quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Diante dos efeitos da crise internacional, UGT vai continuar em alerta, apoiar iniciativas do governo e vigiar as aplicações das medidas

Governo não vai socorrer empresas, diz Mantega

A atitude da UGT diante das iniciativas que o governo  Lula vem tomando para criar barreiras ao tsunami da crise mundial, que chegará, é apoiar e vigiar. Vamos apoiar as boas iniciativas, entre elas a decisão de não repassar dinheiro público para salvar as empresas que especularam com dólar e com aplicações arriscadas em bolsa. Mas vamos ficar atentos para que não se criem medidas que prejudiquem as empresas que apostaram na produção, na exportação e na geração de empregos e que em função da crise internacional estejam passando por dificuldades. Bom senso e critérios que levem em consideração cada caso, mas que sejam rigorosos com os especuladores e agiotas de plantão.

Leia mais: O governo federal não vai socorrer as empresas brasileiras endividadas em dólar por meio do mercado de derivativos (mercado futuro da Bolsa de Mercadoria e Futuros - BM&F), segundo informou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta terça-feira (21) na Câmara dos Deputados.

"Teve prejuízo. Agora tem que arcar com o prejuízo. O governo não vai arcar com nenhum tostão. Não colocaremos recursos", disse Mantega no Congresso Nacional. Segundo sua análise, é normal que algumas empresas registrem prejuízo quando há uma virada grande na taxa de câmbio. Acrescentou, porém, que as empresas são "sólidas e capazes de arcar com seu prejuízo". "Na relação com os bancos, poderão se acertar e tocar a vida adiante", acrescentou.

Desconfiança — Até o momento, os exemplos mais conhecidos de empresas que registraram perdas com posições ligadas a derivativos em dólar são a Sadia, a Aracruz e a VCP. Entretanto, analistas temem que outras companhias tenham os mesmos problemas, embora ainda não tenham vindo a público informá-los - o que gera desconfiança no mercado acionário.

O ministro da Fazenda disse ainda que a regulação do mercado de derivativos pode ser melhorada. "Sempre há maneiras de outra brecha que pode ser encontrada. E temos de fechar essas brechas. Não sabemos de fato qual é o volume de prejuízo dessas empresas que fizeram operações com derivativos", admitiu Mantega.

Construção civil — Ele negou ainda que o governo esteja pensando em dar algum tipo de socorro às empresas ligadas ao ramo de construção civil. Segundo o ministro, o que está sendo considerado é a liberação de linhas de crédito, como já foi feito para o setor agrícola e para o financiamento às exportações.

"As indústrias construtoras têm crédito do FGTS. E desses recursos teremos linhas de crédito normais", afirmou. Em sua apresentação, consta que será criada uma de uma linha de crédito de até R$ 3 bilhões para financiar capital de giro e consolidação de empresas de capital aberto no ramo de construção de residências.

Sem pacote — O ministro Mantega repetiu ainda que não haverá pacote para combater os efeitos da crise financeira internacional na economia brasileira. Segundo ele, o governo continuará se pautando por meio da edição de "respostas objetivas" aos problemas, à medida em que eles forem aparecendo.

"Em nenhum momento, subestimamos a crise. Acompanhamos desde o seu início e disse que ela seria prolongada. As crises têm oscilações. Alguns momentos de bonança e outros de menor tensão. Nunca vendi ilusões de que a crise seria passageira. Em um primeiro momento, era mais leve e havia menos conseqüências", disse ele a parlamentares.

 

BNDES vai virar sócio de construtoras

A iniciativa é necessária, mesmo que copiada das ações semelhantes adotadas na Europa e nos Estados Unidos. Mas mantendo o critério de apoiar e vigiar a UGT entende a necessidade de se apostar na construção civil, em função do PAC. Mas também quer ver de perto critérios que não deixe nas mãos do governo as partes podres das construtoras.

Leia mais e ajude a UGT a vigiar as ações do governo no gerenciamento da crise económica internacional: Pacote que deve ser anunciado hoje prevê a concessão de empréstimos para capital de giro pela CEF e a capitalização de empresas pelo BNDES

O pacote de medidas de ajuda do governo ao setor da construção civil envolverá o BNDES e a Caixa, num aporte conjunto de recursos para capitalização das construtoras. A Caixa lançará linha de crédito especial voltada a capital de giro; o BNDES subscreverá debêntures e participará do capital de empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores.

O governo ainda não bateu o martelo em torno do valor do pacote, que pode ir de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões, para desembolso imediato. As medidas, delineadas há uma semana, aguardam a aprovação dos ministérios do Planejamento e da Fazenda e aval do presidente Lula. Se o sinal verde for dado hoje, as medidas serão anunciadas na abertura do 80º Encontro Nacional da Indústria da Construção, em São Luiz (MA). No encontro, Lula será representado pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Caixa e BNDES devem dividir meio a meio o ônus financeiro do programa. Segundo fontes ligadas às negociações, o objetivo do programa, além de permitir a conclusão de empreendimentos imobiliários já iniciados, é facilitar fusões e aquisições. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) há em torno de 100 mil construtoras no País, dos mais variados portes. Apenas 25 são listadas em Bolsa.

A participação do BNDES se restringiria às companhias de capital aberto, com limite de participação acionária. Seria uma linha também de capital de giro, mas por meio de debêntures conversíveis em ações. Na modelagem, há cláusulas que definem a saída do banco e também proteções para evitar conversão em época de desvalorização dos papéis, como a atual.

O banco não quer ser acionista de construtoras e muito menos ter participação relevante no capital, dizem fontes que participaram da formatação das medidas. O papel do BNDES será o de fortalecer as empresas para a transição entre a crise e a normalidade de mercado, evitando quebradeira no setor.

Crédito recuou 13% devido à crise, afirma Meirelles

A UGT por ter vinculações muito próximas com o setor de comércio e serviços já vinha alertando seus parceiros e sindicatos filiados a respeito da redução do crédito. Os setores de serviços e comércio são a primeira peça do dominó a cair em qualquer crise. Ainda mais com a atuação dos operadores de crédito para o comércio que são mais ávidos que o Meirelles quando o assunto é aumentar juros.

Leia mais: O agravamento da crise nos mercados internacionais levou os bancos brasileiros a reduzirem em 13% a concessão de crédito no país nos primeiros oito dias úteis de outubro, segundo informou ontem o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Apesar da queda, ele argumentou que a situação não é preocupante, pois o volume disponibilizado pelas instituições financeiras ainda está acima do registrado em 2007.

Ainda não há números fechados pelo BC para o comportamento do crédito de setembro para cá. O crescimento acumulado entre janeiro e setembro estava em 18%. Nos 12 meses fechados em agosto, houve um aumento de 31,8%. Em valores absolutos, o volume de crédito fechou agosto em R$ 1,11 trilhão, equivalente a 38% do PIB (Produto Interno Bruto).

Já o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que o governo poderá tomar "medidas fiscais adicionais" em reação aos efeitos da crise internacional. Ao lado de Meirelles, Mantega expôs, no plenário da Câmara, o diagnóstico oficial do governo sobre o alcance da crise e as providências já adotadas para enfrentar a escassez de crédito e a disparada do dólar.

O ministro se defendeu das críticas da oposição de que estaria subestimando os impactos no Brasil. "Eu não acredito que esta crise esteja acabando. Ainda vai nos dar muita dor de cabeça e muito trabalho."

Rebateu, também, os ataques do PSDB e do DEM ao aumento dos gastos públicos. "Estamos dando um sinal fiscal forte", disse, em referência ao aumento promovido neste ano na meta de superávit primário (a parcela das receitas destinada ao abatimento da dívida pública), que passou de 3,8% para 4,3% do PIB mesmo antes do agravamento da crise. "Se preciso for, tomaremos medidas fiscais adicionais", acrescentou, sem deixar claro se mencionava a permanência da nova meta.

Meirelles fez uma apresentação mais técnica, em que procurou demonstrar a queda da vulnerabilidade do país -porque o setor público passou de devedor a credor externo e tem cerca de US$ 200 bilhões em reservas. Desse total, recordou, US$ 8,5 bilhões foram vendidos ao mercado nos últimos 30 dias, fora o equivalente a US$ 14,4 bilhões pagos em moeda nacional em operações igualmente destinadas a conter a alta do dólar. "Pela primeira vez, o Brasil tem um dos melhores desempenhos entre os países afetados por uma crise."

Mantega tratou de articular também o discurso político do governo: deu atenção especial à afirmação de que "a crise é mais grave do que as ocorridas nos anos 90", ou, nas entrelinhas, às crises ocorridas durante o governo FHC e usadas pelos hoje oposicionistas como justificativa para o mau desempenho econômico do período.

Para Sebrae, pequena empresa já sente aperto do crédito — O presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, disse ontem que as micro e pequenas empresas já sentem mais dificuldade para ter acesso ao crédito devido a crise financeira mundial. "Os bancos estão aumentando suas taxas de juros", afirmou.

Segundo Okamotto, alguns setores poderão ter aumento do custo da produção, principalmente os que dependem de importações. "Vamos monitorar como está o acesso ao crédito para as micro e pequenas empresas e reivindicar do governo medidas específicas."

Sobre os dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria) de que os micro e pequenos empresários estão mais confiantes que os grandes, Okamotto diz que "a confiança pode ser maior, mas o crédito fica mais caro para pessoas físicas e pequenas empresas".

54,6 milhões vivem no país em moradia inadequada

Há décadas o Brasil já deveria ter investido na construção de casas populares. Para não chegarmos a esta situação constatada pelo Ipea. Se vamos atacar o problema de moradia, que o façamos com a busca de escala, com a produção de casas populares acessíveis à renda dos trabalhadores e que batalhemos para que o trabalhador e sua família tenham emprego e renda para poder pagar as prestações. Senão, ano após ano, o Ipea vai tirar nova fotografia do Brasil e veremos cada vez mais brasileiros e suas famílias vivendo em ambientes insalubres, precários e degradantes.

Leia mais: Total equivale a 34,5% da população urbana do Brasil, segundo dados do Ipea.

Entre os anos de 1992 e 2007, o número de pessoas que vivem em favelas em áreas urbanas passou de 4,914 milhões para 6,979 milhões

A população favelada no Brasil aumentou 42% nos últimos 15 anos e alcança quase 7 milhões de pessoas, segundo análise do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) de 2007.

Em 1992, havia 4,914 milhões de pessoas morando em favelas em áreas urbanas (3,2% da população brasileira). Em 2007, esse número passou para 6,979 milhões (3,8% da população).

Grande parte dessas pessoas está concentrada nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio. Há 1.565 favelas em São Paulo, segundo a prefeitura.

Com base nos vários itens de monitoramento das condições de moradia, que levam em conta, por exemplo, o acesso a serviços de saneamento, o material de construção usado e até o número de pessoas que dormem por cômodo, o Ipea concluiu que 54,6 milhões pessoas nas cidades vivem em situação inadequada. Isso equivale a 34,5% da população urbana.

O problema que atinge o maior número de pessoas é a falta de esgotamento sanitário. São mais de 30 milhões de pessoas nas cidades sem acesso a rede de esgoto.

Ao Ipea cabe acompanhar o cumprimento das Metas de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidas em 2000 pelos países membros da ONU (Organização das Nações Unidas).

A análise divulgada ontem mostra dificuldades do Brasil em relação aos compromissos na área de moradia, afirmou Maria da Piedade Morais, da coordenação de estudos setoriais urbanos do instituto. "É uma meta problemática."

Em relação ao crescimento das favelas, ela insistiu: "A política habitacional não está conseguindo resolver esse problema". Segundo a economista, há problemas metodológicos para a contabilidade da população que vive em favelas e os números apontados pela Pnad podem estar subestimados. "A metodologia do IBGE não contabiliza como favela assentamentos precários com menos de 50 casas", disse.

Aluguel — No período entre 1992 e 2007, a maioria dos indicadores vinculados às condições de moradia no país melhorou, com exceção do número de brasileiros que vivem em favelas e que têm gastos considerados excessivos com aluguel. Segundo a análise divulgada ontem, 3,4% dos moradores de áreas urbanas -ou 5,4 milhões de pessoas- gastam mais de 30% da renda com o aluguel.

Nas metrópoles, o Distrito Federal registra a pior situação. O percentual da população que compromete mais da terça parte da renda com aluguel na capital (6,9%) supera o de São Paulo (4,8%) e o do Rio (4,5%).