segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Gerenciar os efeitos da crise mundial mas sem proteger especuladores e agiotas

Grandes empresas brasileiras, que especularam com dólar, querem agora socializar o prejuízo

As grandes empresas que especularam que o dólar não superaria R$ 1,80 e que pegavam empréstimo de curto prazo no Exterior para investir no Brasil e ficar com  diferença, ganham ao longo dos últimos anos milhões de dólares. Pois bem, o cassino quebrou, o dólar subiu, e o prejuízo chegou. Agora que perderam fortunas, já ser articulam, como vemos em notícias recentemente publicadas, das quais destacamos uma abaixo, para tentar convencer o governo brasileiro que se trata de uma crise nos mesmos moldes da subprime norte-americana.  Besteira. É responsabilidade integral das empresas e a UGT já está alertando seus aliados no Congresso Nacional e mobilizando seus sindicatos porque não aceita que o povo e o trabalhador brasileiro pague esta conta. Fiquemos atentos com as empresas brasileiras que quando ganham com a especulação são capitalistas e que quando perdem tentam socializar o prejuízo. O Brasil mudou. E a UGT é prova desta nova mudança e está sempre atenta.

Leia mais: Empresas movimentavam US$ 40 bi com venda futura do dólar e foram surpreendidas pela disparada da moeda

O estouro da bolha cambial, a exemplo do crédito imobiliário nos Estados Unidos, já é considerado pelos economistas do Ministério da Fazenda como o tempero amargo do Brasil na crise global - o subprime brasileiro. A subida repentina do dólar nas últimas semanas surpreendeu governo, mercado e, principalmente, empresas que especulavam com a moeda americana e, do dia para a noite, amargaram brutais prejuízos com a desvalorização do real.

Em pouco mais de dois meses, o dólar disparou de R$ 1,56 para os R$ 2,32 da última sexta-feira. Além da queda do real surpreender pela magnitude, o que mais chama a atenção é o fato de grandes exportadores estarem no olho do furacão - como Aracruz, Sadia e Votorantim.

Teoricamente, essas empresas deveriam ganhar com a desvalorização, pois suas vendas em dólar rendem mais reais, mas está ocorrendo o contrário: essas empresas captaram mais dólar do que precisavam no exterior, trocaram em reais no Brasil e apostaram no mercado futuro que a taxa não passaria de R$ 1,80, com a expectativa de lucrar com o juro alto. Essa aposta é feita por meio de "venda de opção de compra", operação altamente especulativa, na qual o investidor assume uma taxa futura para a venda de dólares e, em troca, recebe a rentabilidade da taxa de juros. Quem apostou que o dólar não passaria de R$ 1,80 está ameaçado de vender a moeda americana por esse preço, quando ela já está custando 28,8% mais.

A operação não seria um problema tão grave se as empresas tivessem dólar estocado - o que não é o caso desse tipo de aposta financeira, que é virtual. Segundo analistas do mercado, a estratégia vinha dando certo até recentemente, e era uma forma de as empresas compensarem a queda de receita que tinham com suas transações mercantis, em decorrência da valorização cambial. O problema é que essas operações inundaram o mercado brasileiro de dólares e agravaram a espiral de supervalorização do real.

Alguns empresários alegam que entraram no mercado futuro de derivativos por "pressão e imposição" dos bancos que concederam as operações de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC). Porta-vozes do setor financeiro admitem que esse era um produto largamente oferecido pelas instituições bancárias, mas contestam a alegação de imposição. "Ficaram de olho grande mesmo", diz um economista do mercado.

O governo ainda não concluiu o levantamento da extensão do estrago nas exportadoras, mas o mercado calcula que as operações com derivativos somariam pelo menos US$ 40 bilhões e também atingiriam empresas médias, com menos caixa para enfrentar o prejuízo.

"Para o ambiente de previsibilidade que predominava antes da crise, eram operações aparentemente seguras, mas assumiram valores excessivos", diz o economista Flávio Castelo Branco, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Acho que vamos ver alguns casos de insolvência", prevê o economista José Roberto Mendonça de Barros, da consultoria MB Associados.

A queda do Ibovespa também reflete a bolha especulativa, pois o mesmo capital exterior que inundava o País atrás dos juros altos foi diversificado em aplicações na bolsa, resultando em valorização das ações muito superior ao que realmente ocorria na economia real. Com a saída do capital externo, a bolha se esvaziou, mas agora abaixo do que realmente vale o patrimônio das empresas.

Problema com derivativos não ameaça o sistema financeiro''

O governo brasileiro está atento e as manifestações do ministro Guido Mantega estão dentro da lucidez que a UGT defende. As empresas que assumiram os riscos especulativos, que assumam, agora, os prejuízos.

Veja o que está sendo publicado e se mantenha atento:

As operações de derivativos de empresas como Sadia, Aracruz e Votorantim, que perderam bilhões apostando que o dólar ia continuar caindo, não são o "subprime brasileiro", garante o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Essas são questões localizadas de algumas empresas, não há nenhum risco sistêmico", diz Mantega. "O problema não ameaça a saúde do sistema financeiro nem do sistema industrial - o que de fato falta numa crise como esta é liquidez, porque secaram fontes de recursos externos." Segundo reportagem publicada na edição de ontem do Estado, economistas da Fazenda consideravam o estouro da bolha cambial como o "subprime brasileiro". Mantega disse que o governo está fazendo todo o possível para amenizar os efeitos da crise sobre a economia, principalmente oferecendo liquidez para que essas empresas possam absorver suas perdas. Ele ainda não vê ameaça inflacionária por causa da recente maxidesvalorização do real. "Passado este momento altamente especulativo e de alto estresse na economia internacional, o dólar caminhará para uma posição de equilíbrio, inclusive mais adequada do que antes dessa crise".

Lula veta uso de FGTS para quitar consórcios de imóveis

O sonho do brasileiro pela casa própria obriga o governo brasileiro a buscar alternativas ao uso do FGTS para quitar imóveis de consórcios. A UGT entende as razões do governo federal, mas é necessário se buscar alternativas. É hora de colocar em pauta a reivindicação da UGT de rediscutir a Leia  8.036 e mudar os rendimentos do FGTS.

Veja o que foi publicado:

Recurso poderia elevar muito saques do fundo, justificou o presidente.

Lei nº 11.795 irá regular o sistema de consórcios no país.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou a possibilidade do uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o pagamento de parcelas ou quitação de consórcios de imóveis, segundo previsto na lei do setor, aprovada pelo Senado Federal no dia 10 de setembro.

De acordo com a justificativa do veto, a ampliação do uso dos recursos do FGTS representaria possivelmente um volume significativo de saques, o que tenderia a reduzir os recursos do fundo no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH). "Em especial para população de baixa renda, bem como dificultaria o financiamento de projetos de infra-estrutura urbana e saneamento básico, que constituem a finalidade primária do FGTS", diz a justificativa.

Para Rodolfo Montosa, presidente nacional da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), o veto significa uma perda para os trabalhadores que possuem recursos no FGTS. No entanto, esses recursos podem ainda ser utilizados para lance ou complemento da carta de crédito.

Regulamentação — A lei nº 11.795 irá regular o sistema de consórcios no país. O texto foi sancionado no dia 8 e publicado no Diário Oficial da União de ontem. Pela nova legislação, as administradoras de consórcios poderão constituir grupos da área de serviços, como saúde e educação. Além disso, há a possibilidade da utilização da carta de crédito para a quitação de um financiamento.

Para a Abac, isso irá beneficiar o mutuário que deseja transferir o financiamento de seu imóvel para o consórcio, em que não há incidência de juros. O mesmo vale para financiamento de veículos.

Europa começa hoje a estatizar bancos

Momentos graves exigem medidas graves. É o que está fazendo os governos europeus, sob protesto da população, ao estatizar os bancos com problemas. Uma nova ordem mundial está surgindo, que esperamos acabe com os cassinos e que no Brasil ponha controle, de perto, a ação dos agiotas que se valem do sistema bancário e atuam até mesmo dentro das empresas.

Leia mais: Pacote prevê crédito para empresas, garantias para depósitos e estímulo para retomada dos empréstimos entre bancos

Estatização parcial de bancos se dará por meio de refinanciamento e compra de ações, mas governos não devem interferir na gestão

Autoridades européias se reúnem para discutir crise em Paris

Era domingo, os mercados estavam fechados, e governos da Oceania à Europa lançaram-se a uma frenética escalada de medidas para tentar evitar que, quando as Bolsas de Valores abrirem nesta manhã, haja um banho de sangue similar ao da sexta-feira. Em entrevista ao jornal "Bild am Sonntag", a chanceler alemã Angela Merkel definiu a situação com uma certeira frase: "Só a ação dos Estados pode agora restaurar a necessária confiança", disse.

A "ação do Estado" irá ao inimaginável, a ponto de o Reino Unido, país moldado pela hiper-liberal Margaret Thatcher, estar na iminência de tomar o controle majoritário de dois dos principais bancos do país, o RBS (Royal Bank of Scotland) e o HBOS (Halifax Bank of Scotland), além de assumir posição importante em outros dois (Lloyds TSB e Banco Barclays).

A iniciativa britânica será seguida pelos 15 países da eurozona, mas cada um adotará o seu pacote, de acordo com "a flexibilidade que se necessite em função da diversidade de nossos sistemas financeiros e de nossas regras nacionais", segundo o presidente francês Nicolas Sarkozy.

A partir de agora, haverá "uma avalanche de planos de salvamento" nos países da Europa, antecipa Didier Reynders, ministro belga de Finanças. A estatização, parcial, se dará por meio de "refinanciamento" aos bancos, via compra de ações, mas sem que os governos adquiram direito a voto nas instituições beneficiadas.

Caminho britânico — Como se esperava, o pacote adotado ontem pelos 15 países da eurozona (os que adotam o euro como moeda), na cúpula de emergência em Paris, segue as linhas gerais do plano editado quarta pelo Reino Unido.

O plano europeu prevê, como o britânico, garantias governamentais para empréstimos entre bancos, que é o ponto mais urgente a atacar para permitir, se tudo der certo, destravar o crédito primeiro entre os próprios bancos e, depois, para os demais setores da economia.

Além da recapitalização dos bancos em dificuldades, o pacote põe no papel a garantia já antecipada, na semana passada, pela ministra francesa da Economia, Christine Lagarde: "Não permitiremos um Lehman Brothers na Europa".

A quebra do Lehman Brothers nos Estados Unidos é apontada quase unanimemente como o ponto de ignição do incêndio que consumiu os mercados a partir de setembro.

Crédito para empresas — O esboço do documento discutido em Paris previa um passo adicional, afinal não explicitado: autorizava o Banco Central Europeu a fazer empréstimos diretos às empresas, no que seria claramente a subversão das regras atuais do BCE.

Ao contrário do Fed (o banco central norte-americano), cuja missão não é apenas a de controlar a inflação mas, na hora do aperto, também a de estimular a economia, o estatuto do BCE restringe sua atuação ao controle da inflação. Liberar dinheiro para empresas é estimular a atividade econômica, o que, no limite, pode levar a aumento de preços. Se adotada, a medida visaria evitar o sufoco de empresas que precisam emitir promissórias para pagar salários e fornecedores.

A desconfiança dos bancos levou à estratosfera as taxas de juros para esse tipo de operação. Há casos de empresas que são obrigadas a tomar empréstimos por um só dia, para cobrir pagamentos indispensáveis.

Os Estados Unidos já haviam anunciado que o Fed comprará promissórias a um juro inferior ao de mercado, para evitar que empresas sadias e rentáveis sejam asfixiadas pelo bloqueio do crédito, causado pela desconfiança generalizada e não pela ficha creditícia da companhia.

Mais informações na Folha de S. Paulo

Mantega: Brasil sofre desaceleração moderada, mas sem recessão

Cai, finalmente, a ficha do governo brasileiro. O que é bom. Enfrentar uma situação adversa como a que ronda a economia brasileira, com realismo já ajuda a buscar soluções trambém dentro da realidade. Até a semana passada, talvez sob a influência do clima eleitoral, só se ouvia manifestações otimistas em relação à crise global. Agora, até mesmo o presidente Lula já nos avisa que a situação é grave.

Leia mais: O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse no sábado que a idéia de que as economias emergentes não seriam afetadas pela crise financeira global já foi abandonada, mas que no Brasil não existem problemas de insolvência em bancos, apesar de liquidez reduzida no sistema.

Após a reunião extraordinária do G20 para discutir a crise financeira global, em Washington, ele destacou que economia brasileira sofre desaceleração moderada, mas sem freio súbito ou recessão.

Mantega afirmou que os países do G20, grupo que congrega ministros e presidentes dos bancos centrais das 20 nações mais ricas do mundo, terão que se unir para lutar contra a crise, que, segundo o ministro, exige respostas imediatas.

Ele frisou que é necessário maior coordenação sobre a fuga de capitais dos países emergentes. Segundo o ministro, que mais cedo propôs mudança no G20, o grupo não está considerando todas as medidas para restringir a fuga de capitais e não estava estruturado para trabalhar em uma situação de crise.

Mantega afirmou que é cada vez mais crescente a visão do G7, que reúne as sete principais potências, de incluir os países em desenvolvimento no grupo.

Ele afirmou ainda que é importante a presença do secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, e do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, na próxima reunião do G20, em novembro, em São Paulo.

O G20, atualmente presidido pelo Brasil, divulgou comunicado neste sábado afirmando que existe determinação de um trabalho conjunto para superar "as turbulências financeiras e para melhorar a regulamentação, a supervisão e o funcionamento global dos mercados financeiros mundiais".

Segundo o documento, as implicações globais da crise reforçaram a necessidade de cooperação internacional, bem como a continuação das ações desenvolvidas em países onde for necessário.

Os países do grupo se comprometeram a utilizar todos os instrumentos econômicos e financeiros para garantir a estabilidade e o bom funcionamento dos mercados financeiros.