quinta-feira, 5 de maio de 2011

Para os trabalhadores o que interessa é o controle imediato da inflação

De olho na inflação, Fazenda quer mudar destino do crédito

Preocupado com a demanda, o Ministério da Fazenda negocia com bancos públicos e privados a transferência de cerca de R$ 2 bilhões em recursos da carteira de crédito, hoje destinada ao consumo, para o financiamento de empreendedores de pequeno porte. Esses recursos podem representar crédito de até R$ 6 bilhões ao ano. Instituída logo no início do governo do ex-presidente Lula, a destinação de 2% do total dos depósitos à vista do sistema bancário para o microcrédito nunca foi cumprida. Os bancos preferem desviar essa exigibilidade para o crédito ao consumo, sob o argumento de que o microcrédito é pouco rentável.

Há uns dez dias a presidente Dilma Rousseff chamou ao Palácio do Planalto os dirigentes dos dois maiores bancos públicos - Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal - para uma reunião. Nesta, ela chamou a atenção de ambos para a importância do microcrédito e para a inoportuna destinação desses recursos ao financiamento do consumo justamente no momento em que o governo quer desaquecer a economia, conforme relato de uma fonte oficial.

Ontem, em conversa com jornalistas, o secretário de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, informou que o governo pretende "formatar um programa que incentive os bancos a migrarem essa carteira de microcrédito de consumo para o empreendedorismo individual". Hoje, cerca de 95% dos recursos decorrentes dessa exigibilidade são destinados ao crédito para consumo.

Holland também confirmou, como antecipou o Valor, que o governo analisa como reduzir a indexação da economia. Ele, porém, garantiu que qualquer alteração não significará "ruptura ou rompimento de contratos", que deverão ser alterados à medida de seus vencimentos. De acordo com ele, antes de qualquer decisão, o governo promoverá uma discussão ampla com a sociedade para descobrir quais preços são "mais persistentes" e como reduzi-los de forma mais suavizada ao longo do tempo. Ele deu como exemplo o setor de serviços, que tem uma variedade maior de indexações, e citou o caso dos aluguéis, que têm parte dos contratos corrigidos pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M). Segundo ele, após ampla discussão, o objetivo seria induzir a mudança nos contratos para outro índice, como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

São dois os objetivos principais da discussão de mudança no crédito. Por um lado, o interesse do governo é ampliar a oferta de recursos destinados a pequenos negócios que possam funcionar como uma porta de saída dos beneficiários dos programas de transferência de renda. Inicialmente, o Ministério da Fazenda analisa como público alvo do programa cerca de 1,1 milhão de microempreendedores individuais, além dos beneficiários do Bolsa Família. Por outro lado, a intenção é reduzir parte dos recursos hoje tomados para o consumo, dentro do microcrédito, colaborando com os objetivos da política monetária, de reduzir a expansão do crédito como medida anti-inflacionária.

Holland comentou que na próxima semana representantes das instituições financeiras participam de uma reunião no Ministério da Fazenda para discutir a condições do redirecionamento dos recursos para o crédito produtivo. As negociações podem abranger a redução da atual taxa de juros de 2% ao mês cobrada nos empréstimos.

Os 2% da exigibilidade totalizam cerca de R$ 3 bilhões. Desse total, cerca de R$ 2 bilhões devem ser direcionados ao microcrédito. Como esse volume pode ser movimentado até três vezes durante o ano, o total pode alcançar R$ 6 bilhões em 12 meses, considerando que o prazo do financiamento varia entre três e quatro meses.

Responsável pela formulação de políticas econômicas sob a responsabilidade da Fazenda, Holland informou que as próximas semanas serão decisivas também para a conclusão da segunda versão da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP2). O programa terá medidas de defesa comercial, de desoneração e de crédito no âmbito da terceira edição do Programa de Sustentação do Investimento.

Duas das medidas a serem anunciadas são a decisão do Ministério da Fazenda de acelerar a devolução de créditos tributários do PIS e da Cofins para as empresas; e o fortalecimento das aduanas por meio da instalação de uma central de valoração aduaneira. Essa central será montada para detectar e barrar, de forma mais rápida, as importações subfaturadas.

Holland considerou que 2011 será um ano de acomodação da economia brasileira. Ele destacou o ressurgimento da inflação no Brasil e em outros vários países, as dificuldades fiscais nas economias desenvolvidas e a abundante liquidez mundial. Ele avaliou que a inflação mensal no país começará a ceder entre maio e junho. (Valor)

Governo desiste de mudança radical no câmbio e usa real forte contra a inflação

Autoridades que defendiam medidas fortes para proteger a indústria, como Mantega, Pimentel e Coutinho, agora aceitam a valorização do real.

O governo decidiu utilizar o câmbio como mais um instrumento de combate à inflação. Depois de sucessivos meses de aplicação de medidas para conter a valorização excessiva do real, os ministros da área econômica, com o apoio da presidente Dilma Rousseff, entenderam que, neste momento, não está na agenda intervenções ousadas para conter a excessiva valorização do real.

A estratégia é aproveitar a cotação do dólar baixo para importar produtos que complementam o consumo interno com preços mais baixo aos consumidores.

Mesmo os auxiliares de Dilma mais preocupados com os efeitos do câmbio forte na indústria - Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Luciano Coutinho (BNDES) - concordaram que não é possível mudar a tendência do câmbio este ano.

Trata-se de uma política que não será oficializada e tampouco pode ser interpretada como orientação para que o Banco Central deixe o câmbio flutuar livremente. O BC, sempre que necessário, fará intervenções para manter a taxa equilibrada.

Para um assessor, "não há muito o que fazer" diante de um cenário em que o dólar se mantém enfraquecido em relação às principais moedas. "Não podemos ficar de medida em medida", disse. Por isso, a necessidade de "dar um tempo" no debate sobre novas medidas para conter a excessiva valorização do real e aproveitar o dólar fraco para focar no combate à inflação.

Ontem, o dólar fechou cotado a R$ 1,61, alta de 1,45%. No mês de abril, variou abaixo de R$ 1,60, considerado no mercado o "piso informal" do governo.

O discurso dos ministros já mudou. Na segunda-feira, Pimentel disse que o "câmbio vai continuar no atual patamar este ano". No Senado, Mantega garantiu que o governo não vai permitir a sobrevalorização do real, mas minimizou o problema. "Não é uma valorização tão excepcional, tendo em vista os fundamentos da economia."

Procurado, Mantega disse que o governo continuará a combater o excesso de fluxo de capitais externos, que é inflacionário, e o excesso de valorização do real, que é prejudicial às exportações.

Segundo um auxiliar, Coutinho está " totalmente alinhado" com Mantega. "Nem ao céu, nem a terra. Não é deixar o câmbio correr solto, mas também não haverá medidas radicais", disse o assessor. Coutinho e Pimentel não deram entrevista.

Sintonia fina. A operação exige uma sintonia fina entre Fazenda e Banco Central. O BC não trabalha com a hipótese de mudança na política de câmbio flutuante, mas essa flutuação não poderá ser tão livre. Já a Fazenda cedeu e tirou do radar discussões sobre a imposição de quarentena para a saída de capitais, pelo menos agora. "Já não se discute medidas ousadas de intervenção no câmbio", afirmou uma fonte.

A dosagem do IOF é o instrumento considerado mais adequado para evitar o "passeio de recursos em busca de ganhos especulativos no mercado financeiro". A alíquota está em 6% e pode ser elevada, se necessário.

"Nem pensar na hipótese de uma aceleração da inflação", disse um aliado de Dilma. "O País mudou de patamar. Não podemos derrubar a economia. Isso significaria perder todo esse cacife político", disse a fonte.

Flutuante
Ontem, o dólar fechou cotado a R$ 1,61, com alta de 1,45%. No mês de abril, a moeda americana variou abaixo de R$ 1,60, considerado como o "piso informal" do governo. (Estado)

Febraban: bancos projetam PIB de 4,1% em 2011

A economia brasileira, expressa em porcentuais do Produto Interno Bruto (PIB), deverá crescer 4,1% neste ano e encerrar 2012 com expansão de 4,2%, segundo mostram as expectativas de 32 instituições bancárias consultadas na "Pesquisa Febraban de Projeções Macroeconômicas e Expectativas do Mercado", realizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) de 28 de abril a 3 de maio.

De acordo com o economista-chefe da entidade, Rubens Sardenberg, o cenário previsto para este ano é de um crescimento menor, se comparado com o ano passado, mas com uma taxa maior de inflação. A mediana das expectativas dos 32 bancos em relação ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no encerramento deste ano é de 6,3% e para o ano que vem, de 5,1%.

O mesmo levantamento apurou que, segundo os bancos, a taxa básica de juros, a Selic, deverá encerrar 2011 em 12,50% ao ano e em 12% ao ano no final de 2012. Para o câmbio, a pesquisa revela que as instituições bancárias trabalham com o dólar terminando este ano cotado a R$ 1,62 e no ano que vem, a R$ 1,69.

Na pesquisa anterior, realizada em março, as previsões em relação ao crescimento do PIB eram ligeiramente superiores ao que se verificou na rodada de projeções feita agora. Naquele momento, a projeção mediana em relação ao PIB era de 4,2% para 2011, ou 0,10 ponto porcentual acima do que se verifica neste mês. Para 2012, a pesquisa de março apontava para um crescimento de 4,4%, ou 0,20 ponto porcentual acima do que se verifica agora.

As previsões para o câmbio também foram revisadas para baixo, de R$ 1,69 em março para R$ 1,62 agora no encerramento de 2011 e de R$ 1,75 na pesquisa de março para R$ 1,69 agora no encerramento de 2012.

Em contrapartida, as expectativas em relação à inflação subiram da pesquisa de março para o levantamento atual, com a mediana das expectativas para o IPCA saindo de 5,8% para atuais 6,3% em 2011 e de 4,8% para 5,1% esperados no atual levantamento da Febraban.

As expectativas em relação à taxa de juros em 2011 e 2012 também foram elevadas: de 12,25% em março para 12,50% ao ano agora no fechamento de 2011 e a de 2012 saiu de 11,50% para 12% ao ano. (Estado)

Afinado, governo muda rumo da política econômica

A presidente Dilma Rousseff acredita que a inflação mensal, medida pelo IPCA, começa a ceder em maio, mantendo-se em patamares baixos nos três meses seguintes. Isso, na avaliação do governo, dará fôlego ao Banco Central (BC) para melhorar as expectativas dos agentes econômicos, que vêm se deteriorando desde o início do ano.

A presidente sabe, no entanto, que apesar da queda do IPCA entre maio e agosto a inflação acumulada em 12 meses poderá superar os 6,5%, o limite superior do intervalo de tolerância do regime de metas. Em conversas reservadas, Dilma tem dito que a inflação de 2011 não é "culpa" deste governo. "O mercado vê Dilma como um governo de oito anos [de Lula] e quatro meses. Para ela, seu governo tem quatro meses", diz um assessor.

Dilma aproveitou a reunião do Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), na semana passada, para harmonizar o discurso do governo. Tanto ela quanto os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Antônio Palocci (Casa Civil), além do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, salientaram em suas apresentações a preocupação prioritária com a inflação.

O propósito foi mostrar ao mercado que o governo está unido. Em seu discurso, Dilma reconheceu que os preços subiram no Brasil por causa de "choques internos adversos na produção de bens como alimentos in natura e etanol", além das pressões internacionais. Insistiu em afirmar que a economia crescerá de forma acelerada em 2011, mas fez isso apenas para não adormecer o "espírito animal dos empresários".

Falando publicamente sobre o tema pela primeira vez neste governo, Palocci fez questão de ressaltar que o ataque à inflação é "sem dúvida uma prioridade que não devemos abandonar". O ministro, seguindo acerto feito com a presidente, não fala publicamente sobre política econômica, a não ser quando autorizado, mas na convivência diária com ela tem tratado do tema. A "nova" política, focada mais na inflação e menos no câmbio, está mais à sua feição.

No discurso feito no Conselhão, Palocci chamou a atenção para a necessidade de o governo desenvolver o mercado privado de títulos de longo prazo, uma forma de reduzir a dependência das empresas do crédito subsidiado do BNDES. Dois dias depois, a mesma preocupação constava da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom), o que também revelou afinidade entre Palocci e Tombini.

O novo ambiente fez o BC mudar sua estratégia. Agora, a autoridade monetária recorrerá mais à taxa básica de juros (Selic) e menos a medidas macroprudenciais para combater a inflação. Na prática, Tombini se sente mais encorajado a perseguir a inflação com o instrumento convencional de política monetária - os juros. Não vai fazer isso de uma só vez, mas gradualmente, dado o elevado grau de incerteza da economia mundial. O BC rendeu-se também ao fato de que, depois de recorrer a medidas macroprudenciais, os bancos centrais de vários países emergentes voltaram a elevar juros - entre as duas últimas reuniões do Copom, 11 países emergentes fizeram isso.

Definidas as correções da política econômica, a presidente Dilma considera maio o mês do verdadeiro início do seu governo. É neste mês que ela pretende anunciar as iniciativas que, na sua acepção, marcarão a gestão, diferenciando-a da do seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. "O governo começa, em maio, a ter a cara da presidente", sustenta um assessor.

Na semana passada, Dilma lançou a primeira de cinco iniciativas prioritárias do governo - o Programa Nacional de Ensino Técnico e Capacitação Profissional (Pronatec), voltado para a formação de mão de obra. Ela pretende divulgar, também este mês, e por essa razão vem cobrando pressa do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, o programa que concederá 75 mil bolsas a brasileiros interessados em estudar Ciências Exatas no exterior.

Uma terceira iniciativa, esta uma promessa da campanha presidencial, é lançar, se possível em maio, o Programa de Erradicação da Pobreza.

Dilma faz seus ministros e assessores correrem contra o relógio para enviar ao Congresso, ainda este semestre, propostas de mudança no regime tributária. Embora não ambicione fazer uma reforma ampla, a presidente quer, com as novidades, dar agilidade à devolução de créditos tributários, beneficiar micro e pequenas empresas, estimular as exportações, combater a guerra fiscal e desonerar os investimentos e a folha de pessoal, estimulando o aumento do emprego formal. "Há cerca de R$ 15 bilhões em créditos tributários a serem devolvidos às empresas. Isso é pior do que o câmbio [apreciado]", diz um auxiliar de Dilma.

Além da reforma dos tributos, a presidente vai lançar, também em maio, o fórum de gestão e competitividade, um canal permanente de interlocução com o setor privado para discutir a criação de mecanismos que tornem a máquina pública mais ágil e eficiente e menos onerosa. O principal interlocutor de Dilma nesse fórum será o empresário Jorge Gerdau, criador e líder do Movimento Brasil Eficiente. (Valor)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Luta contra miséria absoluta passa por melhores empregos com salários decentes

Brasil unido para combater a miséria absoluta

Por Marcos Afonso de Oliveira, secretário de comunicação nacional da UGT

A UGT está absolutamente empenhada, desde a sua fundação, para a inclusão social dos brasileiros e brasileiras, meninos e meninas, jovens e idosos, que infelizmente ainda vivem com renda abaixo de 70 reais mensais. É um constrangimento social imenso para todos nós e a alternativa oficial que o governo da presidente Dilma Rousseff apresenta ao Brasil, cumprindo compromisso de campanha, nos anima a acelerar a erradicação da miséria absoluta. Como sindicalistas temos consciência que o complemento natural para erradicar de vez a miséria absoluta é criar condições económicas, com um controle mais rígido da inflação, com a geração de empregos e com uma politica de investimentos produtivos, para através de salários decentes conquistarmos um novo patamar na distribuição de renda no Brasil. Algo que nossos governos estão avançando, ainda que lentamente, desde a década de 90, com o Plano Real e em seguida com a atuação vigorosa do governo do presidente Lula. Mas ainda há muito a ser feito e consolidado em termos sociais, educacionais e de decência humana.

Plano de combate à miséria terá como alvo 16 milhões
Governo estabelece renda mensal de R$ 70 como limite para definir pobreza extrema e orientar ações sociais. Na campanha eleitoral, Dilma endossou estudo que propunha limite maior de renda para apontar beneficiários.
O governo federal elegeu como alvo de seu plano de combate à miséria os 16,2 milhões de brasileiros que vivem com renda mensal de até R$ 70, um universo menor do que a presidente Dilma Rousseff indicou na campanha eleitoral do ano passado que poderia ajudar.
Dilma vai anunciar em breve ações para cumprir a promessa de erradicar a miséria até o fim de seu mandato, em 2014. Ao estabelecer os R$ 70 como a linha de extrema pobreza do país, ela definiu o alvo prioritário das medidas do governo.
Quando falou em combater a miséria durante a campanha, Dilma mencionou um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que sugeria a possibilidade de acabar com a pobreza extrema até 2016.
O estudo considerava miseráveis pessoas com renda mensal de até um quarto do salário mínimo, o que hoje equivaleria a R$ 136, e projetava uma fatia maior do que os 16,2 milhões de brasileiros nessa faixa de renda.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, que coordena o plano a ser anunciado pela presidente, o limite de R$ 70 poderá ser revisto até 2014 e foi definido com base em três parâmetros.
Primeiro, esse valor de R$ 70 já é usado para definir miséria no Bolsa Família. Segundo, ele é próximo da linha de pobreza extrema proposta pelo Banco Mundial de US$ 1,25 por dia.
O governo também levou em consideração o custo da alimentação em diferentes regiões do Brasil.
A pesquisadora Lena Lavinas, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio) e estudiosa do assunto, afirmou que a linha de pobreza anunciada ontem é, de certa forma, menor do que a do Bolsa Família, porque não leva em conta a inflação acumulada desde quando o governo decidiu usar o valor de R$ 70 no atual programa de transferência de renda.
"O valor nominal é o mesmo, mas o real é menor", disse a pesquisadora. "Se fosse só para reajustar, seria de no mínimo R$ 75."
"DEFENSÁVEL" — Sergei Soares, do próprio Ipea, disse ontem que a linha do governo é defensável, dentre outros motivos, por criar um critério oficial para a definição de miséria.
"Graças a Deus que o governo estabeleceu uma [linha]. Antes, era a lei da selva. Só no Ipea eram cinco ou seis [valores]", afirmou.
O ministério disse que os cerca de 16,2 milhões de pessoas concentram-se no Nordeste e Norte. A informação foi obtida após cruzamento de dados do Censo de 2010. A pasta afirmou que críticas são normais e defendeu os critérios usados. (Folha)

Em 2010, crescimento da renda reduz pobreza em 16%

A pobreza no Brasil caiu com maior intensidade durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva do que no de Fernando Henrique Cardoso. Desde o começo do Plano Real, a pobreza caiu 31,9% durante a Era FHC. Já no período em que o ex-presidente Lula esteve à frente do país - oito anos encerrados em dezembro de 2010 -, houve queda de 50,64%. Os dados são de uma pesquisa realizada pelo economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a partir de resultados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010, o avanço na redução da pobreza no país foi de 16,3%, duas vezes o registrado no período entre 2002 e 2008, quando a queda foi de 8,2%. Ou seja, no acumulado desde o lançamento do Plano Real, que trouxe estabilidade econômica ao país, até o fim do ano passado, houve queda de 67,3% da pobreza. "Certamente não é uma década espetacular em termos de crescimento da renda do brasileiro, mas, ainda assim, houve redução da desigualdade", afirmou.

No ano de 2010, a renda média do brasileiro cresceu 2 pontos percentuais acima do PIB, ao avançar 9,6%, enquanto a alta do PIB foi de 7,5% no período. "Em termos de renda do brasileiro, foi um ano excepcional, de crescimento chinês", disse Neri. "Acho ousada a meta de erradicação de pobreza em cinco anos, mas já se cumpriu uma parte importante do caminho de reduzir em 50% a pobreza entre 1990 e 2015", acrescentou.

Como resultado da queda da pobreza, a desigualdade de renda atingiu no ano passado o menor nível histórico desde que começaram a ser realizados levantamentos de renda no Brasil, na década de 1960. De acordo com a compilação de dados de Neri, somente agora o país volta ao mesmo patamar registrado há 50 anos. A medição é realizada pelo índice de Gini, que varia de zero a um, em que a desigualdade é maior quando se chega mais perto de um. Em 2010, o índice ficou em 0,5304. Esse resultado foi considerado conservador pelo próprio autor da pesquisa, já que utiliza dados apenas de regiões metropolitanas, em um período em que as áreas rurais têm registrado avanço significativo.

A taxa acumulada de crescimento da renda na década passada foi de 10,03% para os 10% mais ricos, e de 67,93% para os 50% mais pobres. A taxa de crescimento dos 50% mais pobres foi 577% mais alta do que a dos 10% mais ricos.

A renda dos mais pobres cresceu mais do que a dos mais ricos devido a um efeito educação, explicou o pesquisador da FGV. Entre os 20% mais pobres, os anos de estudos cresceram 55,59%, com um avanço da renda de 49,52%. Já entre os 20% mais ricos, a escolaridade cresceu 8,12%, com aumento de 8,88% da renda. (Valor)

Senadores aprovam lei que aumenta a jornada escolar
Carga passa de 800 para 960 horas ao ano no ensino fundamental e no médio. Outro projeto amplia a frequência exigida para aprovação; ambos têm de passar agora pela Câmara e Presidência.
Foram dados ontem dois passos para ampliar a jornada escolar no Brasil.
O Senado aprovou um projeto de lei que eleva de 800 para 960 horas a carga horária mínima anual do ensino fundamental e médio e outro que aumenta a frequência exigida dos alunos para aprovação no ensino básico dos atuais 75% para 80%.
Considerando-se 200 dias letivos, os alunos passam a ter quatro horas e 48 minutos de aula por dia, em vez de quatro horas. Com a redução do limite de faltas, o número de horas mínimo por ano passa de 600 para 768.
Para que a mudança passe a valer, no entanto, os projetos ainda têm de ser aprovados pela Câmara e sancionados pela presidente.
Se isso ocorrer, o Brasil irá superar a carga horária escolar mínima exigida em grande parte dos países desenvolvidos. Na OCDE, organização que reúne alguns deles, a média é de 837 horas por ano.
A carga horária proposta é similar à já cumprida por escolas particulares no fundamental -que costuma ser de cinco horas diárias. No médio, porém, ainda fica atrás da aplicada em boas escolas particulares de São Paulo.
No Bandeirantes (zona sul de SP), a partir do 1º ano, há pelo menos mais três aulas de 50 minutos por semana à tarde, e, no 3º ano, mais 12 aulas de 50 minutos. No Móbile (zona sul), são, em média, seis horas de aula por dia no mínimo, a partir do 1º ano.
Para Maria de Salete, coordenadora de Educação no Brasil do Unicef (braço da ONU para a infância), os projetos são positivos, mas não garantem por si só uma melhoria na aprendizagem.
Ela ressalta que é preciso que o tempo adicional seja usado com qualidade.
Pesquisas demonstram que, quanto mais tempo o aluno passa na escola, mais chance terá de notas melhores nos exames que medem a qualidade da educação.
Por outro lado, há também alertas sobre um mau uso do tempo em aula. Pesquisa da OCDE mostrou que o Brasil é o país em que os professores gastam mais tempo com atividades não diretamente relacionadas ao ensino, como manter a disciplina em sala.
Do ponto de vista prático, a ampliação da jornada escolar deve envolver algum custo, seja para aumentar o salário do professor que ganha por hora, seja para contratar mais profissionais.
Ainda assim, a mudança é considerada positiva pela Undime, que reúne os secretários municipais de educação. Para Cleuza Repulho, diretora da entidade, é importante que a ampliação da carga permita agregar atividades como música e esporte.
O Ministério da Educação informou que não comenta projetos em tramitação. (Folha)


Fipe: cesta básica de SP sobe 1,65% em abril

O preço médio da cesta básica na cidade de São Paulo aumentou 1,65% em abril em relação a março, conforme pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) divulgada hoje. No mês passado, o valor médio da cesta foi de R$ 282,27, ante R$ 277,69 em março.

De janeiro a abril, a cesta básica paulistana acumula alta de 1,92%, abaixo da inflação de 2,82% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do mesmo período. Nos últimos 12 meses encerrados em abril, a cesta básica subiu 6,60%, ante inflação de 6,39% medida pelo IPC.

O levantamento da cesta básica da Fipe verifica os preços de 51 itens, número bem mais reduzido que o de 465 itens do IPC, que, em abril, apresentou taxa de inflação de 0,70% ante taxa de 0,35% de março. O conjunto observado na cesta é formado por 41 preços do grupo Alimentação, sete de Higiene Pessoal e três de Limpeza. A instituição divide a cidade em seis regiões, conforme o poder aquisitivo e localização. (Estado)

Inflação volta à agenda das empresas

A inflação voltou à agenda dos executivos, que intensificaram as negociações com os fornecedores de insumos, matérias-primas e serviços em uma tentativa de minimizar o repasse do aumento de custos para o preço final, segundo relato, ao Valor, dos dirigentes de grandes empresas brasileiras presentes à cerimônia de entrega do prêmio Executivo de Valor, ontem em São Paulo. Os repasses, contudo, estão sendo feitos.

As pressões de custos aumentaram, segundo os empresários, justamente no momento em que alguns setores começam a sentir os primeiros sinais de desaceleração do nível de atividade. Eles ainda são tímidos, mas já apareceram tanto no setor financeiro, como para os fabricantes de bens de consumo duráveis, embora ainda estejam fora do cenário da indústria de alimentos ou de bens semiduráveis. Enquanto voltam a lidar com a inflação, a falta de mão de obra qualificada é outro item de preocupação, até porque a necessidade de manter os atuais funcionários tem exigido a concessão de maiores aumentos salariais.

Para conter a pressão inflacionária e não aumentar os preços dos ingressos, a rede Cinemark intensificou as negociações com seus fornecedores, diz seu presidente, Marcelo Bertini. "Por enquanto estamos sendo bem-sucedidos nessa estratégia. Mas não sei mais quanto tempo conseguimos segurar." As negociações salariais em alguns Estados, diz, causaram aumentos mais altos que os previstos inicialmente, o que resultou no aumento dos ingressos. "O problema é que eles estão superando o aumento da produtividade", diz.

Problema para alguns setores, a queda do dólar tem sido um alento para a Positivo Informática. Como a maioria dos componentes usados pela companhia para montar seus computadores é cotado em dólar, o real valorizado acaba compensando a pressão inflacionária que surge com o aumento nos preços das commodities, explica Hélio Rotenberg, presidente da empresa. Com relação ao custo da mão-de-obra, ele diz que a empresa vem tomando medidas para aumentar a produtividade de seus funcionários e também tem se movimentado para garantir que não faltem profissionais preparados.

Na Ambev, as pressões inflacionárias das commodities estão tendo um impacto significativo nos negócios porque os custos estão sendo afetados por insumos como malte, açúcar, alumínio e importação de latas, diz o presidente João Castro Neves. "Isso já nos levou a reajustar nossos preços, percentual que repassamos sempre em linha com a inflação. Mesmo assim, temos conseguido bons resultados por nos mantermos focados em produtividade e inovação, além de um controle rigoroso de gastos", afirma Castro Neves.

O segmento de bebidas já sentiu a retração na demanda. "Desde o fim do ano passado o nosso setor vem apresentando sinais de desaquecimento causados por uma desaceleração no aumento de renda disponível, aumento de preços, além da influência do clima", diz.

André Esteves, presidente do banco BTG Pactual, também já sentiu alguma desaceleração no ritmo das atividades no primeiro trimestre deste ano. "Já deu para perceber que o PIB [Produto Interno Bruto] deste ano não repetirá os 7,5% de 2010. Ficará dentro dos 4%", diz.

Nas operações da varejista Lojas Renner, o impacto veio principalmente do preço do algodão. Segundo o presidente da companhia, José Galló, a alta chega a 160% desde o início do ano passado e trouxe um aumento de custos para a rede de 10% a 12%. "Mas temos conseguido repassar esses reajustes para os preços dos produtos", afirma Galló. Para reduzir custos, a empresa também usou mais materiais sintéticos. Na Hering, o aumento do preço do algodão e da pressão inflacionária levou a empresa a reajustar os preços em média 10% no primeiro trimestre. Fábio Hering, presidente da empresa, acredita que a estratégia do governo de usar a importação como plataforma de controle da inflação pode desestimular o avanço da indústria nacional.

A Renner, informa Galló, ainda não registrou queda de demanda, mesmo com o aumento da taxa básica de juros, ao contrário do que a Whirlpool já percebe. José Drummond Júnior, presidente da empresa, explica que ela já vive um momento de desaceleração. "Continuamos em um ritmo positivo: estamos crescendo menos, mas sobre uma base alta."

Na empresa, a solução encontrada para o aumento dos preços de matérias-primas foi a negociação com os fornecedores e o repasse de preços ao consumidor, realizado este mês. "Essas medidas recompuseram os preços, fazendo frente aos impactos que já aconteceram", informou Drummond. Ele ressaltou ainda que a alta dos salários já vem sendo sentida pela Whirlpool nos últimos três anos.

A inflação ainda não afetou os negócios das operadoras de serviços CPFL e Nextel. O presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr., diz que o custo que mais preocupa o setor hoje é o da mão de obra mais qualificada. Ele afirma, no entanto, que a empresa está conseguindo treinar os profissionais que necessita. "Não colocamos um eletricista na rua sem dar dois a três meses de capacitação." Sérgio Chaia, presidente da Nextel, concorda. Para ele, o maior desafio hoje é trazer mais pessoas qualificadas para a empresa. A Nextel contratou no ano passado cerca de mil funcionários e planeja contratar o mesmo este ano. "Enfrentamos o apagão da mão de obra, e nossa preocupação é remunerar bem nossos funcionário. Não é o custo que nos preocupa e sim a oferta de profissionais", diz ele.

A alternativa apresentada pelo presidente da Azul, Pedro Janot, para conter os efeitos da escalada do petróleo e da inflação das commodities no setor aéreo é investir em produtividade, tecnologia e revisão de processos. "Temos de continuar a ganhar dinheiro", diz.

Desaceleração não é a palavra do cotidiano das empresas ligadas ao agronegócio. No setor sucroalcooleiro, que ainda vive um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de seus dois principais derivados - etanol e açúcar - os preços têm subido devido ao fato de a demanda crescer em um ritmo mais acelerado que a oferta, diz José Carlos Grubisich, presidente da ETH. Já a gigante JBS encara a valorização de sua matéria-prima (boi gordo) como um fator que reflete diretamente no maior faturamento da empresa. "Nosso custo fixo diminui uma vez que o preço médio do produto que vendemos aumenta. No mercado de commodities não é possível não repassar os preços", diz Joesley Batista, presidente do conselho da JBS.

Para driblar as pressões inflacionárias e reduzir os custos na compra de matérias-primas a Natura adotou um programa de atualização da plataforma de fornecedores, em que está renegociando os contratos e ampliando a base de oferta. "Estamos buscando novos fornecedores, que serão selecionados a partir de indicadores socioambientais", diz Alessandro Carlucci, presidente da empresa.

Como toda a indústria, as pressões inflacionárias provenientes das matérias-primas e do aumento dos salários têm influenciado os negócios da Suzano e da WEG. Para a Suzano, os custos que mais pesam são os do petróleo (atrapalham a logística) e dos insumos químicos, como a soda cáustica.

Harry Schmelzer Jr., presidente da WEG, por sua vez, tenta diversificar seus investimentos, para se ajustar ao aumento nos custos das matérias-primas e da contratação de pessoal. "Estamos investindo no Brasil, mas também estamos colocando mais velocidade para aumentar nossos investimentos produtivos no México, Índia e China. Nós precisamos ter um hedge natural das nossas operações internacionais", explica. (Valor)