terça-feira, 8 de maio de 2012

“Não podemos aceitar que, agora, quando estamos baixando os juros, ela (a poupança) se torne uma forma de lucro fácil para aqueles que só querem especular”, disse Dilma


Mudança na poupança foi “simples, justa e correta”, diz Dilma
A presidente Dilma Rousseff usou o programa de rádio “Café com a Presidenta” desta segunda-feira para falar sobre a nova regra de remuneração das aplicações em cadernetas de poupança. Segundo ela, a mudança foi “simples, justa e correta”,  e tem como objetivo proteger o “pequeno poupador” e permitir que os juros do país continuem caindo.
“Não podemos aceitar que, agora, quando estamos baixando os juros, ela (a poupança) se torne uma forma de lucro fácil para aqueles que só querem especular”, disse Dilma.
Pela nova regra, quando a taxa básica de juros, a Selic, for igual ou inferior a 8,5% ao ano, o rendimento da poupança passa a ser de 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR) de juros. Atualmente, a taxa Selic está em 9% ao ano.
A presidente também aproveitou o programa para atacar os altos spreads bancários (diferença entre a taxa de captação dos bancos e a cobrada dos clientes). Ela destacou que os bancos públicos - Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil - foram os primeiros a reduzir as taxas e que, depois disso, “os bancos privados parecem que também estão começando a rever suas taxas”.
Dilma ainda incentivou a população a comparar as taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras.
“Os nossos cidadãos têm uma arma poderosa para negociar. Fazer os depósitos de sua renda naqueles bancos que vão cobrar as menores taxas de juros, quando eles precisarem de empréstimos. Ouvinte, isso é um direito seu! Quando você vai à feira ou quando vai comprar uma geladeira ou uma TV, você faz uma pesquisa para saber onde o produto está mais barato, não é mesmo? Com os bancos, tem que ser do mesmo jeito”, disse. (Valor)

Bancos duvidam de estratégia de Dilma no crédito. Governo reage
Para a entidade, cenário de queda acelerada da Selic não garante “ampliação significativa da oferta de crédito doméstica” nos próximos meses
Uma semana depois de terem se transformado em alvo da artilharia da presidente Dilma Rousseff para reduzir os juros, os bancos reagiram. Na véspera do Dia do Trabalho, a presidente foi à TV no horário nobre e criticou a “lógica perversa” do sistema financeiro, chamou de “roubo” as tarifas cobradas para administrar fundos de investimento e pediu queda urgente das taxas cobradas a consumidores e empresas. Ontem, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), enfim, se pronunciou. E não hesitou em apelar para a metáfora:
“Alguém já disse que você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber a água”, escreveu Rubens Sardenberg, economista-chefe da federação, que divulgou ontem um relatório e pôs em dúvida a eficácia das medidas oficiais para estimular a concessão de empréstimos e aquecer a economia. Interlocutores da presidente Dilma reagiram com ironia ao relatório. Ao ouvir a frase, um técnico rebateu:
— Você não pode obrigar um cavalo a beber água, mas ele também pode morrer de sede.
Para a Febraban, não há garantia de uma “ampliação significativa da oferta de crédito doméstica” nos próximos meses, apesar do cenário de queda acelerada da taxa básica de juros, a Selic. Na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que “o crédito não está crescendo a contento” e que os “bancos são um pouco resistentes”.
Intitulado “Informativo Semanal de Economia Bancária”, o relatório é o resultado de uma consulta feita pela própria Febraban junto aos bancos sobre as principais estimativas dos bancos. No texto divulgado ontem, não há menção sobre a pressão do governo. O texto de Sardenberg diz que “a mudança nas regras da poupança funcionou como estímulo adicional para o mercado trabalhar com a expectativa de novos cortes na Selic”. Mas, em seguida, pondera que a “questão que se coloca agora é até que ponto essas reduções (de juros e da remuneração da poupança) vão estimular a ampliação da oferta de crédito”. Para a Febraban, o país vive hoje um paradoxo econômico, que funciona como obstáculo para os objetivos do Planalto. “A piora dos indicadores, especialmente os externos, abre espaço para quedas adicionais dos juros básicos, mas ao mesmo tempo parece impor uma cautela adicional aos agentes econômicos”.
Desgaste com lista de reivindicações -- Os dados de inadimplência nos empréstimos, que se refletiram nos balanços do primeiro trimestre dos grandes bancos, preocupam os banqueiros em relação ao aumento da concessão do crédito. Há ainda outro fator, que é a expectativa de a Selic voltar a subir em 2013, o que também inibiria a expansão das carteiras. “É possível criar condições mais favoráveis à expansão do crédito reduzindo as taxas básicas, mas uma ampliação efetiva das operações passa por uma postura mais agressiva, tando dos emprestadores como dos tomadores de crédito, que por sua vez depende de expectativas econômicas mais otimistas”.
Pela pesquisa que acompanha o relatório, os bancos reduziram sua projeção para a expansão da carteira de crédito neste ano: de 16,6%, no levantamento feito no mês passado, para 16,2%. Quanto à trajetória da Selic, 59,3% dos economistas consultados pela Febraban esperam que a taxa básica de juros (em 9% ao ano) volte ao patamar de 10% em dezembro de 2013.
Para a equipe econômica, as taxas de juros atuais são incompatíveis com as condições de solvência da economia e deveriam se equiparar ao padrão internacional de taxa. Os bancos públicos foram escolhidos como ponta-de-lança dessa disputa. Só o Banco do Brasil já anunciou três mudanças de juros desde o mês passado.
Um fator adicional de estresse entre bancos e governo, segundo analistas, é o desgaste do presidente da Febraban, Murilo Portugal. Em reunião em abril, Portugal disse que a redução mais rápida das taxas de juros dependeria de vários outros pontos, como a queda da inadimplência e a redução dos compulsórios (dinheiro que os bancos têm de repassar ao BC). Para o governo, essa postura mostrou que os bancos não querem reduzir margens de lucro:
— Quem apresenta uma lista com duas demandas quer resolver um problema. Já quem apresenta uma lista com 23 não quer tratar de nada, apenas criar dificuldades — disse um interlocutor da presidente.
Portugal participou ontem de um seminário, mas não falou sobre juros. Procurada para comentar o relatório do seu economista-chefe, a Febraban disse que não se pronunciaria.
Oficialmente, o Planalto preferiu não comentar o relatório, mas reservadamente os técnicos destacam que, embora a presidente esteja travando uma queda de braço pela redução dos spreads, das tarifas e pelo aumento do crédito, ela sabe que não há como obrigar os bancos a fazerem isso.
— O que vai fazer os bancos agirem é o próprio mercado — disse uma fonte.(O Globo)


Sob cerco de ruralistas, Câmara vota PEC do Trabalho Escravo amanhã
A Câmara deve votar nesta terça-feira a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Trabalho Escravo. O acordo para votação do projeto em segundo turno foi fechado há cerca de um mês, mas a bancada ruralista, que acaba de derrotar o governo no novo Código Florestal, resiste em levar a proposta a plenário.
A PEC prevê o confisco de propriedades e dos bens nas propriedades onde for encontrado trabalho escravo. A proposta foi provada pelo Senado em 2003 e em primeiro turno na Câmara em 2004.
Parlamentares ligados ao agronegócio ainda questionam a falta da definição, em lei, do conceito de trabalho escravo. Além disso, a bancada ruralista pede que a votação da PEC ocorra somente após o encerramento dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que passou a discutir o tema há algumas semanas. “Nós achamos que essa votação acabou sendo precipitada porque foi constituída uma CPI que está tratando do assunto. Poderia ser um grande fórum para esclarecer essa questão de conceitos”, afirmou o deputado Homero Pereira (PSD-MT). Segundo-vice-presidente da CPI do Trabalho Escravo, o deputado ruralista disse também não haver diferenciação clara entre irregularidades trabalhistas e trabalho escravo. “A linha é tênue. Ficamos à mercê do fiscal do trabalho”, declarou. O parlamentar disse que a bancada ruralista é contra o trabalho escravo, mas que a “falta de clareza” no conceito levará a Frente Parlamentar da Agropecuária a votar contra a PEC. Além de votar contra, os ruralistas planejam deixar o plenário, impedindo a análise do texto na Câmara por falta de quórum.  
O presidente da CPI do Trabalho Escravo, deputado Cláudio Puty (PT-PA), no entanto, defende a cotação da PEC antes de haver uma definição legal sobre trabalho escravo. Para ele, as atividades da CPI poderão continuar após a votação do tema. “Os ruralistas estão criando desculpa que é totalmente furada”, afirmou. O combate ao trabalho escravo é uma bandeira histórica do PT, que chegou a se aliar ao oposicionista PSDB na CPI para fazer o contraponto à maioria ruralista na comissão da Câmara.
Para pressionar pela votação, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, receberá artistas do Movimento Humanos Direitos, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT),  e outros representantes das centrais sindicais. Depois, o grupo entregará ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), abaixo-assinado pela aprovação do projeto já.
A ministra Maria do Rosário e ex-ministros dos Direitos Humanos participarão de audiência pública na CPI do Trabalho Escravo. Além disso, manifestantes prometem receber parlamentares no aeroporto de Brasília com faixas pedindo a votação do tema. A estratégia é convencer a opinião pública para facilitar o embate em plenário. (Valor)

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