quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Vergonha nacional: discriminação contra negros é brutal e precisa ser solucionada

Renda familiar de brancos é mais de duas vezes maior que de negros, mostra Ipea

Em 2005, o Sindicato dos Comerciários de São Paulo pediu ao Dieese uma pesquisa sobre a situação dos negros no comércio varejista de São Paulo. Descobrimos que os negros ganhavam 54,7% do salário dos brancos. Que sofriam uma discriminação brutal e vergonhosa. Num país que da boca para fora repudia o passado escravocrata mas que na prática a reproduz ao manter os negros e negras com salários humilhantes e na maioria das vezes sem sequer ter a chance de ganhar qualquer tipo de renda. A partir de então, o Sindicato dos Comerciários colocou na Convenção Coletiva a obrigatoriedade de o comércio paulistano contratar pelo menos 20% de trabalhadores negros. Mas a luta continua e trabalhamos para sensibilizar governos, cidadãos e consumidores que a democracia brasileira estará prejudicada enquanto tratarmos nossos cidadãos negros com discriminação racial, social e econômica.

Leia mais e se manifeste exigindo que a igualdade racial no Brasil vá alem dos discursos:

 A renda das famílias brancas é, em média, 2,06 vezes maior que o rendimento das famílias negras. Essa é a conclusão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base em cruzamentos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007. O estudo afirma que, entre 1986 e 2000, essa diferença foi estável em 2,4 vezes, mostrando que em 2007 houve apenas uma pequena queda.

- O fato das famílias brancas receberem pouco mais de duas vezes o rendimento das famílias negras é um dado preocupante e reforça a existência de uma desigualdade estrutural e histórica no país - lamentou o pesquisador do Ipea Mário Thedoro.

O fato das famílias brancas receberem pouco mais de duas vezes o rendimento das famílias negras é um dado preocupante e reforça a existência de uma desigualdade estrutural e histórica no país

Em uma projeção otimista, o Ipea afirma ainda que, se esse ritmo se mantiver, a igualdade racial na renda familiar só será atingida em 21 anos, em 2029. Porém, segundo o pesquisador do Ipea Mário Theodoro, nem isso deve acontecer, já que os programas sociais já estão no limite. Esses mecanismos são focados na população pobre, estrato onde está a maior parte dos negros, e quase todos que deles podem se beneficiar já estão incluídos. Para Theodoro, o Brasil deveria ter novos programas focados diretamente na população negra.

O estudo do Ipea mostrou ainda que a pequena diminuição da diferença entre brancos e negros se deve em 72% à melhor distribuição geral de renda no país. Apenas 28% dizem respeito a ganhos adicionais de fato dos negros.

A pobreza é predominantemente negra e a riqueza é predominantemente branca

Mas a redução da desigualdade até agora não pode ser atribuída à redução da discriminação racial necessariamente, segundo o Ipea. Por causa do grande percentual de negros nas camadas mais pobres da população, a melhoria na distribuição geral da renda teve reflexos diretos na redução de desigualdades por raça.

" É possível que que a redução da razão de rendas não seja conseqüência de uma redução nas práticas discriminatórias e sim do fato de negros serem maioria entre os beneficiários do Programa Bolsa Família, dos benefícios previdenciários indexados ao salário mínimo, do Benefício de Prestação Continuada e dos outros mecanismos de redução da desigualdade geral", mostra o relatório do Ipea.

Segundo a análise, 72% da queda da desigualdade de renda entre negros e brancos se deve à redução generalizada da desigualdade na sociedade brasileira e apenas 28% aconteceu em razão da mobilidade social dos negros, com migração para para classes mais altas. A ausência de políticas de ação afirmativa "de grande envergadura" é apontada pelo Ipea como causa principal desse desequilíbrio.

"A pobreza é predominantemente negra e a riqueza é predominantemente branca", ressalta o estudo.

Governo diz que vai socorrer empresas e que quadro no país não é "devastador"

Existe uma orquestração vergonhosa de empresários que apostaram no cassino da especulação em dólar e que já tentam criar o ambiente para sensibilizar o governo brasileiro a pagar seus prejuízos. A UGT é contra e vai trabalhar contra em todos os níveis de sua influência. Hoje mesmo vamos distribuir uma nota contra tais articulações. Quando os jogadores (travestidos de empresários) especularam e ganharam com o dólar, o fizeram na calada da noite, acumulando vastos lucros. Agora, nas vacas magras, tentam criar o clima para que o governo pague a conta. Como você lerá abaixo, o FGTS também perdeu em suas aplicações. Nem por isso, reivindicamos que o governo cubra o buraco. O que exigimos, ao longo dos anos é a reformulação da Lei 8.036, que pune os investimentos do FGTS com 3% mais TR, que é uma vergonha e gera prejuízos estrondosos para o património dos trabalhadores.

Leia mais e fique atento aos chamados de mobilização da UGT:

O governo já se prepara para socorrer empresas que estejam em dificuldades causadas por apostas erradas no mercado de câmbio. As informações do Planalto são que entre 220 e 250 companhias correm o risco de sofrer grandes prejuízos com derivativos cambiais que apostavam na continuidade do dólar baixo. "O governo não vai deixar nenhuma empresa desassistida, mas também não vai passar a mão na cabeça de ninguém", disse o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia. Segundo ele, se forem necessárias, serão tomadas "medidas legais, com todas as garantias".

Nas últimas semanas, várias empresas anunciaram grandes perdas com a aposta na queda da moeda americana, entre elas a Sadia, com prejuízos de R$ 760 milhões, a Aracruz, que perdeu R$ 1,95 bilhão, e a Votorantim, com perda de R$ 2,2 bilhões. Garcia confirmou que a estimativa do governo é que outras 200 empresas estejam em situação de risco. No entanto, observou que o quadro "não é devastador".

Crise afetou FGTS aplicado em ações, mas manteve ganho — A queda da bolsa provocou, nos últimos cinco meses, perda de metade do rendimento acumulado até maio deste ano pelos trabalhadores que investiram parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) nos fundos de ações da Petrobrás e da Companhia Vale do Rio Doce.

Os cálculos feitos pelo Instituto FGTS Fácil, ONG que monitora o patrimônio, revelam, entretanto, que ainda assim a aplicação ganhou de longe do rendimento do fundo, corrigido pela Taxa Referencial, mais 3% ao ano. A análise levou em conta os dias de pico do valor das ações das duas empresas. Em 19 de maio deste ano, as ações da Vale atingiram seu valor mais alto, um rendimento acumulado de 1.464,94% desde abril de 2002, quando foi autorizado o uso do fundo na compra de ações.

De maio até ontem, as cotações caíram 57%, restando um rendimento acumulado de 624,37% - muito superior ao obtido pelo FGTS desde abril de 2002, de 42,57%.

No caso da Petrobrás, a compra de ações foi permitida em agosto de 2000. Até 21 de maio deste ano, os fundos FGTS-Petrobrás se valorizaram 1.346,31%. Até ontem, houve perda de 46%, mas o rendimento acumulado foi de 719,04%, ante 54,98% das cotas do FGTS.

O presidente do FGTS Fácil, Mário Avelino, afirma que, apesar da queda, a melhor opção é manter a aplicação. "Sempre que há muita volatilidade, orientamos a não vender as ações", afirmou Avelino.

Pagamento no cartão pode ter aumento

Acho que os senadores estão em alguma viagem espacial, completamente fora do mundo. Onde já se viu diferenciar os valores cobrados dependendo se o pagamento for feito com Cartão de Crédito ou dinheiro vivo? A concorrência entre as empresas de cartão de crédito e das lojas que os utilizam resolve isso. 

Leia mais: Projeto que prevê valor diferente para pagamento em dinheiro passa no Senado

Prática comum no comércio, cobrança diferenciada entre formas de pagamento é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor

A Comissão do Meio Ambiente e Defesa do Consumidor do Senado aprovou ontem projeto de lei que permite a cobrança de preços diferenciados para pagamento à vista, em dinheiro, ou com cartão de crédito. A proposta, que foi aprovada em caráter terminativo, agora segue para apreciação da Câmara dos Deputados e, se aprovada, vai à sanção presidencial.

Atualmente, o Código de Defesa do Consumidor veda a diferenciação de preço de acordo com a forma de pagamento. Na prática, no entanto, muitos estabelecimentos comerciais driblam a proibição legal e acabam concedendo descontos para pagamentos em dinheiro, o que, na prática, equivale a um preço maior para compras pagas com cartão de crédito.

A tramitação do projeto pode não contar com a simpatia do governo, já que um grupo formado pelos ministérios da Fazenda e da Justiça e pelo Banco Central vem estudando um conjunto de mudanças na regulação do setor de cartão de crédito no país.

Entre as alterações analisadas pelo grupo, está a ampliação da infra-estrutura dos serviços para permitir que bandeiras regionais passem a atuar nacionalmente. Não há prazo para conclusão dos trabalhos.

Preço menor — De acordo com o autor da proposta, senador Adelmir Santana (DEM-DF), a medida forçará as administradoras de cartão de crédito a reduzirem as taxas cobradas dos comerciantes.

Segundo ele, isso pode resultar, em alguns casos, na diminuição do preço final dos produtos em 12%.

"Hoje, o comerciante embute no seu custo o credenciamento, o aluguel de equipamentos e os 30 dias que leva para receber o dinheiro. Com a diferenciação, o preço pode baixar 10% a 12%, dependendo do tamanho e da qualidade do estabelecimento", afirma Santana.

O senador pondera que os custos das operadoras de cartão de crédito para os comerciantes inscritos no SuperSimples, por exemplo, são equivalentes à carga de impostos. Santana reconhece que a proposta pode encontrar resistências na Câmara.

"Vamos pressionar a Frente Parlamentar de Defesa do Comércio Varejista para conseguir agilizar e aprovar a medida", disse o senador, que preside a Fecomércio-DF (Federação do Comércio do Distrito Federal).

A proposta aprovada pela Comissão de Meio Ambiente e Defesa do Consumidor já tinha sido apreciada pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Não há prazo para que seja votada na Câmara dos Deputados.

Brasil vai produzir diesel de cana-de-açúcar a partir de 2010

Uma boa notícia se a tecnologia resultar em um diesel barato que substitua o usado por caminhões de carga, principalmente, os que dentro das cidades poluem nossos pulmões e prejudicam nossa saúde.

Leia mais: Tecnologia, criada por empresa americana, será usada pela primeira vez em usina paulista

O mesmo caldo de cana que serve como matéria-prima para a produção de açúcar e álcool servirá em breve, também, para a produção de diesel. A nova tecnologia, desenvolvida pela empresa Amyris, da Califórnia, vai ser colocada em prática no interior paulista em 2010, em sociedade com a Votorantim Novos Negócios e a Usina Santa Elisa, de Sertãozinho. A meta é produzir 400 milhões de litros no primeiro ano e 1 bilhão de litros, em 2012.

O processo é muito parecido com o da produção de álcool combustível, que utiliza leveduras - um tipo de fungo microscópico - para fermentar os açúcares presentes na cana e secretar etanol. A diferença crucial - que foi a grande inovação produzida pela Amyris - está no DNA da levedura, que foi geneticamente modificada para secretar diesel no lugar de álcool.

"Não é biodiesel. É diesel mesmo", diz o biólogo Fernando Reinach, diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios (VNN), fundo de investimento de risco do Grupo Votorantim, que financiou parte da pesquisa. O resultado da fermentação é uma molécula chamada farneceno, com 12 átomos de carbono, que tem todas as propriedades essenciais do diesel de petróleo, mas nenhuma da indesejadas, como a mistura de enxofre - um poluente altamente prejudicial à saúde.

Enquanto o diesel de petróleo - e mesmo o biodiesel de óleos vegetais - contém uma mistura de várias moléculas combustíveis, o diesel de cana tem apenas o farneceno, que pode ser usado diretamente no motor. "É um combustível super puro", disse o diretor-executivo da Amyris, o português John Melo, que esteve em São Paulo ontem para anunciar o projeto.

O diesel de cana-de-açúcar - além de ser livre de enxofre, o que reduz o impacto sobre a poluição urbana - é renovável em relação ao carbono que emite para a atmosfera, o que reduz o impacto sobre o aquecimento global. A exemplo do que já ocorre com o etanol, o CO2 que sai do escapamento é reabsorvido, via fotossíntese, pela nova cana que está brotando no campo. Quando a cana é colhida, o carbono é convertido novamente em combustível, reemitido, reabsorvido e assim por diante.

Mais informação no Estadão

 

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Governo descobre, finalmente, setores de varejo e de serviços

Governo quer política para varejo e serviços

O governo demorou demais para perceber que os setores de varejo, comércio e serviços agora lideram na abertura de empresas, na geração de empregos e de renda para o Brasil. Apesar de ser uma decisão que se toma tarde demais, temos que incentivar o governo federal a acelerar as medidas. Vale o ditado antes tarde do que nunca. E vamos aproveitar para ressaltar os aspectos desburocratizantes, gerar facilidade para abrir e também para encerrar empresas, ter acesso a financiamento bancário para os empreendedores que geram emprego e riquezas para o Brasil e para os brasileiros.

Leia mais: Plano terá os mesmos moldes da política industrial

O governo pretende lançar em até cinco meses uma política de desenvolvimento específica para os setores de comércio e serviços, nos mesmos moldes da que foi anunciada para a indústria, em maio passado.

O diagnóstico do Ministério do Desenvolvimento é que esses segmentos enfrentam excesso de burocracia, informalidade e maior dificuldade para obtenção de crédito.

"Identificamos esses gargalos. Agora, será preciso destravá-los", afirmou ontem o secretário de Comércio e Serviços do ministério, Edson Lupatini Jr.

Entre as metas da Política de Desenvolvimento dos Setores de Comércio e Serviços, como foi batizada a proposta, está o combate à informalidade e a implementação de um sistema informatizado que permita a abertura de empresas em, no máximo, seis dias.

BC vai liberar até R$ 100 bi para o sistema financeiro

E tem gente que dizia que era apenas uma marolinha a crise internacional. Infelizmente, as bolhas que os especuladores e agiotas criaram no mundo deixam agora uma conta enorme para os governos do mundo inteiro pagarem. Temos que controlar aqui no Brasil os espertalhões de plantão, que se aproveitam de toda crise para tirar vantagens.

Leia mais: Governo anuncia novas regras de liberação de depósitos compulsórios dos bancos para combater efeitos da crise mundial, como a falta de liquidez

Diante dos sinais de agravamento da falta de recursos no sistema financeiro, o Banco Central adotou uma postura mais agressiva para injetar dinheiro na economia, com o anúncio de novas regras para a liberação de depósitos compulsórios - parte dos recursos captados pelos bancos junto aos clientes que têm de ser recolhidos ao BC. Ontem pela manhã, a autoridade monetária anunciou um programa para liberar até R$ 100 bilhões dos compulsórios.

O valor não ficará disponível de imediato e o cronograma para a liberação desses recursos não foi divulgado, mas as alterações já adotadas para algumas modalidades de compulsório vão injetar no mercado, no curto prazo, cerca de R$ 47 bilhões. Essa é a quarta vez que o BC libera dinheiro dos compulsórios em menos de um mês, uma indicação de que as ações tópicas até agora não foram suficientes para debelar a paralisia do crédito no mercado.

Duas medidas entraram em vigor ontem mesmo. Uma delas permitiu a elevação de R$ 300 milhões para R$ 1 bilhão do valor de dedução do compulsório adicional incidente sobre depósitos à vista (conta corrente), a prazo (como CDBs) e poupança. A decisão deve colocar R$ 8 bilhões no sistema financeiro.

A outra medida já implementada pode irrigar o mercado com R$ 20 bilhões: as operações de compra de dólares nos leilões do BC vão poder ser descontadas no recolhimento compulsório que incide sobre os depósitos bancários das empresas de leasing. O benefício vale apenas para os leilões em que há compromisso de revenda dos dólares para o BC.

E será gerado apenas durante o período da operação de câmbio - entre o leilão de venda do BC e a data estipulada para a recompra. Este abatimento será no valor total da aquisição dos dólares pela instituição financeira.

Na prática, ao tornar mais atrativos os leilões de dólares do BC, essa medida incentiva o giro de mais moeda estrangeira no mercado - o que pode contribuir para reverter a subida das cotações do dólar das últimas semanas.

O BC também anunciou o aumento de R$ 700 milhões para R$ 2 bilhões do abatimento permitido no caso do compulsório principal que incide sobre o volume de depósitos a prazo nas instituições financeiras, que hoje tem uma alíquota de 15%. Essa medida sozinha, que entrará em vigor na próxima sexta-feira, dia 17, injetará R$ 13,1 bilhões no sistema.

Outra medida permite que um maior número de bancos possa usufruir do programa de venda de carteiras (ver abaixo). Com isso, outros R$ 6 bilhões devem voltar ao mercado, dependendo da efetivação das compras de carteiras e títulos pelas instituições financeiras. A medida também entra em vigor em 17 de outubro.

Para o economista-chefe do banco Itaú, Tomás Málaga, as medidas anunciadas pelo BC são bem-vindas porque o custo de captação de recursos subiu muito, dificultando o funcionamento adequado do mercado de crédito. "As medidas devem ajudar a desatar esse nó. Elas foram bem apropriadas e devem fazer com que volte a fluir a liquidez. Precisava de uma atitude mais proativa", disse o economista, destacando que o agravamento da crise exigia medidas adicionais por parte do BC.

Para o economista e ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas as medidas mostram a seriedade da crise financeira. "As medidas são robustas, fortes. As decisões devem incentivar o fluxo de recursos", disse Freitas. Para ele, o anúncio pode indicar que as medidas adotadas anteriormente não surtiram efeito. "É preciso ficar atento para que o problema de liquidez não se torne de solvência, que é muito grave. O BC quer extirpar esse tumor antes que crise de liquidez evolua para uma crise de solvência", afirmou.

CMN vai discutir pacote de apoio para o setor rural

A agricultura é prioridade. O financiamento agrícola também. Mas requer, mesmo na crise, acompanhamento de perto, afinal somos o país com uma das maiores áreas agriculturáveis do mundo. Que deve ser usado como reserva estratégica para ajudar o Brasil a enfrentar e superar a atual crise global.

Leia mais: O Conselho Monetário Nacional (CMN) deve fazer uma reunião extraordinária amanhã para injetar mais recursos no crédito rural, informou ontem o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. O pacote pretende "melhorar a condição do crédito agrícola" e garantir o plantio da nova safra de grãos, afirmou o ministro, após reunir-se com o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Mário Scheiner.

Entre as medidas estão a liberação de recursos dos depósitos compulsórios dos bancos para serem direcionados à agricultura. O ministro defende a liberação de um valor entre R$ 3,6 bilhões e R$ 5 bilhões.

No começo do mês, diante da falta de crédito provocada pela crise financeira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a antecipação de R$ 5 bilhões do Tesouro para o Banco do Brasil, principal financiador do agronegócio. Agora, o reforço de caixa vai para os bancos privados, como forma de compensar o retração das trading companies, empresas que financiam a agricultura por meio da compra antecipada da safra.

Outra medida esperada é a reclassificação do risco das operações de crédito rural, para permitir que bancos reduzam taxas e aumentem os financiamentos. Outro pedido é a prorrogação para maio de 2009 do prazo para pagar dívidas no total de R$ 5 bilhões.

Perda cambial atinge mais de 200 empresas, diz governo

A UGT continua atenta. A crise cambial que atinge as empresas que especularam com o dólar é problema delas, exclusivamente. Como foram os lucros que acumularam ao longo da fase especulativa que deu certo, lá para eles. Não tivemos nenhuma notícia de tentativa de dividir com o povo brasileiro os estrondosos lucros. Agora não é hora de buscar a guarida do governo para socializar os prejuízos.

Leia mais e fique atento: Previsão é que novos prejuízos milionários com derivativos sejam anunciados

Grandes companhias como Sadia, Votorantim e Aracruz já informaram prejuízos com apostas erradas no mercado futuro

O governo tem informações de que pelo menos 220 empresas estão em situação de risco devido a apostas erradas feitas no mercado de câmbio e poderão sofrer perdas milionárias, a exemplo do que ocorreu com a Votorantim, a Sadia e a Aracruz, entre outras. Não é possível ainda precisar o número de companhias expostas à desvalorização do real, já que nem todas as operações foram registradas no Banco Central e nenhuma delas procurou o governo em busca de socorro.

Fontes da comitiva do governo à conferência do Ibas (grupo formado por Índia, Brasil e África do Sul), que teve início ontem em Nova Déli, repetiram a crítica feita pelo presidente Lula às empresas que transformaram suas tesourarias em "instrumentos de especulação". E disseram que não haverá resgate do governo a quem deixou de lado sua atividade produtiva para se lançar em ações especulativas.

O governo tem recebido informações de que o número de empresas que enfrentam dificuldades por apostar que o dólar continuaria em queda estaria entre 220 e 250, bem mais que o estimado inicialmente.

Na última sexta-feira, o grupo Votorantim comunicou que teve perdas de R$ 2,2 bilhões em operações de câmbio, o maior prejuízo divulgado por uma empresa brasileira desde o início da crise de crédito. Antes disso, a Sadia já havia reconhecido prejuízo de R$ 760 milhões pelo mesmo motivo, e a Aracruz, de R$ 1,9 bilhão.

Crédito "empoçado" — Alguns setores no Brasil já sentem com mais força o impacto da crise do crédito e da desvalorização do real. Segundo o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, um dos mais castigados é o das montadoras de automóveis.

Elas sofrem duas vezes em sua relação com as locadoras, explicou o ministro, que ontem abriu a conferência do Ibas. No primeiro golpe, pela queda na demanda. No segundo, porque as locadoras revendem os carros que haviam comprado com o objetivo de alugar, competindo de forma desleal com as montadoras no mercado de carros usados.

O ministro criticou os bancos por estarem retendo recursos que deveriam estar "irrigando" o mercado de crédito. Miguel Jorge lembrou que o governo tomou medidas como a redução do depósito compulsório para aumentar a liquidez no mercado, mas o dinheiro continua sendo retido pelos bancos, agravando a crise do crédito.

"Os bancos estão empoçando o dinheiro que deveria estar irrigando o mercado de crédito", disse Jorge. Já a valorização do dólar abala os setores que têm forte dependência de produtos cotados na moeda americana, como é o caso do farmacêutico.

Taxa de empréstimo pessoal é a mais alta desde 2003, diz Procon

Os clones de Meirelles que reclamam dos juros altíssimos são os primeiros a enfiar a mão no bolso dos correntistas, ávidos para acumular lucros. Que fique bem claro para os banqueiros agiotas de plantão que não terão o apoio dos trabalhadores brasileiros caso venham a sucumbir, com problemas de liquidez ou de insolvência, nos próximos meses. Vamos avaliar, também, como lidam com os seus trabalhadores que estão em greve e merecem a reposição da inflação e dos lucros astronómicos que os banqueiros conseguiram no último ano.

Leia mais: A taxa média de juros cobrada no empréstimo pessoal chegou neste mês ao patamar mais elevado dos últimos cinco anos, segundo pesquisa realizada pela Fundação Procon-SP com dez instituições financeiras do país e divulgada ontem.

O resultado é reflexo do crédito mais restrito e mais caro, conseqüência da crise financeira internacional, e da decisão do Banco Central de aumentar os juros básicos da economia em setembro, segundo afirmam economistas.

A taxa média de juros cobrada nos empréstimos pessoais passou de 5,76% ao mês em setembro para 6,04% neste mês -acréscimo de 0,28 ponto percentual. Esse é o maior nível médio medido para essa modalidade de financiamento desde junho de 2003, quando chegou a 6,22% ao mês. No acumulado do ano, os juros no empréstimo pessoal passaram de 95,71% para 102,16%.

"Aumentou a demanda por crédito no sistema interno e ao mesmo tempo diminuiu a oferta de recursos disponíveis aos bancos. A concessão de financiamentos está mais seletiva, com prazos mais curtos e taxas maiores. Esse aperto de liqüidez no sistema financeiro vem ocorrendo desde janeiro", afirma o economista Roberto Troster, sócio da consultoria Integral-Trust.

Quatro entre os dez bancos pesquisados elevaram os juros cobrados no empréstimo pessoal. As principais altas ocorreram no Real (subiu de 5,9% em setembro para 7,95% em outubro), no Safra (de 5,90% passou para 6,90%) e no Itaú (de 6,64% passou para 6,89%).

O governo estuda também conceder benefícios fiscais e discutir linhas de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para o setor, assim como fez na formulação da política industrial.

Em relação ao BNDES, porém, ainda haverá certas restrições. Isso porque o financiamento do capital de giro -a maior demanda do varejo- está fora do âmbito de ação do banco. "Achamos que isso deve ser financiado pelo sistema tradicional", disse o superintendente da área de indústria do BNDES, Julio Ramundo.