quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Negociar suspensão de contrato com exigências sólidas de estabilidade e de manutenção das vagas

Governo já teme enxurrada de suspensões de contratos de emprego

(Postado por Marcos Afonso de Oliveira) É uma situação que também preocupa a UGT pois conhecemos de perto as espertezas dos empresários que tentam jogar para os cofres públicos a banda podre de suas próprias empresas, repassando parte  do gasto de preservação de sua mão-de-obra para o FAT, através do seguro desemprego. Tem que existir normas claras, com garantia de manutenção dos postos de trabalho e estabilidade para os empregados das empresas que se beneficiarem direta ou indiretamente dos recursos públicos. Lembrando ainda, que haverá um prejuízo substancial ao recolhimento do FGTS e ao INSS. OU seja, sem contrapartida social, sem análise caso a caso, é muito perigoso generalizar o uso do dinheiro público para salvar empresas.

Leia os dois textos a seguir: Ministério do Trabalho estuda medidas para controlar uso do FAT para pagar salários durante dispensa temporária

Temeroso de uma enxurrada de suspensões de contratos de trabalho no País por causa da crise econômica internacional, o Ministério do Trabalho pretende apertar os controles e aumentar as exigências para que as empresas possam recorrer a esse mecanismo, já previsto na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) desde 1999. O temor do governo é que uma onda de acordos entre empresas e sindicatos possa comprometer os recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), que fica responsável pelo pagamento dos salários dos trabalhadores durante a suspensão.

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, anunciou ontem que, apesar de estar em vigor no Brasil há dez anos, a interrupção temporária dos contratos, com pagamento de uma bolsa qualificação aos empregados, carece de regulamentação. Segundo ele, os "novos critérios" para utilização desse instrumento devem ser fixados pelo Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), órgão formado por governo, empresários e trabalhadores para gerir os recursos do FAT.

"Não vamos mudar a lei, mas agir para evitar abusos." O ministro disse que as novas exigências podem sair até o fim do mês, mas não deu detalhes. Adiantou apenas que poderão ser feitas exigências mínimas quanto aos cursos de qualificação que devem ser oferecidos pelo empregador durante a suspensão do contrato, como número de horas/aula e objetivos dos cursos. Hoje, não existem exigências.

"Minha preocupação é evitar que o FAT seja um fundo de amparo aos empresários - e também garantir que não seja contra o trabalhador", disse Lupi, para quem, se não houver uma regulamentação, "todo mundo vai ficar usando isso". Nesta semana, duas grandes empresas - a fabricante de eletrônicos Philips e a montadora francesa Renault - anunciaram acordos com os sindicatos para suspender o contrato de trabalho por até cinco meses. A Philips acertou a suspensão para 460 empregados de Manaus (AM), enquanto o acordo da Renault atingiu mil metalúrgicos da fábrica do Paraná.

A lei exige que as suspensões sejam feitas por acordo com os sindicatos. O acordo deve ser homologado nas Superintendências Regionais do Trabalho e constar nas carteiras de trabalho dos empregados. Nesse período, os trabalhadores devem fazer cursos de qualificação profissional financiados pelo patrão e podem pedir nos postos do trabalho uma bolsa entre R$ 415 a R$ 776.

Para a empresa, a grande vantagem é ser dispensada de recolher encargos sociais e de pagar os salários durante o período de suspensão. Daí o temor do governo que o mecanismo seja usado indiscriminadamente.

A suspensão temporária foi criada por lei em 1999. Desde então, 54,3 mil contratos de trabalho foram suspensos pelas empresas dentro do que é previsto na lei. No entanto, disse Lupi, tudo estava sendo feito de "forma automática", sem regulamentação. "O que queremos é fixar quais os caminhos que terão de ser cumpridos para que o instrumento possa ser utilizado." (Mais informações no Estadão)

Suspensão de vagas pode custar ao menos R$ 2 bi ao governo — O aumento no número de empresas que suspendem empregos para evitar demissões, a exemplo do que fez a Renault nesta semana, pode gerar de R$ 2,2 bilhões a R$ 10,5 bilhões de gastos adicionais com seguro-desemprego, segundo estudo da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

A interrupção do trabalho está prevista na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e pode ser aplicada desde 1999. O mecanismo é chamado de Bolsa-Qualificação e conhecido como "layoff". As empresas que o adotam precisam, em contrapartida, treinar seus funcionários. A suspensão deve ser aceita pelo trabalhador. Em outras ocasiões, o dispositivo foi usado, por exemplo, pelas indústrias calçadista e moveleira.

A pesquisa, encomendada pela Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo e coordenada pelos pesquisadores Hélio Zylberstajn e Eduardo Zylberstajn, estima que os efeitos da crise para o Brasil podem provocar um aumento de 100 mil a 800 mil no número de beneficiados pelo seguro-desemprego -seja na modalidade Bolsa-Qualificação, seja em caso de demissões.

No pior cenário projetado pelos pesquisadores, 35% dos novos desempregados que receberão seguro-desemprego estariam em regime de suspensão do trabalho e 65% dos funcionários teriam de fato perdido o emprego. Nesse caso, considerado improvável pelos pesquisadores, o gasto adicional seria de R$ 10,5 bilhões.

Hélio Zylberstajn diz que o governo tem condições de arcar com uma alta no gasto. Segundo ele, mesmo se a suspensão passar de cinco meses (como é hoje) para dez meses (proposta da Secretaria do Emprego de SP), o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) teria recursos. O gasto adicional nessa hipótese seria de R$ 4,3 bilhões a R$ 21,5 bilhões até 2010.

Em 2008, os recursos destinados à Bolsa-Qualificação totalizaram R$ 1,2 bilhão -0,92% foi efetivamente empregado.

O secretário de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho, Ezequiel Nascimento, diz que o governo não teme um avanço expressivo de gastos. "O valor disponível é muito superior aos R$ 59 milhões gastos desde 1999. Não imaginamos que o gasto supere o que foi usado em dez anos, mas o FAT tem recursos."

O secretário diz, entretanto, que a suspensão do emprego não pode ser usada frequentemente. "[O "layoff"] não pode ser oportunisticamente usado para prevenir prejuízos que podem nem sequer acontecer. Essa será uma matéria cujo desaguadouro será a Justiça. Eventuais abusos serão punidos." (Leia mais na Folha)

Até bancos pedem corte nos juros a Meirelles

É uma notícia surreal. Do tamanho do Brasil. Os banqueiros que a cada trimestre publicam balanços com gordíssimos lucros, obtidos em cima de juros estratosféricos e com a cobrança exagerada de tarifas bancárias, agora percebem o perigo da inadimplência (só pode ser isso) e apelam para juros menores. Vamos acompanhar de perto e tentar descobrir as reais causas da conversão dos banqueiros a juros decentes e, por estranho que pareça, é uma demonstração de que temos banqueiros no Brasil apostando no capitalismo de padrão mundial, que tem se destacado por juros mais baixos para ajudar a buscar alternativas às crise financeira global.

Leia mais: Em reunião com governo, empresários apelam por corte nos juros.

Empresários dos setores produtivo e financeiro reunidos com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, apelaram nesta quarta-feira pela redução da taxa de juros, chegando a sugerir a antecipação da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que acontece neste mês. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, houve uma unanimidade sobre a redução dos juros no setor privado, em meio à crise financeira internacional.

- Aconteceu um milagre, o próprio representante dos bancos pediu a antecipação da reunião do Copom para a redução da taxa de juros - comentou a jornalistas.

Os bancos estavam representados pelo presidente do Bradesco, Marcio Cypriano. A taxa de juros está em 13,75% e a próxima reunião do Copom que discutirá uma possível alteração está marcada para os dias 20 e 21. Meirelles evitou dar resposta, segundo os empresários.

" Aconteceu um milagre, o próprio representante dos bancos pediu a antecipação da reunião do Copom para a redução da taxa de juros "

O presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, disse que o encontro do empresariado com o ministro passará a ser mensal. A iniciativa tem como objetivo criar um canal direto entre o governo e o setor privado durante a crise.

- Nesta reunião não foi apresentada uma relação de medidas concretas que o governo vai anunciar - disse Godoy.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady Simão, contou que foi discutido o pacote que o governo deve anunciar nos próximos dias para o incentivo da construção de habitações populares.

A sugestão do setor é que o governo promova por meio da redução de impostos e por investimentos públicos a construção de 8 milhões de unidades em 15 anos, o que corresponde a R$ 350 bilhões.

Simão, que pediu um corte de pelo menos 0,5 ponto percentual na taxa de juros, afirmou que durante a reunião foram discutidos projetos genéricos e que medidas concretas não chegaram a ser debatidas.

Questionado se o governo pediu a manutenção do emprego como contrapartida às medidas, Simão negou.

- Não houve pedido nenhum para evitar demissões, mas está implícito que todas as medidas vão nesse sentido - disse.5

BB prepara injeção de capital no Votorantim

Temos que vigiar essa negociação para que não se transforme em negociata com dinheiro público. O que nos chama a atenção é o fato de o Banco do Brasil ter comprado a Nossa Caixa por um valor inferior aos R$ 7 bilhões que pretende gastar para comprar menos da metade de um banco da família Votorantim. Que como sabemos pela imprensa, busca alternativas para se ajustar à crise mundial, depois de ter perdido bilhões. Vamos vigiar e avaliar de perto um negócio da China para uma empresa que aposta sem nenhum constrangimento no monopólio, entre eles o do cimento, que tem seu preço pela hora da morte, inflacionando os custos da construção civil brasileira.

Leia mais: Negociações avançaram no final do ano, e acordo sobre venda de 49% do banco deve ser anunciado nos próximos dias.

Banco do Brasil deverá ficar como minoritário no Votorantim, mas acordo de acionistas deve garantir uma gestão ativa no banco.

Após quase três meses de negociações, o Banco do Brasil deve anunciar nos próximos dias a compra de 49% do Banco Votorantim, braço financeiro do grupo da família Ermírio de Moraes. O BB deve pagar até R$ 7 bilhões pela participação, devendo injetar um volume que pode chegar a R$ 6 bilhões em dinheiro novo para capitalizar o banco.

As negociações avançaram no final do ano passado, e ambos os bancos acertam agora detalhes sobre o cronograma de desembolsos. O BB também aguarda a conclusão do último balancete do Votorantim, que trará uma posição atualizada sobre a carteira de crédito e demais ativos do banco.

Motivo de resistência dentro do governo no ano passado, o controle do Votorantim deve seguir com a família Ermírio de Moraes. O Banco do Brasil, no entanto, conseguiu incluir no acordo de acionistas uma participação mais ativa, possivelmente compartilhada, na gestão do banco.

Com uma participação minoritária no Votorantim, o BB não poderá consolidar seus ativos em seu balanço -ou seja, a aquisição não muda o ranking dos maiores bancos brasileiros, que seguirá liderado por Itaú/ Unibanco, que soma R$ 575 bilhões em ativos com a fusão anunciada no final do ano passado. Se pudesse somar integralmente os ativos, o BB alcançaria R$ 594 bilhões, contando a posição do Votorantim até setembro, segundo o BC. (Leia mais na Folha)

Após 6 anos, fluxo cambial fica negativo

Com crise, saldo financeiro do país atinge recorde negativo de US$ 49 bi, levando conta total a um déficit de US$ 983 mi em 2008.

Só no 4º tri, saída líquida de dólares na conta financeira vai a US$ 22,8 bi; reservas caem a US$ 193 bi, após pico de US$ 208 bi de setembro

O fluxo de capital externo para o Brasil ficou negativo no ano passado, o que não acontecia desde 2002, segundo dados do Banco Central. Ao longo de 2008, as remessas feitas ao exterior superaram em US$ 983 milhões o volume de dólares que entrou no país no período.

O resultado representa uma forte queda em relação aos US$ 87,5 bilhões recordes que o Brasil recebeu em 2007.

O que chama a atenção é a velocidade com que esse indicador foi afetado pela crise. Até setembro, o fluxo de capital externo para o Brasil em 2008 estava positivo em US$ 17,2 bilhões, mas, no último trimestre, quando o nervosismo nos mercados se intensificou, as saídas líquidas de recursos chegaram a US$ 18,2 bilhões.

O impacto da crise no mercado de câmbio é visto, principalmente, nas chamadas operações financeiras, que incluem empréstimos externos e investimentos estrangeiros, entre outros. Nesse segmento, a saída líquida de recursos nos últimos três meses de 2008 foi de US$ 22,8 bilhões, o que elevou o saldo negativo do ano para US$ 48,9 bilhões, o maior desde 1982, quando o BC começou a divulgar esse tipo de dado.

A situação foi pior porque, ao contrário do que vinha acontecendo nos últimos anos, o comportamento da balança comercial não ajudou a compensar essa fuga de dólares. Por causa das dificuldades dos exportadores para financiar suas vendas, o volume de operações de comércio exterior fechadas no mercado também se retraiu.

Só em dezembro, o total de dinheiro enviado para fora do país por importadores superou em US$ 119 milhões o trazido por exportadores. Foi a primeira vez desde 2001 que esse saldo ficou negativo -entre janeiro e novembro de 2008, ao contrário, o saldo positivo foi, em média, de US$ 4,4 bilhões.

Para tentar combater esse problema, o BC injetou cerca de US$ 20 bilhões no mercado nos últimos três meses, valor que inclui também o volume de dólares destinados a financiar exportadores. Graças a isso, as reservas em moeda estrangeira do país encerraram 2008 em US$ 193,5 bilhões, depois de chegarem ao pico de US$ 208,7 bilhões em setembro.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Discutir estabilidade por um ano para trabalhadores de empresas que peçam ajuda ao governo para sair da crise

Indústria tem a maior queda em 13 anos

(Postado por Laerte Teixeira da Costa) Essa notícia e a seguinte, com a sugestão do Paulo Skaff de redução da jornada são os dois lados da mesma moeda. As grandes empresas no Brasil nunca lucraram tanto como nos últimos cinco anos. Agora, com a crise que as afeta principalmente por não terem feito reservas querem socializar o prejuízo com os trabalhadores. Na condição de vice-presidente da UGT vou sugerir para os companheiros que façamos uma campanha para que se estabeleça em 2009 um ano de estabilidade para os setores em crise, que tenham usado ou queiram ter o direito de usar dinheiro público durante a crise.

Leia mais: Produção industrial sentiu os efeitos da crise financeira global e caiu 5,2% em novembro em relação a Outubro.

A crise internacional caiu como uma bomba sobre a indústria brasileira, que em novembro teve o pior resultado em mais de 13 anos. A produção encolheu 5,2% ante outubro, o maior recuo desde maio de 1995, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os recordes negativos se avolumaram no cenário de reversão brusca para o setor. A queda de 6,2% ante novembro de 2007 foi a maior ante igual mês de ano anterior em sete anos. A indústria de veículos automotores despencou 22,6% ante outubro, o maior tombo em 17 anos.

"Houve um aprofundamento da queda industrial e alargamento dos setores atingidos", avaliou o coordenador de indústria do IBGE, Silvio Sales.

Para ele, os resultados "mostram a excepcionalidade desse momento que atinge a indústria, que é mais intensa em bens duráveis e intermediários, mas se espalha para outros setores e tem a ver com a mudança de cenário na economia mundial, que deteriorou, no Brasil, as expectativas de empresários e consumidores".

Sales destacou a rapidez na piora do desempenho da indústria. Ele exemplificou que, levando em consideração a série com ajuste sazonal (dados ante o mês anterior), houve um recuo acumulado de 7,8% na produção em outubro e novembro, muito intenso para um período tão curto. Segundo ele, uma queda dessa magnitude só ocorreu no período de outubro de 2002 a junho de 2003, ou seja, um tempo muito maior. "Esses dados dão ideia da alteração brusca de cenário sobre o fluxo de produção", disse.

CRÉDITO — O mesmo crédito que vinha impulsionando a indústria desde 2007 foi o principal responsável pela virada em novembro. A produção de bens de consumo duráveis foi, das quatro categorias de uso pesquisadas, a que teve maior impacto, com recuo de 20,4% ante outubro e 22,1% ante novembro de 2007 - mais um destaque negativo, já que queda maior só ocorreu em maio de 1999.

Sales atribui o desempenho do setor de bens duráveis ao fato de ser mais sensível à redução do crédito. A queda foi puxada especialmente, na comparação com novembro de 2007, pelos automóveis (-34,2%). Segundo ele, esse setor foi o mais afetado pela súbita restrição de crédito. Isso desencadeou efeitos como férias coletivas e redução da produção. Houve queda também em eletrodomésticos (12,9%) e celulares (4,6%). (Leia mais no Estadão)

No caso dos veículos automotores (que inclui caminhões e jipes), o coordenador do IBGE observou que a queda na produção "tem um encadeamento com vários setores industriais, como o de autopeças e de aço".

Segundo ele, o desempenho nesses segmentos contribuiu para os resultados ruins na produção de bens intermediários - categoria de maior peso na estrutura industrial, que inclui aço, alimentos, têxteis -, com queda de 3,9% em novembro ante outubro e de 7,5% ante novembro de 2007, sob o impacto também da desaceleração das exportações.

Até mesmo os bens de capital, que vinham puxando a indústria junto com os duráveis e pareciam impermeáveis ao início da deterioração industrial, já apurada nos dados do IBGE de setembro, mostraram forte desaceleração em novembro, com queda de 4% ante outubro, apesar do aumento de 3,6% na comparação com novembro de 2007. (Leia mais no Estadão)

Skaf sugere redução da jornada para evitar alta do desemprego

O que temos que colocar com clareza nas negociações é que os trabalhadores e a UGT em particular não aceita redução de jornada com redução de salários. Se é esse o bode que os empresários querem colocar na sala, já é bom que se saiba que caso venham com propostas espúrias, deixando o prejuízo apenas para os trabalhadores que vamos exigir estabilidade por um ano para todos os empregados das empresas que dependerem de empréstimos públicos.

Leia mais: Paulo Skaf (Fiesp) não recebeu com surpresa a queda da indústria em novembro, assim como também prevê índices ruins em dezembro e no primeiro trimestre deste ano. Para evitar o desemprego, sugere a adoção da redução da jornada com diminuição de salários. Além disso, uma forte redução dos juros. "Não sei por que tanta cerimônia para baixar o juro. Estamos sob ataque de uma crise internacional."

FOLHA - O sr. recebeu com surpresa o resultado da indústria?

PAULO SKAF - Não foi nenhuma surpresa. Quando saiu o resultado de outubro, tínhamos previsto esse índice negativo de novembro. Já sentíamos o efeito da crise internacional. Primeiro, o crédito sumiu e agora começa a reaparecer, mas a um custo muito mais elevado. Não foi à toa que muitas empresas deram férias coletivas. O resultado de dezembro da indústria também será ruim, assim como o de janeiro. A expectativa é de um primeiro trimestre muito difícil.

FOLHA - O sr. teme o aumento do desemprego?

SKAF - Temos que aguardar. A melhor providência a tomar agora é a redução da jornada de trabalho em 20% com a respectiva redução do salário. Isso aumenta a possibilidade de manutenção do emprego. Para atenuar esse problema de ociosidade, estamos oferecendo às empresas um grande pacote de cursos técnicos do Senai de São Paulo para os empregados se especializarem nesse tempo em que tiverem suas jornadas de trabalho reduzidas. Inicialmente são 100 mil vagas adicionais que estamos disponibilizando para diversos cursos, mas podem ser mais. Essa possibilidade de redução de jornada já está prevista em lei e só depende de um acordo das empresas com os sindicatos. Não depende de mudança constitucional nem de flexibilização da legislação trabalhista. O momento é de trabalhar um pouco menos. O trabalhador pode até ganhar um pouco mais quando acabar essa fase de crise. Essa medida não elimina o risco do aumento de desemprego, mas diminui muito.

FOLHA - O que o governo pode fazer para conter a crise?

SKAF - O governo poderia, por exemplo, reduzir impostos, alongar os prazos de pagamento dos tributos e pagar os créditos de ICMS das empresas exportadoras. São medidas mais do que justas. O governo passou os últimos anos aumentando os impostos e apertando os prazos de pagamento, e agora é hora dar um fôlego para as empresas. Mas o foco deve ser o crédito. A redução dos juros e do "spread" (diferença entre a taxa de captação e a cobrada pelos bancos nos empréstimos) é essencial. Não adianta o crédito reaparecer a um custo que pode quebrar as empresas. O que se espera é que o Banco Central baixe a Selic (taxa básica de juros) de forma significativa. (Mais informações na Folha)

Adequação à demanda gera série de acordos entre empresários e funcionários

Começa em Manaus o balão de ensaio de uma situação que deve se alastrar pelo resto do País. Por isso, vamos sugerir uma reunião estratégica especial para tratar das negociações entre trabalhadores e patrões. Como você pode ler a seguir, a Philips vai suspender o contrato de 460 empregados, que passarão a receber seguro desemprego pago pelo governo e afirma que vai complementar os salários. É balela. Na verdade o que vai ocorrer é o contrário, é o governo federal que complementará os salários com recursos do seguro desemprego. A contrapartida que se deve negociar nesta situação, caso se torne uma proposta ampliada para os demais setores, é a garantia de recontratação dos trabalhadores que tiveram o contrato suspenso ao fim dos cinco meses. Ou a estabilidade por um ano, para todos.

Leia mais: Com o fim das férias coletivas de dezembro na indústria, sindicatos e empresas já negociam acordos para ajustar a produção à nova realidade de demanda na economia. É o que mostra a reportagem de Lino Rodrigues e Rodrigo Silva, publicada na edição desta quarta-feira de O Globo.

No Polo Industrial de Manaus, o Sindicato dos Metalúrgicos fechou ontem com a Philips um acordo pelo qual 460 dos seus 1.700 empregados terão suspenso o contrato de trabalho até abril, período em que receberão o seguro-desemprego, sendo que o valor dos salários será complementado pela empresa.

Um acerto ainda mais amplo foi fechado na terça-feira com grandes fabricantes de motos, também em Manaus.

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, os 22 mil empregados dos 19 fabricantes de motocicletas terão a jornada de trabalho reduzida para três dias por semana. Com início previsto para esta quarta-feira, o acordo deve vigorar até 15 de abril. Valdemir Santana, presidente do Sindicato, disse que não haverá diminuição de salário e que as empresas se comprometeram a não demitir nesse período.

Para não reduzir os salários, as empresas receberam incentivos fiscais dos governos federal (que estendeu às motos redução do IPI semelhante à concedida aos automóveis) e estadual, que zerou o ICMS dos fabricantes e o IPVA aos proprietários de motocicletas. (Leia mais em O Globo)

FGTS terá até R$ 2,7 bi extras para habitação

Como sempre, o governo federal injetando recursos dos trabalhadores para manter a economia aquecida e para gerar empregos na construção civil, altamente estratégica para o País.

Leia mais: Montante corresponde à estimativa de aumento da arrecadação líquida em 2008, segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi

Orçamento do fundo para o setor habitacional já tem R$ 11,9 bi garantidos para 2009 e deve passar por reformulação, diz ministro

Dados preliminares da arrecadação líquida do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) apontam para aumento de R$ 2,7 bilhões nos recursos recolhidos das empresas no ano passado em relação a 2007, já descontados os saques realizados pelos trabalhadores. Com base nos números, o ministro Carlos Lupi (Trabalho) disse ontem à Folha que o fundo deverá destinar esse adicional prioritariamente para a habitação neste ano.

"O FGTS terá uma margem de aplicação maior para este ano, colaborando principalmente com o setor da habitação", disse o ministro, acrescentando que, nos próximos meses, o orçamento aprovado para as aplicações do fundo passará por uma reformulação. No já aprovado, o setor habitacional tem garantidos R$ 11,9 bilhões -18% a menos que o autorizado no início de 2008.

De acordo com relatório apresentado pelos técnicos ao ministro ontem, de janeiro a novembro do ano passado, a arrecadação do FGTS alcançou R$ 43,5 bilhões. Em todo o ano de 2007, ficou em R$ 41,6 bilhões. Já os saques promovidos pelos trabalhadores nos 11 meses de 2008 chegaram a R$ 37,4 bilhões, contra R$ 38,4 bilhões ao longo dos 12 meses de 2008.

Com isso, a arrecadação líquida até novembro ficou em R$ 5,9 bilhões. Portanto, o resultado preliminar já é 84% superior ao verificado em 2007 -R$ 3,2 bilhões. "E ainda está faltando dezembro. Esses recursos serão direcionados aos poucos ao orçamento deste ano", afirmou Lupi.

Ele disse que não será só o FGTS que registrará bom desempenho em 2008. A expectativa é que o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) também apresente resultado superior ao de 2007, permitindo mais recursos para investir em micro e pequenas empresas.

"O FAT deverá ter um bom resultado e significa mais dinheiro para o BNDES emprestar às empresas. Queremos vincular essa aplicação principalmente a pequenas empresas, que são responsáveis por mais de 60% dos empregos", afirmou o ministro. (Leia mais na Folha)

IPC fecha 2008 em 6,2%, maior taxa desde 2004

Com o sobe-e-desce das commodities, as quebras de safras e a alta dos aluguéis, a inflação no ano passado para as famílias paulistanas com renda de até 20 salários mínimos foi a maior desde 2004.

O IPC (Índice de Preços ao Consumidor), elaborado pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), fechou 2008 em 6,16%. Apesar da alta no ano, em dezembro os preços se desaceleraram e o índice registrou avanço de 0,16% -foi a menor taxa em 14 meses.

Antonio Evaldo Comune, coordenador do índice, diz que o IPC parou de subir com força em dezembro porque os preços dos alimentos caíram. A alimentação, que tem quase 23% de peso no orçamento das famílias nessa faixa de renda, caiu 0,54% no mês passado. Em 2008, o grupo subiu 9,01%, mas nos últimos seis meses a alta foi de 0,68%.

A queda dos preços das commodities impediu que a inflação fechasse o ano em um patamar acima de 6,5%, segundo Comune.

Comune prevê que o IPC encerre este ano em desaceleração e que o índice registre aumento de cerca de 5%. Para o especialista, com a retração do crescimento global, as cotações das commodities não têm fôlego para repetir a escalada de preços do início do ano passado. O dólar, entretanto, deve pesar mais no índice. (Leia mais na Folha)