quinta-feira, 30 de junho de 2011

Suposta preocupação com juros é desculpa contra as campanhas salariais do segundo semestre. É hora de mobilizar nacionalmente.

Com pressão salarial, BC vê inflação maior

Relatório aponta para estimativas mais altas para os índices de preços, com alcance da meta oficial apenas em 2013. Novas projeções levam economistas a apostar em dose extra de juros; incertezas no cenário externo preocupam.
Aumentou a possibilidade de que o Banco Central faça elevações adicionais da taxa básica de juros para colocar a inflação de volta na meta.
Essa é a avaliação de economistas após a revisão para cima das projeções oficiais do BC para a alta de preços.
Em seu relatório trimestral de inflação divulgado ontem, o BC alterou suas previsões para a inflação de 2011 e de 2012- ficaram ainda mais distantes do centro da meta do governo, de 4,5%.
No cenário de referência usado pelo BC, que considera o dólar a R$ 1,60 e a taxa básica de juros em 12,25%, o objetivo seria atingido apenas no fim do 1º semestre de 2013.
A revisão se deve ao comportamento da inflação e ao crescimento da economia, ambos acima do esperado, nos últimos meses. Entre as surpresas inflacionárias, o BC destacou a alta do álcool.
Para o futuro, o BC vê como "um risco muito importante" para a inflação a pressão de trabalhadores para repor as perdas salariais. Por isso, defende que as negociações considerem a expectativa de queda de preços e ganhos de produtividade.
O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, disse que as previsões pioraram agora, mas devem recuar nos próximos meses.
As estimativas do BC para 2011 subiram de 5,6% para 5,8%. Para 2012, passaram de 4,6% para 4,8%.
Foi mantida a previsão de expansão de 4% para o PIB.
"Esse relatório aumentou muito a chance de que o BC seja forçado a fazer ao menos mais um aumento de juros. Nossa projeção, que era de mais uma alta em julho, agora é de outra em agosto", disse o economista Homero Guizzo, da LCA.
Bancos e corretoras como Bradesco, Prosper, Banif e Fator também fazem esse tipo de avaliação.
O economista Fábio Silveira, da RC Consultores, porém, diz que o BC deveria encerrar o ciclo de alta dos juros, pois novos aumentos, somados às medidas já adotadas, podem esfriar demasiadamente a economia.
Ontem, o diretor de Política Econômica do BC afirmou que não vê descontrole da inflação e que mantém a estratégia de um aperto "suficientemente prolongado" para alcançar os 4,5% em 2012.
CENÁRIO EXTERNO -- O BC ainda vê incertezas no cenário externo que podem afetar a economia brasileira, apesar da aprovação ontem do pacote fiscal na Grécia e da queda nos preços de produtos cujos preços são ditados pelo mercado internacional (commodities).
Avalia também que o crédito já cresce a taxas mais moderadas, que houve redução no descompasso entre oferta e demanda e melhora nas contas públicas. Hamilton ainda vê riscos, no entanto, nos reajustes salariais, na indexação e no ritmo incerto de crescimento da economia.
Para a instituição, a vinculação da renda dos trabalhadores do setor de serviços ao salário mínimo é um dos fatores que explicam reajustes acima da inflação e da produtividade nesse segmento.
Dados do BC mostram que o aumento real (acima da inflação) no setor foi de 17,6% desde 2007, ante elevação de 4,1% na produtividade. (Folha)


Casino contra-ataca e compra US$ 1 bi em ações do Pão de Açúcar
Sócio francês passa a deter mais que o dobro das ações de Abilio Diniz na varejista brasileira. Advogado do Casino diz que plano entre Abilio, Carrefour, BTG e BNDES para fusão é "golpe de Estado corporativo".
Para fazer frente ao que chamou de "golpe de Estado corporativo", o grupo francês Casino, sócio de Abilio Diniz no comando do Pão de Açúcar, comprou em Bolsa nos últimos dias mais US$ 1 bilhão em ações da rede varejista brasileira e passou a deter mais que o dobro da fatia do empresário na empresa.
A aquisição foi anunciada um dia após Abilio comunicar ao mercado que obteve dinheiro do BNDES e do banco BTG Pactual para levar adiante plano de fusão com o Carrefour no país.
Com a compra de ações, o Casino eleva sua participação de 37% para 43,1% no capital total do grupo Pão de Açúcar, enquanto Abilio se mantém com 21% das ações.
A posição acionária do Casino no Pão de Açúcar se torna tão elevada que, mesmo se a fusão com o Carrefour sair, ele poderá ter influência decisiva na nova empresa.
No desenho original, o Casino teria papel menor que o de Abillio e o do Carrefour.
"GOLPE DE ESTADO" -- O advogado José Carlos Dias, contratado pelo Casino para defendê-lo em eventuais ações criminais, disse à Folha que o plano que Abilio costurou com o Carrefour, o BTG Pactual e o BNDES equivale "a um golpe de Estado".
"Não se pode aceitar o que eu chamo de golpe de Estado corporativo. Fizeram um acordo secreto e estão usando o BNDES para pressionar os franceses", afirma o criminalista, que foi ministro da Justiça no governo de FHC.
Para ele, seria vexaminoso e humilhante para a imagem do Brasil a noção de que o país não respeita contratos.
O acordo de acionistas assinado em 2005 entre Abilio e Casino previa que o grupo francês passaria a controlar o Pão de Açúcar em 2012.
O plano apresentado por Abilio, BTG e BNDES não inclui o Casino na direção dos negócios a partir de 2012.
O advogado diz que não dá para entender as razões que levaram o BNDES a se dispor a investir R$ 3,9 bilhões num negócio que não tem nada a ver com política industrial, seu suposto foco.
A assessoria jurídica da Estáter, que fez o plano de fusão, diz que a acusação de "golpe de Estado" é infundada por duas razões:
1) o acordo de acionistas do Pão de Açúcar com o Casino não proíbe nenhuma das partes de negociar com outros parceiros; 2) a proposta de fusão apresentada anteontem não viola o acordo de acionistas porque precisa ser aprovada pelos órgãos corporativos das empresas. (Folha)

Reajuste de salários no 2º semestre preocupa o BC

O Banco Central enfatizou no Relatório Trimestral de Inflação divulgado hoje o impacto dos reajustes dos saláriosna inflação. "O Copom avalia que um risco muito importante para a dinâmica dos preços ao consumidor advém da dinâmica dos salários", afirmou. A palavra "muito" foi incorporada ao documento em relação à versão de março. O BC lembra que haverá concentração de negociações salariais importantes no segundo semestre, quando a inflação acumulada em 12 meses se encontrará em níveis próximos ao teto da meta, de 6,5%.

Na avaliação da autoridade monetária, o mercado de trabalho se mostra aquecido, a despeito de sinais bem incipientes de moderação. "O nível de emprego tem crescido de forma vigorosa e gerado as mais baixas taxas de desemprego desde o início do cálculo da série em março de 2002", afirma. O BC também destaca que o rendimento médio real, depois de crescer de forma vigorosa em 2010, mostra certa moderação, em parte explicada pela elevação das taxas de inflação nos últimos trimestres.

Para o Banco Central, "um aspecto crucial" é a possibilidade de o aquecimento no mercado de trabalho levar à concessão de aumentos reais dos salários em níveis não compatíveis com o crescimento da produtividade. Segundo o relatório, algumas evidências disponíveis mostram que aparentemente isso tem ocorrido em certos setores. "Em ambiente de demanda aquecida, esses aumentos salariais tendem a ser repassados aos preços ao consumidor", destaca. O BC afirma que a moderação salarial constitui elemento-chave para a obtenção de um ambiente macroeconômico com estabilidade de preços.

Preocupado com o impacto do aumento da renda na dinâmica da inflação, o BC discretamente indicou ter alguma preocupação com os reajustes previstos para o salário mínimo, que nos próximos anos será corrigido pela inflação mais a variação do PIB de dois anos antes de cada reajuste. "Os aumentos previstos para o salário mínimo nos próximos anos podem impactar direta e/ou indiretamente a dinâmica dos preços ao consumidor", menciona o BC, sem entrar em mais detalhes.

Para 2012, ano em que a autoridade promete entregar a inflação em 4,5%, o salário mínimo deve subir mais de 10%. (Diário do Grande ABC)


Consumo da Classe C impulsiona indústria de alimentos no país
Segunda em importância, a indústria de alimentos foi a que mais ganhou participação em 2009. Passou a corresponder a 14,2% do valor da transformação industrial -indicador similar ao PIB. Em 2008, o peso era menor: 12,3%, segundo o IBGE.
Os dados mostram que os ramos de bebidas e de vestuário também avançaram -de 2,8% para 3,4% e de 1,8% para 2,3% entre 2008 e 2009, respectivamente.
Os três foram os que mais ganharam participação na estrutura industrial do país -graças, em boa medida, à expansão do consumo das faixas de renda de menor poder aquisitivo e à ascensão da classe C.
A indústria de alimentos só perde, em participação, para a de refino de petróleo e produção de biocombustíveis -14,9% em 2009, percentual inferior aos 16,3% de 2008.
Segundo o IBGE, o faturamento bruto da indústria atingiu R$ 2,3 trilhões, inferior aos R$ 2,4 trilhões de 2008. O motivo da queda é a crise global.
Entre os itens, óleo diesel manteve a liderança no ranking de 2009 -3,6%, seguido por automóveis acima de 1.5 cilindradas (2,4%), veículos até 1.0 cilindradas (2,4%) e minério de ferro (2,2%). (Folha)

Pãodefour, uma confusão no mercado.

O anúncio da proposta de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour – que teria participação de mercado estimada em 27% no varejo do País, e de 32% no segmento de supermercados – teve um grande impacto ontem. Predominaram a preocupação com as implicações do negócio sobre o ambiente competitivo e as críticas à participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na operação. Além disso, a possível união gerou apreensão tanto em fornecedores quanto nos sindicatos de trabalhadores.

Ao participar ontem de entrevista no Jornal Nacional da TV Globo, o presidente da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD, proprietária do Pão de Açúcar), Abilio Diniz, defendeu a atuação do BNDES. "É um serviço para o consumidor, para a sociedade, e para todos os brasileiros." Ele também participou da reunião da Câmara de Gestão do governo, com a ministra Miriam Belchior (Planejamento).

Por meio da B NDES Participações (BNDESPar), braço de investimento do banco, deverão ser injetados R$ 3,91 bilhões (85% do necessário) na operação. Com isso, a instituição terá 18% do capital do Novo Pão de Açúcar – empresa que será estabelecida para tornar viável a transação.

O aporte do BNDES faz retornarem os questionamentos de favorecimento de grandes grupos empresariais por parte do governo às custas do contribuinte. Esse posicionamento estaria relacionado à visão estratégica fortalecida durante os dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência, que considera essencial ao Brasil ter empresas multinacionais fortes.

Já em 2006, o então presidente do BNDES, Demian Fiocca, defendia a importância da internacionalização das empresas brasileiras para a competitividade e o desenvolvimento econômico do País.

Falta de ética – O grupo francês Casino, sócio na CBD, criticou ontem a proposta. Em comunicado, afirmou que seu objetivo seria se "expropriar do Casino".

Além disso, a empresa questionou o papel do presidente do Pão de Açúcar. "Ao conduzir estas negociações, o Carrefour e o sr. Abilio Diniz ignoraram deliberadamente tanto a lei e os contratos quanto os princípios fundamentais da ética comercial", acrescentou.

De acordo com o jornal francês Le Figaro, a disputa entre Carrefour e Casino em torno do Pão de Açúcar provaria que o Brasil é um "eldorado" para o setor de supermercados. Além disso, o texto lembrou que os dois grupos franceses têm dificuldades no seu mercado de origem. "O objetivo é entrar no grande jogo, não na cena brasileira, mas internacional", complementou o diário LesEchos.

Fornecedores – A possibilidade de fusão preocupa os setores que fornecem produtos às redes, e que deverão perder seu poder de barganha com a concentração de mercado.

Esse quadro poderá se agravar com a possível reação do Walmart ao negócio – afinal, a rede norte-americano será durante atingida pela fusão.

Representantes de fornecedores mostraram apreensão com relação ao negócio. "O que se teme é o efeito de desigualdade de negociação, fazendo com que pequenas e médias empresas se tornem inviáveis como fornecedoras para as grandes redes", avaliou o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz.

"É ruim para o consumidor e para o agronegócio", disse o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar.

Emprego – A provável sobreposição de lojas do Pão de Açúcar e do Carrefour – especialmente em centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte – deverá levar ao fechamento de lojas e à eliminação de postos de trabalho.

O Sindicato dos Comerciários de São Paulo já solicitou uma reunião com a direção do Pão de Açúcar e do Carrefour. "Como as duas empresas têm sede em São Paulo, há cargos administrativos que devem se sobrepor. Queremos a manutenção de empregos, como ocorreu na fusão de Pão de Açúcar com Casas Bahia e Ponto Frio", avaliou Ricardo Patah, presidente do sindicato e da União Geral dos Trabalhadores (UGT).


Integrantes do governo têm visões diferentes sobre papel do Estado

A operação tem importância estratégica. Ela abriria porta importantíssima para a colocação de produtos brasileiros industrializados no mundo inteiro.

Fernando Pimentel, MDIC.

Integrantes do governo mostraram, ontem, posições divergentes sobre o empréstimo prometido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao empresário Abílio Diniz para a fusão do Grupo Pão de Açúcar com o Carrefour. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, admitiu a participação do Estado no negócio como sendo uma ação estratégica para a exportação de produtos. Já a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, disse ontem, para amenizar críticas, que "não há recurso público" envolvido.

Gleisi afirmou que o dinheiro virá da BNDES Participações (BNDESPar), que é um braço de participações do banco em empresas privadas. "Essa é uma operação enquadrada pelo BNDES. Não é operação de crédito do BNDES, não tem recurso público envolvido, nem FGTS (do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) nem do Tesouro. É a BNDESPar que vai fazer isso. É ação de mercado, portanto, não tem nada a ver com decisão de governo", garantiu ela. Gleisi participou de reunião da Câmara de Política de Gestão, Desempenho e Competitividade, na qual esteve Diniz.

Pimentel parece ter interpretação diferente. "Tudo seria resolvido se o setor financeiro privado do Brasil fizesse o papel dele, que é financiar o capital brasileiro", reclamou. "Como ele não faz isso, o BNDES tem de atuar." O ministro explicou: "Se a operação vier a ser realizada, ela tem uma importância estratégica. É a associação de um grupo nacional com um ou dois grupos estrangeiros, que abriria uma porta importantíssima para a colocação de produtos brasileiros industrializados no mundo."

Oposição – O plenário do Senado aprovou ontem, por maioria de votos, o projeto de conversão à Medida Provisória 526, que autoriza a União a conceder até R$ 55 bilhões ao BNDES, ampliando o limite global das subvenções econômicas do banco para R$ 209 bilhões. O anúncio do aporte de recursos do BNDES à fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour contaminou a votação da MP, alimentando os protestos da oposição que votou contra a matéria. "Essa operação é um disparate completo", criticou o líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), observando que a aplicação de recursos públicos em uma transação privada não interessa ao País.

Para BNDES, ação traz lucro -- O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) espera utilizar os resultados de seu braço de participações, a BNDESPar, no esforço necessário para o aporte de até R$ 4,5 bilhões na fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour, caso o negócio seja concretizado. O banco pode recorrer ao seu caixa no primeiro momento, mas a intenção é se desfazer de papéis da carteira da subsidiária para o investimento.

O BNDES não comenta o assunto, mas quer que o negócio seja visto como um investimento. A intenção principal do governo – que deu aval ao presidente da instituição, Luciano Coutinho, para apoiar Diniz – é evitar a desnacionalização do controle do maior varejista do País. No entanto, o BNDES vê na aprovação do mercado (expressa na valorização das ações do Pão de Açúcar) a confirmação da sua avaliação de que terá grande lucro. Isso responderia às críticas sobre uso de dinheiro público.

O BNDES está consciente de que o negócio depende da capacidade de Diniz de convencer seu sócio Casino a aceitar a operação e abrir mão do direito de exercer o controle do Pão de Açúcar em 2012, diluindo sua participação. Uma fonte revela que Diniz teria a intenção de negociar compensações para o Casino – inclusive ativos do Carrefour na Ásia.

Coutinho levou o caso ao Planalto com a avaliação de que a fusão tem tudo para criar uma nova blue chip na bolsa, garantindo ao BNDES a chance de valorizar a carteira com os 18% na companhia, ou vender os papéis depois com lucro.

A participação da BNDESPar é o principal argumento do banco para afastar as críticas de que usa parte dos recursos subsidiados que tem recebido do Tesouro, pois é um financiamento em condições de mercado, sem os benefícios das linhas tradicionais.

A tese é que a BNDESPar vem registrando lucros expressivos nos últimos anos, mesmo com investimentos controversos para apoiar a internacionalização de empresas como os frigoríficos JBS eMarfrig. A BNDESPar tem participações em mais de 100 empresas brasileiras, de gigantes como Petrobras a emergentes como a Totvs e a LLX de Eike Batista. Em 2010, contribuiu com R$ 3,2 bilhões no lucro de R$ 9,9 bilhões do banco.

Explicação – A oposição quer convidar Luciano Coutinho para explicar o papel da instituição no processo de fusão. Os requerimentos solicitando explicações serão protocolados nas comissões de Finanças e Tributação, Fiscalização Financeira e Controle e Defesa do Consumidor da Câmara. Parlamentares oposicionistas pretendem questionar a conveniência de o BNDES destinar esse montante de recursos para a operação. Eles pretendem levantar a bandeira de que o dinheiro seria mais bem usado se fosse colocado à disposição de pequenas e médias empresas brasileiras. Outro questionamento é sobre a concentração de mercado. "Os consumidores serão prejudicados com essa fusão, que tem cheiro de monopólio", disse o deputado Moreira Mendes (PPS-RO).

Mesmo deputados da base aliada têm questionado a operação. José Stédile (PSB-RS) e Audifax (PSB-ES) também apresentaram um pedido de audiência com Coutinho. "É de extrema relevância a discussão sobre a origem dos recursos financeiros a serem utilizados nesta transação, bem como os prejuízos que ela acarretará ao mercado", disseram os parlamentares. (Diário do Comércio)


Fusão entre Carrefour e Pão de Açúcar preocupa a agroindústria

Representantes de fornecedores de leite longa vida, trigo, carne bovina e café torrado e moído consideram que concentração do varejo é negativa, por causa da perda do poder de barganha.

Setores agroindustriais estão preocupados com a possível fusão entre o Grupo Pão de Açúcar e a operação brasileira do Carrefour. Representantes de fornecedores de leite longa vida, trigo, carne bovina e café torrado e moído consideram que a alta concentração do varejo é negativa em termos de negociação, por causa da perda do poder de barganha. Também pode ser ruim para o consumidor final, na avaliação desses setores, pois a concentração nem sempre representa preços mais baixos nas prateleiras dos supermercados.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a mercearia seca (cereais, farináceos, grãos, etc) representa a principal seção em termos de faturamento, com 23,4% do total em 2010. Os perecíveis (frios, laticínios, congelados) estão na sequência, com 13,8% de importância. Com análise separada dos demais perecíveis, o açougue teve 7,6% de participação e a seção de frutas, legumes e verduras ficou com 6,1% de representatividade. Outra área de peso para o setor foi a mercearia líquida, com participação de 12,2%.

O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, disse que a concentração no setor varejista é sempre danosa para os fornecedores, de maneira geral, e não deve ser diferente no caso da negociação de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil. Os varejistas aumentam seu "poder de negociação, o que pode significar pressão sobre os preços, contratos comerciais que se tornam difíceis de serem cumpridos pelo fornecedor, entre outros. Pior: esse tipo de movimento não significa que os preços dos produtos vão baixar ao consumidor", disse.

Nathan considera, no entanto, que o movimento é inevitável por causa da forte concorrência varejo. "O que se teme é o efeito de desigualdade de negociação, fazendo com que pequenas e médias empresas principalmente se tornem inviáveis como fornecedoras para as grandes redes", acrescentou. Conforme dados da Abic, os supermercados são o principal canal de distribuição do café, representando cerca de 70% de todo o produto vendido no País. Em 2010, o consumo de café no Brasil alcançou cerca de 19 milhões de sacas de 60 kg.

O diretor executivo explicou que a negociação hoje com as redes varejistas já é muito complicada. "Os contratos apresentam diversos níveis de exigências, que muitas vezes o fornecedor não tem condições de arcar", garantiu. Ele citou, por exemplo, descontos impositivos, menor preço em comparação com a concorrência e o chamado 'enxoval', que são mercadorias gratuitas para inauguração de novas lojas.

Segundo Nathan, essa situação dificulta a participação de pequenas e médias empresas no grande varejo. "Hoje o número de marcas de café já é muito pequeno, cerca de 5 ou 6, nas grandes redes supermercadistas. Tempos atrás havia mais marcas, inclusive regionais, mas ocorreu uma seleção de fornecedores", concluiu.

De acordo com dados da Abras, o grupo das 50 maiores empresas do setor foi responsável pelo faturamento de R$ 128,8 bilhões em 2010. Juntas, somaram 6.041 mil lojas e empregaram cerca de 500 mil pessoas. O grupo das 50 maiores saltou de uma representatividade de 60% em 2009 para 64% no faturamento do setor em 2010.

Lácteos -- A concentração também preocupa o segmento de lácteos, uma das cinco categorias mais vendidas nas redes do varejo de alimentos, considerou Nilson Muniz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV). "A indústria é penalizada. O processo beneficia mais o lado que está concentrado e gera uma relação desigual", afirmou. Toda a cadeia será pressionada, diz. "O comércio é o elo de ligação entre o produtor e o consumidor. E, no caso do leite, isso atinge mais diretamente o produtor. Não há milagres."

A entidade também vê com preocupação a possibilidade de ampliação das marcas próprias de leite da rede resultante da fusão. "Isso inibe a inovação, desenvolvimento de novos produtos", opina. De acordo com dados da entidade, a produção de longa vida deverá alcançar 5,7 bilhões de litros em 2011, com faturamento de R$ 10 bilhões. As redes de supermercados são o principal canal de vendas do segmento.

Trigo -- Para um executivo do setor moageiro, se hoje a indústria de farinha de trigo já arca com custos expressivos para colocar seu produto em destaque nos supermercados, ou tê-lo em iguais condições entre as demais marcas, a prática ficará ainda mais onerosa com a junção dos dois grandes varejistas. Nas palavras desse empresário, a economia perde com o que chamou de "ditadura do varejo", pois são os pequenos e médios comerciantes - os que mais contratam mão-de-obra - os maiores prejudicados pela concentração, já que terão dificuldade para negociar.

Além da indústria, também o consumidor será prejudicado, disse a fonte, considerando que em algumas regiões a concorrência entre as duas empresas, que hoje faz diferença no preço, deixará de existir. Para o executivo, outra discrepância é a participação do BNDES na operação. "Por que o uso de dinheiro público nesta transação?", questionou.

Carnes -- No setor de carnes a apreensão é a mesma. "Estou preocupado há muito tempo com a concentração no varejo. É ruim para o consumidor e para as diversas cadeias do agronegócio", disse o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. Para ele, as margens do varejo vão ficar ainda maiores do que já estão.

Já o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, considerou que processos de concentração são irreversíveis, mas ressaltou a importância de haver regras que protejam o consumidor.

Uma pesquisa realizada pela Acrimat, junto com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), mostrou que, nos últimos cinco anos, enquanto a arroba do boi gordo se valorizou 85%, as peças comercializadas no varejo aumentaram 142%. "Alguém precisa ficar de olho nisso", alertou Vacari.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, a fusão não faz sentido. "Acho absurda essa concentração no varejo e ainda mais com a ajuda do BNDES. Espero que os órgãos públicos responsáveis por avaliar a operação ajam olhando o impacto sobre a agroindústria e o consumidor. Ainda não entendi a lógica da fusão", declarou.

O executivo de uma grande fabricante de bebidas, que preferiu não se identificar, declarou que "toda concentração no varejo é ruim para o setor industrial. Podemos perder nosso poder de negociação." "Mas vamos esperar o que vai acontecer, porque ainda há a briga entre os acionistas do Pão de Açúcar", completou. (Estado)


Clientes reclamam de site do Santander

Nesta semana, clientes do Santander voltaram a abastecer redes sociais e sites de defesa do consumidor com reclamações sobre o serviço de atendimento pela internet do banco espanhol. Muitos correntistas, pessoa física e jurídica, relatam estar tendo dificuldade ou simplesmente não conseguindo acessar suas contas pelo site. Após digitar número de agência e conta, se deparam com o clássico aviso de "erro no sistema" estampado na tela e são orientados a procurar o atendimento telefônico ou buscar ajuda do gerente.

No site Reclame Aqui, foram registradas sete queixas contra o "internet banking" do Santander entre segunda-feira e ontem. Mas é no serviço de apoio ao consumidor (SAC) do banco via Twitterque aparece o maior volume de protestos. Nos últimos três dias, era possível encontrar ao menos quatro dezenas de reclamações sobre o (não) funcionamento do site. Na segunda-feira, um dos atendentes chegou a responder, no microblog: "Não estamos mais com problemas no IB [internet banking]", ratificando, dessa forma, que o site teve problema anteriormente.

Até ontem, porém, as reclamações persistiam, embora várias respostas fornecidas pelo Santander no Twitter informassem que não havia problemas com seu internet banking. Outras vezes, a sugestão fornecida pelo banco era para que o cliente tentasse um novo acesso.

Lia Sergia Marcondes, designer baiana que mora em São Paulo há 2 anos e meio, diz que desde segunda-feira não consegue acessar sua conta no site do Santander. "Quando entro, ou não aparece a barra superior para preencher os números da agência e conta corrente ou, quando ela aparece, insiro os dados e a página não atualiza", explica.

Os problemas de sistema do Santander começaram a ganhar visibilidade em fevereiro, quando ocorreu a migração da rede do Real. Houve um pico durante a primeira semana em que ocorreu a integração tecnológica - contratempos que foram além da internet e incluíram transações feitas nos caixas eletrônicos e pelo teleatendimento -, mas muito clientes, a maioria vinda do Real, ainda sentem os efeitos da mudança.

Problemas envolvendo a integração das operações de duas redes bancárias desse porte são naturais e o Santander não está sozinho. Na época em que houve a integração tecnológica do Itaú com o Unibanco, encerrada em outubro de 2010, relatos de problemas também apareceram na internet, especialmente envolvendo senhas. Em maio, uma "virada de chave" entre sistemas do Unibanco e do Itaú voltou a causar pane, fazendo desaparecer o saldo em conta corrente de parte da clientela. O banco reconheceu depois, não só o problema, mas a falha em comunicar sua rede de atendimento de forma eficiente para minimizar o desgaste com os clientes.

Francisco Reis, sócio da Origem Ferramentaria, uma prestadora de serviços de metalurgia localizada em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, diz ter desistido de realizar transações bancárias pela internet do Santander depois da integração com o Real. "Voltamos à idade da pedra e agora fazemos tudo no caixa da agência", diz.

Procurado, o Santander informou que, "no caso de haver qualquer problema no atendimento a seus clientes, as redes sociais são um importante aliado tanto do consumidor quanto da organização - que pode identificar oportunidades de melhoria e de solucionar demandas com agilidade. (Valor)


RJ: abertura de empresas só poderá ser feita pela internet a partir de 1º de julho

A partir de 1º de julho, o processo de abertura de empresas só poderá ser feito através da internet no Estado do Rio de Janeiro. De acordo com decisão da Junta Comercial (Jucerja), passa a ser obrigatória a busca prévia de nome e de local, nos casos de constituição de firmas, alteração de nome, de endereço, e atividade. O site é o www.jucerja.rj.gov.br.

A expectativa da Junta Comercial é que a abertura de empresas possa ser efetuada em poucos dias, se toda a documentação estiver correta, já que diversos órgãos estarão interligados. O novo sistema, chamado de Regin, permite a integração das prefeituras, secretaria de Fazenda do Estado, secretaria da Receita Federal e outros órgãos envolvidos.

- Será obrigatório acessar o site para alguns registros empresarias, antes de ingressar com processo na Jucerja, independentemente do resultado, ou seja, se o processo será deferido ou não - esclarece o presidente da Junta, Carlos de La Rocque.

Até maio, 930 empresas foram abertas no Estado do Rio pela internet O sistema é o mesmo que vêm sendo usado em Santa Catarina, Espírito Santo e Bahia. Atualmente, 12 municípios fluminenses estão com o funcionamento completo do sistema e a meta da Jucerja é ter, até o final do ano, 50 cidades integradas ao Regin, incluindo a capital, Baixada Fluminense e Região Metropolitana. (O Globo)


Governo modifica gestão do SUS para ampliar monitoramento

O governo modificou a Lei Orgânica da Saúde para reorganizar a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS). Serão definidas, nos próximos dias, as responsabilidades da União, dos Estados e municípios nas ações e na liberação de recursos, instituindo mecanismos de controle mais eficazes e instrumentos para que o Ministério da Saúde atue no monitoramento das ações realizadas na rede pública. Com isso, a perspectiva do governo é que os serviços oferecidos pelo SUS ganhem em qualidade, proporcionando à população atendimento mais rápido e eficiente.

O decreto presidencial publicado ontem cria o contrato de ação pública, que definirá as atribuições e responsabilidades da União, dos Estados e municípios, mostrando quem é responsável por qual atividade. "Hoje temos um sombreado, pois nunca sabemos o que é a responsabilidade de cada ente no tratamento dos pacientes", disse o secretário de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP/MS), Odorico Monteiro. Os contratos vão permitir ao Ministério da Saúde a concessão de estímulos financeiros aos municípios e Estados que apresentarem um bom desempenho nos programas e ações da saúde.

A gestão do SUS será reorganizada para garantir melhoria no acesso à saúde em todo o país. "Sentimos que havia uma dívida com o processo da implementação do SUS no Brasil que foi corrigida ontem", disse Monteiro. A reforma foi construída a partir de diálogo com os estados (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), os municípios (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS). O decreto regulamenta a Lei Orgânica da Saúde, que entrou em vigor em 1990.

As Regionais de saúde são uma novidade que será implementadas nos municípios. Segundo Monteiro, elas vão garantir às minorias da população e pequenos municípios o acesso à saúde. "Nesses casos, como o município é responsável pela saúde de sua população, ao ir para outro município a pessoa terá garantias de atendimento", explicou Monteiro.

O decreto define e consolida o modelo de atenção regional, em que municípios vizinhos deverão se organizar para ofertar atendimento de saúde às suas populações. O país será dividido em regiões que deverão ter condições de realizar desde consultas de rotina até tratamentos complexos. Caso não haja capacidade física instalada naquela região para a execução de determinado procedimento ou tratamento, os gestores daquela rede terão que fechar parceria com outras regiões, que deverão atender esses casos.

Também será feito um mapa de saúde que será atualizado todos os anos. Com ele, o governo fará a construção da atual estrutura e poderá acompanhar o andamento das mudanças. O planejamento será feito em cima da quantidade de equipamentos, médicos, ambulâncias, leitos, instrumentos, unidades e todos os municípios terão metas que serão atualizadas anualmente. (Valor)


Atuação do BNDES domina discussões no Senado

A polêmica em torno da participação da BNDESPar na fusão entre o grupo Pão de Açúcar e o Carrefour dominou a discussão da medida provisória que aumentou o volume e a capacidade de financiamento do BNDES, ontem, no plenário do Senado. O líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), defendeu a necessidade de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as operações do BNDES.

"Estão torrando o dinheiro brasileiro. Sob o argumento de criar grandes conglomerados nacionais, o dinheiro do povo está indo embora. O BNDES virou uma caixa preta", disse.

O líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), criticou "a orientação na aplicação dos recursos subsidiados pelo contribuinte" para atender grandes empresas. Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), afirmou que o tipo de operação que o BNDES está subsidiando "não interessa à economia nacional" e "não há transparência com relação ao custo fiscal desse programa".

Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que o modelo de desenvolvimento do BNDES tem que ser rediscutido, porque "meia dúzia [de empresas] do capital nacional" tem sido beneficiada pela instituição. Segundo ele, as pequenas e médias empresas recebem apenas 27,9% dos financiamentos do BNDES. "Não estamos tratando de modelo desenvolvimento, mas de favorecimento de poucos capitalistas", afirmou.

Apesar dos votos contra da oposição, o plenário aprovou a MP por volta de 19h30, em votação simbólica. A oposição pediu votação nominal, embora estivesse em visível minoria. A MP do BNDES foi aprovada por 38 votos a favor e 15 contra.

O relator da MP, que autoriza a União a conceder crédito de até R$ 55 bilhões ao BNDES, Lindbergh Farias (PT-RJ), afirmou que a participação do BNDES Par na fusão do Pão de Açúcar contaminou a discussão da MP, mas esclareceu que a capitalização do BNDES nada tem a ver com a operação envolvendo a BNDESPar. "Não há recurso do Tesouro, não há recurso subsidiado", disse.

O PPS também quer que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, preste esclarecimentos ao Congresso sobre a participação do banco na fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour. O partido apresentou, ontem, um requerimento para convocar Coutinho à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. "Queremos saber qual é o interesse que o banco estatal tem em se meter nessa aventura tão arriscada com o dinheiro público", afirmou o deputado Moreira Mendes (PPS-RO), autor do pedido do PPS para que Coutinho compareça ao Congresso. Em sua opinião, a operação "tem cheiro de monopólio" e, portanto, deve ser investigada.

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), foi contundente: "Isso cheira a negociata e deve ser barrado", declarou. Segundo disse, o BNDES estaria sendo usado indevidamente "para criar grandes trustes nacionais, inclusive para fazer investimento no exterior".

O PSDB também irá protocolar requerimento de convite ao presidente do BNDES para que ele preste esclarecimentos. Pela manhã, o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), questionou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que participava de audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara, quanto à aplicação de recursos públicos em um negócio envolvendo redes de supermercados. O líder disse que o banco "não foi criado para isso e muito menos um governo que se pretende progressista e de esquerda pode atuar para financiar a criação de conglomerados econômicos de alguns eleitos". (Valor)