segunda-feira, 26 de março de 2012

Investimentos em empresas da áreas energética prejudicaram a rentabilidade do FI-FGTS no ano passado

Fundo do FGTS rende menos que o esperado

Investimentos em empresas da áreas energética prejudicaram a rentabilidade do FI-FGTS no ano passado.

Investimentos em empresas que registraram prejuízo e atrasos na finalização de obras abocanharam boa parte da rentabilidade do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS) no ano passado. Balanço preliminar das contas do FI-FGTS, obtido pelo Valor, mostra que a retorno das aplicações em projetos de infraestrutura poderia chegar a 7,37% ao ano mais Taxa Referencial (TR) em 2011. Porém, segundo uma fonte envolvida na contabilidade do fundo, o valor ficará limitado a algo ligeiramente acima de 6% ao ano devido a investimentos que, pelo menos, no curto prazo tiveram um resultado negativo.

Em 2010, a rentabilidade do FI-FGTS foi de 5,78%, abaixo da meta de 6% que deve ser perseguida pela Caixa, responsável pela administração do fundo. No acumulado de 2011 até setembro, o retorno acumulado foi de 5,69%. O balanço definitivo das contas do FI-FGTS de 2011 ainda não foi finalizado. Ainda depende da entrega de informações das empresas, onde o fundo tem participação acionária, como é o caso da Eletricidade Vale do Paranapanema, que faz parte do grupo Rede Energia.

Mas uma coisa é certa. A rentabilidade do FI-FGTS de 2011 será menor do que a prevista em balanço preliminar, feito em 13 de janeiro deste ano, porque não considerava o impacto do prejuízo de R$ 177,4 milhões da Celpa, distribuidora de energia elétrica do Pará, em recuperação judicial, nas contas do grupo Rede Energia, controladora da concessionária, e por sua vez no FI-FGTS, que detém participação no negócio. "Estamos aguardando o posicionamento dos auditores externos para fazermos os ajustes necessários", ressaltou a fonte.

Mesmo assim, não haverá uma recomendação da Caixa para que a aplicação seja desfeita. Isso porque, conforme fonte que acompanha o desempenho das aplicações do fundo, se desfazer do negócio no atual momento provocaria uma perda ainda maior. A expectativa é de que com a venda do grupo Rede para outro controlador, o prejuízo seja recuperado no médio e longo prazo. Preocupado, o ministro interino do Trabalho, Paulo Roberto dos Santos Pinto, chegou a solicitar à Caixa informações sobre o impacto do prejuízo da Celpa no FGTS. Pelo menos por enquanto ele ainda não teve seu questionamento respondido.

Além do prejuízo que a Celpa deu em 2011, obras de infraestrutura, principalmente do setor de energia elétrica, também vão ajudar a diminuir o potencial de rentabilidade do dinheiro do trabalhador. Dos investimentos feitos pelo FI-FGTS, pelo menos dois, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), adiaram novamente a data para começar a operar comercialmente.

Em junho do ano passado, por exemplo, a previsão era de que a Usina Paulista Queluz Energia, instalada em Queluz (SP), na divisa com o Rio de Janeiro, começasse a funcionar comercialmente até março de 2011. Segundo acompanhamento da Aneel, a data foi alterada para o início deste ano. O mesmo aconteceu com a Usina Paulista Lavrinhas de Energia. "O importante é que os cronogramas para entrega de energia pelas companhias elétricas vão ser cumpridos", ressaltou executivo que acompanha o desempenho dos investimentos.

Por outro lado, a expectativa da fonte ouvida pelo Valor é de que os investimentos feitos na Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport) e Hidrotérmica impeçam uma queda considerável na rentabilidade do FI-FGTS em 2011. No segundo semestre de 2011 houve a atualização do valor patrimonial das companhias, assim como alteração de composição acionária e atualização de ativos, contribuindo para a melhora do retorno desses investimentos.

No balanço preliminar feito em junho de 2011 essas companhias registravam prejuízo contábil, o que deve ter sido revertido, segundo fonte, com os ajustes feitos a partir de junho. O executivo explicou ainda que muitos dos empreendimentos ainda registram prejuízo contável porque ainda não estão operando, ou seja, estão apenas recebendo recursos para cobrir as despesas.

Mesmo com os percalços, tanto um representante do Conselho Curador do FGTS quanto da Caixa afirmam que ainda é cedo para se esperar alta rentabilidade dos investimentos com recursos do trabalhador. O FI-FGTS foi criado em 2008 para ajudar o governo a ampliar os investimentos em rodovias, ferrovias, energia elétrica e saneamento básico. Outro objetivo era melhorar a rentabilidade dos recursos dos trabalhadores, que conforme a legislação brasileira é de 3% ao ano mais TR.

Num primeiro momento a atuação do fundo foi focada na compra de debêntures de empresas. No dia 31 de dezembro de 2011, segundo dados preliminares, do patrimônio líquido de R$ 20,9 bilhões, R$ 5,4 bilhões estavam aplicados em 17 companhias sem cotação em bolsa de valores, R$ 9,5 bilhões em debêntures, principalmente do BNDES, entre outros investimentos.

Em 2009 e 2010, o conselho de investimentos do FI-FGTS resolveu ser mais agressivo e passou a comprar participações de empresas de capital fechado. O segmento mais beneficiado foi o de energia elétrica. Como a maioria dos investimentos é de projetos que estão sendo implementados, os investimentos só darão um retorno maior para o FI-FGTS quando estiverem maduros, ou seja, entre 2014 e 2015. Na avaliação de executivo que acompanha os resultados, as aplicações feitas pelo FI-FGTS são rentáveis em longo prazo, porque estão diretamente atrelados à atividade econômica do país.

Em 31 de junho de 2011, das 15 empresas onde o FI-FGTS tinha participação acionária, em dez foram registrados prejuízos contábeis (último número disponível). Ajuste feito no patrimônio da Cone, empresa sediada no Recife, contribuiu para cobrir os resultados negativos. Se o FI-FGTS saísse dessas aplicações no fim de junho, teria um lucro contábil de R$ 214 milhões. Em 2010, esse prejuízo somou R$ 150 milhões. (Valor)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Os brasileiros receberam em média R$ 1.699,70 de salário em fevereiro passado

Com reajuste de 14% do salário mínimo, renda bate recorde

Ganho médio dos brasileiros chegou a R$ 1.699,70 em fevereiro, o maior valor para esse mês desde 2003. Taxa de desemprego fica em 5,7%, o patamar mais baixo em dez anos para o mês de fevereiro, de acordo com o IBGE.

O rendimento médio dos brasileiros bateu o recorde para fevereiro -atingiu o maior valor para este mês desde o início da série histórica, em março de 2002.

O principal motivo para esse resultado foi a alta do salário mínimo, de 14%.

Segundo dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), divulgada ontem pelo IBGE, os brasileiros receberam em média R$ 1.699,70 de salário em fevereiro passado.

Entre as seis regiões metropolitanas avaliadas pela pesquisa, São Paulo registrou os maiores salários.

Os moradores que trabalham no Estado receberam em média R$ 1.813,10 de salário, o maior para a região desde fevereiro de 2003, já descontada a inflação.

São Paulo ficou à frente de Rio de Janeiro (R$ 1.805), Belo Horizonte (R$ 1.592), Porto Alegre (R$ 1.575) e Salvador (R$ 1.189).

À exceção de Porto Alegre, todas as regiões apresentaram ganho no rendimento médio da população.

"Esse ganho é fruto da contínua melhora da economia brasileira, que tem reflexo direto na qualidade do emprego da população", afirmou Cimar Azeredo, gerente da Coordenação do Trabalho e Rendimento do IBGE.

DESEMPREGO -- Já a taxa de desemprego apurada pelo IBGE oscilou para 5,7% em fevereiro.

O percentual ficou praticamente estável em relação ao apurado em janeiro, de 5,5%. Mesmo com o avanço, a taxa ficou no menor patamar para o mês em dez anos.

Desde que a série histórica foi lançada, a mínima havia sido registrada em fevereiro do ano passado (6,4%) -assim, na comparação em relação ao mesmo mês de 2011, a taxa teve um recuo de 0,7%.

A redução está em linha com a tendência de queda no desemprego apurado pelo IBGE ao longo dos último anos.

"Percebemos uma tendência favorável no mercado de trabalho durante o ano", afirmou Azeredo, do IBGE. (Folha)


Governo acena para indústria com novas medidas de estímulo

Dilma se reúne com empresários e banqueiros e pede 'instinto animal' para reativar crescimento. Em meio a crise, presidente promete privatização de portos, redução de impostos e ação contra importação.

A presidente Dilma Rousseff deixou de lado ontem a crise que enfrenta com os partidos da base aliada e reuniu, pela primeira vez em seu mandato, os pesos-pesados do PIB (Produto Interno Bruto) para discutir a retomada do crescimento da economia.

Numa reunião de três horas e meia com 28 banqueiros e empresários dos mais variados setores, Dilma não anunciou nenhuma medida concreta, mas acenou com a privatização de portos, prometeu defesa forte da indústria brasileira e acenou com redução de impostos.

Dos empresários, a presidente ouviu apelos por redução da carga tributária, medidas para conter a valorização do real em relação ao dólar e conter importações.

Aos convidados, Dilma afirmou que apresentará novas medidas de estímulo econômico após retornar de sua viagem à Índia, na semana que vem. Ela pediu "instinto animal" aos empresários para ampliar investimentos.

A presidente disse que a "próxima grande discussão do governo" será a privatização dos portos, onde o governo estuda adotar um modelo de concessões semelhante ao usado nos aeroportos.

Ela instou os empresários a pressionar os congressistas para que aprovem um projeto de resolução do Senado que acaba com os incentivos fiscais que alguns governos estaduais concedem para promover importações, o que aumenta o movimento em seus portos mas prejudica as indústrias de outros Estados.

De acordo com relatos dos empresários, Dilma afirmou que irá "defender" o mercado doméstico sem fechar a economia brasileira à entrada de produtos estrangeiros, além de evitar uma valorização maior do real sem alimentar a inflação.

O objetivo, disse, é aumentar a produtividade em todos os setores. Nas palavras da presidente, seria preciso buscar uma combinação mais favorável da taxa de juros com a taxa de câmbio.

Seguindo a orientação da presidente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse estar aberto a conversas com qualquer setor da indústria que quiser redução dos impostos que incidem sobre a folha de pagamentos.

"Nós continuaremos a fazer politicas de intervenção no câmbio que não permitam que o real se valorize, que as mercadorias brasileiras fiquem caras", afirmou Mantega. "Isso é um compromisso do governo."

Dilma prometeu acelerar investimentos federais em infraestrutura e disse que o objetivo do governo é elevar a taxa de investimento no Brasil para 24% do PIB (Produto Interno Bruto).

A meta é vista com ceticismo no próprio Ministério da Fazenda. No ano passado, a taxa de investimento da economia brasileira atingiu 19,3% do PIB. (Folha)


Endividamento cresce e ameaça consumo

O comprometimento do orçamento das famílias com dívidas aumentou gradualmente ao longo de 2011, junto com um aumento da inadimplência. A combinação de dívidas maiores e número crescente de devedores, segundo economistas, pode atenuar o crescimento do consumo este ano.

Ainda que em ritmo moderado, a parcela da renda mensal dos brasileiros destinada ao pagamento de débitos vem subindo desde abril e atingiu em dezembro 22,3%, último dado divulgado pelo Banco Central e maior percentual para o mês desde 2005, início da série histórica. As dívidas já assumidas pelas famílias cresceram em 2011 e representam 42,3% da sua renda anual, nível mais alto para qualquer mês da pesquisa do BC.

O aumento da inadimplência das famílias no ano passado pode ser considerado forte - passou de 5,7% para 7,4% nos atrasos com prazo superior a 90 dias em um cenário de pleno emprego. Caso seja necessário algum movimento de aperto na política monetária, com reflexo recessivo na economia e perda de emprego, é possível que o sistema financeiro enfrente uma alta bastante acentuada dos atrasos, partindo de patamar bastante elevado, avalia um executivo do mercado financeiro.

A alta da inadimplência no ano passado decorreu diretamente do ciclo de aperto monetário do primeiro semestre, com elevação dos juros e restrição à elevação dos prazos, via medidasmacroprudenciais. Com mais dívidas para pagar, o nível de inadimplência das famílias piorou no fim de 2011. Em dezembro, o percentual de atrasos superiores a 90 dias aumentou em operações de crédito pessoal, cheque especial, aquisição de veículos e outros bens, de acordo com os dados do BC.

A maior parte dos analistas acredita que o endividamento maior deve afetar em alguma medida o poder de fogo dos consumidores, mas, com inflação menor, queda dos juros e aumento real de 7,5% do salário mínimo, há quem aposte em varejo mais forte em 2012 do que em 2011. Como a renda real é fator determinante da inadimplência, o atual ciclo de redução da Selic deve permitir uma melhora desse indicador, à medida que os ganhos dos trabalhadores se elevem e os juros bancários acompanhem a trajetória declinante da taxa básica.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, destaca que a renda mensal das famílias ficou mais comprometida no fim de 2011, não devido aos gastos com juros, mas com o principal da dívida. Esse tipo de despesa subiu quase dois pontos percentuais desde maio e alcançou 14,3%, enquanto o dispêndio com juros teve ligeira alta no período, de apenas 0,43 ponto percentual, para 8%. Para Vale, o movimento reflete o avanço do crédito imobiliário, que é mais caro. Essa trajetória não preocupa o economista, já que, num cenário de desemprego baixo, esse financiamento não é predatório.

O crédito habitacional, entre recursos direcionados e livres, alcançou 4,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em dezembro de 2011, alta de um ponto percentual sobre igual mês de 2010, diz o economista Wermeson França, da LCA Consultores. Na mesma comparação, a relação entre crédito para bens de consumo e o PIB ficou quase estagnada, passando de 4,1% para 4,4%.

França afirma que o financiamento habitacional ainda tem muito espaço para crescer no país, mas não deve aumentar o nível de endividamento das famílias em 2012 - que, em sua opinião, já está elevado. "Nos Estados Unidos, o comprometimento da renda com dívidas está em 17%. Não há muito espaço para novas aquisições de financiamentos. O crédito imobiliário deve tomar espaço de outros tipos de financiamento", diz.

Contribui para essa avaliação o fato de que, segundo dados do BC, as dívidas de mais longo prazo - crédito imobiliário e aquisição de veículos - representavam, cada uma, 21,3% da carteira de crédito para pessoas físicas em dezembro de 2011. Ou seja, pelo menos 42% da dívida das famílias vai demorar para ser liquidada, limitando a capacidade de ampliar o consumo com novos financiamentos.

No curto prazo, se o varejo se desacelerar [entre janeiro e março], será mais como efeito do emprego industrial - que está em queda e deve seguir em situação ruim - do que de um endividamento maior, diz Vale. Mesmo sem projetar retomada para a ocupação no setor, o analista trabalha com alta de 9% das vendas em 2012, que, em seu cenário-base, serão impulsionadas pela inflação mais comportada e pela reaceleração da atividade no segundo semestre.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje resultados das vendas do varejo de janeiro, mas dados antecedentes indicam que o desempenho do comércio perdeu força neste início de ano. A atividade do comércio medida pela Serasa Experian caiu 0,3% em fevereiro frente a janeiro na série dessazonalizada. No primeiro mês do ano, também houve recuo na comparação com dezembro, de 1,6%. Já as vendas de veículos, medidas pela Fenabrave, caíram 23% e 6,9% em janeiro e fevereiro, respectivamente.

Segundo Luiz Rabi, economista da Serasa, o aumento da inadimplência - que, de acordo com indicador da empresa, atingiu seu pico em outubro do ano passado e, desde então, vem recuando lentamente - reduziu o movimento nas lojas e a demanda dos consumidores por crédito no primeiro bimestre, movimento que deve continuar em março. "Há uma concentração muito grande de pagamentos neste mês. Este primeiro trimestre está muito fraco para o consumo e, a partir do segundo, devemos entrar em um cenário de recuperação."

A retomada do varejo, diz Rabi, será mais evidente na segunda metade do ano, na esteira da queda gradual da inadimplência e da inflação, assim como dos juros básicos. "Temos que acreditar que a educação financeira das pessoas melhorou após o boom do crédito em 2010". Na média de 2012, mesmo com um início mais tímido, o Serasa espera que as vendas do varejo cresçam a uma taxa próxima a de 2011, de 6,7% segundo o IBGE.

Paulo Neves, economista da LCA, aposta em ritmo forte das vendas no primeiro trimestre, impulsionado pelo setor de hiper e supermercados, o mais beneficiado com o reajuste do mínimo. Para o ano como um todo, no entanto, o endividamento é visto como entrave a um crescimento maior do comércio. "O afrouxamento monetário é limitado pela seletividade dos bancos e pela inadimplência e endividamento. Além disso, o crescimento da renda deste começo de ano não deve se repetir nos meses seguintes", diz Neves, que projeta expansão do varejo próxima à observada em 2011.

Esse não é o cenário de Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, para quem as vendas devem aumentar 5,5% este ano. A desaceleração, segundo ele, será provocada pela perda de fôlego da massa salarial, o que também pode, ao contrário do que projeta a Serasa, abrir espaço para nova alta da inadimplência no fim do ano.

O economista pondera que, mesmo com o aumento do mínimo, um crescimento menor tanto da ocupação como dos rendimentos deve fazer com que a massa salarial tenha alta de 2,8% este ano, menor que o avanço de 4,9%, registrado em 2011. (Valor)