadeira na situação de “normalidade” anterior no mundo, em que prevaleciam liquidez farta e juros baixos. Esse mundo acabou. Não significa que derrubará o Brasil. Mas exige adaptações.

Vive-se agora a desalavancagem da montanha de dívidas construída nestas condições, o sustentáculo da fortuna econômica dos últimos dez anos - e isso implica perdas. Pesadas até agora, e crescentes quanto menor for a coordenação entre os bancos centrais, que tem existido apenas em afobadas intervenções supranacionais para deter defaults pontuais de bancos e o mal maior: as corridas bancárias.

É o que levou governos da Irlanda, Alemanha, Grécia a estenderem a proteção estatal a todos os depósitos, medida reclamada também nos EUA. Acalma o cidadão comum, mas não resolve o problema geral aos bancos americanos e europeus de insolvência técnica

A crise é exatamente essa: a impossibilidade de a banca manter os seus balanços de ativos e passivos carregando papéis que tinham um valor hoje altamente improvável - irresgatáveis na prática, e na ponta do tomador financiando não só a própria ciranda financeira, mas negócios reais da economia.

A riqueza bancada por tais ativos vai esvair-se. O processo está em curso no mundo, inclusive aqui, implicando o desmanche da bolsa e a abrupta depreciação do real.

Pegue-se o caso do Lehman Brother, dos EUA: com capital de US$ 20 bilhões, tinha US$ 600 bilhões de dívidas, expressando alavancagem de 30 vezes, média em geral de grandes bancos nos EUA e Europa. A destruição desses ativos implicou a redução permanente de crédito futuro em igual proporção.

As perdas bancárias em todo mundo estão estimadas por ora em US$ 600 bilhões, mas deverão passar longe de US$ 1 trilhão, segundo o sempre amargo economista Nouriel Roubini. O impacto sobre a economia real não será pequeno.

Os anéis já se foram

Com base num múltiplo bancário de 10, as perdas já escrituradas provocarão um encolhimento do crédito no mundo da ordem de US$ 6 trilhões. E isso considerando apenas o múltiplo bancário aplicado em empréstimos ao consumo e à produção. Se consolidar a ciranda, a destruição financeira provável passa de US$ 30 trilhões - quase a metade do PIB global.

Tal dinheirama, grande parte do circuito das operações de derivativos, virou pó. O que se tenta salvar no mundo são os dedos, o lado são do crédito bancário. Nem isso está fácil.

O que cura a doença

Como diz o especialista em mercados de risco, Satyajit Das, autor do Best seller Traders, Guns & Money, não disponível em português, “o drama e tumulto dos eventos atuais não são sintomas da doença, mas a cura”. A doença, segundo ele, é o excessivo endividamento e alavancagem do sistema financeiro, como nos EUA e Inglaterra. E a cura é a queima das dívidas, que chama de “grande desalavancagem”.

A fase inicial da “cura”, como escreveu no Financial Times, é a redução da dívida dentro no sistema financeiro. A segunda fase é o custo maior e a disponibilidade menor do crédito na economia real.

As empresas vão vender ativos, reduzir investimentos e promover chamadas de capital a valor menor do que se habituaram, como a GE faz hoje nos EUA. Tudo converge, na tendência, para desvalorização das empresas, acumulada à redução do consumo pelas famílias.

Dois valores do dólar

Numa discussão sobre saídas da crise, alguém desenhou nos EUA uma imagem interessante sobre o ocorrido. Teria havido dois diferentes valores de dólares: o impresso pelo Tesouro dos EUA e o resultante da miríade de instrumentos bancários. Há veracidade neste cenário.

Desde 2005 a liquidez promovida pelos bancos centrais, sobretudo o Fed, foi contracionista, mas o crédito seguiu em expansão nos EUA, Europa e Ásia. A diferença está sendo resolvida pela deflação dos ativos. E só se for aceito pelos bancos centrais alguma inflação o processo não contaminará a economia real, tese do professor Willem Buiter, da London School of Economics.

Até onde a banca terá de sangrar? Para Satyajit Das, o novo nível de dívida será o que resultar dos preços dos ativos deflacionados, conjugados com os fluxos de caixa disponíveis para bancar juros e amortizações. É função da economia real, que, portanto, terá de se ajustar. Imaginar o Brasil fora desse quadro é chamar a crise.

Questões em aberto

A economia brasileira vai sofrer pela deflação das commodities já em curso, mas ainda abaixo do previsto, e menor disponibilidade de crédito externo. Não se prevêem rupturas. Entre déficits em conta corrente e prestação da dívida externa, o país precisa de cerca de US$ 50 bilhões este ano, valor já contratado, e US$ 45 bilhões no próximo, ainda em aberto.

Quanto menor o superávit comercial, mais se exigirá das reservas do BC, da ordem de US$ 230 bilhões com as compras futuras de dólares. A economia transita sobre tal terreno. Nele, os projetos com taxa de retorno da época de liquidez folgada ficaram inviáveis. Também não há espaço para aumentar importações.

O que fará o governo ainda é incerto. E a crise vai se acercando.

Bancários entram em greve nacional a partir de quarta-feira

A UGT apoia os bancários no movimento paredista. Que é justo pois foram os trabalhadores dos bancos que ajudaram as suas instituições a terem os mais estrondosos lucros da história do setor no último ano. Lucros que se somam à uma série de anos com grandes resultados. Agora é hora de dividir parte do lucro, de repor as perdas inflacionárias e de respeitar o esforço de trabalhadores e trabalhadoras a favor da eficiência comprovadamente demonstrada em polpudos balanços. Por isso, a greve é mais do que justa e tem o apoio da UGT.

Bancários ligados a 148 sindicatos em todo o país decidiram entrar em greve por tempo indeterminado a partir de quarta-feira para forçar os bancos a aceitar uma pauta de reivindicações salariais e de benefícios exigida pela categoria, informou na terça-feira o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

"A greve terá alcance nacional e atingirá praticamente todo o país, praticamente todas as capitais", disse por telefone uma assessora de imprensa da entidade.

Em São Paulo, a decisão foi tomada após uma assembléia que reuniu cerca de 1.500 bancários na quadra do sindicato. Reuniões em todo o país também decidiram pela paralisação, disse a assessora.

Também ficou decidido que haverá uma nova assembléia, às 17 horas de quarta-feira, "para avaliar os rumos do movimento".

"A categoria quer aumento real de 5 por cento --além da inflação de 7,15 por cento--, valorização dos pisos, auxílio-creche de 415 reais, vale-refeição de 17,50 reais por dia, além de PLR composta de três salários mais valor fixo de 3.500 reais", informou o sindicato em uma nota.

De acordo com o sindicato, a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) havia proposto em negociações no último dia 29 de setembro um reajuste de 7,5 por cento e uma Participação nos Lucros e Resultados (PLR) menor do que a paga em 2007. Segundo a nota, a proposta dos bancos representaria uma perda de até 1.800 reais na PLR. A oferta foi rejeitada e não houve diálogo desde então.

"Os bancários vão parar por aumento real de salários, valorização nos pisos e PLR maior e mais justa", disse Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, no comunicado.

De acordo com o sindicato, o auto-atendimento não será atingido pela greve. "As direções dos bancos decidem se fecham ou mantêm aberta a área dos caixas eletrônicos", afirmou a nota.

O Brasil conta hoje com 434 mil bancários, dos quais 120 mil estão na base do Sindicato dos Bancários de São Bernardo, Osasco e Região.

Aumento da população idosa vai obrigar Brasil a rever políticas de previdência, diz Ipea

Em 2035, a maior parte da população vai ter entre 50 e 54

O Brasil não vai mais ser conhecido como um país de jovens. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto de Economia Aplicada (Ipea), relativa ao ano de 2007, mostra que o crescimento da população pode fazer de nós um país de velhos a partir de 2030.

A pirâmide social brasileira está “engordando”, e começa a ficar parecida com o desenho conhecido como característico de países europeus. A base, formada por jovens, diminui, e o topo, representativo dos adultos, cresce. Esse fenômeno é explicado pela queda da natalidade em todas as camadas sociais brasileiras, aliada também à diminuição da mortalidade. Ou seja, há menos gente nascendo e menos gente morrendo.

Em 1992, a população menor de 15 anos representava 33,8% do total de brasileiros. Em 2007, esse índice caiu para 25,2%. Enquanto a proporção de jovens diminui, a de idosos aumenta.Os idosos respondiam por 7,9%, em 1992, e cresceram para 10,6%.

A Pnad mostra ainda que a fecundidade decresceu no Brasil, em todos os grupos sociais. Os brasileiros, dos pobres aos ricos, têm menos filhos. A pesquisa também confirma que quanto mais estuda uma mulher e quanto maior o seu salário, é menos provável que ela tenha filhos.

O fator que aparenta ter mais impacto sobre a quantidade de filhos é a renda. Quanto maior ela é, menor é o número de crianças por família. A gravidez na adolescência também diminuiu em todas as regiões do país. A quantidade de bebês nascidos vivos para cada 1000 adolescentes em 1992 era 91. Em 2007, a taxa caiu para 70 filhos nacidos vivos para cada 1000.