domingo, 13 de maio de 2012

Nas carreiras de maior renda, as mulheres e os brasileiros que se autodeclaram pretos ou pardos ao IBGE são, quase sempre, minoria e, mesmo ali, tendem a ganhar menos


Estudo do Censo 2010 aponta desigualdade em trabalhos iguais
Negros só ganham mais em 4% das 438 ocupações do Censo 2010; mulheres, em 11%.
Ivone Caetano, de 67 anos, foi a primeira mulher negra a se tornar juíza do Tribunal de Justiça do Rio, há 18 anos. De lá para cá, o país vem registrando diminuição da desigualdade entre negros e brancos e homens e mulheres. Apesar desses avanços, no entanto, Ivone segue como exceção nas estatísticas. É o que mostram tabulações do Censo 2010 feitas com exclusividade pelo GLOBO. Nas carreiras de maior renda, as mulheres e os brasileiros que se autodeclaram pretos ou pardos ao IBGE são, quase sempre, minoria e, mesmo ali, tendem a ganhar menos. Das 438 profissões listadas no Censo, em só 16, ou 4% do total, a renda média dos trabalhadores pretos e pardos supera a dos brancos. No caso das mulheres, o número de ocupações em que a renda média supera a de homens chega a 49, ou 11% do total.
A profissão de Ivone exemplifica bem a desigualdade. Juízes são, segundo o IBGE, a profissão mais bem paga do país, com renda média de quase R$ 17 mil. As mulheres nessa ocupação, no entanto, representam apenas 31% do total, e recebiam, em média, 23% a menos do que os homens juízes.
Entre juízes,só 13% de negros -- Encontrar magistrados pretos ou pardos é ainda mais raro. Apesar de eles representarem cerca de metade da população, entre juízes a proporção é de 13%. Excetuando ocupações com número muito baixo de trabalhadores, é a profissão com o menor percentual desse grupo entre todas do Censo. E eles ganham, em média, 14% a menos que seus colegas brancos.
— Na minha profissão, sempre fui tratada com muito respeito, mas há manifestações veladas de preconceito. Como afirmou a (ex-senadora) Marina Silva, ‘o desvalor da pessoa traz o desvalor da palavra’: é ver que o que você diz não é tão levado em conta — afirma Ivone, juíza titular da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da capital.
Com mãe lavadeira de 11 filhos “abaixo da linha da pobreza”, a juíza estudou em colégio público “e particular de baixa qualidade”. Aos 18 anos, foi trabalhar como digitadora do IBGE; depois, acumulou o trabalho com outros dois, passando a ter três empregos ao mesmo tempo, para ajudar a família.
— Entrei com 25 anos na faculdade de Direito, e só entrei porque casei: meu marido, engenheiro, tinha condições financeiras, então pude parar de trabalhar e ir estudar. Advoguei e passei para a magistratura em 1994, com 49. Alguém só consegue passar num concurso aos 49 anos e você vai dizer que não há desigualdade? — diz Ivone.
No outro extremo, o das profissões mal remuneradas, a lógica é na mão inversa: pescadores, por exemplo, estão entre as dez profissões com maior proporção de pretos e pardos (72%). A ocupação figura também na lista das dez profissões de pior remuneração média (R$ 396). Mas, mesmo nesse trabalho de pouca qualificação, a renda média de brancos também supera a dos colegas da mesma profissão em 55% (R$ 522 para brancos, R$ 337 para pretos e pardos).
— A gente vê que há bem menos negros na pesca industrial, por exemplo, uma área que tem lucros maiores. Na pesca artesanal é que os negros conseguiram achar suas pequenas oportunidades — diz o pescador José Manoel Rebouças, que se define como mulato “mais para o pardo”.
Com 53 anos e na profissão desde os 12, seu Manoel é secretário da colônia de pescadores Z-13, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Diz tirar com a pesca, por mês, média de dois salários mínimos, com os quais sustenta três dos sete filhos que tem, e que moram com ele no Pavão-Pavãozinho; os outros, assim como a mulher, ficaram no Ceará, terra natal do pescador.
Entre as poucas ocupações em que pretos e pardos têm renda superior estão bombeiros, PMs, e atletas e esportistas. Entre as de maior desigualdade, o economista Marcelo Paixão, do Laboratório de Estudos sobre Desigualdades Raciais da UFRJ, destaca que estão muitas de alto prestígio:
— Não basta ao negro “chegar lá”. Mesmo chegando, pode ter remuneração proporcionalmente menor.
O sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, concorda que há de fato alguma diferença explicada pela discriminação. Ele pondera, porém, que fatores como idade, nível educacional, lugar de residência e número de horas trabalhadas, que pouco ou nada têm a ver com discriminação no mercado de trabalho, respondem por boa parte da desigualdade.
Um médico branco, por exemplo, pode ter se formado numa universidade de prestígio, enquanto um negro pode ter tido acesso a uma instituição menos reconhecida. Nas estatísticas eles podem parecer iguais, mas o profissional formado numa instituição de melhor qualidade tende a ser mais bem remunerado no mercado de trabalho. Neste caso, a desigualdade está no acesso ao curso superior, e não no fato de o empregador pagar menos só pelo fato de o funcionário ser negro.
Também é preciso levar em conta que, como apenas recentemente pretos e pardos aumentaram sua presença em cursos universitários de maior prestígio, na média, eles tendem a ser trabalhadores mais jovens, com menos experiência e que, também por isso, ganham menos.
Ainda que o o Censo de 2010 registre desigualdades persistentes de gênero e cor, é preciso considerar que houve avanços. Contas feitas pelo Laboratório de Estudos sobre Desigualdades Raciais da UFRJ revelam que os grupos que registraram os maiores aumentos de renda e escolaridade na década passada foram, justamente, mulheres e pretos e pardos. Enquanto a renda média de homens brancos subiu apenas 4% no período, já considerando a inflação, a de mulheres brancas aumentou 15%. Homens que se declararam pretos ou pardos registraram acréscimos de 21%. E o grupo que mais avançou foi o de mulheres pretas ou pardas: 28%.
Ainda assim, considerando o total de trabalhadores, o rendimento das mulheres negras representam apenas 39% do que recebe um homem branco. Há dez anos, era 31%. (Fonte: O Globo)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A estratégia do governo federal de usar os bancos públicos para reduzir os custos das operações bancárias avançou novamente nesta quinta-feira


BB e Caixa anunciam novas reduções de juros e taxas de administração
Linhas como penhor e Construcard ficam mais barata. E já são criados fundos com depósito mínimo de R$ 1.
A estratégia do governo federal de usar os bancos públicos para reduzir os custos das operações bancárias avançou novamente nesta quinta-feira. A Caixa Econômica Federal anunciou mais cortes de juros para empresas e pessoas físicas. E o Banco do Brasil informou que vai reduzir o valor necessário de aplicação mínima em seus fundos para até R$ 1 e cortar taxas de administração, cobrada pelo banco nesses investimentos.
Os cortes de juros da Caixa para pessoas física valem para a linha de crédito do Construcard, que passa de 2,40% para entre 2,35% e 1,96% ao mês e para os operações de penhor, que tiveram taxa entre 2% e 2,40% unificada em 1,70% . Os juros para financiamento de veículo que antes variam de 1,55% a 0,89% passam para o intervalo de 1,36% a 0,89%. No caso das empresas, foram reduzidas a taxa máxima do cheque especial que foi para 4,26 e de antecipação de recebíveis, de 1,26% para 1%.
No Banco do Brasil, fundos como o BB Referenciado DI LP 50 mil e o BB Renda Fixa LP 50 mil, o valor de aplicação mínimo caiu para apenas R$ 1, enquanto antes era necessário investir pelo menos R$ 50 mil em ambos os casos, segundo o banco. Esses fundos têm taxa de administração de 1% ao ano. Para ter o benefício, os clientes terão que aderir ao pacotes de serviços Bom pra Todos. O programa Bom pra Todos foi lançado em 8 de abril, com redução de taxas de juros de linhas de crédito. Depois de lançamento, o BB anunciou novos cortes de taxas e outras medidas relacionadas ao programa.
Segundo o banco, com patrimônio superior a R$ 11 bilhões, os dois fundos têm rentabilidade e liquidez diárias e podem ser movimentados por meio de vários canais de autoatendimento do BB (terminais, internet, celular,tablet, central de atendimento e agências). “As medidas decorrem do novo cenário de taxas de juros espreads (diferença entre taxa de captação dos recursos pelo banco e a cobrada dos clientes) reduzidos”, diz a nota do Banco do Brasil.
Em outros, como o BB Referenciado DI Social 50 e o BB Renda Fixa 50, houve redução na taxa de administração de 3,50% ao ano para 2,60% ao ano.Outros 18 fundos tiveram os valores de aplicação inicial reduzidos para facilitar o acesso de investidores.
A mudança nos fundos visa incentivar outros concorrentes a reduzirem as taxas administrativas para manter a atratividade do investimento que aplica em títulos públicos da dívida brasileira. Isso porque esse tipo de aplicação ainda poderia render menos do que a nova caderneta de poupança em muitos casos.
Segundo dados da Associação Nacional das Entidades do Mercado (Anbima), fundos mais populares, como os fundos DI com R$ 5 mil de aplicação inicial, cobram, em média, 2,07% de taxa de administração. Com essa taxa a 2,07%, mesmo que a poupança tenha o rendimento equivalente a 70% da Selic mais Taxa de Referência (TR) quando a Selic estiver em 8,5% ao ano ou menos, a caderneta ainda é mais rentável do que fundos DI (que aplicam em títulos públicos) se o dinheiro ficar aplicado por menos de um ano. Somente quem tem de R$ 25 mil a R$ 50 mil para fazer a aplicação inicial consegue um fundo de taxa média de 1,05%, segundo dados da Anbima e cálculos do professor Alexandre Espírito Santo, da ESPM. (O Globo)

5 passos para fazer a portabilidade de uma dívida
Confira cinco dicas para aproveitar as sucessivas reduções das taxas de juros e transferir uma dívida entre dois bancos. Pode valer a pena para o seu bolso.
A vantagem financeira de trocar uma dívida cara por uma mais barata pode valer o esforço. Na guerra de juros entre bancos, é recomendável comparar as taxas, fazer as contas e negociar.
É a chamada portabilidade de crédito. Criada em 2006 pelo Banco Central para incentivar a concorrência entre as instituições financeiras, seu objetivo é facilitar que o consumidor transfira uma dívida entre dois bancos, em busca de taxas vantajosas.
O número de operações de portabilidade de dívida ainda é pequeno e no primeiro trimestre de 2012 recuou 18% na comparação com janeiro a março de 2011. Atualmente, a burocracia da portabilidade obriga o consumidor a ir pessoalmente aos dois bancos durante a negociação. No entanto, o governo tem planos para facilitar o processo.
A seguir, os cinco passos reunidos pelo site Economia & Negócios para facilitar a operação:
1- Vá ao banco atual e solicite suas informações
O primeiro passo é ir à instituição em que o empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil foi feito. Solicite todas as informações sobre a dívida em andamento, como o valor, as prestações faltantes e os juros cobrados.
Dentre os dados, o banco deve informar o Custo Efetivo Total (CET) da dívida em andamento, que inclui outras taxas, seguros e impostos. O CET revela o quanto efetivamente custa a dívida, para além dos juros.
O banco não pode se recusar a oferecer os dados e o histórico de operações do cliente, de acordo com resolução do Banco Central que garante a portabilidade de cadastro. Em até 15 dias o consumidor deve ter acesso às informações de, no mínimo, doze meses anteriores.
2- Pesquise em busca de vantagens reais
Conheça as opções de juros ofertados no mercado. "Pesquisar nunca é demais", diz o educador financeiro Reinaldo Domingos. Segundo ele, a pesquisa pode começar pelo site das instituições, mas a melhor opção é ir pessoalmente às agências. "Converse com o gerente de contas e mostre os dados sobre a dívida que você deseja fazer a portabilidade", orienta.
O banco pleiteado não é obrigado a aceitar a portabilidade da dívida. Antes de optar pelo "sim" ou pelo "não", a instituição avalia o tipo da dívida e o histórico de pagamento do cliente. Por isso, geralmente são os consumidores com as contas em dia que conseguem trocar o crédito de banco.
Se o banco aceitar a portabilidade da dívida, irá fazer o pagamento integral do débito ao antigo credor. Depois disso, o cliente passa a dever para o novo banco e pode exigir um comprovante de que a operação foi realizada.
3- Algumas dívidas são mais difíceis de transferir
A portabilidade de um crédito imobiliário ou automotivo pode ser mais complicada de realizar, pois existem bens de garantia. Para transferir a dívida de um imóvel, por exemplo, as instituições exigem nova avaliação do imóvel. Existem gastos com cartório, como contratos de alienação e registro matrícula do imóvel.
"No caso do arrendamento mercantil, o consumidor vai ter o custo da transferência do bem entre os bancos", observa a gerente jurídica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Maria Elisa Novais. Todos esses valores devem ser considerados, além do tempo gasto para reunir a papelada.
4- Tome alguns cuidados
A portabilidade da dívida garante isenção do Imposto sobre Operações de Crédito (IOF). Mas se o consumidor pegar um novo crédito no banco em que fez a transferência o IOF será cobrado. "Não adianta fazer novas dívidas só porque o custo do dinheiro está um pouco mais barato", diz Domingos. A recomendação é fazer uma verdadeira "faxina financeira", ou seja, pensar se existe a necessidade de comprar novamente a prazo ou não.
É importante também tomar cuidado com a ação de golpistas. Para isso, pesquise sobre a idoneidade da instituição. Desconfie quando for solicitado depósito prévio, quando não houver contrato ou cadastro, ou mesmo quando as condições foram muito melhores que a média do mercado.
A prática da venda casada também é condenada. "O banco que recebe a dívida não pode obrigar o consumidor a adquirir produtos como cartão de crédito, seguro ou plano de previdência", afirma Maria Elisa.
5- Busque seu direito
Se o seu banco se recusar a dar informações sobre a portabilidade de dívida, o primeiro passo é fazer uma reclamação na própria instituição, por meio do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). A ouvidoria do banco e os órgãos de defesa do consumidor também podem ser procurados. Além disso, o Banco Central recebe pedido de informações, denúncias ou reclamações pela internet (www.bcb.gov.br) ou pelo telefone 0800 979 2345. Um boletim do governo lançado nesta semana traz mais informações ao consumidor sobre operações de crédito. (Estado)