sexta-feira, 23 de março de 2012

Os brasileiros receberam em média R$ 1.699,70 de salário em fevereiro passado

Com reajuste de 14% do salário mínimo, renda bate recorde

Ganho médio dos brasileiros chegou a R$ 1.699,70 em fevereiro, o maior valor para esse mês desde 2003. Taxa de desemprego fica em 5,7%, o patamar mais baixo em dez anos para o mês de fevereiro, de acordo com o IBGE.

O rendimento médio dos brasileiros bateu o recorde para fevereiro -atingiu o maior valor para este mês desde o início da série histórica, em março de 2002.

O principal motivo para esse resultado foi a alta do salário mínimo, de 14%.

Segundo dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), divulgada ontem pelo IBGE, os brasileiros receberam em média R$ 1.699,70 de salário em fevereiro passado.

Entre as seis regiões metropolitanas avaliadas pela pesquisa, São Paulo registrou os maiores salários.

Os moradores que trabalham no Estado receberam em média R$ 1.813,10 de salário, o maior para a região desde fevereiro de 2003, já descontada a inflação.

São Paulo ficou à frente de Rio de Janeiro (R$ 1.805), Belo Horizonte (R$ 1.592), Porto Alegre (R$ 1.575) e Salvador (R$ 1.189).

À exceção de Porto Alegre, todas as regiões apresentaram ganho no rendimento médio da população.

"Esse ganho é fruto da contínua melhora da economia brasileira, que tem reflexo direto na qualidade do emprego da população", afirmou Cimar Azeredo, gerente da Coordenação do Trabalho e Rendimento do IBGE.

DESEMPREGO -- Já a taxa de desemprego apurada pelo IBGE oscilou para 5,7% em fevereiro.

O percentual ficou praticamente estável em relação ao apurado em janeiro, de 5,5%. Mesmo com o avanço, a taxa ficou no menor patamar para o mês em dez anos.

Desde que a série histórica foi lançada, a mínima havia sido registrada em fevereiro do ano passado (6,4%) -assim, na comparação em relação ao mesmo mês de 2011, a taxa teve um recuo de 0,7%.

A redução está em linha com a tendência de queda no desemprego apurado pelo IBGE ao longo dos último anos.

"Percebemos uma tendência favorável no mercado de trabalho durante o ano", afirmou Azeredo, do IBGE. (Folha)


Governo acena para indústria com novas medidas de estímulo

Dilma se reúne com empresários e banqueiros e pede 'instinto animal' para reativar crescimento. Em meio a crise, presidente promete privatização de portos, redução de impostos e ação contra importação.

A presidente Dilma Rousseff deixou de lado ontem a crise que enfrenta com os partidos da base aliada e reuniu, pela primeira vez em seu mandato, os pesos-pesados do PIB (Produto Interno Bruto) para discutir a retomada do crescimento da economia.

Numa reunião de três horas e meia com 28 banqueiros e empresários dos mais variados setores, Dilma não anunciou nenhuma medida concreta, mas acenou com a privatização de portos, prometeu defesa forte da indústria brasileira e acenou com redução de impostos.

Dos empresários, a presidente ouviu apelos por redução da carga tributária, medidas para conter a valorização do real em relação ao dólar e conter importações.

Aos convidados, Dilma afirmou que apresentará novas medidas de estímulo econômico após retornar de sua viagem à Índia, na semana que vem. Ela pediu "instinto animal" aos empresários para ampliar investimentos.

A presidente disse que a "próxima grande discussão do governo" será a privatização dos portos, onde o governo estuda adotar um modelo de concessões semelhante ao usado nos aeroportos.

Ela instou os empresários a pressionar os congressistas para que aprovem um projeto de resolução do Senado que acaba com os incentivos fiscais que alguns governos estaduais concedem para promover importações, o que aumenta o movimento em seus portos mas prejudica as indústrias de outros Estados.

De acordo com relatos dos empresários, Dilma afirmou que irá "defender" o mercado doméstico sem fechar a economia brasileira à entrada de produtos estrangeiros, além de evitar uma valorização maior do real sem alimentar a inflação.

O objetivo, disse, é aumentar a produtividade em todos os setores. Nas palavras da presidente, seria preciso buscar uma combinação mais favorável da taxa de juros com a taxa de câmbio.

Seguindo a orientação da presidente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse estar aberto a conversas com qualquer setor da indústria que quiser redução dos impostos que incidem sobre a folha de pagamentos.

"Nós continuaremos a fazer politicas de intervenção no câmbio que não permitam que o real se valorize, que as mercadorias brasileiras fiquem caras", afirmou Mantega. "Isso é um compromisso do governo."

Dilma prometeu acelerar investimentos federais em infraestrutura e disse que o objetivo do governo é elevar a taxa de investimento no Brasil para 24% do PIB (Produto Interno Bruto).

A meta é vista com ceticismo no próprio Ministério da Fazenda. No ano passado, a taxa de investimento da economia brasileira atingiu 19,3% do PIB. (Folha)


Endividamento cresce e ameaça consumo

O comprometimento do orçamento das famílias com dívidas aumentou gradualmente ao longo de 2011, junto com um aumento da inadimplência. A combinação de dívidas maiores e número crescente de devedores, segundo economistas, pode atenuar o crescimento do consumo este ano.

Ainda que em ritmo moderado, a parcela da renda mensal dos brasileiros destinada ao pagamento de débitos vem subindo desde abril e atingiu em dezembro 22,3%, último dado divulgado pelo Banco Central e maior percentual para o mês desde 2005, início da série histórica. As dívidas já assumidas pelas famílias cresceram em 2011 e representam 42,3% da sua renda anual, nível mais alto para qualquer mês da pesquisa do BC.

O aumento da inadimplência das famílias no ano passado pode ser considerado forte - passou de 5,7% para 7,4% nos atrasos com prazo superior a 90 dias em um cenário de pleno emprego. Caso seja necessário algum movimento de aperto na política monetária, com reflexo recessivo na economia e perda de emprego, é possível que o sistema financeiro enfrente uma alta bastante acentuada dos atrasos, partindo de patamar bastante elevado, avalia um executivo do mercado financeiro.

A alta da inadimplência no ano passado decorreu diretamente do ciclo de aperto monetário do primeiro semestre, com elevação dos juros e restrição à elevação dos prazos, via medidasmacroprudenciais. Com mais dívidas para pagar, o nível de inadimplência das famílias piorou no fim de 2011. Em dezembro, o percentual de atrasos superiores a 90 dias aumentou em operações de crédito pessoal, cheque especial, aquisição de veículos e outros bens, de acordo com os dados do BC.

A maior parte dos analistas acredita que o endividamento maior deve afetar em alguma medida o poder de fogo dos consumidores, mas, com inflação menor, queda dos juros e aumento real de 7,5% do salário mínimo, há quem aposte em varejo mais forte em 2012 do que em 2011. Como a renda real é fator determinante da inadimplência, o atual ciclo de redução da Selic deve permitir uma melhora desse indicador, à medida que os ganhos dos trabalhadores se elevem e os juros bancários acompanhem a trajetória declinante da taxa básica.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, destaca que a renda mensal das famílias ficou mais comprometida no fim de 2011, não devido aos gastos com juros, mas com o principal da dívida. Esse tipo de despesa subiu quase dois pontos percentuais desde maio e alcançou 14,3%, enquanto o dispêndio com juros teve ligeira alta no período, de apenas 0,43 ponto percentual, para 8%. Para Vale, o movimento reflete o avanço do crédito imobiliário, que é mais caro. Essa trajetória não preocupa o economista, já que, num cenário de desemprego baixo, esse financiamento não é predatório.

O crédito habitacional, entre recursos direcionados e livres, alcançou 4,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em dezembro de 2011, alta de um ponto percentual sobre igual mês de 2010, diz o economista Wermeson França, da LCA Consultores. Na mesma comparação, a relação entre crédito para bens de consumo e o PIB ficou quase estagnada, passando de 4,1% para 4,4%.

França afirma que o financiamento habitacional ainda tem muito espaço para crescer no país, mas não deve aumentar o nível de endividamento das famílias em 2012 - que, em sua opinião, já está elevado. "Nos Estados Unidos, o comprometimento da renda com dívidas está em 17%. Não há muito espaço para novas aquisições de financiamentos. O crédito imobiliário deve tomar espaço de outros tipos de financiamento", diz.

Contribui para essa avaliação o fato de que, segundo dados do BC, as dívidas de mais longo prazo - crédito imobiliário e aquisição de veículos - representavam, cada uma, 21,3% da carteira de crédito para pessoas físicas em dezembro de 2011. Ou seja, pelo menos 42% da dívida das famílias vai demorar para ser liquidada, limitando a capacidade de ampliar o consumo com novos financiamentos.

No curto prazo, se o varejo se desacelerar [entre janeiro e março], será mais como efeito do emprego industrial - que está em queda e deve seguir em situação ruim - do que de um endividamento maior, diz Vale. Mesmo sem projetar retomada para a ocupação no setor, o analista trabalha com alta de 9% das vendas em 2012, que, em seu cenário-base, serão impulsionadas pela inflação mais comportada e pela reaceleração da atividade no segundo semestre.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje resultados das vendas do varejo de janeiro, mas dados antecedentes indicam que o desempenho do comércio perdeu força neste início de ano. A atividade do comércio medida pela Serasa Experian caiu 0,3% em fevereiro frente a janeiro na série dessazonalizada. No primeiro mês do ano, também houve recuo na comparação com dezembro, de 1,6%. Já as vendas de veículos, medidas pela Fenabrave, caíram 23% e 6,9% em janeiro e fevereiro, respectivamente.

Segundo Luiz Rabi, economista da Serasa, o aumento da inadimplência - que, de acordo com indicador da empresa, atingiu seu pico em outubro do ano passado e, desde então, vem recuando lentamente - reduziu o movimento nas lojas e a demanda dos consumidores por crédito no primeiro bimestre, movimento que deve continuar em março. "Há uma concentração muito grande de pagamentos neste mês. Este primeiro trimestre está muito fraco para o consumo e, a partir do segundo, devemos entrar em um cenário de recuperação."

A retomada do varejo, diz Rabi, será mais evidente na segunda metade do ano, na esteira da queda gradual da inadimplência e da inflação, assim como dos juros básicos. "Temos que acreditar que a educação financeira das pessoas melhorou após o boom do crédito em 2010". Na média de 2012, mesmo com um início mais tímido, o Serasa espera que as vendas do varejo cresçam a uma taxa próxima a de 2011, de 6,7% segundo o IBGE.

Paulo Neves, economista da LCA, aposta em ritmo forte das vendas no primeiro trimestre, impulsionado pelo setor de hiper e supermercados, o mais beneficiado com o reajuste do mínimo. Para o ano como um todo, no entanto, o endividamento é visto como entrave a um crescimento maior do comércio. "O afrouxamento monetário é limitado pela seletividade dos bancos e pela inadimplência e endividamento. Além disso, o crescimento da renda deste começo de ano não deve se repetir nos meses seguintes", diz Neves, que projeta expansão do varejo próxima à observada em 2011.

Esse não é o cenário de Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, para quem as vendas devem aumentar 5,5% este ano. A desaceleração, segundo ele, será provocada pela perda de fôlego da massa salarial, o que também pode, ao contrário do que projeta a Serasa, abrir espaço para nova alta da inadimplência no fim do ano.

O economista pondera que, mesmo com o aumento do mínimo, um crescimento menor tanto da ocupação como dos rendimentos deve fazer com que a massa salarial tenha alta de 2,8% este ano, menor que o avanço de 4,9%, registrado em 2011. (Valor)

quinta-feira, 22 de março de 2012

"Não vamos permitir que eles invadam nosso mercado", diz governo em relação a atitudes contra desindustrialização

Governo deve propor defesa da indústria em reunião no Planalto

A presidente Dilma Rousseff vai aproveitar a reunião de hoje com pesos-pesados do setor privado para se defender das críticas de que seu governo não estaria tomando as medidas necessárias para barrar um processo de desindustrialização.

"O encontro também é para mostrar o que o governo tem feito na defesa da indústria brasileira", afirmou ontem o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência da República). A tarefa foi entregue ao ministro Guido Mantega (Fazenda).

Um ponto da agenda empresarial é a reclamação de que o real valorizado leva a uma invasão importados no país.

Aos empresários o ministro vai lembrar que a crise internacional continua grave, gerando um elevado nível de estoque na indústria mundial, que busca nos países emergentes um mercado para seus produtos. "Não vamos permitir que eles invadam nosso mercado", deverá dizer o ministro.

A lista inicial de convidados trazia 27 nomes. Ontem, diante de reclamações, o governo incluiu outros na relação, como o de Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação da Indústria de SP), e de executivos da Ambev.

O foco principal da presidente é convocar os empresários brasileiros a investir mais no setor produtivo. (Folha)


Senado aprova saída de trabalhador para provas

Projeto prevê ausência de 8 horas por mês para quem quiser prestar concursos.

O Senado aprovou ontem projeto que permite ao trabalhador se ausentar do emprego por até oito horas por mês para fazer concurso público ou prova em estabelecimento educacional. O projeto altera a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) para incluir o benefício ao trabalhador.

O texto foi aprovado em caráter terminativo pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Por isso, só vai ser votado em plenário se houver recurso apresentado por mais de oito senadores. Do contrário, segue direto para análise da Câmara dos Deputados.

O projeto inicial previa a possibilidade de ausência do emprego só para trabalhadores matriculados em estabelecimento de ensino regular. Com a mudança, a regra vale para todos os trabalhadores que desejarem participar de seleções públicas.

"A melhor forma de garantir a melhoria de vida do trabalhador é permitir que possa se ausentar para provas", diz o senador Cícero Lucena (PSDB-PB), que foi o relator.

Para Lucena, o projeto não traz prejuízos a empregadores porque "são no máximo oito horas, consecutivas ou não, a cada 30 dias, não acumuláveis", o que não causaria grande mudança para as empresas. (Folha)