quinta-feira, 30 de junho de 2011

Suposta preocupação com juros é desculpa contra as campanhas salariais do segundo semestre. É hora de mobilizar nacionalmente.

Com pressão salarial, BC vê inflação maior

Relatório aponta para estimativas mais altas para os índices de preços, com alcance da meta oficial apenas em 2013. Novas projeções levam economistas a apostar em dose extra de juros; incertezas no cenário externo preocupam.
Aumentou a possibilidade de que o Banco Central faça elevações adicionais da taxa básica de juros para colocar a inflação de volta na meta.
Essa é a avaliação de economistas após a revisão para cima das projeções oficiais do BC para a alta de preços.
Em seu relatório trimestral de inflação divulgado ontem, o BC alterou suas previsões para a inflação de 2011 e de 2012- ficaram ainda mais distantes do centro da meta do governo, de 4,5%.
No cenário de referência usado pelo BC, que considera o dólar a R$ 1,60 e a taxa básica de juros em 12,25%, o objetivo seria atingido apenas no fim do 1º semestre de 2013.
A revisão se deve ao comportamento da inflação e ao crescimento da economia, ambos acima do esperado, nos últimos meses. Entre as surpresas inflacionárias, o BC destacou a alta do álcool.
Para o futuro, o BC vê como "um risco muito importante" para a inflação a pressão de trabalhadores para repor as perdas salariais. Por isso, defende que as negociações considerem a expectativa de queda de preços e ganhos de produtividade.
O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, disse que as previsões pioraram agora, mas devem recuar nos próximos meses.
As estimativas do BC para 2011 subiram de 5,6% para 5,8%. Para 2012, passaram de 4,6% para 4,8%.
Foi mantida a previsão de expansão de 4% para o PIB.
"Esse relatório aumentou muito a chance de que o BC seja forçado a fazer ao menos mais um aumento de juros. Nossa projeção, que era de mais uma alta em julho, agora é de outra em agosto", disse o economista Homero Guizzo, da LCA.
Bancos e corretoras como Bradesco, Prosper, Banif e Fator também fazem esse tipo de avaliação.
O economista Fábio Silveira, da RC Consultores, porém, diz que o BC deveria encerrar o ciclo de alta dos juros, pois novos aumentos, somados às medidas já adotadas, podem esfriar demasiadamente a economia.
Ontem, o diretor de Política Econômica do BC afirmou que não vê descontrole da inflação e que mantém a estratégia de um aperto "suficientemente prolongado" para alcançar os 4,5% em 2012.
CENÁRIO EXTERNO -- O BC ainda vê incertezas no cenário externo que podem afetar a economia brasileira, apesar da aprovação ontem do pacote fiscal na Grécia e da queda nos preços de produtos cujos preços são ditados pelo mercado internacional (commodities).
Avalia também que o crédito já cresce a taxas mais moderadas, que houve redução no descompasso entre oferta e demanda e melhora nas contas públicas. Hamilton ainda vê riscos, no entanto, nos reajustes salariais, na indexação e no ritmo incerto de crescimento da economia.
Para a instituição, a vinculação da renda dos trabalhadores do setor de serviços ao salário mínimo é um dos fatores que explicam reajustes acima da inflação e da produtividade nesse segmento.
Dados do BC mostram que o aumento real (acima da inflação) no setor foi de 17,6% desde 2007, ante elevação de 4,1% na produtividade. (Folha)


Casino contra-ataca e compra US$ 1 bi em ações do Pão de Açúcar
Sócio francês passa a deter mais que o dobro das ações de Abilio Diniz na varejista brasileira. Advogado do Casino diz que plano entre Abilio, Carrefour, BTG e BNDES para fusão é "golpe de Estado corporativo".
Para fazer frente ao que chamou de "golpe de Estado corporativo", o grupo francês Casino, sócio de Abilio Diniz no comando do Pão de Açúcar, comprou em Bolsa nos últimos dias mais US$ 1 bilhão em ações da rede varejista brasileira e passou a deter mais que o dobro da fatia do empresário na empresa.
A aquisição foi anunciada um dia após Abilio comunicar ao mercado que obteve dinheiro do BNDES e do banco BTG Pactual para levar adiante plano de fusão com o Carrefour no país.
Com a compra de ações, o Casino eleva sua participação de 37% para 43,1% no capital total do grupo Pão de Açúcar, enquanto Abilio se mantém com 21% das ações.
A posição acionária do Casino no Pão de Açúcar se torna tão elevada que, mesmo se a fusão com o Carrefour sair, ele poderá ter influência decisiva na nova empresa.
No desenho original, o Casino teria papel menor que o de Abillio e o do Carrefour.
"GOLPE DE ESTADO" -- O advogado José Carlos Dias, contratado pelo Casino para defendê-lo em eventuais ações criminais, disse à Folha que o plano que Abilio costurou com o Carrefour, o BTG Pactual e o BNDES equivale "a um golpe de Estado".
"Não se pode aceitar o que eu chamo de golpe de Estado corporativo. Fizeram um acordo secreto e estão usando o BNDES para pressionar os franceses", afirma o criminalista, que foi ministro da Justiça no governo de FHC.
Para ele, seria vexaminoso e humilhante para a imagem do Brasil a noção de que o país não respeita contratos.
O acordo de acionistas assinado em 2005 entre Abilio e Casino previa que o grupo francês passaria a controlar o Pão de Açúcar em 2012.
O plano apresentado por Abilio, BTG e BNDES não inclui o Casino na direção dos negócios a partir de 2012.
O advogado diz que não dá para entender as razões que levaram o BNDES a se dispor a investir R$ 3,9 bilhões num negócio que não tem nada a ver com política industrial, seu suposto foco.
A assessoria jurídica da Estáter, que fez o plano de fusão, diz que a acusação de "golpe de Estado" é infundada por duas razões:
1) o acordo de acionistas do Pão de Açúcar com o Casino não proíbe nenhuma das partes de negociar com outros parceiros; 2) a proposta de fusão apresentada anteontem não viola o acordo de acionistas porque precisa ser aprovada pelos órgãos corporativos das empresas. (Folha)

Reajuste de salários no 2º semestre preocupa o BC

O Banco Central enfatizou no Relatório Trimestral de Inflação divulgado hoje o impacto dos reajustes dos saláriosna inflação. "O Copom avalia que um risco muito importante para a dinâmica dos preços ao consumidor advém da dinâmica dos salários", afirmou. A palavra "muito" foi incorporada ao documento em relação à versão de março. O BC lembra que haverá concentração de negociações salariais importantes no segundo semestre, quando a inflação acumulada em 12 meses se encontrará em níveis próximos ao teto da meta, de 6,5%.

Na avaliação da autoridade monetária, o mercado de trabalho se mostra aquecido, a despeito de sinais bem incipientes de moderação. "O nível de emprego tem crescido de forma vigorosa e gerado as mais baixas taxas de desemprego desde o início do cálculo da série em março de 2002", afirma. O BC também destaca que o rendimento médio real, depois de crescer de forma vigorosa em 2010, mostra certa moderação, em parte explicada pela elevação das taxas de inflação nos últimos trimestres.

Para o Banco Central, "um aspecto crucial" é a possibilidade de o aquecimento no mercado de trabalho levar à concessão de aumentos reais dos salários em níveis não compatíveis com o crescimento da produtividade. Segundo o relatório, algumas evidências disponíveis mostram que aparentemente isso tem ocorrido em certos setores. "Em ambiente de demanda aquecida, esses aumentos salariais tendem a ser repassados aos preços ao consumidor", destaca. O BC afirma que a moderação salarial constitui elemento-chave para a obtenção de um ambiente macroeconômico com estabilidade de preços.

Preocupado com o impacto do aumento da renda na dinâmica da inflação, o BC discretamente indicou ter alguma preocupação com os reajustes previstos para o salário mínimo, que nos próximos anos será corrigido pela inflação mais a variação do PIB de dois anos antes de cada reajuste. "Os aumentos previstos para o salário mínimo nos próximos anos podem impactar direta e/ou indiretamente a dinâmica dos preços ao consumidor", menciona o BC, sem entrar em mais detalhes.

Para 2012, ano em que a autoridade promete entregar a inflação em 4,5%, o salário mínimo deve subir mais de 10%. (Diário do Grande ABC)


Consumo da Classe C impulsiona indústria de alimentos no país
Segunda em importância, a indústria de alimentos foi a que mais ganhou participação em 2009. Passou a corresponder a 14,2% do valor da transformação industrial -indicador similar ao PIB. Em 2008, o peso era menor: 12,3%, segundo o IBGE.
Os dados mostram que os ramos de bebidas e de vestuário também avançaram -de 2,8% para 3,4% e de 1,8% para 2,3% entre 2008 e 2009, respectivamente.
Os três foram os que mais ganharam participação na estrutura industrial do país -graças, em boa medida, à expansão do consumo das faixas de renda de menor poder aquisitivo e à ascensão da classe C.
A indústria de alimentos só perde, em participação, para a de refino de petróleo e produção de biocombustíveis -14,9% em 2009, percentual inferior aos 16,3% de 2008.
Segundo o IBGE, o faturamento bruto da indústria atingiu R$ 2,3 trilhões, inferior aos R$ 2,4 trilhões de 2008. O motivo da queda é a crise global.
Entre os itens, óleo diesel manteve a liderança no ranking de 2009 -3,6%, seguido por automóveis acima de 1.5 cilindradas (2,4%), veículos até 1.0 cilindradas (2,4%) e minério de ferro (2,2%). (Folha)

Pãodefour, uma confusão no mercado.

O anúncio da proposta de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour – que teria participação de mercado estimada em 27% no varejo do País, e de 32% no segmento de supermercados – teve um grande impacto ontem. Predominaram a preocupação com as implicações do negócio sobre o ambiente competitivo e as críticas à participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na operação. Além disso, a possível união gerou apreensão tanto em fornecedores quanto nos sindicatos de trabalhadores.

Ao participar ontem de entrevista no Jornal Nacional da TV Globo, o presidente da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD, proprietária do Pão de Açúcar), Abilio Diniz, defendeu a atuação do BNDES. "É um serviço para o consumidor, para a sociedade, e para todos os brasileiros." Ele também participou da reunião da Câmara de Gestão do governo, com a ministra Miriam Belchior (Planejamento).

Por meio da B NDES Participações (BNDESPar), braço de investimento do banco, deverão ser injetados R$ 3,91 bilhões (85% do necessário) na operação. Com isso, a instituição terá 18% do capital do Novo Pão de Açúcar – empresa que será estabelecida para tornar viável a transação.

O aporte do BNDES faz retornarem os questionamentos de favorecimento de grandes grupos empresariais por parte do governo às custas do contribuinte. Esse posicionamento estaria relacionado à visão estratégica fortalecida durante os dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência, que considera essencial ao Brasil ter empresas multinacionais fortes.

Já em 2006, o então presidente do BNDES, Demian Fiocca, defendia a importância da internacionalização das empresas brasileiras para a competitividade e o desenvolvimento econômico do País.

Falta de ética – O grupo francês Casino, sócio na CBD, criticou ontem a proposta. Em comunicado, afirmou que seu objetivo seria se "expropriar do Casino".

Além disso, a empresa questionou o papel do presidente do Pão de Açúcar. "Ao conduzir estas negociações, o Carrefour e o sr. Abilio Diniz ignoraram deliberadamente tanto a lei e os contratos quanto os princípios fundamentais da ética comercial", acrescentou.

De acordo com o jornal francês Le Figaro, a disputa entre Carrefour e Casino em torno do Pão de Açúcar provaria que o Brasil é um "eldorado" para o setor de supermercados. Além disso, o texto lembrou que os dois grupos franceses têm dificuldades no seu mercado de origem. "O objetivo é entrar no grande jogo, não na cena brasileira, mas internacional", complementou o diário LesEchos.

Fornecedores – A possibilidade de fusão preocupa os setores que fornecem produtos às redes, e que deverão perder seu poder de barganha com a concentração de mercado.

Esse quadro poderá se agravar com a possível reação do Walmart ao negócio – afinal, a rede norte-americano será durante atingida pela fusão.

Representantes de fornecedores mostraram apreensão com relação ao negócio. "O que se teme é o efeito de desigualdade de negociação, fazendo com que pequenas e médias empresas se tornem inviáveis como fornecedoras para as grandes redes", avaliou o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz.

"É ruim para o consumidor e para o agronegócio", disse o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar.

Emprego – A provável sobreposição de lojas do Pão de Açúcar e do Carrefour – especialmente em centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte – deverá levar ao fechamento de lojas e à eliminação de postos de trabalho.

O Sindicato dos Comerciários de São Paulo já solicitou uma reunião com a direção do Pão de Açúcar e do Carrefour. "Como as duas empresas têm sede em São Paulo, há cargos administrativos que devem se sobrepor. Queremos a manutenção de empregos, como ocorreu na fusão de Pão de Açúcar com Casas Bahia e Ponto Frio", avaliou Ricardo Patah, presidente do sindicato e da União Geral dos Trabalhadores (UGT).


Integrantes do governo têm visões diferentes sobre papel do Estado

A operação tem importância estratégica. Ela abriria porta importantíssima para a colocação de produtos brasileiros industrializados no mundo inteiro.

Fernando Pimentel, MDIC.

Integrantes do governo mostraram, ontem, posições divergentes sobre o empréstimo prometido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao empresário Abílio Diniz para a fusão do Grupo Pão de Açúcar com o Carrefour. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, admitiu a participação do Estado no negócio como sendo uma ação estratégica para a exportação de produtos. Já a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, disse ontem, para amenizar críticas, que "não há recurso público" envolvido.

Gleisi afirmou que o dinheiro virá da BNDES Participações (BNDESPar), que é um braço de participações do banco em empresas privadas. "Essa é uma operação enquadrada pelo BNDES. Não é operação de crédito do BNDES, não tem recurso público envolvido, nem FGTS (do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) nem do Tesouro. É a BNDESPar que vai fazer isso. É ação de mercado, portanto, não tem nada a ver com decisão de governo", garantiu ela. Gleisi participou de reunião da Câmara de Política de Gestão, Desempenho e Competitividade, na qual esteve Diniz.

Pimentel parece ter interpretação diferente. "Tudo seria resolvido se o setor financeiro privado do Brasil fizesse o papel dele, que é financiar o capital brasileiro", reclamou. "Como ele não faz isso, o BNDES tem de atuar." O ministro explicou: "Se a operação vier a ser realizada, ela tem uma importância estratégica. É a associação de um grupo nacional com um ou dois grupos estrangeiros, que abriria uma porta importantíssima para a colocação de produtos brasileiros industrializados no mundo."

Oposição – O plenário do Senado aprovou ontem, por maioria de votos, o projeto de conversão à Medida Provisória 526, que autoriza a União a conceder até R$ 55 bilhões ao BNDES, ampliando o limite global das subvenções econômicas do banco para R$ 209 bilhões. O anúncio do aporte de recursos do BNDES à fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour contaminou a votação da MP, alimentando os protestos da oposição que votou contra a matéria. "Essa operação é um disparate completo", criticou o líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), observando que a aplicação de recursos públicos em uma transação privada não interessa ao País.

Para BNDES, ação traz lucro -- O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) espera utilizar os resultados de seu braço de participações, a BNDESPar, no esforço necessário para o aporte de até R$ 4,5 bilhões na fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour, caso o negócio seja concretizado. O banco pode recorrer ao seu caixa no primeiro momento, mas a intenção é se desfazer de papéis da carteira da subsidiária para o investimento.

O BNDES não comenta o assunto, mas quer que o negócio seja visto como um investimento. A intenção principal do governo – que deu aval ao presidente da instituição, Luciano Coutinho, para apoiar Diniz – é evitar a desnacionalização do controle do maior varejista do País. No entanto, o BNDES vê na aprovação do mercado (expressa na valorização das ações do Pão de Açúcar) a confirmação da sua avaliação de que terá grande lucro. Isso responderia às críticas sobre uso de dinheiro público.

O BNDES está consciente de que o negócio depende da capacidade de Diniz de convencer seu sócio Casino a aceitar a operação e abrir mão do direito de exercer o controle do Pão de Açúcar em 2012, diluindo sua participação. Uma fonte revela que Diniz teria a intenção de negociar compensações para o Casino – inclusive ativos do Carrefour na Ásia.

Coutinho levou o caso ao Planalto com a avaliação de que a fusão tem tudo para criar uma nova blue chip na bolsa, garantindo ao BNDES a chance de valorizar a carteira com os 18% na companhia, ou vender os papéis depois com lucro.

A participação da BNDESPar é o principal argumento do banco para afastar as críticas de que usa parte dos recursos subsidiados que tem recebido do Tesouro, pois é um financiamento em condições de mercado, sem os benefícios das linhas tradicionais.

A tese é que a BNDESPar vem registrando lucros expressivos nos últimos anos, mesmo com investimentos controversos para apoiar a internacionalização de empresas como os frigoríficos JBS eMarfrig. A BNDESPar tem participações em mais de 100 empresas brasileiras, de gigantes como Petrobras a emergentes como a Totvs e a LLX de Eike Batista. Em 2010, contribuiu com R$ 3,2 bilhões no lucro de R$ 9,9 bilhões do banco.

Explicação – A oposição quer convidar Luciano Coutinho para explicar o papel da instituição no processo de fusão. Os requerimentos solicitando explicações serão protocolados nas comissões de Finanças e Tributação, Fiscalização Financeira e Controle e Defesa do Consumidor da Câmara. Parlamentares oposicionistas pretendem questionar a conveniência de o BNDES destinar esse montante de recursos para a operação. Eles pretendem levantar a bandeira de que o dinheiro seria mais bem usado se fosse colocado à disposição de pequenas e médias empresas brasileiras. Outro questionamento é sobre a concentração de mercado. "Os consumidores serão prejudicados com essa fusão, que tem cheiro de monopólio", disse o deputado Moreira Mendes (PPS-RO).

Mesmo deputados da base aliada têm questionado a operação. José Stédile (PSB-RS) e Audifax (PSB-ES) também apresentaram um pedido de audiência com Coutinho. "É de extrema relevância a discussão sobre a origem dos recursos financeiros a serem utilizados nesta transação, bem como os prejuízos que ela acarretará ao mercado", disseram os parlamentares. (Diário do Comércio)


Fusão entre Carrefour e Pão de Açúcar preocupa a agroindústria

Representantes de fornecedores de leite longa vida, trigo, carne bovina e café torrado e moído consideram que concentração do varejo é negativa, por causa da perda do poder de barganha.

Setores agroindustriais estão preocupados com a possível fusão entre o Grupo Pão de Açúcar e a operação brasileira do Carrefour. Representantes de fornecedores de leite longa vida, trigo, carne bovina e café torrado e moído consideram que a alta concentração do varejo é negativa em termos de negociação, por causa da perda do poder de barganha. Também pode ser ruim para o consumidor final, na avaliação desses setores, pois a concentração nem sempre representa preços mais baixos nas prateleiras dos supermercados.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a mercearia seca (cereais, farináceos, grãos, etc) representa a principal seção em termos de faturamento, com 23,4% do total em 2010. Os perecíveis (frios, laticínios, congelados) estão na sequência, com 13,8% de importância. Com análise separada dos demais perecíveis, o açougue teve 7,6% de participação e a seção de frutas, legumes e verduras ficou com 6,1% de representatividade. Outra área de peso para o setor foi a mercearia líquida, com participação de 12,2%.

O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, disse que a concentração no setor varejista é sempre danosa para os fornecedores, de maneira geral, e não deve ser diferente no caso da negociação de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil. Os varejistas aumentam seu "poder de negociação, o que pode significar pressão sobre os preços, contratos comerciais que se tornam difíceis de serem cumpridos pelo fornecedor, entre outros. Pior: esse tipo de movimento não significa que os preços dos produtos vão baixar ao consumidor", disse.

Nathan considera, no entanto, que o movimento é inevitável por causa da forte concorrência varejo. "O que se teme é o efeito de desigualdade de negociação, fazendo com que pequenas e médias empresas principalmente se tornem inviáveis como fornecedoras para as grandes redes", acrescentou. Conforme dados da Abic, os supermercados são o principal canal de distribuição do café, representando cerca de 70% de todo o produto vendido no País. Em 2010, o consumo de café no Brasil alcançou cerca de 19 milhões de sacas de 60 kg.

O diretor executivo explicou que a negociação hoje com as redes varejistas já é muito complicada. "Os contratos apresentam diversos níveis de exigências, que muitas vezes o fornecedor não tem condições de arcar", garantiu. Ele citou, por exemplo, descontos impositivos, menor preço em comparação com a concorrência e o chamado 'enxoval', que são mercadorias gratuitas para inauguração de novas lojas.

Segundo Nathan, essa situação dificulta a participação de pequenas e médias empresas no grande varejo. "Hoje o número de marcas de café já é muito pequeno, cerca de 5 ou 6, nas grandes redes supermercadistas. Tempos atrás havia mais marcas, inclusive regionais, mas ocorreu uma seleção de fornecedores", concluiu.

De acordo com dados da Abras, o grupo das 50 maiores empresas do setor foi responsável pelo faturamento de R$ 128,8 bilhões em 2010. Juntas, somaram 6.041 mil lojas e empregaram cerca de 500 mil pessoas. O grupo das 50 maiores saltou de uma representatividade de 60% em 2009 para 64% no faturamento do setor em 2010.

Lácteos -- A concentração também preocupa o segmento de lácteos, uma das cinco categorias mais vendidas nas redes do varejo de alimentos, considerou Nilson Muniz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV). "A indústria é penalizada. O processo beneficia mais o lado que está concentrado e gera uma relação desigual", afirmou. Toda a cadeia será pressionada, diz. "O comércio é o elo de ligação entre o produtor e o consumidor. E, no caso do leite, isso atinge mais diretamente o produtor. Não há milagres."

A entidade também vê com preocupação a possibilidade de ampliação das marcas próprias de leite da rede resultante da fusão. "Isso inibe a inovação, desenvolvimento de novos produtos", opina. De acordo com dados da entidade, a produção de longa vida deverá alcançar 5,7 bilhões de litros em 2011, com faturamento de R$ 10 bilhões. As redes de supermercados são o principal canal de vendas do segmento.

Trigo -- Para um executivo do setor moageiro, se hoje a indústria de farinha de trigo já arca com custos expressivos para colocar seu produto em destaque nos supermercados, ou tê-lo em iguais condições entre as demais marcas, a prática ficará ainda mais onerosa com a junção dos dois grandes varejistas. Nas palavras desse empresário, a economia perde com o que chamou de "ditadura do varejo", pois são os pequenos e médios comerciantes - os que mais contratam mão-de-obra - os maiores prejudicados pela concentração, já que terão dificuldade para negociar.

Além da indústria, também o consumidor será prejudicado, disse a fonte, considerando que em algumas regiões a concorrência entre as duas empresas, que hoje faz diferença no preço, deixará de existir. Para o executivo, outra discrepância é a participação do BNDES na operação. "Por que o uso de dinheiro público nesta transação?", questionou.

Carnes -- No setor de carnes a apreensão é a mesma. "Estou preocupado há muito tempo com a concentração no varejo. É ruim para o consumidor e para as diversas cadeias do agronegócio", disse o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. Para ele, as margens do varejo vão ficar ainda maiores do que já estão.

Já o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, considerou que processos de concentração são irreversíveis, mas ressaltou a importância de haver regras que protejam o consumidor.

Uma pesquisa realizada pela Acrimat, junto com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), mostrou que, nos últimos cinco anos, enquanto a arroba do boi gordo se valorizou 85%, as peças comercializadas no varejo aumentaram 142%. "Alguém precisa ficar de olho nisso", alertou Vacari.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, a fusão não faz sentido. "Acho absurda essa concentração no varejo e ainda mais com a ajuda do BNDES. Espero que os órgãos públicos responsáveis por avaliar a operação ajam olhando o impacto sobre a agroindústria e o consumidor. Ainda não entendi a lógica da fusão", declarou.

O executivo de uma grande fabricante de bebidas, que preferiu não se identificar, declarou que "toda concentração no varejo é ruim para o setor industrial. Podemos perder nosso poder de negociação." "Mas vamos esperar o que vai acontecer, porque ainda há a briga entre os acionistas do Pão de Açúcar", completou. (Estado)


Clientes reclamam de site do Santander

Nesta semana, clientes do Santander voltaram a abastecer redes sociais e sites de defesa do consumidor com reclamações sobre o serviço de atendimento pela internet do banco espanhol. Muitos correntistas, pessoa física e jurídica, relatam estar tendo dificuldade ou simplesmente não conseguindo acessar suas contas pelo site. Após digitar número de agência e conta, se deparam com o clássico aviso de "erro no sistema" estampado na tela e são orientados a procurar o atendimento telefônico ou buscar ajuda do gerente.

No site Reclame Aqui, foram registradas sete queixas contra o "internet banking" do Santander entre segunda-feira e ontem. Mas é no serviço de apoio ao consumidor (SAC) do banco via Twitterque aparece o maior volume de protestos. Nos últimos três dias, era possível encontrar ao menos quatro dezenas de reclamações sobre o (não) funcionamento do site. Na segunda-feira, um dos atendentes chegou a responder, no microblog: "Não estamos mais com problemas no IB [internet banking]", ratificando, dessa forma, que o site teve problema anteriormente.

Até ontem, porém, as reclamações persistiam, embora várias respostas fornecidas pelo Santander no Twitter informassem que não havia problemas com seu internet banking. Outras vezes, a sugestão fornecida pelo banco era para que o cliente tentasse um novo acesso.

Lia Sergia Marcondes, designer baiana que mora em São Paulo há 2 anos e meio, diz que desde segunda-feira não consegue acessar sua conta no site do Santander. "Quando entro, ou não aparece a barra superior para preencher os números da agência e conta corrente ou, quando ela aparece, insiro os dados e a página não atualiza", explica.

Os problemas de sistema do Santander começaram a ganhar visibilidade em fevereiro, quando ocorreu a migração da rede do Real. Houve um pico durante a primeira semana em que ocorreu a integração tecnológica - contratempos que foram além da internet e incluíram transações feitas nos caixas eletrônicos e pelo teleatendimento -, mas muito clientes, a maioria vinda do Real, ainda sentem os efeitos da mudança.

Problemas envolvendo a integração das operações de duas redes bancárias desse porte são naturais e o Santander não está sozinho. Na época em que houve a integração tecnológica do Itaú com o Unibanco, encerrada em outubro de 2010, relatos de problemas também apareceram na internet, especialmente envolvendo senhas. Em maio, uma "virada de chave" entre sistemas do Unibanco e do Itaú voltou a causar pane, fazendo desaparecer o saldo em conta corrente de parte da clientela. O banco reconheceu depois, não só o problema, mas a falha em comunicar sua rede de atendimento de forma eficiente para minimizar o desgaste com os clientes.

Francisco Reis, sócio da Origem Ferramentaria, uma prestadora de serviços de metalurgia localizada em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, diz ter desistido de realizar transações bancárias pela internet do Santander depois da integração com o Real. "Voltamos à idade da pedra e agora fazemos tudo no caixa da agência", diz.

Procurado, o Santander informou que, "no caso de haver qualquer problema no atendimento a seus clientes, as redes sociais são um importante aliado tanto do consumidor quanto da organização - que pode identificar oportunidades de melhoria e de solucionar demandas com agilidade. (Valor)


RJ: abertura de empresas só poderá ser feita pela internet a partir de 1º de julho

A partir de 1º de julho, o processo de abertura de empresas só poderá ser feito através da internet no Estado do Rio de Janeiro. De acordo com decisão da Junta Comercial (Jucerja), passa a ser obrigatória a busca prévia de nome e de local, nos casos de constituição de firmas, alteração de nome, de endereço, e atividade. O site é o www.jucerja.rj.gov.br.

A expectativa da Junta Comercial é que a abertura de empresas possa ser efetuada em poucos dias, se toda a documentação estiver correta, já que diversos órgãos estarão interligados. O novo sistema, chamado de Regin, permite a integração das prefeituras, secretaria de Fazenda do Estado, secretaria da Receita Federal e outros órgãos envolvidos.

- Será obrigatório acessar o site para alguns registros empresarias, antes de ingressar com processo na Jucerja, independentemente do resultado, ou seja, se o processo será deferido ou não - esclarece o presidente da Junta, Carlos de La Rocque.

Até maio, 930 empresas foram abertas no Estado do Rio pela internet O sistema é o mesmo que vêm sendo usado em Santa Catarina, Espírito Santo e Bahia. Atualmente, 12 municípios fluminenses estão com o funcionamento completo do sistema e a meta da Jucerja é ter, até o final do ano, 50 cidades integradas ao Regin, incluindo a capital, Baixada Fluminense e Região Metropolitana. (O Globo)


Governo modifica gestão do SUS para ampliar monitoramento

O governo modificou a Lei Orgânica da Saúde para reorganizar a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS). Serão definidas, nos próximos dias, as responsabilidades da União, dos Estados e municípios nas ações e na liberação de recursos, instituindo mecanismos de controle mais eficazes e instrumentos para que o Ministério da Saúde atue no monitoramento das ações realizadas na rede pública. Com isso, a perspectiva do governo é que os serviços oferecidos pelo SUS ganhem em qualidade, proporcionando à população atendimento mais rápido e eficiente.

O decreto presidencial publicado ontem cria o contrato de ação pública, que definirá as atribuições e responsabilidades da União, dos Estados e municípios, mostrando quem é responsável por qual atividade. "Hoje temos um sombreado, pois nunca sabemos o que é a responsabilidade de cada ente no tratamento dos pacientes", disse o secretário de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP/MS), Odorico Monteiro. Os contratos vão permitir ao Ministério da Saúde a concessão de estímulos financeiros aos municípios e Estados que apresentarem um bom desempenho nos programas e ações da saúde.

A gestão do SUS será reorganizada para garantir melhoria no acesso à saúde em todo o país. "Sentimos que havia uma dívida com o processo da implementação do SUS no Brasil que foi corrigida ontem", disse Monteiro. A reforma foi construída a partir de diálogo com os estados (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), os municípios (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS). O decreto regulamenta a Lei Orgânica da Saúde, que entrou em vigor em 1990.

As Regionais de saúde são uma novidade que será implementadas nos municípios. Segundo Monteiro, elas vão garantir às minorias da população e pequenos municípios o acesso à saúde. "Nesses casos, como o município é responsável pela saúde de sua população, ao ir para outro município a pessoa terá garantias de atendimento", explicou Monteiro.

O decreto define e consolida o modelo de atenção regional, em que municípios vizinhos deverão se organizar para ofertar atendimento de saúde às suas populações. O país será dividido em regiões que deverão ter condições de realizar desde consultas de rotina até tratamentos complexos. Caso não haja capacidade física instalada naquela região para a execução de determinado procedimento ou tratamento, os gestores daquela rede terão que fechar parceria com outras regiões, que deverão atender esses casos.

Também será feito um mapa de saúde que será atualizado todos os anos. Com ele, o governo fará a construção da atual estrutura e poderá acompanhar o andamento das mudanças. O planejamento será feito em cima da quantidade de equipamentos, médicos, ambulâncias, leitos, instrumentos, unidades e todos os municípios terão metas que serão atualizadas anualmente. (Valor)


Atuação do BNDES domina discussões no Senado

A polêmica em torno da participação da BNDESPar na fusão entre o grupo Pão de Açúcar e o Carrefour dominou a discussão da medida provisória que aumentou o volume e a capacidade de financiamento do BNDES, ontem, no plenário do Senado. O líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), defendeu a necessidade de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as operações do BNDES.

"Estão torrando o dinheiro brasileiro. Sob o argumento de criar grandes conglomerados nacionais, o dinheiro do povo está indo embora. O BNDES virou uma caixa preta", disse.

O líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), criticou "a orientação na aplicação dos recursos subsidiados pelo contribuinte" para atender grandes empresas. Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), afirmou que o tipo de operação que o BNDES está subsidiando "não interessa à economia nacional" e "não há transparência com relação ao custo fiscal desse programa".

Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que o modelo de desenvolvimento do BNDES tem que ser rediscutido, porque "meia dúzia [de empresas] do capital nacional" tem sido beneficiada pela instituição. Segundo ele, as pequenas e médias empresas recebem apenas 27,9% dos financiamentos do BNDES. "Não estamos tratando de modelo desenvolvimento, mas de favorecimento de poucos capitalistas", afirmou.

Apesar dos votos contra da oposição, o plenário aprovou a MP por volta de 19h30, em votação simbólica. A oposição pediu votação nominal, embora estivesse em visível minoria. A MP do BNDES foi aprovada por 38 votos a favor e 15 contra.

O relator da MP, que autoriza a União a conceder crédito de até R$ 55 bilhões ao BNDES, Lindbergh Farias (PT-RJ), afirmou que a participação do BNDES Par na fusão do Pão de Açúcar contaminou a discussão da MP, mas esclareceu que a capitalização do BNDES nada tem a ver com a operação envolvendo a BNDESPar. "Não há recurso do Tesouro, não há recurso subsidiado", disse.

O PPS também quer que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, preste esclarecimentos ao Congresso sobre a participação do banco na fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour. O partido apresentou, ontem, um requerimento para convocar Coutinho à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. "Queremos saber qual é o interesse que o banco estatal tem em se meter nessa aventura tão arriscada com o dinheiro público", afirmou o deputado Moreira Mendes (PPS-RO), autor do pedido do PPS para que Coutinho compareça ao Congresso. Em sua opinião, a operação "tem cheiro de monopólio" e, portanto, deve ser investigada.

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), foi contundente: "Isso cheira a negociata e deve ser barrado", declarou. Segundo disse, o BNDES estaria sendo usado indevidamente "para criar grandes trustes nacionais, inclusive para fazer investimento no exterior".

O PSDB também irá protocolar requerimento de convite ao presidente do BNDES para que ele preste esclarecimentos. Pela manhã, o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), questionou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que participava de audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara, quanto à aplicação de recursos públicos em um negócio envolvendo redes de supermercados. O líder disse que o banco "não foi criado para isso e muito menos um governo que se pretende progressista e de esquerda pode atuar para financiar a criação de conglomerados econômicos de alguns eleitos". (Valor)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Patah, presidente da UGT e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, manifesta preocupação com perda de empregos com eventual fusão de supermercados

Fusão Pão de Açúcar-Carrefour preocupa fornecedores e sindicatos
Com novo "gigante" do varejo, que teria cerca de 32% do mercado, indústria teme perder espaço em negociação. Comerciários querem discutir acordo para manter empregos, principalmente em áreas administrativas.
A possível aquisição da rede de supermercados Carrefour pelo grupo Pão de Açúcar preocupa fabricantes de eletroeletrônicos, alimentos e bebidas, que temem perder força nas negociações com o "gigante" do varejo que resultaria dessa união.
O negócio também causa apreensão aos sindicatos por conta de demissões nas áreas de sobreposição de lojas.
A concentração no setor varejista mina o poder de barganha da indústria e de produtores de alimentos, segundo relataram à Folha fornecedores do setor.
Hoje, as cinco maiores redes varejistas detêm 60% do mercado, segundo Claudio Felisoni, coordenador do Provar (Programa de Administração de Varejo, da Fia-USP). "Se a fusão de Carrefour e Pão de Açúcar se concretizar, essa nova empresa terá 32% do mercado."
Rogério Sobreira, professor de economia e finanças da FGV, concorda que o negócio pode trazer impactos negativos para fornecedores e consumidores. "O fornecedor é forçado a reduzir o preço [dos produtos], mas a empresa pode não repassar para o preço [final], aumentando sua margem de lucro."
Quando o grau de concentração do setor aumenta, diminui a competição por preços. Por isso, segundo ressaltam os especialistas, o papel do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) é essencial.
A possível união de Carrefour e Pão de Açúcar deve estimular novas fusões e aquisições, segundo especialistas em varejo e representantes da indústria.
"O Walmart, que é o mais afetado por essa união, deve se movimentar. Lojas regionais e pontos de venda que terão de ser fechados por esse novo gigante devem ficar na mira da rede norte-americana", diz Felisoni.
EMPREGO -- O Sindicato dos Comerciários de São Paulo, que representa funcionários das duas redes de supermercados, pediu uma reunião com a direção do Pão de Açúcar e do Carrefour para discutir os impactos da fusão no emprego.
"Como as duas empresas têm sede em São Paulo, há cargos administrativos que devem se sobrepor. Queremos a manutenção de empregos, como ocorreu na fusão de Pão de Açúcar com Casas Bahia e Ponto Frio", diz Ricardo Patah, do sindicato.
São ao menos 2.000 funcionários do setor administrativo do Carrefour e 5.000 do Pão, segundo o sindicalista. (Folha)

BNDES dá R$ 4 bi a Abilio por Carrefour
Pão de Açúcar pode ser acionista de rede francesa com ajuda estatal e do BTG em negócio contestado por sócio Casino. Operação cria "gigante nacional", mas Casino acusa Abilio de ignorar contrato; concentração pode afetar preços.
Contra a vontade do sócio francês Casino, o empresário Abilio Diniz se associou ao banco BTG Pactual e ao BNDES para comprar as operações do Carrefour no Brasil, formando um gigante sem concorrente à altura e com 32% do varejo supermercadista brasileiro.
Para viabilizar o negócio, o banco BTG Pactual, de André Esteves, propôs uma complexa engenharia financeira que colocará os brasileiros na posição de maiores acionistas do Carrefour no mundo.
No Brasil, Pão de Açúcar e Carrefour passarão a ter 2.386 pontos de venda em 178 municípios, com receita anual de R$ 65 bilhões. Isso se a operação for aprovada.
Já a nova empresa terá 11,7% do Carrefour mundial.
Há temor de que o poder da nova rede se reflita nos preços aos consumidores, reduza o poder de barganha de fornecedores e motive a demissão de funcionários.
CAMPEÃO NACIONAL -- O dinheiro para viabilizar o negócio -que será questionado no Brasil e no mundo pela defesa da concorrência- virá do BNDESPar, braço de investimento do banco.
Com o argumento de criar um "campeão nacional", o BNDES já se comprometeu a aportar R$ 3,91 bilhões -85% do necessário-, tornando-se sócio da empreitada, com 18% da empresa que nasce. A empresa já é chamada no governo de "AmBev do varejo", em alusão à cervejaria brasileira que dominou o mercado global de bebida.
Os R$ 690 milhões restantes (15% do total) virão de um fundo do BTG Pactual, que ainda emprestará R$ 1,15 bilhão à nova empresa.
Segundo o Pactual, a fusão trará ganho de R$ 1,6 bilhão por ano com sinergias (economia de custo).
Em algumas áreas, como São Paulo e Rio, haverá uma sobreposição de 5% a 8% de algumas lojas, que poderão ser vendidas ou fechadas.
A notícia foi bem recebida pelo mercado. As ações PN (sem voto) do Pão de Açúcar subiram ontem 12,6%, com a expectativa de alta no lucro.
VETO FRANCÊS -- O negócio obriga os franceses do Casino, o maior acionista do Pão de Açúcar, a perder o comando no Brasil (comprado há cinco anos de Abilio) e ainda a virar sócio do Carrefour no mundo.
Se concretizado de fato, o Casino chegará, indiretamente, a 3,5% do capital do Carrefour. Pode até se tornar o maior acionista individual do rival, caso o fundo Blue Capital, que tem 11%, saia.
O Casino pagou para assumir o controle do Pão de Açúcar a partir de julho de 2012. Sozinho, pode vetar a união com o Carrefour.
O grupo francês diz que a proposta de fusão é ilegal, ocorreu sem sua participação e que recorrerá para inviabilizá-la. Quando soube que Abilio procurara o Carrefour, levou o caso a câmara de arbitragem internacional.
A operação passou longe dos executivos que tocam o dia a dia das empresas. Foi acertada por acionistas. No caso do Carrefour, pelos gestores Blue Capital e Colony e por Bernard Arnault (controlador da Louis Vuitton), que pressionam para recuperar o capital investido.
Na semana passada, o Carrefour aprovou a cisão da marca Dia, bandeira popular, que deverá ser vendida.
Para o Carrefour, a união com o Pão de Açúcar resolve dois problemas graves.
Primeiro, acerta o foco da operação no Brasil, reduzindo a exposição no segmento de grandes hipermercados, modelo que perde apelo nas grandes cidades. Depois, abre caminho para a saída de investidores do Carrefour. (Folha)

Fiesp admite aviso prévio de até 2 meses
Paulo Skaf, presidente da entidade, diz que tempo maior que esse poderá criar problema para patrões e empregados. Regras variam muito no mundo; EUA não têm lei para aviso; França paga de 6% a 10% do salário por ano de trabalho.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de SP), Paulo Skaf, disse ontem que aceitará o aumento do aviso prévio proporcionalmente ao tempo de serviço para o máximo de dois meses -um a mais do que o previsto na atual legislação.
O tema está em exame no STF (Supremo Tribunal Federal). Até agora, lideranças empresariais têm defendido a manutenção dos 30 dias previstos em lei, admitindo aumento só a partir de negociações entre as partes.
"Hoje, o Brasil está na média mundial, com um aviso prévio de 30 dias. O máximo aplicado no mundo é de dois meses. Então, se o STF definir até esse limite, tudo bem. Mais do que isso poderá criar um problema para empresas e trabalhadores", disse Skaf.
Ele destacou que o aviso prévio não é verba indenizatória: é um custo pago pela empresa que demite um trabalhador sem justa causa, mas também é exigido do trabalhador que pede o desligamento da empresa.
Mesmo admitindo nova regra, ele criticou a decisão do Supremo de colocar o tema na pauta agora. "Não é o momento mais apropriado."
As indústrias negociam com o governo o fim da alíquota de 20% recolhida ao INSS. Essa é a principal proposta para a desoneração da folha de pagamento.
A Fiesp acredita que a solução mais adequada seria criar o seguinte critério: aviso prévio de 30 dias para quem tem até 10 anos de empresa; 45 dias para trabalhadores com registro entre 10 e 15 anos; e 60 dias para quem é contratado entre 15 e 20 anos.
VARIEDADE -- As regras de compensação para funcionários demitidos variam muito de um país para outro.
Nos EUA, não há lei que obrigue as empresas a pagar nada similar ao aviso prévio brasileiro. Mas entre 70% e 80% das companhias oferecem benefício parecido, de acordo com Aloísio Buoro, professor de gestão e administração do Insper.
"Estudos recentes, no entanto, indicam uma redução desses programas em razão do ambiente econômico mais difícil no país", diz Buoro.
Em geral, paga-se o referente a duas semanas de trabalho a quem permaneceu na empresa por pelo menos 12 meses.
A partir daí, o cálculo leva em conta não só o tempo de serviço mas o cargo do funcionário. Gerentes chegam a receber o equivalente a 26 semanas em caso de demissão (seis meses), e executivos em postos mais altos, até 52 semanas (12 meses).
Na França, a compensação dos demitidos varia segundo o modelo de contratação, de acordo com o levantamento do Insper.
Se o contrato for por tempo indeterminado, há pagamento de 10% do salário por ano trabalhado. Se for por tempo determinado (com máximo de 18 meses), há pagamento de 6% do salário pelo período trabalhado.
"No Brasil, é preciso estabelecer a regra do aviso prévio proporcional porque isso está previsto na Constituição e nunca foi feito", diz José Pastore, professor de relações do trabalho da USP.
"Mas a regra vai apontar o mínimo; a partir disso, as negociações coletivas irão em busca do teto." (Folha)

Câmara muda regra para licitação da Copa
MP aprovada prevê regime diferenciado de contratações, mas órgãos de controle terão acesso permanente a dados. Após polêmica, governo alterou redação para deixar claro que valor de obra será divulgado ao fim das licitações.
A Câmara dos Deputados aprovou ontem à noite medida provisória que cria regras diferenciadas de licitações para a Copa 2014 e a Olimpíada 2016, mas com mudanças propostas pelo governo em relação ao texto original, que havia obtido aval do plenário há duas semanas.
O novo texto, após recuo do governo, retirou itens que dificultavam o controle público dos gastos com as obras dos eventos.
A MP segue para o Senado, onde tem que ser votada em duas semanas, para não perder a eficácia.
A mudança feita ontem, através de emendas, tornou claro o acesso permanente dos tribunais de contas e outros órgãos de controle às planilhas e a imediata divulgação dos orçamentos, tão logo sejam feitos os lances.
FIFA -- Ontem, também foi retirada da MP artigo que concedia privilégios à Fifa e ao COI (Comitê Olímpico Internacional). O texto anterior permitia que os dois órgãos pudessem solicitar a inclusão de gastos em projetos já licitados além dos limites fixados na Lei de Licitações.
Há duas semanas, na primeira votação na Câmara dos Deputados, o governo promoveu alterações de última hora na medida provisória, como revelou a Folha.
Naquele momento, a mudança no texto tirou dos órgãos de fiscalização, como os tribunais de contas, o direito de consultar os dados a qualquer momento.
E as informações seriam repassadas em "caráter sigiloso" e "estritamente" a esses órgãos depois de conhecidos os lances da licitação -mas em data que caberia ao governo determinar.
REVISÃO -- Depois da polêmica, o governo recuou e ontem recolocou no texto a obrigatoriedade de acesso "permanente" aos orçamentos pelos órgãos de controle.
Com a nova redação, foi fixado que o orçamento prévio será divulgado -antes, a expressão era "fornecido"- "imediatamente" após o encerramento da licitação. Antes, não se sabia quando o público conheceria quanto seria gasto em uma obra.
Hoje, a Lei de Licitações determina que o governo faça e divulgue o orçamento prévio de uma obra no edital de concorrência. Esse valor serve de referência para empresas apresentarem suas propostas.
O governo defende o novo regime de concorrências para a Copa e a Olimpíada, que mantenha sigiloso o orçamento das obras até que as empresas façam os lances.
O objetivo, de acordo com o argumento do Palácio do Planalto, é evitar que os interessados combinem um preço entre si. (Folha)

Commodities já representam 71% das exportações do país
As commodities representaram 71% do valor total exportado pelo Brasil no acumulado de janeiro a maio deste ano. No mesmo período do ano passado a participação das commodities foi de 67%. As vendas ao exterior desse tipo de produto avançaram em ritmo mais acelerado do que as de manufaturados. Nos primeiros cinco meses do ano, a exportação de commodities cresceu 39,1% em relação a igual período de 2010, enquanto os embarques de manufaturados subiram 15,1%.
O cálculo é da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e não considera somente as commodities classificadas pelo Ministério do Desenvolvimento (Mdic) entre os básicos. Ela leva em consideração também as commodities classificadas como semimanufaturados e também as que, em razão de incorporarem alguma industrialização, estão enquadrados nas estatísticas oficiais como manufaturados. Entre as commodities industrializadas estão açúcar refinado, combustíveis, café solúvel, alumínio em barras, entre outros.
"Isso significa que temos 71% de nossas exportações baseadas em commodities. Ou seja, em produtos cujos preços não controlamos", diz José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele lembra que o avanço dos produtos primários na pauta de exportação brasileira se intensificou desde 2009. Naquele ano, a fatia das commodities nas vendas ao exterior era de 65,6%. No ano passado todo, foi de 69%.
O aumento de participação do total das commodities foi influenciado, principalmente, pelo avanço dos produtos mais básicos, cujas exportações subiram 45,6% de janeiro a maio de 2011, na comparação com o mesmo período do ano passado. As commodities beneficiadas e as industrializadas, classificadas pelo Mdic entre os semimanufaturados e manufaturados tiveram, respectivamente, crescimento de 30,9% e 20,5% - ainda um ritmo mais acelerado que o dos produtos manufaturados de maior valor agregado, que tiveram aumento de 15,1%.
Enquanto os produtos primários avançam nos embarques brasileiros, diz Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), a balança comercial de manufaturados no Brasil vem acumulando déficits cada vez maiores.
De acordo com levantamento do Iedi, no primeiro trimestre do ano passado a indústria brasileira de manufaturados teve déficit de US$ 7,5 bilhões. O saldo negativo saltou para US$ 10 bilhões nos primeiros três meses de 2011. No acumulado do ano passado, o déficit chegou a US$ 35 bilhões. "Para este ano estimamos que esse valor ultrapasse os US$ 50 bilhões."
O que explica o avanço das commodities foi basicamente preço, diz Castro. No acumulado de janeiro a maio, o valor exportado em minério de ferro cresceu 107,3% em relação aos primeiros cinco meses do ano passado. No período, o volume exportado cresceu 4,49% enquanto o preço subiu 98,4%. A soja exportada aumentou 22,7% em valores. De novo, foi o preço quem comandou o crescimento, com alta de 30,7%, enquanto o volume embarcado caiu 6,2%.
Os preços dos produtos primários, lembra Souza, não seguem apenas o movimento de oferta e demanda. "Esses preços são pressionados também pelo mercado secundário, que pode buscar outros ativos mais rentáveis a qualquer momento", diz ele. Para castro, "há ainda uma grande liquidez no mundo, embora os preços das commodities nos últimos meses tenham mostrado que há uma certa saturação nesses mercados".
Em termos de demanda, lembra Castro, a exportação brasileira de commodities está fortemente baseada no crescimento econômico da China. Se houver desaceleração do crescimento chinês o impacto na demanda será global e isso contribuirá para reduzir mais rapidamente o valor das exportações brasileiras do que o das importações, diz Souza. A volatilidade de preços das commodities é muito alta e tem efeitos imediatos, explica o economista do Iedi.
Já os preços dos manufaturados, que representam 80% da importação brasileira, diz Castro, vão demorar a sentir o recuo. "Os manufaturados têm contratos fechados por prazos mais longos e há maior fidelidade ao fornecedor."
Castro lembra ainda que alguns mercados importantes de manufaturados brasileiros, como os países da América do Sul, têm economia atualmente impulsionada por um motor semelhante ao brasileiro: a exportação de commodities. "Caindo a capacidade de exportação desses países, haverá também menor demanda para importação, o que afeta as vendas brasileiras de manufaturados ao exterior."
O resultado para o Brasil pode ser uma redução de superávit ou geração de déficit, com os efeitos resultantes nas contas fiscais e eventualmente na inflação.
Castro acredita, porém, que o atual cenário deve ser mantido pelo menos até o fim de 2011. Importantes produtos na pauta brasileira de commodities, como a soja, por exemplo, diz, já foram vendidas. "Os contratos foram fechados, com preços já definidos. O grão só não foi entregue", diz. O minério de ferro, outro item primário importante, já está com o preço para o terceiro trimestre definido. "O quarto trimestre ainda está em aberto, mas deve manter patamar de preço semelhante ao atual, a menos que haja alguma mudança repentina no mercado externo." (Valor)


ELIO GASPARI: Dilma fez um gol na banda larga
O GOVERNO DESATOU o nó da expansão do acesso à internet de banda larga em todos os municípios brasileiros. No anedotário de Brasília, essa iniciativa era conhecida como "Xodó 2.0" de Dilma Rousseff. É boa notícia para ninguém botar defeito. Depois de uma negociação com as operadoras, chegou-se a um acordo pelo qual até 2014 todas as cidades brasileiras terão conexões rápidas. Cumprida a meta, será uma das joias da coroa do atual governo. O serviço, com 1 megabyte de velocidade, custará R$ 35 por mês, ou R$ 29, caso os governos estaduais abram mão da cobrança do ICMS.
A internet brasileira vive num estado de apagão geográfico, social e econômico. De cada quatro municípios, um não tem conexão de cabo. Ela só atende a 27% dos domicílios e, quando o faz, a ligação custa na média R$ 48 por mês, segundo o sindicato das operadoras. Há pelo menos seis anos o governo tentava expandir essa rede, mostrando que ela traça uma linha de exclusão, deixando de fora regiões, bairros e domicílios do andar de baixo.
Embrulhadas na bandeira da infalibilidade do mercado, as operadoras diziam que não havia como investir onde não há retorno. Para resolver esse problema, queriam avançar sobre uma parte dos R$ 9 bilhões entesourados pelo Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações.
Enquanto o governo aceitou passivamente as leis da privataria, o apagão persistiu. Repentinamente, mudou-se a conversa. Se a iniciativa privada não podia fazer o serviço, a Telebrás voltaria ao mercado, fazendo-o. Mais: havia empresas estrangeiras interessadas no negócio. Nesse cenário, as teles ficariam no pior dos mundos, carregando a urucubaca da ineficiência produzida pela ganância. Fez-se um acordo e todo mundo ganha, sobretudo o brasileiro que não tem acesso ao serviço.
Quando o governo faz seu serviço, as coisas acontecem. Em 1995, a Embratel estatal tinha o monopólio do acesso à internet. Havia 30 mil pessoas na fila, e os teletecas prometiam zerá-la no ano seguinte. Era o tempo das estatais que faziam o que bem entendiam. O tucano Sérgio Motta jogou detergente no dilema, liberou o mercado e a rede aconteceu. Passaram-se 11 anos e a situação inverteu-se: as concessionárias privadas fazem o que bem entendem, mas, no caso da banda larga, a ação do Estado induziu-as a mudar seus costumes. Ficam na fila os concessionários de energia elétrica e de transportes.
A conexão de R$ 35 não chegará de uma vez e pode-se temer que venha com velocidades inferiores ao megabyte prometido. (Quem quiser mais velocidade continuará pagando caro, mas esse limite dá para o gasto de um usuário médio.) O que parece ser um problema será uma solução, pois a patuleia ganhará o direito de cobrar. Se a rede não chegar a um bairro ou a um município, o governo ficará na posição de ter feito propaganda enganosa. Se chegar, mas for lenta, a operadora terá que se explicar.
O mais importante está feito: pelas regras do jogo, o brasileiro terá acesso à banda larga, sem estar amaldiçoado por ter pouca renda ou por viver numa localidade pobre. Hoje há 14 milhões de pontos de banda larga no país. Se eles chegarem a 20 milhões, o Brasil encostará nos números franceses de 2009. (Folha)

Governo quer reduzir pensões e elevar tempo de contribuição de mulheres
O governo já tem pronta uma minirreforma da Previdência, que será enviada ao Congresso ainda este ano. Elaborada pelas equipes técnicas dos ministérios da Fazenda e da Previdência, a proposta mexe nas regras das pensões pagas a viúvas e viúvos e traça mecanismos alternativos para o fim do fator previdenciário, com aumento da idade e do tempo de contribuição para que os trabalhadores do setor privado (INSS) possam requerer suas aposentadorias. No caso da pensão por morte, uma das mudanças é a redução no valor do benefício dos novos pedidos de concessão: hoje, a pensão corresponde ao valor integral pago ao segurado. A ideia é reduzi-la para 70%, no caso de cônjuges sem filhos menores de 21 anos.
O governo propõe também criar um prazo de validade do pagamento do benefício de dez anos para viúvas e viúvos que tenham menos de 35 anos. Acima dessa idade, a pensão permanece vitalícia. Além disso, a proposta prevê novos critérios na concessão da pensão, com distribuição para os filhos menores: em vez de ficar com 100% do benefício pago ao segurado morto, como ocorre hoje, o novo beneficiado passaria a receber 70% do valor; 30% seriam repartidos com os filhos menores (cinco no máximo). Quando um desses filhos completar 21 anos, perderá direito ao pagamento. Mas o cônjuge continuará a receber os 70%.
A mulher que se casar novamente perderá direito à pensão. Para evitar casos de jovens que se casam com idosos só para ter direito à pensão do INSS, será criado um prazo de carência de 12 meses para o início do pagamento da pensão. Soma-se a isso o pagamento por, no máximo, dez anos nos casos de quem tiver menos de 35 anos.
Beneficiários atuais não seriam afetados -- Ao divulgar as contas da Previdência Social em maio, o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, afirmou nesta terça-feira que o governo enviará sua proposta ao Congresso até setembro, caso não haja acordo com as centrais:
- Não adianta prolongar essa discussão sem fim. Se não houver acordo, o governo enviará sua proposta ao Congresso - afirmou o ministro, ciente de que é grande a resistência dos parlamentares em mexer nos direitos dos aposentados.
Garibaldi destacou que há consenso de que o regime de Previdência precisa passar por alterações para que seja sustentável no futuro, daqui a 20, 40 anos, devido ao envelhecimento da população. Ele reiterou, no entanto, que as medidas valerão somente para quem vier a ingressar no mercado de trabalho:
- Não precisa sacrificar a geração que já está aí. Por isso, defendemos que o que for feito não incida sobre o contrato que já foi assinado - disse o ministro, acrescentando que uma pequena reforma pode produz grandes resultados.
Em 2010, R$ 70 bi gastos em pensões -- Técnicos que trabalham na proposta argumentam que as despesas com pensão são muito elevadas. Foram R$ 70,3 bilhões gastos em 2010 - 27,5% do total de despesas da Previdência (R$ 254,9 bilhões). Além disso, o Brasil é um dos poucos países do mundo em que esse tipo de benefício é integral e vitalício.
O economista Marcelo Caetano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considera positiva a iniciativa do governo de tornar mais rígidas as regras para o pagamento de pensão por morte. Mas ressaltou que qualquer alteração de regras da pensão só será sentida nas contas públicas num prazo mais longo, pois se trata de uma transição lenta na forma de pagamento. Além disso, como só valerá para novas concessões, a economia será pequena no início, com tendência de crescimento no longo prazo.
Caetano destacou ainda que o governo precisa tomar cuidado para não tornar ainda mais desigual o tratamento que é dado aos beneficiários do INSS e o destinado aos servidores públicos:
- Por uma questão de equidade, os dois regimes devem ser mexidos - afirma o economista.
A proposta do governo prevê também novas regras para as pensões dos servidores públicos. Hoje, os cônjuges que herdam o benefício já têm restrições, como limitar a 70% o valor da pensão que exceder o teto do INSS, hoje em R$ 3.680.
Em outra frente, o governo está decidido a impor regras duras para aceitar o fim do fator previdenciário, defendido pelo Congresso e que respondeu por uma economia de R$ 31 bilhões nos últimos dez anos. É preciso que haja contrapartidas, inclusive para as mulheres, que estão vivendo mais.
Nesse caso, as mulheres passariam a contribuir por 33 anos em vez dos 30 anos atuais, sendo mantidos os 35 anos para os homens. O tempo mínimo de contribuição para obter direito ao benefício do INSS, nos dois casos, passaria de 15 anos para 25 anos.
Essas medidas, porém, não seriam suficientes para repor a perda decorrente do fim do fator previdenciário. Foram elaboradas várias alternativas. A que mais agrada ao governo, tecnicamente, é aumentar a idade média da aposentadoria, hoje em 51 anos (mulher) e 54 anos (homem), para 53 anos e 58 anos, respectivamente. O aumento seria progressivo, sendo que, num prazo de dez anos, atingiria 63 anos e 65 anos, respectivamente.
A tese dos 85 pontos (mulher) e 95 pontos (homem) - somando-se a idade e o tempo de contribuição para que se tenha direito à aposentadoria integral -, que chegou a ser negociada no Congresso, também foi vetada pela Fazenda. Caso os sindicalistas insistam nesse caminho, terão que aceitar um aumento progressivo nessa conta, de forma que atinja 101 anos (mulher) e 105 anos (homem).
O governo também pretende concentrar esforços na mobilização da sua base no Congresso para aprovar o projeto que cria o fundo de previdência complementar dos servidores públicos. Assim, evitaria que esses servidores continuem a se aposentar com salários integrais. (O Globo)

BC vê avanço de 15% do crédito em 2011
Ao constatar que as carteiras dos bancos estão crescendo em ritmo superior ao esperado, o Banco Central (BC) decidiu revisar para cima suas projeções para a expansão dos empréstimos ao longo deste ano. O BC acredita agora que o estoque de crédito vai crescer 15% em 2011, no teto superior da meta antes estabelecida, entre 10% e 15%.
De acordo com Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), mesmo com a revisão, o avanço do estoque de crédito ainda acontece em ritmo considerado satisfatório, ou seja, o BC vê moderação em relação ao desempenho registrado ano passado, especialmente na comparação com o segundo semestre, quando o crescimento em bases mensais chegou a 2%.
Em maio, o saldo total atingiu R$ 1,804 bilhão, com avanço de 1,6% sobre o mês anterior e de 20,4% no acumulado dos últimos doze meses. Se confirmada a previsão do BC, o crédito fechará o ano perto de R$ 2 trilhões, o equivalente a 48% do PIB.
A maior desaceleração é esperada para o segundo semestre, diz Maciel. "Nossas projeções apontam que o crescimento em doze meses deve arrefecer no segundo semestre", afirmou ele, observando que o acumulado do ano carrega ainda resultados muito fortes dos últimos meses do ano passado.
Na margem, no entanto, o BC já vê um forte recuo nos empréstimos. Maciel cita como exemplo o recuo de 5,3% na média diária das concessões gerais de crédito em maio, sendo menos 4,6% a pessoas físicas e queda de 5,8% nas operações a empresas.
De acordo com analistas de mercado, o ritmo perto de 15%, de fato, é adequado para aliviar as pressões sobre o crescimento da economia, apesar de ainda ser acima do necessário para contribuir com o arrefecimento da inflação. Além disso, a nova projeção do BC era considera muito conservadora por parte dos economistas, estando agora mais próxima do consenso de mercado - algo entre 15% e 17%.
Para Adriano Lopes, economista do Itaú Unibanco, as informações divulgadas sancionam a visão de um ritmo menor de crescimento após a adoção das medidas macroprudenciais. "Acreditamos que a elevação do estoque deve naturalmente arrefecer no segundo semestre do ano como decorrência de condições de crédito mais apertadas."
Para Cristiano Souza, economista do Santander, as medidas do BC impediram que a tendência de forte expansão das carteiras vista no fim do ano passado se prolongasse para este ano. Mas, alerta Souza, o ritmo esperado pelo BC não é suficiente para contribuir com o controle da inflação. "Para se ter um impacto na inflação, teria de haver um movimento de queda das novas concessões e até mesmo do estoque de crédito", afirma.
A desaceleração nas concessões também "reduz o risco de novas medidas macroprudenciais", na visão da equipe de economistas do Credit Suisse. Mas o banco espera um avanço um pouco mais acentuado do crédito neste ano, algo entre 15% e 17%.
Uma das preocupações dos analistas, a alta da inadimplência no crédito às pessoas físicas, também foi amenizada pelas informações divulgadas ontem, já que os atrasos entre 15 e 90 dias (indicador antecedente) recuaram pelo segundo mês consecutivo, passando de 6,7% em março, para 6,6% em abril e para 6,3% agora em maio.
"Nossa visão sobre os dados de crédito é positiva, com sinais de um pouso suave em termos de qualidade do crédito e pela perspectiva de o setor financeiro manter o crescimento do spread", diz a equipe do Credit Suisse em relatório para clientes.
Mas há quem veja riscos no cenário, já que o ritmo de desaceleração ainda não é consistente. "Depois de seis meses de medidas macroprudenciais, o crescimento do crédito ainda não mostrou sinais claros de desaceleração, com as taxas de expansão ainda acima das metas do governo", dizem os economistas do Morgan Stanley, também em relatório. (Valor)

Pré-sal de Campos tem descoberta recorde
Consórcio liderado pela hispano-chinesa Repsol Sinopec anuncia reserva com petróleo leve, de maior valor comercial. Companhia também tem Petrobras e Statoil como sócias; área foi licitada antes da lei que criou regime de partilha.
O consórcio liderado pela hispano-chinesa Repsol Sinopec anunciou ontem a descoberta da maior reserva de petróleo do pré-sal da bacia de Campos, localizada a 190 km da costa fluminense.
A companhia -fruto da união das duas empresas apenas no Brasil a partir de aporte da Sinopec- lidera o consórcio, integrado ainda pela Petrobras (30%) e pela norueguesa Statoil (35%).
O volume total de óleo contido no reservatório não foi revelado, mas a empresa divulgou comunicado no qual informa que a "descoberta é a principal realizada no pré-sal da bacia de Campos". Afirmou ainda que se trata de petróleo leve, de maior valor comercial.
Até então, o chamado Parque das Baleias era a maior reserva do pré-sal da bacia de Campos, com estimativa de 3,5 bilhões de barris de óleo e gás. Na região, foram perfurados seis poços. Antes, porém, com só dois poços, as avaliações apontavam para reservatórios entre 1,5 bilhão e 2 bilhões de barris.
Para identificar o potencial da nova reserva, o consórcio perfurou até agora apenas um poço, a uma profundidade de 2.708 metros entre a superfície e o fundo do mar. A perfuração avançou até a profundidade total de 6.851 metros em duas etapas, concluídas, respectivamente, em março e abril.
NOVOS TESTES -- O consórcio já havia informado à ANP (Agência Nacional do Petróleo), naquela época, enquanto a perfuração ainda estava em curso, a ocorrência de indícios de petróleo. Para delimitar o tamanho da descoberta, o consórcio afirma que ainda precisam ser feitos novos testes e avaliações.
"O consórcio está analisando os resultados obtidos no poço, antes de continuar com o processo de exploração e avaliação da área", informou, em nota.
A Repsol Sinopec é a operadora do consórcio, responsável por toda a condução dos trabalhos de exploração, das contratações e dos equipamentos usados na empreitada. Pelo acordo firmado pelos sócios, cabe à companhia prestar todas as informações sobre as atividades na área de concessão -licitada antes da mudança do regime de exploração do pré-sal para o de partilha de produção.
Depois da Petrobras, a companhia é líder em direitos de exploração de áreas nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, com participação em 16 blocos. Em seis, é operadora.
BACIA DE SANTOS -- Apesar da importância da descoberta anunciada agora, os volumes de óleo contidos no reservatório serão possivelmente menores do que os megacampos do pré-sal da vizinha bacia de Santos.
Primeiro a ser descoberto na nova e promissora fronteira de exploração de óleo e gás no país, o campo de Lula, por exemplo, tem potencial estimado em cerca de 8 bilhões de barris.
O fato de a nova acumulação ter sido encontrada na bacia de Campos, porém, reduz os custos de extração, já que a Petrobras tem vários sistemas de produção e escoamento de óleo na região que podem ser alocados ou aproveitados pela nova descoberta. (Folha)

Câmbio e juros andam na contramão das políticas industriais
Substituta do Plano de Desenvolvimento Produtivo (PDP), a Política de Desenvolvimento Competitivo - que ainda deve trocar de nome até o anúncio oficial- prevê uma série de incentivos à atividade industrial do país com o objetivo de aumentar a participação de investimentos de capital fixo no Produto Interno Bruto (PIB), elevar o dispêndio do setor privado com ciência e tecnologia e aumentar a importância da indústria na economia. O pacote de medidas - que deve ser anunciado em julho -, no entanto, não deve ser suficiente para aumentar a participação da indústria nacional no PIB, segundo economistas e representantes do setor. O problema, dizem, é que o binômio câmbio-juros tem atuado na direção contrária a das políticas industriais.
Uma recente nota técnica do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos (Dieese) comparou a participação da indústria de transformação no PIB nas últimas cinco décadas e mostrou que ela vem oscilando entre 15% e 20% desde 1997. No ano passado, ficou em 15,9% - o menor ponto da série desde os 15,5% registrados em 1997, ano em que o país registrou déficit comercial de US$ 11 bilhões apenas na conta de exportações e importações da indústria de transformação.
Esse cenário de perda de peso na economia não mudou com os últimos dois planos (a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior - Ptice, de 2004, e o PDP, de 2008). Em 2004, a indústria respondeu por 19,2% do PIB e, em 2008, por 16,6%.
Apesar de a tentativa de impulsionar a indústria ser válida, ela não contempla seu fim, segundo o professor de economia da Unicamp Mariano Laplane. "Os PDPs não são suficientes para a indústria crescer mais que a economia. Os efeitos que as medidas desses planos pretendem acabam se perdendo por conta da alta taxa de juros e do câmbio apreciado, que estão em valores desalinhados em relação ao resto do mundo. Caso esses preços estivessem de acordo com a realidade mundial, teríamos resultados muito mais favoráveis à indústria."
Na ocasião de seu lançamento, o PDP previa que a taxa de investimentos em capital fixo iria representar 21% do PIB em 2010. No ano passado, o número foi de 18,4%. A expectativa do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), é de que os investimentos se elevem a 23% até 2014. Melhores condições de crédito junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que diminui o custo de investimento, redução do prazo de apropriação de créditos do PIS/Cofins e financiamento maior a projetos de inovação tecnológica são algumas das medidas do novo plano. Outra meta perseguida pelo governo é fazer o setor privado elevar o gasto com ciência e tecnologia de 0,55% para 0,9% do PIB.
As melhores condições de produção oferecidas à indústria são bem-vindas, mas chegam tarde, de acordo com Mario Bernardini, assessor da presidência da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). "Todas as medidas são defensáveis, mas possuem pouco efeito sobre a conjuntura macroeconômica. Se elas tivessem sido implementadas há quatro, cinco anos, a indústria estaria mais competitiva mesmo com a crise. A questão é que não se mexe no essencial, que é a taxa de juros e o câmbio."
Para Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, a tentativa do governo de criar uma nova política industrial é útil para criar um ambiente mais favorável à indústria. "A grande vantagem é a organização de prioridades dentro do governo, diminuindo a burocracia. Essa interlocução entre o setor privado e o público é positiva."
No ano passado, quando a indústria teve participação no PIB semelhante a do "vale" de 1997, o déficit comercial da indústria de transformação foi muito superior e somou US$ 36,9 bilhões. Os setores de mecânica (US$ 17,4 bilhões), material elétrico e comunicação (US$ 17,1 bi) e química (US$ 11,8 bi) foram os que apresentaram maior déficit em 2010.
O número de empregos formais como um todo na indústria, no entanto, saltou de 9,7 milhões em 2009 para 10,5 milhões em 2010, apresentando um crescimento de 8%. Desde 2005, quando 7,6 milhões de pessoas estavam empregadas no setor industrial, o número vem aumentando, apesar da perda de espaço.
Os dados mostram que a indústria como um todo está crescendo, mas não acompanhando o conjunto da economia. A reclamação maior, para Mario Bernardini, é de perda de competitividade. "A indústria não está encolhendo em valor absoluto, mas em valores relativos."
A menor participação da atividade industrial no PIB nos últimos anos, no entanto, não representa uma queda de produção, segundo Mariano Laplane. "Não há desindustrialização. Acontece que a indústria cresce em um ritmo menor que os outros setores", afirma o professor da Unicamp. (Valor)

Cheque especial tem a maior taxa desde abril de 1999
Segundo BC, taxas atingiram 185,4% ao ano; já os juros no crédito livre, de 40% ao ano em maio, foram os maiores desde fevereiro de 2009.
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, informou que a taxa de juro do crédito livre, de 40% ao ano em maio, foi a maior desde fevereiro de 2009. Já as taxas do cheque especial, que atingiram 185,4% ao ano, são as mais elevadas desde abril de 1999, quando eram de 193,7% ao ano.
Maciel disse que os juros do cheque especial são tradicionalmente mais altos que em outras modalidades. "O cheque especial tem como característica o auxílio de liquidez no curto prazo", afirmou.
Inadimplência -- Maciel destacou o recuo dos atrasos de pagamentos de até 90 dias como indicação de que a tendência da inadimplência no segundo semestre é de acomodação. De acordo com os dados do BC, os atrasos de até 90 dias no crédito livre para pessoa física tiveram queda de 0,3 ponto porcentual em maio ante abril, para 6,3%. Ele lembrou que, em março, esse indicador estava em 6,7% e que, na ocasião, o BC já antecipava um aumento da inadimplência por conta da trajetória de alta dos atrasos que se verificava naquele momento.
Apesar de já atingir a maior taxa em um ano, a inadimplência total do crédito livre de 5,1% não preocupa por conta do ambiente econômico brasileiro, que é favorecido pela trajetória de crescimento do emprego e da renda. "A inadimplência só preocupa em ambiente econômico desfavorável", disse Maciel, lembrando 2009, quando houve alta súbita no indicador em uma situação de crise. (Estado)

Antecipação do 13º salário para aposentado e pensionista será em agosto
Informação foi dada pelo ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho.
A antecipação do pagamento do 13º salário a aposentados e pensionistas este ano será em agosto, conforme confirmou nesta terça-feira, 28, o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho. "Não haverá problema na antecipação do pagamento do 13º: será em agosto", disse.
Segundo ele, no entanto, falta ainda uma decisão conclusiva do governo sobre a proposta de antecipação do pagamento mês a mês nos próximos anos. A expectativa é a de que, em 2012 o pagamento seja realizado em julho e em 2013, em junho. (Estado)

Economia subterrânea representa 18,3% do PIB nacional
A economia subterrânea, que engloba a produção de bens e serviços não reportados ao governo, movimentou R$ 663 bilhões em 2010. O montante corresponde a 18,3% do PIB, aponta o Índice de Economia Subterrânea divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco) e calculado pelo Ibre/FGV. O percentual se manteve próximo ao apurado em 2009 e 2008 (18,5% e 18,7%). Segundo o economista da FGV Fernando de Holanda Barbosa Filho, a expectativa em 2011 é de continuidade dessa queda gradual e consistente, embora pequena. Nos cálculos, a FGV levou em conta um crescimento de 7,5% do PIB e inflação de 5%.
- A economia subterrânea está crescendo menos que a economia formal. Mas a única forma de haver uma queda abrupta seria uma mudança nos fatores que estimulam essa economia, como a forte carga tributária e os altos custos trabalhistas no país - diz Barbosa Filho.
Ele cita ainda o elevado nível de corrupção no país e a queda na participação de itens manufaturados nas exportações como fatores que impedem uma maior redução desse índice de economia subterrânea. Por outro lado, Barbosa Filho destaca que a economia aquecida impulsiona a formalização, já que ela é uma exigência para o acesso ao crédito por empresas e pessoas físicas. O número final de 2010 superou a previsão divulgada em novembro passado, de R$ 656 bilhões. Em 2009, a economia subterrânea medida pelo Etco e a FGV somava R$ 589 bilhões. O fato, destaca o Etco, é que ainda são números muito altos.
Segundo o recém-empossado presidente executivo do Etco, Roberto Abdenur, o Índice de Economia Subterrânea "convoca a sociedade e os poderes públicos a uma reflexão sobre as razões dos atuais resultados, principalmente levando em consideração o processo de modernização do país, que, sem dúvida, não pode conviver com mais de R$ 663 bilhões gerados à margem da economia formal". (O Globo)
Banco Central alerta para novo golpe na internet
O Banco Central do Brasil divulgou uma nota, na manhã desta terça-feira, alertando os usuários de internet para uma nova tentativa de golpe pela rede. Segundo o comunicado, estão sendo enviados e-mails com a logomarca oficial do BC pedindo para que os clientes de várias instituições financeiras se cadastrem no programa "Mais Segurança do Banco Central", que não existe. O BC orienta as pessoas para nunca fornecerem dados, copiarem arquivos ou realizarem qualquer tarefa pedida nas falsas mensagens.
O Banco Central não envia e-mails diretamente aos clientes de qualquer instituição financeira, exceto quando responde a demandas específicas solicitadas pelos próprios usuários. Em caso de dúvidas, o cliente pode ligar para as Centrais de Atendimento do Banco Central no telefone 0800-979 2345 ou acessar o site: www.bcb.gov.br, seção de atendimento ao cidadão (fale conosco). (O Globo)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Trabalhadores e opinião pública conseguem reverter sigilo nas obras da Copa e da Olimplíada

Governo abre orçamentos da Copa para fiscalização

Planalto revê novo modelo de licitações para garantir mais transparência. Tribunais de contas terão acesso desde o início dos projetos a planilhas que governo queria manter em sigilo.
O governo decidiu ontem que vai alterar a medida provisória que muda as regras de licitações da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016.
Serão feitos ao menos dois ajustes de redação, a fim de deixar "mais nítidas" duas garantias: o acesso permanente dos tribunais de contas às planilhas e a imediata divulgação dos orçamentos tão logo feitos os lances.
Na semana retrasada, pouco antes de votar a MP na Câmara, o governo alterou o seu texto, dificultando a fiscalização dos orçamentos, como revelou a Folha.
Pela redação aprovada pelos deputados, a lei retirava dos órgãos de fiscalização o direito de consultar os dados a qualquer momento.
As informações sobre licitações seriam repassadas em "caráter sigiloso" e "estritamente" a esses órgãos depois de conhecidos lances da licitação -mas em data que caberia ao governo determinar.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), disse que alterações poderão ser feitas por "emenda de redação" na Câmara, hoje, ou no Senado, semana que vem.
O Planalto defende um novo regime de concorrências para a Copa e a Olimpíada, que mantenha sigiloso o orçamento das obras até que as empresas façam os lances.
O objetivo é evitar que, cientes do valor que o governo se dispõe a pagar, os interessados combinem um preço entre si, próximo do teto.
"Ao se colocar o termo sigiloso, que foi um cuidado para transformar em crime se houvesse o vazamento do preço licitatório, ficou a impressão que ninguém saberia esses preços. Mas haverá o acompanhamento permanente da obra pelos órgãos de controle", afirmou Jucá.
MAL-ENTENDIDO -- Ministros reconhecem que o governo foi ineficaz ao informar a decisão de mudar a lei -um "tremendo mal-entendido", disse Jucá: "Você não dá esse preço [de referência aos concorrentes]. Mas o preço existe para o órgão licitador e de controle. Acabou a licitação, o preço é público".
O senador sugeriu ao líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que os deputados incluam no texto as "emendas de redação", o que reduziria o desgaste sobre o Senado.
A MP foi ontem o principal tema da reunião da coordenação política. A presidente Dilma Rousseff pediu pressa à base no Congresso.
A Câmara vota hoje os cinco destaques apresentados por deputados ao texto-base da MP -a orientação do Planalto é derrubar os cinco.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que havia se manifestado contra o regime especial, deu-se por satisfeito com as explicações e prometeu apoio à MP.
O ministro Orlando Silva (Esporte) disse que o governo está "tranquilo" sobre a aprovação. "Nosso compromisso é garantir transparência, estimular concorrência e reduzir o preço das obras." (Folha)

Governo lança decreto para frear corrupção

A presidente Dilma Rousseff assinou decreto para tentar frear a avalanche de fraudes nos bilionários recursos federais destinados à Saúde e à Educação em estados e municípios. Dentro de 60 dias, os saques na boca do caixa estarão restringidos e os pagamentos terão que ocorrer por operações eletrônicas, saindo da conta oficial para cair diretamente na conta de fornecedores e prestadores de serviço. Só em 2010, o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Ministério da Educação (MEC) distribuíram mais de R$ 50 bilhões por meio das transferências automáticas, que têm como parâmetro a população ou o número de estudantes. O decreto deve ser publicado nesta terça-feira no Diário Oficial da União.

A decisão de reforçar o controle foi anunciada após O GLOBO publicar, em março, série de reportagens apontando os desvios provocados na Saúde pelo esfacelado controle do dinheiro que sai de Brasília. A mesma fragilidade atinge a parcela federal do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

Os saques na boca do caixa - mecanismo corriqueiro para desviar dinheiro da Saúde e da Educação, segundo o Ministério Público Federal (MPF) - só serão permitidos quando o prestador de serviço não tiver conta bancária ou para despesas de "pequeno vulto", com valor limitado a R$ 800. Nenhuma prefeitura poderá pagar em dinheiro vivo mais de R$ 8 mil por ano a um único prestador de serviço. O fracionamento de despesas, prática usual para burlar a Lei de Licitações, está proibido, e o destinatário final do saque em dinheiro deve ser identificado.

Com o decreto, além de rastreáveis pela conta bancária, "as informações relativas ao uso dos recursos serão objeto de ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público", segundo o documento.

- Vamos ter mais recursos para identificar se houve uma irregularidade ou não. Os conselhos de saúde, os tribunais de contas e Denasus, que faz amostras de auditorias, vão poder identificar (a movimentação) - afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Segundo as novas regras, prefeituras e governos estaduais só poderão movimentar o dinheiro da Saúde e da Educação através de conta específica em bancos públicos federais. Nos próximos dias, segundo o controlador geral da República, Jorge Hage, uma norma adicional deve ser editada para que os órgãos federais recebam dos bancos extratos atualizados das movimentações financeiras nas contas da Saúde e da Educação.

- Essas medidas servem para evitar o desvio para corrupção e também para outras finalidades - salientou Hage.

Em 2010, os repasses fundo a fundo do Ministério da Saúde totalizaram R$ 41 bilhões. Na Educação, os repasses somados alcançaram R$ 12 bi. Além do SUS, as medidas alcançam o Fundeb e os programas de merenda e transporte escolar.

O procurador regional da República Oswaldo José Barbosa Silva explica que os saques na boca do caixa e o uso de contas de intermediários são usuais para furtar dinheiro público porque criam "um ponto final" para o controle. E pondera que tais medidas são "elogiáveis e ajudam muito" os investigadores, mas não acabam com o risco de desvio de dinheiro público. (O Globo)

MPT resgata 34 trabalhadores terceirizados da Celpa em situação degradante no Pará

Após denúncias, 34 trabalhadores foram resgatados na cidade de Redenção, no Pará, prestando serviços para a Rede Celpa - Centrais Elétricas, a concessionária de energia elétrica do estado. Encontrados em situação análoga ao trabalho escravo, estes trabalhadores foram encaminhados para outra frente de trabalho, a 800 quilômetros de distância de Redenção.

A Celpa confirmou que, no último dia 9, recebeu notificação do Ministério Público do Trabalho, convocando-a a comparecer à cidade de Marabá, também no Pará, para prestar esclarecimentos sobre a acusação. Só que, segundo divulgou a assessoria de impresa da Celpa, a audiência teria sido adiada e, desde então, não foi convocada para uma nova audiência.

A operação de resgate foi promovida pelo MPT, no início do mês. A empresa foi multada em R$ 500 mil. Não é a primeira vez que trabalhadores em situação degradante são resgatados no Pará. Tanto assim que a Celpa assinou, em 2008, o Termo de Ajustamento de Conduto (TAC).

Coordenada pela procuradora do Trabalho, Virgínia Ferreira, do MPT em Alagoas, estes trabalhadores teriam sido contratados por meio do chamado "gato" para prestar serviço a uma das terceirizadas da Celpa: a empresa Eletro Júnior. A Celpa, por sua fez, esclarece que vai analisar as denúncias contra a Eletro Júnior e que, se confirmadas as denúncias, acarretarão a interrupção dos serviços por ela prestados.

- Os trabalhadores foram contratados por um subempreiteiro sem idoneidade financeira e largados sem condições dignas ao ser humano: sem água potável, fazendo refeição em qualquer lugar do mato, sob sol forte, sem equipamentos de proteção. O alojamento era muito precário, sem banheiro nem chuveiro, sem ventilação, sem luz elétrica e os trabalhadores dormiam em redes amontoadas. Uma situação deplorável - comentou Virgínia, ao informar que os trabalhadores resgatados foram encontrados roçando mato embaixo de rede de alta tensão, sem equipamento de proteção individual (EPI) e com jornada exaustiva de mais de 11 horas diárias.

Em nota divulgada sobre o ocorrido, a Celpa reafirma que "tem compromisso com o cumprimento da legislação trabalhista e não admite qualquer prática que possa atentar contra a dignidade do ser humano e do trabalhador, ainda que de empresas de terceiros sobre as quais não tem gestão. A Celpa analisará as denúncias contra a empresa Eletro Júnior que, se confirmadas, acarretarão a interrupção dos serviços por ela prestados".

Ainda segundo a procuradora, em apenas 23 dias de serviço, quatro pessoas já tinham sofrido acidente de trabalho, três por choque elétrico e um por picada de inseto. Os trabalhadores relataram para a procuradora que não haviam recebido nenhum treinamento para realizar o serviço, mesmo se tratando de atividade perigosa.

O valor da rescisão chegou a R$ 60 mil, sendo que três empregados foram encaminhados ao INSS, por terem sofrido acidentes de trabalho. A procuradora disse, ainda, que devido à grave situação encontrada, foram lavrados 22 autos de infração contra a empresa.

De acordo com Virgínia, a Celpa será chamada à responsabilidade, por não estar acompanhando a forma de contratação dos empregados da terceirizada:

- A Celpa havia firmado TAC com o MPT no Pará, no qual assumiu o compromisso de exigir das prestadoras o cumprimento das obrigações trabalhistas, em especial no que tange à capacitação dos trabalhadores, devido ao risco inerente da atividade. (O Globo)

Crescimento da classe C segue firme, aponta FGV

O crescimento da classe C observado nos últimos anos no Brasil se mantém firme nos primeiros meses de 2011.
Estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que 3,7 milhões de pessoas entraram nesse grupo -cuja renda domiciliar vai de R$ 1.200 a R$ 5.174- entre maio de 2010 e maio deste ano.
Esse crescimento ocorreu devido à saída de 1,8 milhão de brasileiros das classes D e E (renda de até R$ 1.200) e à queda de 3,4 milhões de pessoas das classes A e B (renda acima de R$ 5.174).
O economista Marcelo Neri, autor do estudo, diz que a população da faixa de maior renda varia mais e havia crescido muito no ano anterior, o que poderia explicar a redução nos últimos 12 meses.
Ele não considera que a contração recente das classes A e B indique um reversão da melhora de renda no país.
Neri observa que nem mesmo o aumento da inflação está afetando a redução da pobreza e prevê que o processo continuará firme ao longo do ano devido ao mercado de trabalho aquecido.
"Como é uma inflação de salário, o salário está indo na frente e o trabalhador não sentiu ainda", disse.
A pesquisa aponta ainda que o crescimento econômico tem beneficiado mais a população no Brasil do que em outros países.
Enquanto a desigualdade caiu aqui, ela tem crescido nos demais Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul). (Folha)

Categorias fortes têm aviso proporcional
Sindicatos dos metalúrgicos de Osasco e da saúde da Grande SP conseguiram incluir benefício em convenções. Trabalhadores do setor de construção civil de São Paulo tentam, sem sucesso, aprovar item há mais de dez anos.
O aviso prévio proporcional, item incluído na Constituição Federal, mas não regulamentado até hoje, já faz parte de algumas convenções coletivas negociadas por categorias profissionais mais organizadas em São Paulo -como os metalúrgicos de Osasco e os trabalhadores da saúde da Grande SP.
Na semana passada, o STF (Supremo Tribunal Federal) disse que irá definir uma fórmula para aplicação da proporcionalidade no aviso prévio à qual se refere a Constituição. A discussão tem dividido patrões e empregados.
Com 80 mil funcionários na base, o SinSaudeSP (Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de São Paulo) conseguiu incluir o item na convenção coletiva da categoria há 20 anos.
São dois os dispositivos adicionais ao pagamento dos 30 dias regulares de aviso prévio previstos na lei.
Segundo Joaquim José da Silva Filho, secretário-geral do SinSaudeSP, todos os celetistas da categoria na região metropolitana de São Paulo têm direito a um dia adicional ao aviso prévio de 30 dias por ano de registro em carteira.
Além disso, trabalhadores com mais de 45 anos obtêm o direito a receber mais 15 dias em caso de demissão sem justa causa. "A categoria brigou para ter isso e ainda negocia a elevação do número de dias adicionados a cada ano trabalhado, mas sem êxito até agora", diz Silva Filho.
Os metalúrgicos de Osasco, categoria formada por 45 mil trabalhadores, conseguiram há mais de 15 anos incluir na convenção coletiva um dispositivo semelhante. Além dos 30 dias previstos em lei, funcionários com mais de 45 anos ganham mais 20 dias de aviso prévio. A conta inclui, por fim, adicional de um dia para cada ano trabalhado na empresa.
"Essa é uma forma de evitar a excessiva rotatividade da mão de obra. Ainda assim, essa troca ainda é intensa nas empresas", diz Jorge Nazareno Rodrigues, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e região.
GRANDE E FRACA -- Mas sindicatos com menos poder de barganha com os patrões encontram dificuldade em negociar cláusulas semelhantes nas convenções coletivas.
O Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de SP), que representa 370 mil empregados da capital e mais 11 cidades da região metropolitana, tenta incluir há dez anos o pagamento de aviso prévio de um dia por ano trabalhado na empresa.
"Não é tão pesado. Quem trabalhasse 30 anos para a mesma companhia teria direito a um segundo aviso prévio de 30 dias. As empresas não aceitam, sob o argumento do custo trabalhista", dizAntonio de Sousa Ramalho, presidente do sindicato. (Folha)

Cresce nº de negros em universidades particulares
Após dez anos de cotas, crescimento de pretos e pardos foi menor nas públicas. Aumento foi de 264% nas particulares contra 69% nas públicas, que têm 23% das vagas reservadas para cotas.
Dez anos após a implantação das primeiras leis de cotas no país -no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul-, ao menos ou 23% das vagas em universidades públicas são reservadas para políticas de ação afirmativa.
O dado é de um estudo do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ações Afirmativas (da Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Isso representa cerca de 54 mil vagas. Porém, foram as instituições privadas as principais responsáveis pelo aumento da proporção de pretos e pardos no ensino superior.
Dados tabulados pela Folha a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE mostram que, no ensino superior, a proporção de autodeclarados pretos e pardos cresceu de 21% para 35% de 2001 a 2009.
No ensino superior público, o aumento foi de 314 mil para 530 mil, uma variação de 69%. No privado, o crescimento foi de 264%, de 447 mil para 1,6 milhão.
No total da população, a proporção desses grupos variou de 46% para 51%.
O sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, lembra que o aumento da proporção de pretos e pardos já havia acontecido no ensino médio por causa da expansão das matrículas nesse setor.
"No caso do ensino superior, como foi o setor privado que mais cresceu, foi nele também que ocorreu o maior aumento de pretos e pardos", afirma.
PÚBLICAS -- Entre as 98 universidades públicas do país, 70 adotam alguma ação afirmativa, segundo o estudo da Uerj.
Uma dessas vagas foi ocupada pela médica recém-formada Mariana Ribeiro, 27, na Uerj. "Na minha turma, não vi grandes disparidades entre os que passaram via cotas e os demais", afirma ela.
"É um processo que leva tempo. Corrigir tudo pela política de cotas é difícil, mas ela é melhor do que o que tínhamos antes, que era nada", afirma João Feres, um dos autores do estudo.
Hoje, ao menos 18 universidades públicas já formaram cotistas. Sete delas fizeram avaliações.
Na UnB e nas universidades do Estado do Rio de Janeiro, da Bahia e Estadual de Londrina os alunos cotistas tiveram resultados quase iguais aos dos não cotistas.
Na Federal de Juiz de Fora (na área de ciência e tecnologia) e estadual de Montes Claros o desempenho dos não cotistas foi superior.
Já na Universidade Federal da Bahia, eles tiveram avanço superior aos demais durante os cursos. (Folha)

Quase 30 milhões de brasileiros deixam baixa renda em 18 anos, diz FGV

Um total de 29,3 milhões de brasileiros deixou a base da pirâmide econômica (baixa renda) nos últimos 18 anos. O número equivale à população do Peru, de acordo com a pesquisa "Os Emergentes dos Emergentes", divulgada nesta segunda-feira, 27, em São Paulo, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O levantamento mostra que a população pertencente às classes D e E (com renda familiar de até R$ 1.200) caiu de 92,8 milhões em 1993 para 63,5 milhões em 2011. No mesmo período, a classe C (renda familiar entre R$ 1.200 e R$ 5.174) saltou de 45,6 milhões de brasileiros para 105,4 milhões, enquanto as classes A e B (renda familiar maior que R$ 5.174) juntas tiveram crescimento de 8,8 milhões para 22,5 milhões.

A pesquisa revela ainda que a diminuição do número pessoas de baixa renda foi impulsionada só a partir de 2003, quando as classes D e E juntas chegaram a ter 96,2 milhões de pessoas.

"O Brasil está se tornando um país normal. Antes, ele estava atrasado", afirmou Marcelo Neri, economista chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV. Na avaliação dele, a melhoria na pirâmide econômica do País pode ser explicada por uma série de fatores encabeçados pelo aumento da oferta de empregos e pelo crescimento real da renda dos trabalhadores nos últimos anos.

A pesquisa mostra que a renda média dos brasileiros cresceu 2,7% entre maio de 2002 e maio de 2008, depois desacelerou para 0,5% entre os mesmos meses de 2008 e 2009, já descontados os efeitos sazonais. Em seguida, voltou a acelerar o crescimento para 4,6% entre maio de 2009 e maio de 2010, até chegar a alta de 6,1% entre os mesmos meses de 2010 e 2011, segundo a pesquisa da FGV, que também utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"A classe média também é resultado do esforço dela mesma, que alcançou mais anos de educação na escola e passou a ter menos filhos", acrescentou Neri, lembrando que a educação e a quantidade de filhos também influenciam a mobilidade social.

O estudo da FGV mostra ainda que a classe média é a única que continua crescendo no País do ano passado pra cá. Neste período, a população que se encaixa na classe C aumentou de 53,6% para 55,05%, enquanto as classes A e B juntas recuaram de 11,98% para 11,76%, interrompendo a linha de alta apresentada nos últimos anos. Já a saída da população dos estratos de baixa renda seguiu o resultado dos últimos anos e voltou a cair, passando de 34,4% para 33,19%. (Estado)

Juro já responde por mais da metade da dívida

Parcela dos encargos financeiros atingiu 60% no total da dívida em abril deste ano; no mesmo período de 2010 era 56%, constata estudo da LCA.

Cresceu neste ano a parcela dos juros no total da dívida dos brasileiros. Em abril de 2010, a fatia dos juros correspondia a 56% de uma dívida total de R$ 524 bilhões. Em abril deste ano, o último dado disponível no Banco Central (BC), os juros equivaliam a 60% de uma dívida de R$ 653 bilhões, aponta estudo da LCA Consultores.

"Com as medidas macroprudenciais do BC no fim de 2010 e a alta dos juros básicos iniciada em janeiro, a dívida total aumentou puxada neste ano pelos encargos financeiros", diz WermesonFrança, economista da LCA, responsável pelo estudo.

Na sua avaliação, o avanço da parcela dos juros em detrimento do valor principal emprestado mostra uma piora na qualidade da dívida. Isto é, o brasileiro está se endividando mais, não necessariamente porque está indo às compras, mas por causa dos encargos financeiros cobrados nos empréstimos.

Cheque especial. Outra informação, segundo o economista da LCA, que confirma que o aumento do endividamento do consumidor está sendo impulsionado pelos juros, aparece nas estatísticas do BC. As duas únicas linhas de crédito que registraram crescimento na média diária de concessões entre dezembro de 2010 e abril deste ano foram o cheque especial e o cartão de crédito, as linhas de financiamento que têm os juros mais elevados e que normalmente são usadas de forma emergencial, isto é, para pagar outras dívidas.

Entre dezembro de 2010 e abril deste ano, a média diária real de concessões no cheque especial aumentou 6,2% e, no cartão de crédito, o acréscimo foi de 17%. Já no caso do crédito pessoal, houve um recuo de 3,7% nas concessões nesse período, e nos veículos e aquisição de outros bens, a retração foi ainda maior, de 10,6% e de 11%, respectivamente.

Altamiro Carvalho, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), relata que os consumidores estão fazendo novos financiamentos para quitar dívidas antigas. Tanto é que, no ano até abril, os dados de vendas da Fecomércio-SP mostram que o faturamento cresceu apenas 0,73%, sustentado pelos supermercados - cujas vendas praticamente não são influenciadas pelo crédito e que aumentaram 3,02% no período. Nos demais segmentos, como eletrônicos, móveis e veículos, que são movidos a financiamentos, houve queda.

Risco. O aumento do endividamento, com maior peso dos juros, pode levar a uma piora da inadimplência neste ano. "Não vai ser nada explosivo, mas a inadimplência vai mudar de patamar", alerta França, da LCA.

Em 2010, a inadimplência do consumidor encerrou o ano em 5,7% e em abril, último dado do BC, tinha subido para 6,1%. Até dezembro, deve atingir 7,2%, prevê o economista. Ele pondera que o resultado deste ano deve ficar abaixo do de 2009, o ano do rescaldo da crise financeira, quando o calote chegou a 7,7%.

França observa, por exemplo, que apesar de o dado global do BC de abril mostrar que a inadimplência do consumidor com prestações vencidas acima de 90 dias continuar bem comportada, os índices de calote entre 15 e 90 dias de veículos e crédito pessoal superam as taxas acima de 90 dias. "Esse é um sinal de que a inadimplência está piorando."

Já o presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, Miguel Ribeiro de Oliveira, não acredita que o aumento do endividamento, puxado pelos juros, leve necessariamente à alta da inadimplência. "Teria de ocorrer uma forte elevação do desemprego para a inadimplência disparar." Ele acredita que o aumento do endividamento pode até jogar a favor do objetivo do BC de reduzir o consumo. (Estado)

Mulheres se estressam mais com finanças, aponta pesquisa

Uma pesquisa recém-divulgada nos Estados Unidos afirma que quase 30% das mulheres apresentam níveis elevados de ansiedade em relação às suas finanças, em comparação a 17% dos homens. Os resultados, de um questionário preenchido por mais de 1 mil pessoas no primeiro trimestre deste ano, também mostraram que 9% das mulheres relataram "um estresse financeiro absurdo", em comparação a 3% dos homens.

Gregory Ward, principal analista de pesquisas da empresa de consultoria e educação financeira Financial Finesse, na Califórnia, que conduziu o levantamento, atribui o resultado à maior sensação de responsabilidade das mulheres com os filhos em casa. "Certamente, isso é parte da psicologia de como os homens e as mulheres veem as coisas", afirma Ward.

Para os dois sexos, as preocupações com dinheiro diminuíram desde 2009, quando os Estados Unidos saíam da recessão provocada pela crise financeira, mostra a pesquisa. Naquele ano, a Financial Finesse constatou que 97% das pessoas consultadas experimentaram algum nível de estresse por causa de suas finanças, citando dívidas e pensões de aposentadoria, em comparação a 86% no estudo mais recente.

Das 438 mulheres pesquisadas, 28% disseram ter um estresse financeiro "alto" ou "absurdo", enquanto 62% informaram ter "algum" estresse, segundo revelou a Financial Finesse, que vende serviços e informações financeiras para empresas, municípios e cooperativas de crédito. Entre os 618 homens que participantes do levantamento, 66% admitiram ter "algum" estresse financeiro e 17% disseram ter níveis "altos" ou "absurdos".

Essa diferença pode ocorrer porque os homens veem a situação de suas finanças de uma maneira diferente, afirma Ward. "Talvez ele sejam mais confiantes do que deveriam ser."

Além disso, "as mulheres se sentem mais angustiadas que os homens quando não conseguem prover o que querem para os filhos", afirma Mary Gresham, uma especialista em psicologia financeira que vive em Atlanta.

Os trabalhadores de ambos os sexos entre as idades de 30 e 44 anos se mostraram como aqueles com uma probabilidade mais elevada de se preocupar com suas finanças, segundo constatou o estudo. Aqueles que ganham de US$ 35 mil a US$ 74.999 por ano - que Ward chama de "nível econômico médio" - estão particularmente suscetíveis às preocupações com dinheiro, afirma ele.

A Financial Finesse constatou que 14% das pessoas se caracterizaram como não tendo estresse financeiro, em comparação a 3% em 2009 e 2010. Entre as que se dizem sem preocupações, 97% afirmaram estar confortáveis com o tamanho de suas dívidas, 89% informaram ter um fundo de emergência e todas disseram que pagam suas contas mensais dentro dos prazos.

Numa análise da pesquisa, a Financial Finesse disse que as mulheres "continuam significativamente atrás dos homens em relação às habilidades básicas de gerenciamento de dinheiro, o que em última análise compromete a capacidade de economizar, tendo em vista objetivos financeiros de longo prazo".

Entre os participantes, 64% das mulheres declararam ter um conhecimento geral sobre ações, bônus e fundos mútuos, em comparação a 84% dos homens.

Gresham afirma que sempre há uma diferença quando o assunto é tomar decisões para aliviar o estresse financeiro. "Há uma certa diferença de gênero entre o fato de estar estressado por causa de dinheiro e a adoção de mudanças comportamentais", afirma ela. "No geral, os homens tendem mais a partir para a ação", acrescenta. (Valor)

Teto de renda para empréstimo habitacional com FGTS sobe para R$ 5.400

O Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) elevou o limite de renda familiar bruta para financiamentos habitacionais com recursos do fundo, de R$ 4.900,00 para R$ 5.400,00. O limite de renda familiar para concessão de desconto no empréstimo ficou em R$ 3.100,00.
As mudanças valem para financiamentos de imóveis em capitais, regiões metropolitanas e cidades com mais de 250 mil habitantes. Elas constam da Resolução 659, que foi publicada hoje no Diário Oficial da União.
A resolução também define as taxas de juros a serem aplicadas. A taxa será de 5% ao ano nos financiamentos de residências para famílias com renda bruta mensal de até R$ 2.790,00, e também nos financiamentos de imóveis novos para famílias com renda entre R$ 2.790,01 e R$ 3.100,00. Nas demais operações, a taxa será de 6% ao ano.
O governo aumentou de R$ 4,5 bilhões para R$ 5,5 bilhões o total de recursos alocados para concessão de descontos nos empréstimos para famílias com renda até R$ 3.100,00. Desse total, R$ 4,5 bilhões serão destinados para produção ou aquisição de, no mínimo, 150 mil imóveis novos, passíveis de enquadramento no Programa Nacional de Habitação Urbana. (Valor)

Crédito imobiliário do Banco do Brasil mais do que dobra em um ano

O crédito imobiliário do Banco do Brasil mais do que dobrou o volume de negócios realizados em maio, na comparação com igual mês do ano passado, atingindo a marca de R$ 5 bilhões. Deste total, 82% foram destinados para pessoas físicas e 18% para pessoas jurídicas.
O banco também registrou o maior volume de créditos imobiliários contratados para um único mês. Em maio, foram realizadas cerca de 2.000 operações com pessoas físicas, com desembolso de R$ 289 milhões, 10,73% a mais que o recorde anterior, apurado em dezembro de 2010.
De acordo com o vice-presidente de Negócios de Varejos, Paulo Rogério Caffareli, a previsão do Banco do Brasil para este ano é chegar a R$ 7 bilhões em crédito imobiliário.
Para alcançar esse objetivo, o banco vai ampliar o portfólio de produtos com novas linhas de financiamento para pessoa física, como o financiamento à construção de imóveis e o financiamento de imóveis na planta.
Minha Casa, Minha Vida 2 -- Na segunda fase do Programa Minha Casa, Minha Vida, o Banco do Brasil passa a atender os mutuários com renda familiar de até três salários mínimos.
Para atuar dentro dessa faixa, o banco usará recursos do FAR (Fundo de Arrendamento Residencial), sendo que os projetos terão origem em iniciativas dos Estados, das prefeituras ou das próprias construtoras. (Infomoney)