quarta-feira, 30 de março de 2011

"José Alencar é desses imprescindíveis", Ricardo Patah, presidente da UGT

Nota de pesar da União Geral dos Trabalhadores, UGT: falecimento do ex-vice-presidente José Alencar


É com pesar e profunda consternação que lamentamos o falecimento do ex-vice presidente da República José Alencar, 79 anos, ocorrido na tarde desta terça-feira, dia 29. Poucos homens na história deste país podem, como ele, servir de exemplo de luta, determinação e amor pela vida.

Bertold Brecht, famoso dramaturgo alemão, tem um poema que diz:
“Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons; ?Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons; ?Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda; ?Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis”.

José Alencar é desses imprescindíveis. Que essa trajetória de luta, sirva de exemplo a todos que almejam um mundo mais justo para todos.

A todos seus familiares o nosso profundo pesar.

Ricardo Patah, presidente nacional da UGT

Alencar morre aos 79 vítima de câncer

(Folha de S. Paulo)
Vice de Lula foi internado pela última vez anteontem, em SP; passou por 17 cirurgias em 15 anos de luta contra a doença. Corpo será velado hoje em Brasília e amanhã em Belo Horizonte; caixão será levado em carro aberto ao Planalto.

O vice-presidente da República José Alencar Gomes da Silva (PRB) morreu ontem aos 79 anos, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, vítima de câncer.
Empresário, ele entrou para a política aos 62 anos e se tornou conhecido nacionalmente na campanha presidencial de 2002.
Em 15 anos, passou por 17 cirurgias. Sua luta contra a doença, marcada por declarações de fé e otimismo, comoveu o país.
Ele foi internado pela última vez anteontem e morreu às 14h41 de ontem, com falência de múltiplos órgãos.
O corpo será velado hoje no Palácio do Planalto, em Brasília, e amanhã no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. O enterro estava previsto para o Cemitério do Bonfim, na capital mineira.
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula anteciparam a volta de Portugal para participar das homenagens no país.
O vice Michel Temer, que estava no exercício da Presidência, decretou luto oficial de sete dias. A medida foi seguida por diversos Estados.
A chegada do corpo a Brasília está prevista para as 9h15, na Base Aérea, onde haverá recepção com honras militares.
O caixão será levado em carro aberto até o Planalto, que será aberto ao público às 10h30. Dilma e Lula devem chegar à capital às 17h.

REAÇÕES
Apesar de a saúde de Alencar ter piorado nos últimos meses, a notícia da sua morte surpreendeu o governo e o Congresso.
O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) foi avisado por repórteres, durante uma entrevista coletiva.
Dilma havia embarcado na véspera para sua primeira viagem oficial à Europa, motivada pela entrega ao antecessor do título de doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), interrompeu sessão solene para homenagear o ex-vice.
Na Câmara, os deputados fizeram um minuto de silêncio em plenário. O presidente Marco Maia (PT-RS) cancelou todas as sessões marcadas até o fim da semana.
Em todo o país, políticos da bancada governista e da oposição se uniram em homenagens ao ex-vice.
Em razão da doença, Alencar desistiu de se candidatar a novo mandato no Senado e não conseguiu participar da posse de Dilma, em janeiro.
Nos últimos meses, foi visitado no hospital pela presidente, por Lula e por ministros do novo governo.
Casado com Mariza Campos Gomes da Silva, ele deixa três filhos com a mulher: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia.
Corre um processo, ainda não concluído, no qual Rosemary de Morais pede para ser reconhecida como filha de Alencar com a enfermeira Francisca de Morais.
Em julho do ano passado, o juiz José Antonio de Oliveira Cordeiro, de Caratinga (MG), permitiu que ela passasse a usar seu sobrenome.
Alencar negava a paternidade e se recusou a fazer exame de DNA. Ele insinuou que a mãe de Rosemary era prostituta e obteve liminar suspendendo a decisão.

DOENÇA
O ex-vice lutava contra o câncer desde 1997, quando teve extraídos um rim e parte do estômago. Em 2002, extirpou um câncer de próstata.
Seu quadro se agravou em 2006, quando foi descoberto um sarcoma (tumor mais violento) no retroperitônio.
Foi operado em julho daquele ano, mas o tumor voltou. Em janeiro de 2009, passou por cirurgia de 17 horas, para a retirada de vários tumores -um deles com 12 cm.
Tentou tratamento experimental nos Estados Unidos, sem sucesso, e voltou à quimioterapia no Brasil.
No ano passado, Alencar foi internado diversas vezes. Sofreu um infarto em novembro e teve que passar o Réveillon no hospital.
Teve alta em 15 de janeiro para receber homenagem da Prefeitura de São Paulo, em cadeira de rodas. Foi sua última aparição pública. (Folha)

Alencar, crítico da política de juros do Banco Central e empresário de sucesso

O Globo

Político que não se importava em tecer críticas à política de juros praticada pelo Banco Central durante o governo do qual fez parte e empresário de sucesso, José Alencar Gomes da Silva nasceu no lugarejo de Itamuri, município de Muriaé, na Zona da Mata mineira, no dia 17 de outubro de 1931. Ele morreu aos 79 anos às 14h41m desta terça-feira de falência múltipla de órgãos em decorrência do câncer.

Era casado com Mariza Campos Gomes da Silva e deixa três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia. ( Veja em fotos a trajetória de José Alencar )

Filho de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva, já aos sete anos Alencar começou a trabalhar para ajudar o pai em sua loja. Quando fez 14 anos, foi trabalhar como balconista na loja de tecidos "A Sedutora". Pouco tempo depois, tendo recebido proposta mais vantajosa, transferiu-se para Caratinga, onde continuou a trabalhar de balconista.

Aos 18 anos, emancipado pelo pai, estabeleceu-se como comerciante, com a lojinha "A Queimadeira", cujo nome foi sugerido por um viajante português, o senhor Lopes, sob o curioso argumento de que "se fosse um bar, seria Bar Cristal; mas não é um bar, então é "A Queimadeira", porque vai vender barato...". Ali se vendia de tudo um pouco: tecidos, calçados, chapéus, guarda-chuvas, sombrinhas, etc. Alencar notabilizou-se como um grande vendedor, tanto neste último emprego, quanto no anterior.

Sempre contando com o apoio dos irmãos, José Alencar manteve sua loja até 1953, quando decidiu vendê-la e mudar de ramo. Teve negócio na área de cereais por atacado e participou de uma sociedade em uma fábrica de macarrão.

Ao fim de 1959, morre Geraldo, seu irmão. José Alencar assume, então, os negócios deixados por Geraldo na empresa União dos Cometas.

Fundada por Alencar, Coteminas tem 16 mil funcionários e exporta para vários países

Em 1963, construiu a Companhia Industrial de Roupas União dos Cometas, que mais tarde passaria a se chamar, Wembley Roupas S.A. Em 1967, em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, Alencar fundou, em Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, Coteminas. Em 1975, inaugurava a mais moderna fábrica de fiação e tecidos que o país já conheceu.

A Coteminas cresceu e hoje são 16 mil funcionários divididos em onze unidades que fabricam e distribuem os produtos. São fios, tecidos, malhas, camisetas, meias, toalhas de banho e de rosto, roupões e lençóis para o mercado interno, para os Estados Unidos, Europa e Mercosul.

Alencar ajudou a quebrar a resistência do empresariado contra Lula

José Alencar foi ainda presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), do Sesi, do Senai, e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Candidatou-se às eleições para o governo de Minas em 1994 e, em 1998, disputou uma vaga no Senado, elegendo-se com quase três milhões de votos.

Seu excelente trânsito entre o empresariado foi fator fundamental para que, em 2002, filiado ao então PL, fosse escolhido candidato a vice-presidente da República na chapa do petista Luiz Inácio Lula da Silva, que já havia sido derrotado em três eleições presidenciais e procurava quebrar resistências a seu nome no meio empresarial. A chapa Lula-Alencar saiu vitoriosa.

Ao contrário da discrição de seu antecessor, Marco Maciel, José Alencar deu diversas declarações polêmicas nos anos em que exerceu a vice-presidência da República, principalmente quando pedia a queda da taxa de juros e mudanças na política econômica empreendida pelo então ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Nosso discurso de campanha não assumiu o poder. Nós seguimos a política econômica que estava aí e da qual éramos contra

"O nosso discurso de campanha (da coligação PT-PL) não assumiu o poder. Nós seguimos a política econômica que estava aí e da qual éramos contra", dizia ele.

Em setembro de 2005, após esgotar seus esforços para tentar a fusão do PL com o PP e o PTB, anunciou a saída do Partido Liberal, legenda que esteve envolvida no escândalo do mensalão. Semanas depois, após fincar um pé no PMDB e receber sondagens de mais cinco partidos, tomou uma decisão surpreendente ao aderir ao Partido Republicano Brasileiro (PRB), nova nomenclatura do Partido Municipalista Renovador (PMR), criado por evangélicos, notadamente da Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo. Com ele, entrou no partido o filósofo Roberto Mangabeira Unger, que depois chefiaria durante dois anos a Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Lula.

Alencar acumulou as funções de vice-presidente e de ministro da Defesa

A partir de 2004, passou a acumular a vice-presidência com o cargo de ministro da Defesa. Por diversas oportunidades demonstrou-se reticente quanto à sua permanência em um cargo tão distinto de seus conhecimentos empresariais. Mas, a pedido do presidente Lula, exerceu a função até março de 2006, quando precisou renunciar para cumprir as determinações legais com o intuito de poder participar das eleições presidenciais daquele ano.

Mas por muito pouco não foi retirado da chapa de Lula à reeleição. O petista chegou a negociar a vaga com partidos aliados, principalmente o PMDB, mas como não houve consenso entre os aliados acabou optando pelo velho companheiro, que foi obrigado a passar por constrangimentos meses a fio com as articulações que pipocavam nos jornais sobre a vaga de candidato a vice-presidente. Disposto a colaborar, Alencar acabou aceitando a missão, apesar de sua saúde já dar sinais de maior debilidade.

No segundo ano do governo, Alencar defendeu publicamente a atuação da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que na época era pressionada a conceder licenças ambientais para obras de infraestrutura, classificadas como prioritárias para o novo governo Lula. Marina seria substituída por Carlos Minc no ministério em 2008.

- Ela é uma grande brasileira e tem condições excepcionais de ajudar o Brasil na preservação do meio ambiente sem prejuízo para o crescimento - disse Alencar

Quando eu cheguei, o presidente disse assim: você é o cara. E eu disse: não, eu sou o vice-cara

O político também dispensou uma postura corporativa quando criticou, ainda em 2006, os gastos da administração pública. Ele citou como exemplo as viagens de autoridades e disse que poderiam ser mais baratas para os cofres públicos, assim como as suas.