quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Hora de cerrar fileiras em torno das ações governamentais para superar a crise econômica

Crise se agrava e governo age

A UGT antecipou a crise com realismo. Antecipamos a dimensão e a gravidade. O governo brasileiro apesar de tratar a catástrofe como marola, está agindo, agora, corretamente. Com velocidade que a situação exige, assumindo a responsabilidade executiva para a qual foi eleito. E pensando, em última instância, na proteção dos amplos setores da população, os trabalhadores, os correntistas e os consumidores. Vamos superar essa crise. Com muito trabalho, serenidade e patriotismo. A ação do governo brasileiro e do presidente Lula se fez necessária e urgente diante da indiferença e neutralidade do sistema financeiro privado, no Brasil. Algo que não surpreende a quem como nós da UGT conhece o estilo de ave de rapina dos emplresários do setor bancário e dos demais setores, que tradicionalmente, pensam e agem pensando apenas no próprio bolso. E não souberam ainda perceber que essa crise mundial afetará fortemente o Brasil e os brasileiros. E exigirá de todos nós o sentimento de pátria, o comprometimento com a Nação a disposição de cerrar fileiras em torno do governo brasileiro para acelerar a solução de uma crise gravíssiva.

Leia o que foi publicado hoje no jornal Valor Econômico, que serenamente se ateve aos fatos: O Brasil teve ontem um de seus piores dias desde que a crise financeira se agravou. Apesar das intervenções do Banco Central, o dólar subiu muito de novo - 6,67%, para R$ 2,38 - e já avançou 25% no mês. Os juros no mercado futuro dispararam, especialmente nos contratos mais longos, com investidores mais preocupados em zerar posições do que em antecipar os movimentos da política monetária. O risco-Brasil deu um salto de 26,6%, para 671 pontos. A Bolsa perdeu 10,18%, após ser acionado uma vez o "circuit breaker". Os mercados começaram em queda desde a manhã, quando o governo anunciou a Medida Provisória nº 443, que abre aos bancos oficiais a possibilidade de comprar participações acionárias em instituições financeiras privadas.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, qualificou a medida como preventiva. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que não há bancos quebrando, mas admitiu que continuam os problemas de liquidez em algumas instituições. A Fazenda enviou ontem ao presidente Lula proposta de isenção de IOF em operações de câmbio para ingresso de recursos de investidor estrangeiro nos mercados financeiro e de capitais e também nas operações de câmbio para ingresso e saída de recursos do país referentes a empréstimos e financiamentos realizados a partir de 23 de outubro.

A escassez de linhas externas se agravou e o saldo do fluxo cambial até o dia 17 era negativo em US$ 3,751 bilhões. Houve saída líquida de US$ 5 bilhões pelo câmbio financeiro, um déficit que geralmente é coberto pelo saldo comercial. O problema agora é que não só as linhas para a exportação foram significativamente reduzidas - em 55%, até o dia 10, se consideradas as médias diárias do mesmo período de setembro -, como os exportadores não estão comparecendo com vigor com os dólares decorrentes do câmbio não financiado. Até o dia 17, eles somaram US$ 4,7 bilhões, ante US$ 9,9 bilhões em setembro e US$ 5,5 bilhões no mesmo período de outubro do ano passado. A soma desses dois movimentos mostrou que o câmbio comercial de exportação atingiu no período US$ 7,5 bilhões, ante US$ 19,2 bilhões em setembro e US$ 10,2 bilhões de outubro de 2007.

A interrupção das linhas externas, do fluxo de dinheiro e a crise financeira se refletiram no rápido encolhimento do crédito. O financiamento bancário caiu nos primeiros dias do mês, enquanto se agravava a crise. O volume de operações para pessoas físicas caiu 13% nos oito primeiros dias do outubro, na comparação com o mesmo período de setembro. Para as empresas, a redução foi de 12,8%. O volume de crédito, até o dia 10, encolheu 0,2% - expurgada a desvalorização cambial de 19,5% no mês, que distorce o resultado.


Bancários aceitam proposta e encerram greve em SP e DF

Os bancários da UGT e das demais centrais souberam, mesmo no ambiente de crise do sistema financeiro, negociar a recomposição dos seus salários. Foi uma boa negociação diante do ambiente que vivemos. Mas muito longe, ainda, do que os banqueiros acumularam de ganho no último ano, com ajuda e participação direta dos bancários. Banqueiros que de tudo fizeram para prejudicar os rendimentos dos trabalhadores bancários, que souberam com serenidade e determinação arrancar o que foi possível para a categoria. 

Leia mais: Em SP, funcionários da Caixa decidiram manter paralisação.

Em Brasília, trabalhadores do BRB continuam parados.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e o Sindicato dos Bancários de Brasília anunciaram nesta quarta-feira (22) que decidiram pelo fim da greve, que durava 15 dias.

Em São Paulo, a categoria entrou em acordo com a Federação dos Bancos (Fenaban) e aceitou o reajuste salarial de 10% para quem ganha até R$ 2,5 mil e de 8,15% para as demais faixas salariais.

A decisão dos funcionários da Caixa Econômica foi parcial; eles encerraram a greve em algumas cidades, como Brasília, mas mantiveram em outras, como São Paulo. Os trabalhadores reivindicam Participação nos Lucros e Resultados (PLR) diferenciada e esperam a reabertura das negociações.

Segundo a Agência Brasil, a greve acabou também em cidades como Porto Alegre, Curitiba e Belém. Em Brasília, os trabalhadores da categoria do BRB optaram por manter a greve e devem participar de nova rodada de negociações nesta quinta, às 14h, segundo o sindicato local.

Em São Paulo, o reajuste de 8,15% também será aplicado aos vales alimentação e refeição, ao auxílio-creche ou auxílio-babá e à 13ª cesta-alimentação. O acréscimo já vale para novembro.

Os desconto dos dias parados - de 30 de setembro a 22 de outubro - deverá ser definido por cada banco até o dia 15 de dezembro. Se depois desse dia, o desconto não for compensado, os funcionários serão anistiados.

Os bancários do Banco do Brasil, além da proposta geral da categoria, também entraram em acordo com exigências específicas, como a implantação sem ônus para os funcionários de um plano odontológico até 30 de junho do próximo ano.

Eles também conseguiram um reajuste de 10% no Plano de Cargos e Salários (PCS). As comissões até R$ 2.500 serão reajustadas em 10%, acima desse valor serão corridas em 8,15%.


Mais notícias sobre a crise

 

Mantega sobre MP: 'Não há banco quebrando'

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou nesta quarta-feira que os bancos do país estejam a beira de um colapso. A declaração foi feita durante coletiva de imprensa em Brasília, para esclarecer a medida provisória 443, recém-publicada no Diário Oficial da União.

Com a MP, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal poderão comprar, diretamente ou por meio de subsidiárias, participações em instituições financeiras com sede no Brasil. Na prática, isso poderá levar à estatização de alguns bancos que eventualmente estejam em dificuldades.

Mantega justificou a medida como uma forma de dar "mais uma alternativa" ao mercado. "Quero deixar claro que não há banco quebrando", afirmou. "O sistema financeiro brasileiro está sólido; é um dos mais sólidos do mundo, justamente porque é menos alavancado, mais prudente e mais rentável. Só que isso não o isenta de ter problemas de liquidez. Estamos apenas criando um conjunto de alternativas e irrigando o sistema para que o país não tenha problemas e estamos dando conta disso", justificou o ministro.

A autorização para a estatização dos bancos provocou especulações, já que o governo tem insistido que só serão anunciadas medidas pontuais quando houver necessidade, ou seja, quando a quebra de instituições for iminente. Durante a coletiva, Mantega limitou-se a dizer que as medidas foram criadas para evitar eventuais dificuldades que bancos pequenos e médios possam enfrentar por falta de dinheiro em caixa.

"A idéia é não interromper a liquidez da economia brasileira. O problema da liquidez está dado. É claro que isso pode trazer falta de liquidez para algumas instituições, de médio porte, de pequeno porte."

Segundo Mantega, a exemplo do previsto nos pacotes de resgate da Europa e dos Estados Unidos, os eventuais bancos estatizados dentro das novas regras poderiam, posteriormente, ser revendidos à iniciativa privada. Com a MP, poderão ainda ser privatizadas seguradores, instituições de previdência privada e de capitalização. Compareceu também à coletiva desta quarta, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.


Caixa poderá comprar participação acionária de construtoras, diz Mantega

Com isso, governo também será sócio de empresas de construção.

Segundo Mantega, objetivo é capitalizar empresas e manter obras.

O governo federal autorizou, nesta quarta-feira (22), a Caixa Econômica a comprar a participação acionária de construtoras, segundo informou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A MP 443, publicada no Diário Oficial da União, também autoriza a Caixa e o Banco do Brasil a comprarem participação de instituições financeiras em dificuldades, ou seja, a estatizar instituições privadas.

Fazenda, Guido Mantega, do Planejamento, Paulo Bernardo, e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Medida semelhante já foi adotada pelo governo dos Estados Unidos, que comprou participações em algumas instituições financeiras, como as empresas Freddie Mac e Fannie Mae, ligadas ao crédito imobiliário - cerne da crise financeira atual.

"É como hoje faz o BNDES. O BNDESpar pode ter participação acionária das empresas e foi muito útil no período de consolidação das empresas brasileiras. Quando eram mais frágeis, o BNDES participava. Isso significa capitalizar as empresas para elas levaram adiante seus projetos. Estamos fazendo isso direcionado para o setor de construção. Vai haver uma CaixaPar", informou Mantega a jornalistas, sobre a participação da Caixa Econômica nas construtoras.

Segundo o ministro da Fazenda, essa autorização se deve à crise financeira internacional, que pode interromper o fluxo de capitalização destas empresas. "Diante dessa crise, podemos ter uma interrupção desse fluxo de capitalização. De modo que elas possam ter problemas para dar continuidade aos projetos. Resposta para dar continuidade aos projetos de construção habitacional", disse ele.

O ministro acrescentou que o governo tem dado "importância grande" ao setor imobiliário brasileiro. "É um pólo importante da economia. Tem peso pequeno do ponto de vista do PIB. Do ponto de vista do financiamento, estamos falando de algo como de 3% a 3,5% do PIB. Outros países têm 30%, 40% ou até 50% do PIB. Portanto, essa medida vem no sentido de reforçar o setor habitacional", concluiu.

Instituições financeiras — Também nesta quarta-feira o governo anunciou que a Caixa, e o Banco do Brasil, poderão adquirir instituições financeiras em dificuldades. Essa já é a segunda medida adotada pelo governo federal para dar apoio a instituições financeiras com problemas de caixa. A primeira foi a MP 442, que autoriza o Banco Central a comprar a carteira de crédito de instituições financeiras com problemas de caixa.

Já a MP 443, divulgada hoje, informa que o BB e a Caixa, os dois principais bancos públicos do país, poderão fazer este tipo de operação diretamente ou por intermédio de suas subsidiárias. As instituições que poderão ser compradas são públicas ou privadas. A autorização inclui ainda empresas do ramo de seguro, previdência e capitalização, entre outros. Nos processos, será dispensada a licitação.

"A realização dos negócios jurídicos mencionados [compra de participações de outros bancos] poderá ocorrer por meio de incorporação societária, incorporação de ações, aquisição e alienação de controle acionário, bem como qualquer outra forma de aquisição de ações ou participações societárias previstas em lei", informa o texto da MP.


MP terá efeito psicológico positivo sobre bancos privados, dizem analistas

A MP (medida provisória) publicada nesta quarta-feira que permite aos bancos federais realizarem aquisições de outros bancos sem necessidade de licitação terá mais efeito psicológico do que prático, disseram nesta quinta-feira analistas ouvidos pela Folha Online.

Segundo eles, as medidas da MP facilitam bastante a compra de pequenos bancos e carteiras de crédito pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal, mas terá como meta principal fazer com que os bancos privados saiam da letargia em que se encontram desde o estouro da crise de liquidez, há cerca de três semanas.

"Elas [as medidas] ajudam um pouco [a colocar liquidez no mercado]. Mas tem mais efeito psicológico do que prático", analisa Alcides Leite, economista da Trevisan Escola de Negócios. "É mais um sinal dado pelo governo de que estão tentando fazer de tudo para amenizar esse problema, já que os bancos oficiais sozinhos não têm o poder de resolver."

Com a medida, diz Leite, os bancos serão "provocados" para reagir e retomar a concessão de crédito, que está prejudicada pela falta de confiança nos clientes e nos próprios pares. "Os bancos estão todos retraídos. Com os bancos oficiais avançando, ganharão participação no mercado e eles [bancos privados] terão que se mexer", analisa.

Para Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), os bancos privados se verão pressionados. "Se eles não quiserem perder mercado, terão que partir para a mesma prática e buscar aquisições e também emprestar mais dinheiro aos seus clientes", disse.

Na prática, o principal desdobramento que a MP trará, segundo Leite, é a aquisição da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil. As duas partes já conversavam há cerca de seis meses, mas a crise financeira "esfriou" o negócio. Essa possibilidade, inclusive, já foi levantada hoje pelo vice-presidente financeiro do BB, Aldo Mendes.

Oliveira vê a MP como um ótimo negócio para os bancos oficiais. "É uma boa oportunidade que eles terão para ganhar mercado", disse. Porém, alerta para o risco de ocorrer concentração no mercado bancário. "Se o BB ou a Caixa comprar dez bancos pequenos, causará um desequilíbrio."

Os dois analistas ainda ressaltam que as possíveis compras poderão trazer um bom resultado futuro aos bancos. "O preço hoje está baixo. Para eles vale a pena comprar e vender mais tarde, quando o mercado estiver mais calmo", disse Leite.

Para efetuar essa compra, o BB e a Caixa poderão contratar empresas avaliadoras especializadas, informa o texto da MP, por meio de processo de consulta de preço, sempre observada a compatibilidade com o mercado.

Quebra de bancos — O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou também nesta quarta que exista alguma instituição financeira "quebrando". "O sistema financeiro brasileiro é sólido, mas tem problemas de liquidez. Se não tivesse esse problema, o Banco Central não estaria devolvendo compulsório e permitindo a compra de carteiras de crédito. Estamos irrigando o sistema para que não haja problemas", disse ele a jornalistas.

Segundo ele, a medida anunciada nesta manhã responde à uma necessidade momentânea de liquidez, por conta da crise financeira, e, posteriormente, poderá ser revertida.


ÍNTEGRA DA MP 443

A MP 443/2008 autoriza o Banco do Brasil S.A. e a Caixa Econômica Federal a constituírem subsidiárias e a adquirirem participação em instituições financeiras sediadas no Brasil, e dá outras providências. Leia a íntegra, a seguir.

O presidente da República, no uso da atribuição que lhe confere o artigo 62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:

Art. 1º - O Banco do Brasil S.A. e a Caixa Econômica Federal ficam autorizados a constituir subsidiárias integrais ou controladas, com vistas ao cumprimento de atividades de seu objeto social.

Art. 2º - O Banco do Brasil S.A. e a Caixa Econômica Federal, diretamente ou por intermédio de suas subsidiárias, poderão adquirir participação em instituições financeiras, públicas ou privadas, sediadas no Brasil, incluindo empresas dos ramos securitário, previdenciário, de capitalização e demais ramos descritos nos artigos 17 e 18 da Lei no 4.595, de 31 de dezembro de 1964, além dos ramos de atividades complementares às do setor financeiro, com ou sem o controle do capital social, observado o disposto no art. 10, inciso X, daquela Lei.

1º Para a aquisição prevista no caput, o Banco do Brasil S.A. e a Caixa Econômica Federal poderão contratar empresas avaliadoras especializadas, mediante procedimento de consulta simplificada de preços, na forma do regulamento, observada sempre a compatibilidade de preços com o mercado.

2º Na hipótese prevista no caput, percentual do preço a ser desembolsado na operação de aquisição de participação societária poderá ser apartado para depósito em conta aberta junto à instituição financeira adquirente, para fazer frente a eventuais passivos contingentes não identificados, ficando o Banco do Brasil S.A. ou a Caixa Econômica Federal, conforme o caso, autorizado a debitar a referida conta sempre que identificado algum passivo dessa ordem, nos termos fixados no contrato de aquisição.

Art. 3º A realização dos negócios jurídicos mencionados nos artigos. 1º e 2º poderá ocorrer por meio de incorporação societária, incorporação de ações, aquisição e alienação de controle acionário, bem como qualquer outra forma de aquisição de ações ou participações societárias previstas em lei.

Art. 4º Fica autorizada a criação da empresa Caixa - Banco de Investimentos S.A., sociedade por ações, subsidiária integral da Caixa Econômica Federal, com o objetivo de explorar atividades de banco de investimento, participações e demais operações previstas na legislação aplicável.

Art. 5º - Fica dispensada de procedimento licitatório a venda para o Banco do Brasil S.A. e Caixa Econômica Federal de participação acionária em instituições financeiras públicas.

Art. 6º - Fica o Banco Central do Brasil autorizado a realizar operações de swap de moedas com bancos centrais de outros países, nos limites e condições fixados pelo Conselho Monetário Nacional.

Art. 7º - Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 21 de outubro de 2008

Luiz Inácio Lula da Silva, Guido Mantega, Paulo Bernardo Silva, Henrique de Campos Meirelles

(22/10/2008)

 

 


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Diante dos efeitos da crise internacional, UGT vai continuar em alerta, apoiar iniciativas do governo e vigiar as aplicações das medidas

Governo não vai socorrer empresas, diz Mantega

A atitude da UGT diante das iniciativas que o governo  Lula vem tomando para criar barreiras ao tsunami da crise mundial, que chegará, é apoiar e vigiar. Vamos apoiar as boas iniciativas, entre elas a decisão de não repassar dinheiro público para salvar as empresas que especularam com dólar e com aplicações arriscadas em bolsa. Mas vamos ficar atentos para que não se criem medidas que prejudiquem as empresas que apostaram na produção, na exportação e na geração de empregos e que em função da crise internacional estejam passando por dificuldades. Bom senso e critérios que levem em consideração cada caso, mas que sejam rigorosos com os especuladores e agiotas de plantão.

Leia mais: O governo federal não vai socorrer as empresas brasileiras endividadas em dólar por meio do mercado de derivativos (mercado futuro da Bolsa de Mercadoria e Futuros - BM&F), segundo informou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta terça-feira (21) na Câmara dos Deputados.

"Teve prejuízo. Agora tem que arcar com o prejuízo. O governo não vai arcar com nenhum tostão. Não colocaremos recursos", disse Mantega no Congresso Nacional. Segundo sua análise, é normal que algumas empresas registrem prejuízo quando há uma virada grande na taxa de câmbio. Acrescentou, porém, que as empresas são "sólidas e capazes de arcar com seu prejuízo". "Na relação com os bancos, poderão se acertar e tocar a vida adiante", acrescentou.

Desconfiança — Até o momento, os exemplos mais conhecidos de empresas que registraram perdas com posições ligadas a derivativos em dólar são a Sadia, a Aracruz e a VCP. Entretanto, analistas temem que outras companhias tenham os mesmos problemas, embora ainda não tenham vindo a público informá-los - o que gera desconfiança no mercado acionário.

O ministro da Fazenda disse ainda que a regulação do mercado de derivativos pode ser melhorada. "Sempre há maneiras de outra brecha que pode ser encontrada. E temos de fechar essas brechas. Não sabemos de fato qual é o volume de prejuízo dessas empresas que fizeram operações com derivativos", admitiu Mantega.

Construção civil — Ele negou ainda que o governo esteja pensando em dar algum tipo de socorro às empresas ligadas ao ramo de construção civil. Segundo o ministro, o que está sendo considerado é a liberação de linhas de crédito, como já foi feito para o setor agrícola e para o financiamento às exportações.

"As indústrias construtoras têm crédito do FGTS. E desses recursos teremos linhas de crédito normais", afirmou. Em sua apresentação, consta que será criada uma de uma linha de crédito de até R$ 3 bilhões para financiar capital de giro e consolidação de empresas de capital aberto no ramo de construção de residências.

Sem pacote — O ministro Mantega repetiu ainda que não haverá pacote para combater os efeitos da crise financeira internacional na economia brasileira. Segundo ele, o governo continuará se pautando por meio da edição de "respostas objetivas" aos problemas, à medida em que eles forem aparecendo.

"Em nenhum momento, subestimamos a crise. Acompanhamos desde o seu início e disse que ela seria prolongada. As crises têm oscilações. Alguns momentos de bonança e outros de menor tensão. Nunca vendi ilusões de que a crise seria passageira. Em um primeiro momento, era mais leve e havia menos conseqüências", disse ele a parlamentares.

 

BNDES vai virar sócio de construtoras

A iniciativa é necessária, mesmo que copiada das ações semelhantes adotadas na Europa e nos Estados Unidos. Mas mantendo o critério de apoiar e vigiar a UGT entende a necessidade de se apostar na construção civil, em função do PAC. Mas também quer ver de perto critérios que não deixe nas mãos do governo as partes podres das construtoras.

Leia mais e ajude a UGT a vigiar as ações do governo no gerenciamento da crise económica internacional: Pacote que deve ser anunciado hoje prevê a concessão de empréstimos para capital de giro pela CEF e a capitalização de empresas pelo BNDES

O pacote de medidas de ajuda do governo ao setor da construção civil envolverá o BNDES e a Caixa, num aporte conjunto de recursos para capitalização das construtoras. A Caixa lançará linha de crédito especial voltada a capital de giro; o BNDES subscreverá debêntures e participará do capital de empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores.

O governo ainda não bateu o martelo em torno do valor do pacote, que pode ir de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões, para desembolso imediato. As medidas, delineadas há uma semana, aguardam a aprovação dos ministérios do Planejamento e da Fazenda e aval do presidente Lula. Se o sinal verde for dado hoje, as medidas serão anunciadas na abertura do 80º Encontro Nacional da Indústria da Construção, em São Luiz (MA). No encontro, Lula será representado pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Caixa e BNDES devem dividir meio a meio o ônus financeiro do programa. Segundo fontes ligadas às negociações, o objetivo do programa, além de permitir a conclusão de empreendimentos imobiliários já iniciados, é facilitar fusões e aquisições. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) há em torno de 100 mil construtoras no País, dos mais variados portes. Apenas 25 são listadas em Bolsa.

A participação do BNDES se restringiria às companhias de capital aberto, com limite de participação acionária. Seria uma linha também de capital de giro, mas por meio de debêntures conversíveis em ações. Na modelagem, há cláusulas que definem a saída do banco e também proteções para evitar conversão em época de desvalorização dos papéis, como a atual.

O banco não quer ser acionista de construtoras e muito menos ter participação relevante no capital, dizem fontes que participaram da formatação das medidas. O papel do BNDES será o de fortalecer as empresas para a transição entre a crise e a normalidade de mercado, evitando quebradeira no setor.

Crédito recuou 13% devido à crise, afirma Meirelles

A UGT por ter vinculações muito próximas com o setor de comércio e serviços já vinha alertando seus parceiros e sindicatos filiados a respeito da redução do crédito. Os setores de serviços e comércio são a primeira peça do dominó a cair em qualquer crise. Ainda mais com a atuação dos operadores de crédito para o comércio que são mais ávidos que o Meirelles quando o assunto é aumentar juros.

Leia mais: O agravamento da crise nos mercados internacionais levou os bancos brasileiros a reduzirem em 13% a concessão de crédito no país nos primeiros oito dias úteis de outubro, segundo informou ontem o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Apesar da queda, ele argumentou que a situação não é preocupante, pois o volume disponibilizado pelas instituições financeiras ainda está acima do registrado em 2007.

Ainda não há números fechados pelo BC para o comportamento do crédito de setembro para cá. O crescimento acumulado entre janeiro e setembro estava em 18%. Nos 12 meses fechados em agosto, houve um aumento de 31,8%. Em valores absolutos, o volume de crédito fechou agosto em R$ 1,11 trilhão, equivalente a 38% do PIB (Produto Interno Bruto).

Já o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que o governo poderá tomar "medidas fiscais adicionais" em reação aos efeitos da crise internacional. Ao lado de Meirelles, Mantega expôs, no plenário da Câmara, o diagnóstico oficial do governo sobre o alcance da crise e as providências já adotadas para enfrentar a escassez de crédito e a disparada do dólar.

O ministro se defendeu das críticas da oposição de que estaria subestimando os impactos no Brasil. "Eu não acredito que esta crise esteja acabando. Ainda vai nos dar muita dor de cabeça e muito trabalho."

Rebateu, também, os ataques do PSDB e do DEM ao aumento dos gastos públicos. "Estamos dando um sinal fiscal forte", disse, em referência ao aumento promovido neste ano na meta de superávit primário (a parcela das receitas destinada ao abatimento da dívida pública), que passou de 3,8% para 4,3% do PIB mesmo antes do agravamento da crise. "Se preciso for, tomaremos medidas fiscais adicionais", acrescentou, sem deixar claro se mencionava a permanência da nova meta.

Meirelles fez uma apresentação mais técnica, em que procurou demonstrar a queda da vulnerabilidade do país -porque o setor público passou de devedor a credor externo e tem cerca de US$ 200 bilhões em reservas. Desse total, recordou, US$ 8,5 bilhões foram vendidos ao mercado nos últimos 30 dias, fora o equivalente a US$ 14,4 bilhões pagos em moeda nacional em operações igualmente destinadas a conter a alta do dólar. "Pela primeira vez, o Brasil tem um dos melhores desempenhos entre os países afetados por uma crise."

Mantega tratou de articular também o discurso político do governo: deu atenção especial à afirmação de que "a crise é mais grave do que as ocorridas nos anos 90", ou, nas entrelinhas, às crises ocorridas durante o governo FHC e usadas pelos hoje oposicionistas como justificativa para o mau desempenho econômico do período.

Para Sebrae, pequena empresa já sente aperto do crédito — O presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, disse ontem que as micro e pequenas empresas já sentem mais dificuldade para ter acesso ao crédito devido a crise financeira mundial. "Os bancos estão aumentando suas taxas de juros", afirmou.

Segundo Okamotto, alguns setores poderão ter aumento do custo da produção, principalmente os que dependem de importações. "Vamos monitorar como está o acesso ao crédito para as micro e pequenas empresas e reivindicar do governo medidas específicas."

Sobre os dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria) de que os micro e pequenos empresários estão mais confiantes que os grandes, Okamotto diz que "a confiança pode ser maior, mas o crédito fica mais caro para pessoas físicas e pequenas empresas".

54,6 milhões vivem no país em moradia inadequada

Há décadas o Brasil já deveria ter investido na construção de casas populares. Para não chegarmos a esta situação constatada pelo Ipea. Se vamos atacar o problema de moradia, que o façamos com a busca de escala, com a produção de casas populares acessíveis à renda dos trabalhadores e que batalhemos para que o trabalhador e sua família tenham emprego e renda para poder pagar as prestações. Senão, ano após ano, o Ipea vai tirar nova fotografia do Brasil e veremos cada vez mais brasileiros e suas famílias vivendo em ambientes insalubres, precários e degradantes.

Leia mais: Total equivale a 34,5% da população urbana do Brasil, segundo dados do Ipea.

Entre os anos de 1992 e 2007, o número de pessoas que vivem em favelas em áreas urbanas passou de 4,914 milhões para 6,979 milhões

A população favelada no Brasil aumentou 42% nos últimos 15 anos e alcança quase 7 milhões de pessoas, segundo análise do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) de 2007.

Em 1992, havia 4,914 milhões de pessoas morando em favelas em áreas urbanas (3,2% da população brasileira). Em 2007, esse número passou para 6,979 milhões (3,8% da população).

Grande parte dessas pessoas está concentrada nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio. Há 1.565 favelas em São Paulo, segundo a prefeitura.

Com base nos vários itens de monitoramento das condições de moradia, que levam em conta, por exemplo, o acesso a serviços de saneamento, o material de construção usado e até o número de pessoas que dormem por cômodo, o Ipea concluiu que 54,6 milhões pessoas nas cidades vivem em situação inadequada. Isso equivale a 34,5% da população urbana.

O problema que atinge o maior número de pessoas é a falta de esgotamento sanitário. São mais de 30 milhões de pessoas nas cidades sem acesso a rede de esgoto.

Ao Ipea cabe acompanhar o cumprimento das Metas de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidas em 2000 pelos países membros da ONU (Organização das Nações Unidas).

A análise divulgada ontem mostra dificuldades do Brasil em relação aos compromissos na área de moradia, afirmou Maria da Piedade Morais, da coordenação de estudos setoriais urbanos do instituto. "É uma meta problemática."

Em relação ao crescimento das favelas, ela insistiu: "A política habitacional não está conseguindo resolver esse problema". Segundo a economista, há problemas metodológicos para a contabilidade da população que vive em favelas e os números apontados pela Pnad podem estar subestimados. "A metodologia do IBGE não contabiliza como favela assentamentos precários com menos de 50 casas", disse.

Aluguel — No período entre 1992 e 2007, a maioria dos indicadores vinculados às condições de moradia no país melhorou, com exceção do número de brasileiros que vivem em favelas e que têm gastos considerados excessivos com aluguel. Segundo a análise divulgada ontem, 3,4% dos moradores de áreas urbanas -ou 5,4 milhões de pessoas- gastam mais de 30% da renda com o aluguel.

Nas metrópoles, o Distrito Federal registra a pior situação. O percentual da população que compromete mais da terça parte da renda com aluguel na capital (6,9%) supera o de São Paulo (4,8%) e o do Rio (4,5%).